terça-feira, 19 de agosto de 2025

Bela catequese de dom Lindomar Rocha Mota:

A certíssima esperança

No vasto cenário de cenário do mundo, a esperança não se apresenta como um estandarte triunfante, mas como uma chama pequena que resiste ao vento. Há momentos em que parece quase se extinguir nas brumas de dos acontecimentos; ainda assim, permanece, silenciosa, firme, quase tímida, mas invencível, pois a força verdadeira não se mede pela lâmina da espada, mas pela coragem de seguir caminhando quando o caminho parece sem saída. 

Na Escritura, essa lógica encontra eco no livro da Sabedoria (18,6-9), onde a esperança nasce numa noite em que Israel se vê cercado pelo poder do Egito. É noite de opressão, mas também de promessa. O povo não é chamado a se armar, mas a confiar. E é essa confiança que o conduz à libertação. 

Jesus, no Evangelho (Lc 12,32-48), retoma essa mesma perspectiva, ao dizer: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. 

Não é palavra de consolo, mas um decreto silencioso de vitória. O Reino não é um projeto que se constrói pela força humana, mas dom irrevogável que brota da generosidade de Deus. Por isso, a esperança não é fragilidade exposta ao vento. Ela tem raiz cravada na terra fértil da promessa divina. 

A vigilância do discípulo não nasce do receio de perder algo, mas da alegria de quem espera alguém. Vigiar, no Evangelho, não é esperar com ansiedade. É, bem mais transformar o tempo da demora em tempo fecundo, tecido de fidelidade e amor. Quem ama, espera, e espera com alegria. 

Os grandes mestres da fé entenderam esse mistério. Santo Agostinho escreveu que “esperar é já amar”, como quem afirma que a esperança é um amor lançado para o amanhã. Tomás a descreve como “tensão firme por um bem futuro, difícil, mas possível com a ajuda de Deus” (Suma Teológica, II-II, q.17). E Bento XVI, em Spe Salvi, proclama: “Quem tem esperança vive de modo diferente; foi-lhe dada uma vida nova”. 

Na caminhada neste mundo, não é o vigor físico que o sustenta mas a esperança! Ela é uma luz que, embora pequena, ainda é maior que a grande sombra. 

Assim também vive o católico. De um lado, guardamos a memória da libertação já recebida; de outro, contemplamos a promessa de um encontro ainda por vir. A esperança é mais forte que a morte porque se apoia naquele que já venceu a morte. É mais que otimismo humano, é certeza nascida da fidelidade divina. É força que atravessa gerações, sustenta os pobres, renova a Igreja e abre caminhos onde antes só havia muros. 

A Palavra ressoa clara: “Não tenhais medo”! A esperança não se apaga porque Deus não se retrata. É ela, e não a força bruta, que carrega o mundo nos ombros. É a virtude que ousa esperar quando tudo parece perdido, porque sabe que o Senhor vem. E, quando Ele vier, será como a aurora que rompe a noite mais longa do mundo.

Dom Lindomar Rocha Mota - Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

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                                                             Fonte: cnbb.org.br     Imagem: (@Vatican Media)

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