domingo, 1 de dezembro de 2019

Papa Francisco em missa deste domingo:

Oração e caridade são tesouros, o consumismo gera violência
Neste I Domingo do Advento, milhares de fiéis do Congo que moram na Itália participaram da missa de 25 anos de fundação da Capelania da Comunidade Congolesa em Roma. Na homilia, em celebração que seguiu a tradição dos ritos aprovados pela Santa Sé, o Papa condenou o consumismo, "que continua a armar o coração de raiva", e orientou para o caminho da oração e da caridade.
Andressa Collet - Cidade do Vaticano A missa na Basílica de São Pedro deste domingo (1), o Primeiro do Advento, foi especial para a comunidade do Congo que mora em Roma e em outras cidades da Itália. Cerca de 1.500 congoleses marcaram presença pelo aniversário de 25 anos de fundação da Capelania da Comunidade na capital italiana. Os fiéis participaram ativamente da celebração eucarística presidida pelo Papa Francisco, que levou em consideração a tradição dos ritos aprovados pela Santa Sé, com cantos, danças e vestes típicas, ou seja, o Missal Romano para as Dioceses do Zaire que incorpora elementos da cultura africana.
Inclusive o Papa fez referência ao uso do “Zaire” logo no início da homilia, em que iniciou comentando as leituras do dia e a frequência do verbo “vir”, já que a própria palavra “Advento” significa “vinda”. E, no primeiro dia do Ano Litúrgico, é um anúncio que marca o ponto de partida:
“O Senhor vem: eis a raiz da nossa esperança, a segurança de que entre as tribulações do mundo chegará a nós a consolação de Deus, uma consolação que não é feita de palavras, mas de presença, da sua presença que vem no meio de nós. (...) O Senhor não nos deixa sozinhos. Veio dois mil anos atrás e virá ainda no final dos tempos, mas vem também hoje na minha vida, na sua vida.”
Jamais somos estranhos na casa de Deus
A nossa vida cheia de problemas e angústias recebe a visita do Senhor, salientou Francisco, ele “jamais se cansará de nós”. Mas “o verbo vir não se conjuga somente para Deus, mas também para nós”, lembrou o Pontífice, para que aceitemos o convite de ir até a casa de Deus, porque ali somos “aguardados e desejados”.
“Queridos irmãos e irmãs, vocês vieram de longe. Deixaram suas casas, deixaram seus afetos e coisas queridas. Ao chegarem aqui, encontraram acolhimento junto a dificuldades imprevistas. Mas para Deus, vocês são sempre convidados, bem-vindos. Para Ele, para o Senhor, jamais somos estranhos, mas filhos esperados. E a Igreja é a casa de Deus: aqui, portanto, sintam-se sempre em casa.”
O convite para a casa do Senhor, porém, às vezes pode receber um não nosso, como aconteceu no tempo de Noé: “enquanto algo de novo e impressionante estava para chegar, ninguém percebia”, porque preocupados em satisfazer as suas vidas. “Não havia espera por alguém, somente a pretensão de ter algo para si, a ser consumido”, acrescentou o Papa, sinalizando os perigos para a fé.
“O consumismo é um vírus que ataca a fé na raiz, porque faz acreditar que a vida depende somente daquilo que você tem, e assim se esquece de Deus que vem ao seu encontro e ao encontro de quem está ao seu lado.”
O consumismo arma o coração de raiva
Depender do consumo, enfatizou, é o verdadeiro perigo que anestesia o coração:
“ Então se vive de coisas e não se sabe mais para que coisa; se têm tantos bens, mas não se faz mais o bem; as casas se enchem de coisas, mas se esvaziam de filhos; esse é o drama de hoje. Perde-se tempo nos passatempos, mas não se tem tempo para Deus e para os outros. E quando se vive para as coisas, as coisas jamais saciam, a avidez cresce e os outros se tornam obstáculos na corrida e, assim, se acaba por sentir-se ameaçados e, sempre insatisfeitos e nervosos, se eleva o nível do ódio. É o que vemos hoje onde o consumismo impera: quanta violência, mesmo só verbal, quanta raiva e vontade de buscar um inimigo a todo custo! Assim, enquanto o mundo está cheio de armas que provocam mortos, não percebemos que continuamos a armar o coração de raiva. ”
Com o verbo “vigiar”, Jesus então quer nos despertar para esses perigos, afirmou o Papa, ao exortar que devemos abrir o coração ao Senhor e aos irmãos:
“A nós hoje cabe vigiar: vencer a tentação de que o sentido da vida é acumular, desmascarar a mentira de que se é feliz quando se há muitas coisas, resistir às luzes deslumbrantes dos consumos, que brilharão por todos os lados neste mês, e acreditar que a oração e a caridade não são tempo perdido, mas os maiores tesouros.”
