sábado, 23 de setembro de 2023

Reflexão que nos questiona:

Bondade escandalosa de Deus

José Antonio Pagola

Provavelmente era outono e nos povoados da Galileia se fazia intensamente a vindima. Jesus via nas praças aqueles que não possuíam terras próprias, esperando para serem contratados para ganhar o sustento do dia. Como ajudar a essa pobre gente a intuir a bondade misteriosa de Deus para com todos?

Jesus contou-lhes uma parábola surpreendente. Falou-lhes de um senhor que contratou todos os jornaleiros que encontrou. Ele mesmo foi à praça do povo várias vezes, em horas diferentes. Ao final do dia, embora o trabalho tivesse sido absolutamente desigual, pagou a todos uma diária: o que a família deles precisava para viver.

O primeiro grupo protestou. Não se queixam de receber mais ou menos dinheiro. O que os ofende é que o senhor “tratou os últimos como a nós”. A resposta do senhor ao que é o porta-voz deles é admirável: “Vais ter inveja por eu ser bom?”

A parábola é tão revolucionária que certamente depois de vinte séculos não nos atrevemos ainda a tomá-la a sério. Será verdade que Deus é bom inclusive para aqueles que dificilmente podem apresentar-se diante dele com méritos e obras? Será verdade que em seu coração de Pai não há privilégios baseados no trabalho mais ou menos meritório daqueles que trabalharam em sua vinha?

Todos os nossos esquemas cambaleiam quando aparece o amor livre e insondável de Deus. Por isso achamos escandaloso que Jesus pareça esquecer-se dos “piedosos”, carregados de méritos, e se aproxime precisamente dos que não têm direito a recompensa alguma da parte de Deus: pecadores que não observam a Aliança ou prostitutas que não têm acesso ao templo.

Às vezes ficamos presos aos nossos cálculos, sem deixar a Deus ser bom para todos. Não toleramos sua bondade infinita para com todos: há pessoas que não o merecem. Achamos que Deus deveria dar a cada um o que ele merece e só o merecido. Menos mal que Deus não é como nós. De seu coração de Pai, Ele sabe dar também seu amor salvador a essas pessoas que nós não sabemos amar.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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