Leitura do Livro do Profeta Isaías
Assim diz o Senhor: Eu, que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória. Porei no meio deles um sinal e enviarei, dentre os que foram salvos, mensageiros para os povos de Társis, Fut, Lud, Mosoc, Ros, Tubal e Javã, para as terras distantes e para aquelas que ainda não ouviram falar em mim e não viram minha glória.
Esses enviados anunciarão às nações minha glória e reconduzirão, de toda parte, até meu santo monte em Jerusalém, como oferenda ao Senhor, irmãos vossos, a cavalo, em carros e liteiras, montados em mulas e dromedários, — diz o Senhor — e como os filhos de Israel levarão sua oferenda em vasos purificados para a casa do Senhor. Escolherei dentre eles alguns para serem sacerdotes e levitas, diz o Senhor.
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Responsório: Sl 116
— Proclamai o Evangelho a toda criatura!
— Proclamai o Evangelho a toda criatura!
— Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes,/ povos todos, festejai-o!
— Pois comprovado é seu amor para conosco,/ para sempre ele é fiel!
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2ª Leitura: Hb 12,5-7.11-13
Leitura da Carta aos Hebreus
Irmãos: Já esquecestes as palavras de encorajamento que vos foram dirigidas como a filhos: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não desanimes quando ele te repreende; pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho”. É para a vossa educação que sofreis, e é como filhos que Deus vos trata. Pois qual é o filho a quem o pai não corrige?
No momento mesmo, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados.
Portanto, “firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; acertai os passos dos vossos pés”, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado.
Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: «Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?» Jesus respondeu: «Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: ‘Senhor, abre a porta para nós!’ E ele responderá: ‘Não sei de onde são vocês’. E vocês começarão a dizer: ‘Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças!’ Mas ele responderá: ‘Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!’ Então haverá aí choro e ranger de dentes, quando vocês virem Abraão, Isaac e Jacó junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vocês jogados fora. Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos.»
Cristianismo instalado ou aberto?
São poucos os que vão ser salvos? Muitos cristãos vivem com esta pergunta angustiante, inculcada às vezes por pregadores insensatos. Segundo Jesus, no Evangelho, a salvação é para todos, vindos de todos os lados, dos quatro ventos, de perto e de longe. Só não é para aqueles que se fecham na autossuficiência nos seus presumidos privilégios. A 1ª leitura lembra que Deus não apenas quis salvar o povo de Israel do exílio babilônico, como também o encarregou de abrir o Templo e a Aliança a todasas nações.
Quando Deus concede um privilégio, como foi a salvação de Israel do cativeiro babilônico, este privilégio se torna responsabilidade para com os outros. Deus rejeita a autossuficiência.
Existem muitos cristãos instalados, que se sentem seguros fazendo formalmente tudo o que lhes foi prescrito, mas não assumem com o coração aquilo que Jesus deseja que façam, sobretudo o incansável amor ao próximo. Eles ficarão de fora, se não se converterem, enquanto outros, considerados pagãos, vão encontrar lugar no Reino. Aqueles que só servem a Deus com os lábios e não com o coração e de verdade, o Senhor não os conhecerá!
Na América Latina, hoje, os que sempre foram os donos da Igreja estão se enterrando no materialismo, e os pobres – há séculos marginalizados da vida eclesial ou relegados a uma posição inferior – estão entrando nas comunidades e ocupando o lugar dos antigos donos. As catedrais dos centros se esvaziam e as capelas da periferia se enchem. Esvazia-se também o comportamento tradicional, enquanto se abre espaço para um novo modo de ser cristão, mais jovem e mais simples, mais participativo e menos fechado.
Contudo, esta chegada de um novo tipo de cristãos, aparentemente “vindo de longe”, não significa que se esteja facilitando o ser cristão. Antes pelo contrário. Exige desinstalação. Exige busca permanente daquilo que é realmente ser cristão: não apegar-se a fórmulas farisaicas, mas entregar-se a uma vida de doação e de amor, que sempre nos desinstala.
Então, a questão não é se poucos ou muitos vão ser salvos. A questão é se estamos dispostos a entrar pela “porta estreita” da desinstalação e do compromisso com os que sempre foram relegados. A questão é se abrirmos amplamente a porta de nosso coração, para que a porta estreita se torne ampla para nós também. Deus não fechou o número. A nós cabe nos incluirmos nele….
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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
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