A oração pela paz no Congo
Ao final da homilia, o Papa fez referência a duas pessoas que foram linchadas neste sábado (30), em Beni, no Congo, por uma multidão que as acusava de fazer parte de um grupo armado responsável pela morte de mais de 100 civis em um mês.
“Hoje rezemos pela paz, gravemente ameaçada no leste do país, especialmente nos territórios de Beni e de Minembwe, onde irrompem os conflitos, alimentados também do exterior, no silêncio cúmplice de muitos.”
E, por intercessão da Beata Marie-Clémentine Anuarite Nengapeta, que antes de ser morta violentamente perdoou o seu assassino, o Papa conclui:
“Peçamos por sua intercessão que, em nome do Deus-Amor, por um futuro que não seja mais uns contra os outros, mas uns com os outros, e se converta de uma economia que serve a guerra para uma economia que sirva a paz. Quem há ouvidos para ouvir, ouça.”
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Francisco no Angelus:
À espera de Jesus,
estejamos dispostos à doação e ao serviço ao próximo
“Vigiar não significa ter materialmente os olhos abertos, mas ter o coração livre e voltado para a direção justa, isto é, disposto à doação e ao serviço", afirmou o Papa neste I Domingo do Advento, na alocução que precede a Oração Mariana do Angelus. Francisco fez referência ao Evangelho e à exortação para que estejamos prontos e vigilantes para a vinda do Senhor.
Andressa Collet – Cidade do VaticanoO Papa Francisco, na alocução que precede a Oração Mariana do Angelus, orientou a sua mensagem aos milhares de peregrinos presentes na Praça São Pedro nas quatro semanas do Advento, que inicia neste domingo (01), quando também começa um novo Ano Litúrgico.
“A liturgia nos conduz a celebrar o Natal de Jesus, enquanto nos lembra que Ele vem todos os dias na nossa vida e retornará gloriosamente no final dos tempos. Esta certeza nos induz a olhar com confiança para o futuro.”
Ao convidar a seguir o profeta Isaías, que nos acompanha todo o caminho do Advento com “uma estupenda teologia da história”, o Papa disse que somos chamados a ter essa visão de fé e de esperança no nosso percurso diário da vida, assumindo inclusive “uma atitude de peregrinação, de caminho rumo a Cristo, sentido e fim da história”.
“Quantos têm fome e sede de justiça e só podem encontrá-la percorrendo as vias do Senhor; enquanto o mal e o pecado provêm do fato de que os indivíduos e os grupos sociais preferem seguir caminhos ditados por interesses egoístas, que provocam conflitos e guerras. Ao invés, se cada um buscasse, com a guia do Senhor, o caminho do bem, então no mundo existiria mais harmonia e concórdia. O Advento é o tempo propício para acolher a vinda de Jesus, que vem como mensageiro de paz para nos indicar as vias de Deus.”
No Evangelho de hoje, a exortação também é para estarmos prontos e vigilantes para a vinda de Jesus:
“Vigiar não significa ter materialmente os olhos abertos, mas ter o coração livre e voltado para a direção justa, isto é, disposto à doação e ao serviço. O sono do qual devemos nos despertar é constituído pela indiferença, pela vaidade, pela incapacidade de instaurar relações genuinamente humanas, de cuidar do irmão sozinho, abandonado ou doente. A espera de Jesus que vem, portanto, deve se traduzir num compromisso de vigilância. Trata-se, antes de tudo, de maravilhar-se diante da ação de Deus, das suas surpresas, e de dar a Ele a primazia. Vigilância significa também, concretamente, estar atentos ao nosso próximo em dificuldade, deixar-se interpelar pelas suas necessidades, sem esperar que ele ou ela nos peçam ajuda, mas aprender a prevenir, a antecipar, como faz sempre Deus conosco.”
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Papa assina hoje à tarde a Carta Apostólica sobre o Presépio
A chegada de Francisco a Greccio, lugar onde São Francisco fez o primeiro presépio, está prevista para às 16h na Itália, 12h no horário de Brasília, e o Vatican News vai transmitir ao vivo a visita, com comentários em português. “Lá vou firmar uma Carta Apostólica sobre o significado e o valor do presépio”, é curta, mas “pode ajudar a se preparar para o Natal”, disse o Papa ao final do Angelus deste domingo (1).
Andressa Collet – Cidade do Vaticano Na tarde deste domingo (1), o Primeiro do Advento, o Papa Francisco vai a Greccio, uma pequena cidade italiana com pouco mais de 1.500 habitantes. Fica na região do Lazio, na província de Rieti, e a cerca de 60 Km de Roma. O anúncio foi confirmado ao final do Angelus, na Praça São Pedro.
“Hoje à tarde vou a Greccio, no lugar onde São Francisco fez o primeiro presépio. Lá vou assinar uma Carta Apostólica sobre o significado e o valor do presépio. Se intitula Admirabile signum, porque o presépio é um sinal simples e maravilhoso da fé cristã. É uma Carta curta, que pode ajudar a se preparar para o Natal.”
Transmissão ao vivo do Vatican News direto de Greccio
A chegada do Pontífice está prevista para 16h na Itália, 12h no horário de Brasília, e o Vatican News vai transmitir ao vivo a visita, com comentários em português. Na gruta do Santuário, um momento de oração e a assinatura da Carta sobre o Presépio para depois, na Igreja, a Liturgia da Palavra.
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Papa em Greccio:
Compartilhem a alegria
com quem está triste, a esperança com quem a perdeu
Depois de 2016, Francisco volta a Greccio para visitar e rezar na Gruta do Presépio onde, pela primeira vez, o Santo de Assis quis reproduzir o evento da Natividade. Daqui também a assinatura e o envio a todos os fiéis da Carta Apostólica Admirabile signum.
Cecilia Seppia, Andressa Collet - Cidade do Vaticano - O Papa Francisco chegou em Greccio, na Província de Rieti, a cerca de 60 Km de Roma com um helicóptero e alguns minutos de antecedência do previsto. Ele saudou alguns doentes com o esperam com os familiares para depois ir até o Santuário Francisco de carro, onde foi recebido com um clima de alegria e maravilha que só o Natal pode presentear.
A assinatura da Carta sobre o Presépio
Na Gruta do Santuário o Papa permaneceu em silêncio e contemplação para rezar sozinho. Em seguida, sobre o altar Francisco assinaou a Carta Admirabile signum, um "presente" a todo o povo de Deus para enaltecer o sentido e o valor do Presépio.
Já na Igreja do Santuário, durante a Liturgia da Palavra, é feita a leitura dos dez parágrafos da Carta sobre o Presépio. Na reflexão final do Papa, o pedido para redescobrir a autenticidade e da simplicidade.
A íntegra da reflexão do Papa
"Quantos pensamentos chegam à mente neste lugar santo! No entanto, diante da rocha destes montes tão queridos a São Francisco, o que somos chamados a fazer é, antes de tudo, redescobrir a simplicidade.
O presépio, que pela primeira vez São Francisco fez neste pequeno espaço, imitando a gruta estreita de Belém, fala por si mesmo. Aqui não há necessidade de multiplicar palavras, porque a cena diante dos nossos olhos exprime a sabedoria de que precisamos para compreender o essencial.
Diante do presépio, descobrimos como é importante para a nossa vida, tantas vezes agitada, encontrar momentos de silêncio e oração. O silêncio, para contemplar a beleza do rosto de Jesus Menino, o Filho de Deus nascido na pobreza de um estábulo. A oração, para exprimir o "obrigado" maravilhado diante deste imenso dom de amor que nos é dado.
Neste simples e maravilhoso sinal do presépio, que a piedade popular acolheu e transmitiu de geração em geração, manifesta-se o grande mistério da nossa fé: Deus nos ama até ao ponto de partilhar a nossa humanidade e a nossa vida. Nunca nos deixa sozinhos; acompanha-nos com a sua presença escondida, mas não invisível. Em todas as circunstâncias, na alegria como na dor, Ele é o Emanuel, Deus conosco.
Como os pastores de Belém, acolhamos o convite para ir à caverna, ver e reconhecer o sinal que Deus nos deu. Então o nosso coração estará cheio de alegria, e poderemos levá-lo para onde há tristeza; estará cheio de esperança, a ser partilhada com aqueles que a perderam.
Vamos nos identificar com Maria, que colocou seu Filho na manjedoura, porque não havia lugar em uma casa. Com ela e com São José, seu esposo, olhemos para o Menino Jesus. Que o seu sorriso, desabrochado na noite, dissipe a indiferença e abra os corações à alegria daqueles que se sentem amados pelo Pai que está nos céus."
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Veja a visita do Papa a Creccio:
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Papa Francisco:
Não importa como montar o presépio; o que conta é que fale à nossa vida
“Com esta Carta, quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças…”, escreve Francisco ao divulgar documento sobre o presépio.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano - “Admirável sinal” (Admirabile Signum) é o título da Carta Apostólica que o Papa Francisco dedica ao presépio para ressaltar o seu significado e valor.
O texto é dirigido a todo o povo de Deus, sobretudo ao núcleo familiar, como uma forma de valorizar a transmissão da fé entre avós, pais, filhos e netos.
“Com esta Carta, quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças ”
Para Francisco, se trata de um “exercício de imaginação criativa” e faz votos de que esta prática “nunca desapareça”. E “onde porventura tenha caído em desuso, se possa redescobrir e revitalizar”.
Assim nasce a tradição
Dividido em 10 pontos, o texto recorda a origem do presépio com São Francisco de Assis, a sua obra de evangelização e as figuras e o simbolismo que o compõem.
A palavra presépio vem do latim praesepium, que significa “manjedoura”. As Fontes Franciscanas narram de forma detalhada o que aconteceu na cidade de Greccio, que fica no Vale de Rieti, a menos de 100 km de Roma.
Quinze dias antes do Natal, Francisco chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: “Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incómodos que Ele padeceu”.
E assim foi: no dia 25 de dezembro de 1223, chegaram a Greccio muitos frades, e também homens e mulheres das casas da região, trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa num lugar designado. Francisco, ao chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro.
“Assim nasce a nossa tradição: todos à volta da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério”, escreve o Papa.
“Com a simplicidade daquele sinal, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização.”
Segundo o Pontífice, armar o Presépio em nossas casas ajuda a reviver a história que aconteceu em Belém. Imaginando as cenas, estimulam-se os afetos e nos sentimos envolvidos na história da salvação.
Despojamento
“O Presépio é um convite a «sentir», a «tocar» a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento.”
Francisco comenta também o simbolismo presente nas várias partes que compõem o presépio: a escuridão da noite, a paisagem e os personagens.
As ruínas e os pobres ali representados recordam que eles são os privilegiados deste mistério. A mensagem que surge do presépio é clara: “não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade”. “Jesus nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver do essencial.”

Nascendo no presépio, escreve o Papa, Deus dá início à única verdadeira revolução: a revolução do amor e da ternura, através da “força meiga” de um menino.

“Do Presépio, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado.”
Deste modo, o presépio se torna para os fiéis um convite a se tornar discípulos de Cristo, a refletir sobre a responsabilidade de evangelizar e ser portador da Boa Nova com ações concretas de misericórdia.
Em outras palavras, não é importante como armar o presépio: “O que conta é que fale à nossa vida”, recorda o Papa. E Francisco conclui:
“Queridos irmãos e irmãs, o Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. (…) E educa para sentir que nisto está a felicidade. Na escola de São Francisco, abramos o coração a esta graça simples, deixemos que do encanto nasça uma prece humilde: o nosso «obrigado» a Deus, que tudo quis partilhar conosco para nunca nos deixar sozinhos.”
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Assista:
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Admirável sinal:
Carta Apostólica do Papa sobre o presépio
Leia na íntegra a nova Carta Apostólica do Papa Francisco: "Admirabile signum".
CARTA APOSTÓLICA
ADMIRABILE SIGNUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
SOBRE O SIGNIFICADO E VALOR DO PRESÉPIO
1. O SINAL ADMIRÁVEL do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrirmos que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele.
