Mês da Bíblia
Surgido em 1971, por ocasião do
cinquentenário da Arquidiocese de Belo Horizonte, o Mês da Bíblia foi levado
adiante com a colaboração efetiva do Serviço de Animação Bíblica, até
posteriormente, ser assumido pela Conferência dos Bispos do Brasil e se
estender em âmbito nacional.
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Dom José Francisco |
Sem dúvida, é um dos grandes motivadores
da Igreja no Brasil, um momento de linguagem aberta e clara, de uma epifania
que transcende os tacanhos limites impostos pela História.
Depois de passar da Arquidiocese de Belo
Horizonte aos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, o Mês da Bíblia se
estendeu a todo o Brasil e a outros países da América Latina, criando vários
projetos, cuja linhagem não mudou nesses 50 anos ininterruptos: conhecer Cristo
Jesus, em sua Palavra.
Esta edição é o seu Jubileu de Ouro.
Muitos temas foram estudados e
vivenciados nesse tempo. Em todos uma única temática presente foi a de anunciar
uma fé viva, quanto mais viva quanto se aproximar da Palavra do Senhor, a mesma
que criou o universo. E quanto mais se aproximar dessa palavra criadora, mais
viva se torna a vida dos que creem.
Alguns temas e lemas da História do Mês
da Bíblia, nesses 50 anos, ficaram inesquecíveis. Em 1971: “Bíblia, Jesus
Cristo está aqui”. Em 1973, ano em que entrei para o seminário, “Deus
continua acreditando em você”. Depois vieram os temas do Livro de Amós, da
Criação conforme descrita no livro do Gênesis. Em 1980, “Buscamos
uma nova terra – História de José do Egito”, depois a Carta de Tiago, as
parábolas de Jesus, o Apocalipse de São João, o Livro de Rute, o Êxodo, Os Atos
dos Apóstolos, os Salmos, o Evangelho de João, Paulo, Jeremias, Jó, e tanto
assunto mais.
Chegamos a 2021, com o tema da Carta de
São Paulo Apóstolo aos Gálatas, e o lema: “Pois todos vós sois um só em
Cristo Jesus”.
Querem ver a atualidade desta Carta?
A Galácia existia onde hoje se situa a
Turquia. Na sua parte sul, havia pequenas comunidades e habitações humanas: foi
lá que Paulo foi anunciar o Evangelho.
Da notícia desse anúncio, restou-nos essa
Carta animadora, mas também muito dura, contra aqueles que não aceitavam o
jeito de Paulo pensar: pessoas pertencentes a um grupo chamado de judaizantes,
de um judaísmo mais conservador.
A Carta foi escrita por volta do ano 57
de nossa Era. Os Gálatas haviam aderido ao Evangelho com entusiasmo e alegria,
e quando Paulo foi embora, eles continuaram a caminhar com os próprios pés.
Tudo o que Paulo desejava estava acontecendo.
Não passou muito tempo, depois que ele
partira, apareceram na região certos cristãos judaizantes, querendo estabelecer
algumas leis do judaísmo, que já estavam, por assim dizer, resolvidas e
suplantadas. Nem é preciso imaginar o quanto isso gerou divisões na comunidade:
muitos Gálatas aderiram à pregação desses “missionários diferentes” e retocaram
a fé original.
Agora, imaginem, o quanto Paulo ficou
decepcionado, quando recebeu notícias das divisões nessa comunidade. Foi nesse
contexto que ele escreveu a Carta aos Gálatas, enviando-a às comunidades fiéis
e àquelas que dividiram os cristãos que estavam na Galácia.
Há uma tremenda atualidade, que nem
poderia ser diferente, já que continuamos constrangidos por nossa realidade
humana propensa a fofocas e discórdias, que geram divisões. Nada de novo
debaixo do sol!
Se por um sublime alcance, os fiéis de
nossas comunidades se deixarem impregnar pela luz da Palavra e tiverem suas
vidas transformadas, Paulo, ele mesmo, terá alcançado mais do que os objetivos,
não estamos falando de uma empresa. Paulo terá conseguido, de novo, que o mesmo
amor pelo Senhor, que o fez, literalmente, perder a cabeça, agora retorne,
refazendo as cabeças e mentes, 2.000 anos depois.
Depende de mim, de você, de nós! Mãos,
pés, cabeça e coração à obra de Deus! Não só por ser dele, é nossa também. Mas
não por ser só nossa: a Bíblia não nos permite tamanho equívoco. Seria muito
desperdício para tão pouca vida!
Depende de nós, de você, de mim!
A Bíblia é nossa pauta, nossa meta, nosso
mapa de localização na vida, nosso incentivo de fé, nossa constelação de
estrelas indicando o caminho na noite escura.
Vamos aproveitar para participar dos
cursos promovidos pela Igreja no Brasil, ou dos círculos bíblicos em nossas
comunidades. Não podemos perder. São chances de nos aproximarmos de Deus, em
sua Palavra, de estreitar nossa amizade, selar o nosso destino como
destinatários dessa Carta Magna, escrita para todos, mas lida por poucos,
entendida por menos ainda. E assim estaremos em comunhão com as Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora na Igreja do Brasil, acolhendo as orientações da
nossa Igreja, propostas no documento 114 da CNBB, que tem como título: E a
Palavra habitou entre nós (Jo 1,14).
Chegou a sua vez de acreditar mais e
melhor.
Procure participar na sua paróquia, fale
com seu pároco, e se não houver, incentive a criação de cursos e meditações
bíblicas.
Deus é Amor, é Vida, é Palavra, e quanto
mais houver, sempre em maiúsculas. Ele é a Palavra que não volta atrás: nosso
maior estímulo em jamais voltar.
Dom José Francisco Rezende Dias - Arcebispo de Niterói (RJ)
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