Os que se separam são os pais, não os
filhos
José Antonio Pagola
Durante estes anos pude compartilhar de
perto o duro caminho da separação de esposos e esposas que um dia se amaram de
verdade. Eu os vi sofrer, duvidar e também lutar por um amor já desaparecido.
Eu os vi suportar as censuras, a incompreensão e o distanciamento de pessoas
que pareciam seus amigos. Junto a eles vi também seus filhos sofrerem.
Não é totalmente certo que a separação dos
pais cause um trauma irreversível nos filhos. O que lhes causa dano é a falta
de amor, a agressividade ou o medo que, às vezes, acompanha uma separação
quando realizada de forma pouco humana.
Nunca se deveria esquecer que os que se
separam são os pais, não os filhos. Estes têm direito a continuar desfrutando
seu pai e sua mãe, juntos ou separados, e não há razão para sofrerem sua agressividade
nem ser testemunhas de suas disputas e litígios.
Por isso mesmo não devem ser coagidos a
tomar partido por um ou por outro. Eles têm direito a que seus pais mantenham
diante deles uma postura digna e de mútuo respeito, sem denegrir nunca a imagem
do outro; a que não os utilizem como “arma de ataque” em seus enfrentamentos.
Por outro lado, é mesquinho chantagear os
filhos com presentes ou condutas permissivas, para conquistar seu carinho. Pelo
contrário, quem busca realmente o bem da criança facilita-lhe o encontro e a
comunicação com o pai ou a mãe que já não vive com ela.
Além disso, os filhos têm direito a que
seus pais se reúnam para tratar de temas relativos à sua educação e saúde, ou
para tomar decisões sobre aspectos importantes para sua vida. O casal não deve
esquecer que, mesmo estando separados, continuam sendo pai e mãe de filhos que
precisam deles.
Conheço os esforços que não poucos casais
separados fazem para que seus filhos sofram o menos possível as consequências
dolorosas da separação. Nem sempre é fácil, nem para quem fica com a custódia
dos filhos (como é extenuante ocupar-se sozinho do cuidado deles) nem para quem
precisa doravante viver separado deles (como é duro sentir sua falta). Esses
pais precisam, em mais de uma ocasião, de apoio, companhia ou ajuda que nem
sempre encontram em seu ambiente, em sua família, entre seus amigos ou na
comunidade cristã.
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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
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