A certíssima esperança
No vasto cenário de cenário do mundo, a esperança não se apresenta como um estandarte triunfante, mas como
uma chama pequena que resiste ao vento. Há momentos em que parece quase se
extinguir nas brumas de dos acontecimentos; ainda assim, permanece, silenciosa,
firme, quase tímida, mas invencível, pois a força verdadeira não se mede pela
lâmina da espada, mas pela coragem de seguir caminhando quando o caminho parece
sem saída.
Na Escritura,
essa lógica encontra eco no livro da Sabedoria (18,6-9), onde a esperança nasce
numa noite em que Israel se vê cercado pelo poder do Egito. É noite de
opressão, mas também de promessa. O povo não é chamado a se armar, mas a
confiar. E é essa confiança que o conduz à libertação.
Jesus, no
Evangelho (Lc 12,32-48), retoma essa mesma perspectiva, ao dizer: “Não tenhais
medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”.
Não é palavra de
consolo, mas um decreto silencioso de vitória. O Reino não é um projeto que se
constrói pela força humana, mas dom irrevogável que brota da generosidade de
Deus. Por isso, a esperança não é fragilidade exposta ao vento. Ela tem raiz
cravada na terra fértil da promessa divina.
A vigilância do
discípulo não nasce do receio de perder algo, mas da alegria de quem espera
alguém. Vigiar, no Evangelho, não é esperar com ansiedade. É, bem mais
transformar o tempo da demora em tempo fecundo, tecido de fidelidade e amor.
Quem ama, espera, e espera com alegria.
Os grandes
mestres da fé entenderam esse mistério. Santo Agostinho escreveu que “esperar é
já amar”, como quem afirma que a esperança é um amor lançado para o amanhã.
Tomás a descreve como “tensão firme por um bem futuro, difícil, mas possível
com a ajuda de Deus” (Suma Teológica, II-II, q.17). E Bento XVI, em Spe
Salvi, proclama: “Quem tem esperança vive de modo diferente; foi-lhe dada uma
vida nova”.
Na caminhada
neste mundo, não é o vigor físico que o sustenta mas a esperança! Ela é uma luz
que, embora pequena, ainda é maior que a grande sombra.
Assim também
vive o católico. De um lado, guardamos a memória da libertação já recebida; de
outro, contemplamos a promessa de um encontro ainda por vir. A esperança é mais
forte que a morte porque se apoia naquele que já venceu a morte. É mais que
otimismo humano, é certeza nascida da fidelidade divina. É força que atravessa
gerações, sustenta os pobres, renova a Igreja e abre caminhos onde antes só
havia muros.
A Palavra ressoa
clara: “Não tenhais medo”! A esperança não se apaga porque Deus não se retrata.
É ela, e não a força bruta, que carrega o mundo nos ombros. É a virtude que
ousa esperar quando tudo parece perdido, porque sabe que o Senhor vem. E,
quando Ele vier, será como a aurora que rompe a noite mais longa do
mundo.
Dom Lindomar Rocha Mota - Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
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