Miguel Cabrejos, presidente do Conselho
Episcopal Latino-americano (Celam), começa por confessar que “é Jesus Cristo
Ressuscitado que nos convocou mais uma vez” para “comunicar por um transbordamento
de alegria a alegria do encontro com Ele, para que nele tenhamos vida plena”,
como nos diz Aparecida.
Sentindo a companhia de Jesus na “tarefa
empreendida de repensar e relançar a missão evangelizadora”, a mensagem final
reconhece a necessidade de “um caminho de conversão resolutamente missionário”,
que tem como pressuposto a necessidade de “maior responsabilidade pastoral”.
A Assembleia foi vivida, o documento
afirma, como “uma verdadeira experiência de sinodalidade, em escuta mútua e
discernimento comunitário do que o Espírito quer dizer a sua Igreja”. Da
“diversidade multifacetada”, os participantes da Assembleia “voltaram-se para
as realidades do continente, em suas dores e esperanças”.
Confira a íntegra do documento: Mensagem
Final da Assembleia Eclesial
O texto observa e denuncia a dor “dos mais
pobres e vulneráveis que sofrem o flagelo da miséria e da injustiça”; também “o
grito de destruição da casa comum” e a “cultura descartável” que afeta
sobretudo as mulheres, migrantes e refugiados, os idosos, os povos indígenas e
afrodescendentes”. A Assembleia diz sentir a dor provocada “pelo impacto e
pelas consequências da pandemia que aumenta ainda mais as desigualdades
sociais, comprometendo até mesmo a segurança alimentar de uma grande parte de
nossa população”.
Os pecados intra-eclesiais também provocam
dor, como “o clericalismo e o autoritarismo nas relações, o que leva à exclusão
dos leigos, especialmente das mulheres, no discernimento e na tomada de
decisões sobre a missão da Igreja, constituindo um grande obstáculo à
sinodalidade”. Junto com isso, é expressa a preocupação com “a falta de
profetismo e de solidariedade efetiva com os mais pobres e vulneráveis”.
Mas também há esperança, nascida da
“presença dos sinais do Reino de Deus, que levam a novas formas de escuta e de
discernimento”. A mensagem mostra o caminho sinodal como “um espaço
significativo de encontro e abertura para a transformação das estruturas
eclesiais e sociais que permitem um renovado impulso missionário e uma
proximidade com os mais pobres e excluídos”. A vida religiosa, “mulheres e
homens que, vivendo contra a maré, dão testemunho da boa nova do Evangelho”, e a
piedade popular são também um motivo de esperança.
Kairós de escuta e discernimento
Vivemos “um Kairos, um tempo favorável à
escuta e ao discernimento” que se conecta com o Magistério e “nos impele a
abrir novos caminhos missionários em direção às periferias geográficas e
existenciais e aos lugares próprios de uma Igreja em saída”.
A partir daí ele pergunta sobre os desafios
e orientações pastorais a serem assumidos, dizendo que “a voz do Espírito
ressoou em meio ao diálogo e ao discernimento”, pedindo uma maior encarnação,
acompanhamento e promoção dos jovens, atenção às vítimas de abusos,
participação ativa das mulheres nos ministérios e nos espaços de discernimento
e tomada de decisões eclesiais.
Também a promoção da vida em sua
totalidade, a formação em sinodalidade para erradicar o clericalismo, a
participação leiga em espaços de transformação, a escuta e o acompanhamento do
grito dos pobres, dos excluídos e dos descartados. Foi apontada a necessidade
de novos programas de formação nos seminários, de dar valor aos povos nativos,
de inculturação e interculturalidade, de lidar com questões sociais e de
formação em sinodalidade.
Na longa lista de elementos a serem levados
em conta, não é fácil resumir as contribuições de tantas pessoas, foi lembrada
a importância da experiência do Povo de Deus, de viver os sonhos da Querida
Amazônia, de acompanhar os povos originários e afrodescendentes na defesa da
vida, da terra e de suas culturas.
Por Luís Miguel Modino, membro da Equipe de
Comunicação Assembleia Eclesial.
.........................................................................................................................................................................
No sábado, 27 de novembro, penúltimo dia de
Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe, foram apresentados os desafios
pastorais que foram refletidos durante os dias de trabalho. Os delegados
construíram juntos, através das apresentações e, sobretudo, diálogos em grupo,
os 12 números que podem orientar e motivar a vida pastoral do povo
latino-americano.
1. Reconhecer e valorizar o papel dos
jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação.
2. Acompanhar as vítimas de injustiças
sociais e eclesiais com processos de reconhecimento e reparação.
3. Promover a participação ativa das
mulheres em ministérios, órgãos governamentais, discernimento e tomada de decisões eclesiais.
4. Promover e defender a dignidade da vida
e da pessoa humana desde a sua concepção até o seu fim natural.
5. Aumentar a formação da sinodalidade para
erradicar o clericalismo.
6. Promover a participação dos leigos em
espaços de transformação cultural, política, social e eclesial.
7. Ouvir o grito dos pobres, excluídos e
descartados.
8. Reformar os itinerários formativos dos
seminários, incluindo temas como ecologia integral, povos nativos, inculturação e interculturalidade e pensamento social da Igreja.
9. Renovar, à luz da Palavra de Deus e do
Vaticano II, nosso conceito e experiência da Igreja do Povo de DEUS, em
comunhão com a riqueza de sua ministerialidade, que evita o clericalismo e favorece a conversão pastoral.
10. Reafirmar e dar prioridade a uma
ecologia integral em nossas comunidades a partir dos quatro sonhos da Querida Amazônia.
11. Promover um encontro pessoal com Jesus
Cristo encarnado na realidade do continente.
12. Acompanhar os povos nativos e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário