domingo, 24 de agosto de 2025

Sábia reflexão para o seu domingo:

Rigorismo ou radicalidade?

José Antonio Pagola

Há ditos de Jesus que, se não soubermos lê-los em sua verdadeira perspectiva, podem levar a uma grave deformação de todo o Evangelho. É o que acontece com estas palavras tão conhecidas: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”, pois podem levar-nos a um rigorismo estreito, rígido e antievangélico, em vez de orientar-nos para a verdadeira radicalidade exigida por Jesus.

O pensamento genuíno de Jesus, tal como o recolhe a tradição de Lucas, é suficientemente claro. Aqueles judeus que perguntam a Jesus pela salvação recebem dele a advertência: a salvação não é algo que se produz automaticamente. Não basta ser filho de Abraão. É necessário acolher a mensagem de Jesus e suas profundas exigências.

Jesus imagina uma multidão aglomerada diante de uma porta estreita. Se não se faz um esforço não é possível entrar por ela. Quem não se esforça por entrar pela porta do Evangelho pode ficar excluído da salvação.

Este esforço por entrar pela porta não consiste no rigorismo estreito, angustiante e, definitivamente, estéril que Jesus condenou tantas vezes nos círculos fariseus. Jesus, pelo contrário, chama à radicalidade – “radical” vem de “raiz” – e nos convida a mudar a orientação do coração para viver dando primazia absoluta ao amor a Deus e aos irmãos.

Esta conversão não é algo teórico, sem repercussões práticas no comportamento diário. É uma decisão que transtorna os nossos critérios de atuação e exige uma conduta nova: um modo novo de relacionar-nos com as pessoas, com as coisas e com Deus.

Se não ouvirmos este chamado radical, corremos o risco de esvaziar de conteúdo a mensagem evangélica e fazer de Jesus um pequeno mestre de sabedoria humana, que nos ensina a viver sem grandes escândalos, mas também sem grandes exigências.

Por outro lado, o chamado radical a entrar pela porta só é ouvido corretamente quando se descobre que o próprio Jesus é a porta. “Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, estará salvo” (Jo 10,9). Por isso, o chamado de Jesus cria tensão, mas não angústia. É fonte de exigência, mas não de perturbação estéril. A pessoa sabe que procura uma porta sempre aberta ao perdão: Jesus Cristo.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                             Fonte: franciscanos.org.br     Banner: vaticannews.va

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