Lágrimas da Casa Comum
“Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente;
precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual
nos ajudemos mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos!
Sozinho, corre-se o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é junto
que se constroem os sonhos” (Papa Francisco).
Na tragédia climática que se abateu sobre o
Rio Grande do Sul em maio de 2024, nos tornamos testemunhas e participantes da,
talvez, maior onda de solidariedade da história recente do Brasil. Após aquela
tragédia, distintos setores da sociedade manifestaram-se publicamente sobre a
necessidade de investimentos para proteger cidades e populações de semelhantes
situações. Não faltaram manifestações sobre a liberação de auxílio financeiro
ao Estado e aos municípios. Também não faltaram promessas sobre a construção de
casas para quem tudo perdeu.
Passaram-se 13 meses e as chuvas voltaram
intensas! Desabrigados; estradas e pontes destruídas! Novamente, os mesmos
discursos: “choveu acima da média”; “infelizmente, não se pode prever este tipo
de situação”; “estamos empenhados em ir ao encontro de quem necessita de
auxílio”. Certamente, tais observações têm sua razão de ser. No entanto, há de
se reconhecer: o tempo urge. A burocracia, a morosidade e, talvez, a falta de
transparência em alguns setores colaboram para a morosidade diante do que
necessita ser feito.
Até um passado não muito distante, se falava
da “sociedade do cansaço”. Atualmente, se fala da “sociedade do medo”! De fato,
não faltam sinais de que o medo está presente em amplos setores da sociedade. E
são, sobretudo, os mais pobres que sentem no cotidiano tal situação. Não
bastasse a falta de trabalho, segurança, transporte digno, acesso à educação
com qualidade, agora, mais uma vez, o medo de que a natureza produza nova
tragédia.
“A natureza chora dores de parto”, afirma S.
Paulo. Cientistas de distintos países têm alertado para a necessidade de
atenção particular para com o meio ambiente. Não faltam expressões da sociedade
– também da comunidade de fé! – que negam a necessidade de respeito, cuidado e
promoção do meio ambiente. Expoentes da fé cristã – e, de modo especial, o Papa
Francisco! – se fizeram voz das lágrimas da natureza. Os discípulos e
discípulos do Homem de Nazaré têm a missão de cuidar, promover e proteger a
Casa Comum. Ela é obra divina! Não basta se lamentar do acontecido ou do modo
de proceder do poder público. Urge que cada um colabore para deixar o mundo um
pouco melhor para as futuras gerações. A colaboração passa por atitudes como,
por exemplo, seleção do lixo, cuidado para manter ruas, esgotos, arroios e
bueiros limpos. Pode parecer pouco; no entanto, se cada um se empenhar por
colaborar, todos certamente poderemos sonhar com dias melhores.
Cardeal Jaime Spengler - Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário