sábado, 25 de novembro de 2023

Sábia reflexão:

A surpresa final

José Antonio Pagola

Nós, cristãos, levamos vinte séculos falando de amor. Repetimos constantemente que o amor é o critério último de toda atitude e comportamento. Afirmamos que a partir do amor será pronunciado o juízo definitivo sobre todas as pessoas, estruturas e realizações dos seres humanos. Não obstante, com essa linguagem tão bela do amor, podemos muitas vezes estar ocultando a mensagem autêntica de Jesus, muito mais direta, simples e concreta.

É surpreendente observar que Jesus dificilmente pronuncia nos evangelhos a palavra “amor”, também não nesta parábola que nos descreve a sorte final da humanidade. No final não seremos julgados de maneira geral sobre o amor, mas sobre algo muito mais concreto: O que fizemos quando encontramos com alguém que precisava de nós? Como reagimos diante dos problemas e sofrimentos de pessoas concretas que fomos encontrando no nosso caminho?

O decisivo na vida não é o que dizemos ou pensamos, o que cremos ou escrevemos. Tampouco bastam os belos sentimentos ou os protestos estéreis. O importante é ajudar a quem precisa de nós.

Os cristãos, em sua maioria, sentem-se satisfeitos e tranquilos porque não fazem nenhum mal especialmente grave a ninguém. Mas esquecem que, segundo a advertência de Jesus, estão preparando seu fracasso final sempre que fecham seus olhos às necessidades alheias, sempre que eludem qualquer responsabilidade que não seja em benefício próprio, sempre que se contentam em criticar tudo, sem estender a mão a ninguém.

A parábola de Jesus nos obriga a fazer-nos perguntas bem concretas: Estou fazendo algo por alguém? A que pessoas posso prestar ajuda? O que faço para que reine um pouco mais de justiça, solidariedade e amizade entre nós? O que mais eu poderia fazer?

O último e decisivo ensinamento de Jesus é este: o Reino de Deus é e sempre será dos que amam o pobre e o ajudam em sua necessidade. Isto é o essencial e definitivo. Um dia nossos olhos se abrirão e vamos descobrir com surpresa que o amor é a única verdade, e que Deus reina ali onde há homens e mulheres capazes de amar e preocupar-se com os outros.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                       Fonte: franciscanos.org.br        Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos 

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