A mudança fundamental
José Antonio Pagola
A mudança fundamental a que Jesus nos chama é clara. Deixar de ser egoístas que veem os outros em função de seus próprios interesses, para atrever-nos a iniciar uma vida mais fraterna e solidária. Por isso, a um homem rico que observa fielmente todos os preceitos da lei, mas que vive encerrado em sua própria riqueza, falta-lhe algo essencial para ser discípulo seu: compartilhar o que tem com os necessitados.
Existe algo muito claro no evangelho de Jesus. A vida não nos é dada para ganhar dinheiro, para ter êxito ou para conseguir bem-estar pessoal, mas para tornar-nos irmãos. Se pudéssemos ver o projeto de Deus com a transparência com que Jesus o vê e compreender com um só olhar a profundidade última da existência, nós nos daríamos conta de que a única coisa importante é criar fraternidade. O amor fraterno que nos leva a compartilhar o que é nosso com os necessitados é “a única força de crescimento”, a única coisa que faz a humanidade avançar decisivamente para sua salvação.
O homem mais bem-sucedido não é, como às vezes se pensa, aquele que consegue acumular maior quantidade de dinheiro, mas aquele que sabe conviver melhor e de maneira mais fraterna. Por isso, quando alguém renuncia pouco a pouco à fraternidade e vai se fechando em suas próprias riquezas e interesses, sem resolver o problema do amor, termina fracassando como homem.
Embora viva observando fielmente certas normas de conduta religiosa, ao encontrar-se com o evangelho ele descobrirá que em sua vida não existe verdadeira alegria, e se afastará da mensagem de Jesus com a mesma tristeza daquele homem que “foi embora triste, porque era muito rico”.
Com frequência, nós cristãos nos instalamos comodamente em nossa religião, sem reagir diante do chamado do evangelho e sem buscar nenhuma mudança decisiva em nossa vida. “Rebaixamos” o evangelho, acomodando-o aos nossos interesses. Mas esta religião já não pode ser fonte de alegria. Ela nos deixa tristes e sem consolo verdadeiro.
Diante do evangelho devemos perguntar-nos sinceramente se nossa maneira de ganhar e de gastar o dinheiro é a própria de quem sabe compartilhar ou a de quem busca apenas acumular. Se não sabemos dar do que é nosso ao necessitado, falta-nos algo essencial para viver com alegria cristã.
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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
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