sábado, 18 de novembro de 2023

Bela reflexão:

Nossa tarefa não é conservar o passado

José Antonio Pagola

A missão da Igreja não é conservar o passado. Ninguém pode colocar em dúvida sua necessidade de alimentar-se na experiência fundadora de Cristo, nem sua necessidade de reavivar continuamente o melhor que o Espírito de Jesus gerou ao longo dos séculos. Mas a Igreja não deve converter-se em monumento do passado. Não adianta nada sermos fiéis ao passado, quando esse passado dificilmente guarda relação com as interrogações e desafios do presente.

O objetivo da Igreja também não é sobreviver. Isto significaria esquecer sua missão mais profunda que é comunicar em cada momento histórico a Boa Notícia de um Deus Pai que deve ser estímulo, horizonte e esperança para o ser humano. Não adianta nada restaurar o passado se não somos capazes de transmitir algo significativo aos homens e mulheres de hoje.

Por isso, as virtudes que devemos desenvolver no interior da Igreja atual não se chamam “prudência’, “conformidade”, “resignação”, “fidelidade ao passado”. Devem levar muito mais o nome de “audácia”, “capacidade de assumir risco”, “busca criativa”, “escuta do Espírito” que faz tudo novo. Arriscar não é um caminho fácil para nenhuma instituição, também não para a Igreja. Mas não há outro, se quisermos comunicar a experiência cristã num mundo que mudou radicalmente.

Quando se vive do Espírito criador de Deus, pertencer a uma instituição que tem dois mil anos não é uma desculpa para não arriscar-se. Algo está falhando na Igreja, se a própria segurança se torna mais importante do que a busca criativa e arriscada de caminhos novos, para comunicar ao ser humano de hoje o Evangelho e a esperança cristã.

O erro mais grave do “terceiro servo” da parábola evangélica não é ter enterrado seu talento sem fazê-lo frutificar, mas pensar equivocadamente que está respondendo fielmente a Deus com sua postura conservadora, a salvo de todo risco. O fato de não mudar nada não significa que estamos sendo fiéis a Deus. Nossa suposta fidelidade pode ocultar algo como rigidez, covardia, imobilismo, comodidade e, em última análise, falta de fé na criatividade do Espírito. A verdadeira fidelidade a Deus não se vive a partir da passividade e da inércia, mas a partir da vitalidade e do risco de quem trata de escutar hoje seus chamados.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                                                                Fonte: franciscanos.org.br

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