sábado, 19 de outubro de 2024

Reflexão enriquecedora para o seu dia:

Entre nós não deve ser assim

José Antonio Pagola

A caminho de Jerusalém, Jesus vai advertindo seus discípulos sobre o destino doloroso que o espera a ele e aos que seguem seus passos. A inconsciência dos que o acompanham é incrível. Ainda hoje continua se repetindo.

Tiago e João, os filhos de Zebedeu, separam-se do grupo e se aproximam, só eles dois, de Jesus. Não precisam dos outros. Querem ficar com os postos privilegiados e ser os primeiros no projeto de Jesus, tal como eles o imaginam. Seu pedido não é uma súplica, mas uma ridícula ambição: “Queremos que nos faças o que te vamos pedir”. Querem que Jesus os coloque acima dos outros.

Jesus parece surpreso. “Não sabeis o que pedis”. Não entenderam nada do que ele dizia. Com grande paciência Jesus os convida a perguntar-se se são capazes de compartilhar seu destino doloroso. Quando tomam conhecimento do que está ocorrendo, os outros dez discípulos se enchem de indignação contra Tiago e João. Também eles têm as mesmas aspirações.

A ambição sempre divide e confronta os discípulos de Jesus. A busca de honras e protagonismos interesseiros rompe a comunhão da comunidade cristã. Também hoje. O que pode haver de mais contrário a Jesus e a seu projeto do servir à libertação das nações?

O fato é tão grave que Jesus “os reúne” para deixar claro qual é a atitude que deve caracterizar seus seguidores. Todos conhecem de sobra como atuam os romanos, “chefes das nações” e “grandes” da terra: tiranizam as nações, submetem-nas e fazem sentir a todos o peso de seu poder. Pois bem, “entre vós não deve ser assim”.

Entre os seguidores de Jesus tudo deve ser diferente: “Quem quiser ser grande seja vosso servo; e quem quiser ser primeiro seja escravo de todos”. A grandeza não se mede pelo poder que se tem, pela posição que se ocupa ou pelos títulos que se ostentam. Quem ambiciona estas coisas na Igreja de Jesus não se torna grande, e sim mais insignificante e ridículo. Na realidade é um estorvo na promoção do estilo de vida desejado pelo Crucificado. Falta-lhe um traço básico para ser seguidor de Jesus: servir.

Na Igreja, todos nós precisamos ser servidores. Precisamos colocar-nos na comunidade cristã não a partir de cima, a partir da superioridade, do poder ou do protagonismo interesseiro, mas a partir de baixo, a partir da disponibilidade, do serviço e da ajuda aos outros. Nosso exemplo é Jesus. Ele não viveu nunca “para ser servido, mas para servir”. Este é o melhor e mais admirável resumo do que foi sua vida.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                        Fonte: franciscanos.org.br       Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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