Sant’Ana e São
Joaquim
Cardeal Orani
João Tempesta - Arcebispo do Rio
de Janeiro (RJ)
Celebramos no
dia 26 de julho a memória litúrgica de Sant’Ana e São Joaquim, pais de Nossa
Senhora e avós de Jesus. Neste dia, comemora-se também o Dia dos Avós e dos
Idosos. Há cinco anos, o Papa Francisco transferiu essa celebração para o
último domingo de julho, após o dia 26, para que todos os fiéis possam
participar e celebrar em comunidade.
Muitas vezes
essa data passava despercebida, sem o destaque dado, por exemplo, ao Dia das
Mães ou ao Dia dos Pais. Por isso, a intenção do Papa ao fixar a celebração no
último domingo do mês é justamente evitar que a data seja esquecida, convidando
todos a recordarem com carinho de seus avós e dos idosos da família.
Quem sabe, em
nossas celebrações dominicais, possamos prestar uma homenagem aos avós e
idosos, chamando-os à frente do presbitério ao final da missa, como se costuma
fazer no Dia das Mães ou dos Pais. Que filhos e netos, neste dia, se lembrem de
seus avós — com um telefonema, um almoço em família, ou simplesmente com sua
presença. Sabemos que o Dia das Mães, dos Pais, dos Avós deve ser todos os
dias, mas, já que há uma data específica, aproveitemos para expressar, com mais
carinho, nossa gratidão. E, se seus avós já faleceram, eleve a Deus uma prece
por eles.
Mais do que
celebrar o V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, esta é uma oportunidade para
refletirmos sobre a situação de muitos idosos em nosso país e sobre o que
podemos fazer, junto ao poder público, para melhorar suas condições de vida e
oferecer-lhes mais dignidade. Ao celebrar essa data, lembramos também de nossos
pais, pois eles são a continuidade da geração familiar e, se Deus assim
permitir, no futuro também nós seremos avós e idosos.
Sant’Ana e São
Joaquim foram alcançados pela misericórdia divina. Considerados estéreis e já
em idade avançada, quando já haviam se conformado com a ausência de filhos, o
Senhor concedeu a Ana a graça da maternidade. A bênção foi tão grande que, por
meio de Sant’Ana, nasceu Maria; e por meio de Maria, nasceu o Salvador. Vemos
que Deus tudo faz de forma perfeita: a bênção concedida a Sant’Ana se estendeu
a Maria.
Maria foi a
“cheia de graça”, como anunciou o Anjo, pois desde sua concepção a graça de
Deus a envolveu. O Espírito Santo já havia operado em Nossa Senhora desde seu
nascimento e, mais tarde, ela transmite essa força espiritual a Santa Isabel e
a João Batista; por fim, esse mesmo Espírito se manifesta plenamente em
Jesus.
Sant’Ana e São
Joaquim foram piedosos e tementes a Deus. Mesmo diante da dor de não terem
filhos, nunca perderam a fé nem se desesperaram. Quem espera no Senhor alcança
graças maravilhosas. Eles esperaram — e conceberam a Mãe do Filho de Deus. A
aparente “demora” para terem filhos não foi ausência da bênção, mas preparação
divina para algo grandioso.
Naquela época,
não ter filhos era interpretado como ausência da bênção de Deus. Já casados há
vinte anos, ainda não tinham filhos. No entanto, a bênção nunca lhes faltou.
Cumpriam fielmente os preceitos da religião judaica e acreditavam na
misericórdia do Senhor. Sua perseverança foi recompensada.
Certamente
Sant’Ana e São Joaquim ensinaram a Maria as orações judaicas, recitavam salmos,
cantavam hinos, e nela cultivaram o amor a Deus. Maria foi concebida sem pecado
original, diferenciando-se das outras meninas de sua época. Esses ensinamentos
atravessaram gerações: Maria ensinou o Menino Jesus, e Ele, por sua vez, formou
seus discípulos.
Por isso, neste
dia dedicado aos avós, em que recordamos Sant’Ana e São Joaquim, sejamos
agradecidos. Pensemos no quanto devemos respeitar nossos avós e ensinar os
filhos a fazerem o mesmo. Infelizmente, às vezes, netos respondem com
grosseria, ou consideram os avós ultrapassados. Que todos saibamos reconhecer a
sabedoria da idade e tratá-los com amor. É belíssimo ver uma família unida,
onde o respeito e os valores são passados de geração em geração.
A Sagrada
Escritura não oferece informações sobre Sant’Ana e São Joaquim. As referências
que temos vêm dos evangelhos apócrifos — textos que não foram incluídos no
cânon oficial da Igreja — como o Protoevangelho de Tiago e o Evangelho de
Pseudo-Mateus. Segundo esses relatos, ao levar suas ofertas ao templo, Joaquim
foi repreendido por um homem por não ter filhos e, por isso, não ser digno de
ofertar. Tomado pela tristeza, retirou-se ao deserto e, durante quarenta dias e
noites, jejuou e rezou. Ana, por sua vez, também intensificou suas orações
pedindo a graça da maternidade.
Deus ouviu as
preces de ambos e enviou um anjo a cada um, anunciando que seriam pais. Quando
Maria completou três anos, foi levada ao templo, conforme o voto feito pelos
pais. Diz-se que ela foi criada numa casa próxima à piscina de Betesda. No
século XII, os Cruzados construíram uma igreja nesse local, dedicada a
Sant’Ana, que permanece até hoje.
Inicialmente, o
culto era apenas a Sant’Ana, celebrado em datas distintas no Ocidente e no
Oriente. Em 1969, após o Concílio Vaticano II, a celebração litúrgica conjunta
de Sant’Ana e São Joaquim foi fixada no dia 26 de julho.
Peçamos,
portanto, a intercessão de Sant’Ana e São Joaquim por nossos avós e idosos. Que
todos os netos saibam respeitar e tratar com ternura seus avós. Em muitas
culturas, especialmente no Oriente, os avós são honrados como portadores de
sabedoria e autoridade moral, com lugar de destaque nas famílias.
Convido os
filhos e netos a encomendarem missas em sufrágio das almas dos avós falecidos.
Esta é a melhor forma de expressar gratidão e lembrança. Neste domingo — o
quinto Dia Mundial dos Avós e dos Idosos — rezemos por todos os que já
partiram.
Celebremos com
alegria a memória de Sant’Ana e São Joaquim. Sejamos gratos a nossos avós e
rezemos por eles. Visitem-nos, liguem para eles, abracem-nos. Se já partiram,
recordem com carinho algum momento especial que viveram juntos e rezem uma
Ave-Maria em sua intenção. E, sobretudo, ensinem as novas gerações a respeitar
e valorizar os idosos, lembrando que a vida passa depressa e cada momento
merece ser vivido com amor.
Oração a
Sant’Ana e São Joaquim:
“São Joaquim e Sant’Ana, avós de Jesus, exemplos de perseverança na fé e na criação da Mãe do Salvador, intercedei a Jesus por todos os avós neste dia. Amém.”
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