Com esta Carta, quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças… Trata-se verdadeiramente dum exercício de imaginação criativa, que recorre aos mais variados materiais para produzir, em miniatura, obras-primas de beleza. Aprende-se em criança, quando o pai e a mãe, juntamente com os avós, transmitem este gracioso costume, que encerra uma rica espiritualidade popular. Almejo que esta prática nunca desapareça; mais, espero que a mesma, onde porventura tenha caído em desuso, se possa redescobrir e revitalizar.
2. A origem do Presépio fica-se a dever, antes de mais nada, a alguns pormenores do nascimento de Jesus em Belém, referidos no Evangelho. O evangelista Lucas limita-se a dizer que, tendo-se completado os dias de Maria dar à luz, «teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (2, 7). Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio.
Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como «o pão vivo, o que desceu do céu» (Jo 6, 51). Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par doutros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: «Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento».[1] Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária.
Passemos agora à origem do Presépio, tal como nós o entendemos. A mente leva-nos a Gréccio, na Valada de Rieti; aqui se deteve São Francisco, provavelmente quando vinha de Roma onde recebera, do Papa Honório III, a aprovação da sua Regra em 29 de novembro de 1223. Aquelas grutas, depois da sua viagem à Terra Santa, faziam-lhe lembrar de modo particular a paisagem de Belém. E é possível que, em Roma, o «Poverello» de Assis tenha ficado encantado com os mosaicos, na Basílica de Santa Maria Maior, que representam a natividade de Jesus e se encontram perto do lugar onde, segundo uma antiga tradição, se conservam precisamente as tábuas da manjedoura.
As Fontes Franciscanas narram, de forma detalhada, o que aconteceu em Gréccio. Quinze dias antes do Natal, Francisco chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: «Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incômodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro».[2] Mal acabara de o ouvir, o fiel amigo foi preparar, no lugar designado, tudo o que era necessário segundo o desejo do Santo. No dia 25 de dezembro, chegaram a Gréccio muitos frades, vindos de vários lados, e também homens e mulheres das casas da região, trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também deste modo a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Gréccio, naquela ocasião, não havia figuras: o Presépio foi formado e vivido pelos que estavam presentes.[3]
Assim nasce a nossa tradição: todos à volta da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério.
O primeiro biógrafo de São Francisco, Tomás de Celano, lembra que naquela noite, à simples e comovente representação se veio juntar o dom duma visão maravilhosa: um dos presentes viu que jazia na manjedoura o próprio Menino Jesus. Daquele Presépio do Natal de 1223, «todos voltaram para suas casas cheios de inefável alegria»[4].
3. Com a simplicidade daquele sinal, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou no coração dos cristãos, permanecendo até aos nossos dias como uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé. Aliás, o próprio lugar onde se realizou o primeiro Presépio sugere e suscita estes sentimentos. Gréccio torna-se um refúgio para a alma que se esconde na rocha, deixando-se envolver pelo silêncio.
Por que motivo suscita o Presépio tanto enlevo e nos comove? Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-Se até à nossa pequenez. O dom da vida, sempre misterioso para nós, fascina-nos ainda mais ao vermos que Aquele que nasceu de Maria é a fonte e o sustento de toda a vida. Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que vem procurar-nos quando estamos desorientados e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado; deu-nos o seu Filho, que nos perdoa e levanta do pecado.
Armar o Presépio em nossas casas ajuda-nos a reviver a história sucedida em Belém. Naturalmente os Evangelhos continuam a ser a fonte, que nos permite conhecer e meditar aquele Acontecimento; mas, a sua representação no Presépio ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais.
De modo particular, desde a sua origem franciscana, o Presépio é um convite a «sentir», a «tocar» a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados (cf.Mt 25, 31-46).
4. Gostaria agora de repassar os vários sinais do Presépio para apreendermos o significado que encerram. Em primeiro lugar, representamos o céu estrelado na escuridão e no silêncio da noite. Fazemo-lo não apenas para ser fiéis às narrações do Evangelho, mas também pelo significado que possui. Pensemos nas vezes sem conta que a noite envolve a nossa vida. Pois bem, mesmo em tais momentos, