a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe
De 22 a 28 de novembro deste ano, no
Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, no México, vai acontecer a Assembleia
Eclesial da América Latina e do Caribe. Esse evento foi convocado pelo Papa
Francisco e vai procurar responder uma questão fundamental: quais são os novos
desafios para a Igreja na América Latina e no Caribe, à luz da V Conferência
Geral de Aparecida, dos sinais dos tempos e do Magistério do Papa Francisco?
Não se trata de uma assembleia episcopal,
como tradicionalmente ouvíamos falar, mas será uma assembleia eclesial. Isso
significa que tomarão parte nessa assembleia representantes das mais variadas
categorias de sujeitos eclesiais. Haverá uma participação completa e ampla de
todo povo de Deus através da escuta (pessoas, instituições, organizações
pastorais, povos…), mas também presencialmente (por representantes) e
virtualmente (quem puder).
Nesta reflexão queremos apresentar uma
síntese do documento preparatório dessa Assembleia para quem ainda não teve
conhecimento do mesmo. O referido documento tem uma introdução, três partes e
uma conclusão.
Os objetivos da Assembleia
Reacender a Igreja de nova maneira,
apresentando uma proposta restauradora e regeneradora;
Ser um evento eclesial em chave sinodal, e
não apenas episcopal, com uma metodologia representativa, inclusiva e
participativa;
Fazer uma releitura agradecida do documento
de Aparecida que possibilite gerenciar o futuro;
Ser um marco eclesial que consegue relançar
grandes temas ainda em vigor;
Reconectar as cinco Conferências Gerais do
Episcopado Latino-Americano e Caribe ao Magistério do Papa Francisco (Laudato
Si, Querida Amazônia, Fratelli Tutti);
Celebrar o Jubileu Guadalupano (1531-2031)
e da Redenção (2033).
I Parte: a vida dos nossos novos (Ver)
A realidade da vida dos povos da América
Latina e do Caribe está marcada por grandes desafios tanto em nível social
quanto eclesial. Alguns desafios da realidade neste atual momento histórico
são:
Os povos em geral passam por uma situação
de grande fragilidade em todos os aspectos; essa realidade profundamente
vulnerável foi aguçada pela pandemia da COVID-19 e isso significa urgência um
sinal de uma profunda mudança de época;
O modelo socioeconômico dos países
latino-americanos promove a exclusão crescente e, por isso, se volta contra os
seres humanos; é forte nesse sistema socioeconômico a lógica da concorrência,
da cultura do descarte e perda das práticas de solidariedade;
Por todos os lados se escuta “o grito da
terra” – um forte clamor para o cuidado da nossa casa comum; essa é uma das
muitas formas de violência;
Em todos os países são sentidas grandes
lacunas na educação: isso justifica a promoção de um “Pacto Educativo Global”
como nos desafia o Papa Francisco;
É crescente o número de migrantes e refugiados
nos países latino-americanos; eles são os novos pobres; eles assim como os
povos indígenas e afrodescendentes demandam a cidadania plena na sociedade e na
Igreja;
No campo cultural sente-se a necessidade da
globalização e a democratização da comunicação social; há abundância de
informações e conhecimentos fragmentados, por isso é urgente à promoção de uma
visão integradora do saber.
No que diz respeito à realidade da Igreja
no hoje na nossa história são apresentados os seguintes
desafios:
Há um processo de secularização que está
avançando em vários países da América Latina e do Caribe;
Há um crescimento cada vez maior das
denominações religiosas evangélicas e pentecostais no nosso continente;
A pastoral urbana constitui um grande
desafio e assim como a realidade juvenil como atores sociais e gestores de
cultura;
As mulheres constituem uma grande força
eclesial e ao mesmo tempo há o desafio da reivindicação por uma plena
participação na sociedade e na Igreja;
Os abusos sexuais geram Graves impactos
morais e pastorais geram na Igreja e o clericalismo é visto como um grande
obstáculo para uma Igreja sinodal.
II Parte: o encontro com Jesus Cristo
(Iluminar)
Um eixo fundamental do discipulado e da proposta
missionária é a proclamação da Vida nova em Cristo e o estabelecimento do Reino
(cf. DA 367) sob a perspectiva de uma “evangelização integral” (DA 176); O
chamado para ser discípulo implica ser convocado para estar intimamente unido a
Jesus (cfr. DA 131).
O início do discipulado está numa pessoa,
Jesus Cristo, que sai ao encontro de homens e mulheres para ser conhecido, para
dar um horizonte pleno à vida e revelar a plenitude do amor divino e humano.
Quando a pessoa chega a este encontro de fé tudo mudo em sua existência (cf. DA
243). Como discípulos missionários, estamos ao serviço da vida. A missão, um
movimento “em saída”; a evangelização aliada à promoção humana promove a
libertação autêntica.
III Parte: o caminho da conversão (Agir)
A meta da Assembleia Eclesial
Latino-americana e do Caribe é a promoção da conversão pessoal, comunitária e
social. Somos chamados a percorrer novos caminhos capazes de abraçar os
seguintes compromissos:
Dar atenção ao apelo pela ecologia
integral;
Promover a economia solidária, sustentável
e ao serviço do bem comum;
Comprometer-se com a promoção da cultura de
paz;
Investir em novas tecnologias assumindo
suas contribuições e seus riscos;
Promover uma maior experiência da
interculturalidade e inculturação;
Velar pela democracia, que ainda é frágil
nos nossos países;
Estimular o caminho de renovação eclesial.
Conclusão
Com a realização dessa Assembleia a Igreja
na América Latina e no Caribe deseja buscar novos caminhos através do encontro,
do discernimento e do diálogo comunitário. Essa é a dinâmica de vida dos
discípulos missionários de Jesus Cristo continuamente chamados a caminharem
em sinodalidade.
Essa Assembleia, reunindo a diversidade de
sujeitos eclesiais, deseja contribuir com a riqueza de dons, reflexões,
observações e propostas inovadoras para a renovação da vida da Igreja. Isso
requer de todos nós um profundo espírito de fé que nos leva a abrir-nos à voz
do Espírito Santo para acolhermos o que Ele está dizendo à Igreja na
atualidade. Não é suficiente ter boas intenções: é preciso audácia pastoral
para a devida renovação.
O Papa Francisco com essa iniciativa nos
convida a nos exercitarmos em atitudes práticas consequentes da consciência de
que a Igreja não é propriedade do clero. Somos uma família e somos todos
responsáveis por ela.
PARA REFLEXÃO PESSOAL:
1. Qual dos objetivos dessa Assembleia parece
ser mais exigente?
2. Por que a missionariedade é consequência do
encontro com Jesus Cristo?
3. Quais novos caminhos de fidelidade a Jesus
Cristo você sente que a Igreja deve abraçar?
ORAÇÃO PREPARATÓRIA
Pai de bondade, que tem conduzido a tua
Igreja peregrina na América Latina e no Caribe, inspirando-a a fazer realidade
um caminho sinodal em saída a partir da experiência das Conferências
Episcopais. Suplicamos-te que nos ajudes com a luz do teu Espírito Santo neste
tempo de preparação para a nossa Assembleia Eclesial, que com memória
agradecida lembrar-se-á do Documento de Aparecida, vislumbrando no horizonte o
Jubileu de Guadalupe e da Redenção.
Que, face aos desafios presentes e futuros
possamos reacender o nosso compromisso como discípulos missionários, para que
possamos ter vida em Jesus Cristo encontrando Nele a alegria, a paz e a
esperança que não desilude. Que, através da escuta, do diálogo e do encontro, e
inspirados pela voz profética do Papa Francisco para o cuidado da casa comum,
das culturas e o compromisso com a fraternidade universal, sejamos corajosos na
promoção de uma economia solidária e uma educação integral, ajudando com amor
aqueles que foram descartados e excluídos. Que Santa Maria de Guadalupe e o
sangue de tantos homens e mulheres mártires que fecundaram a nossa fé, nos
encoraje na missão que nos foi confiada. Por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém!
Dom Antonio de Assis - Bispo Auxiliar de Belém do Pará (PA)
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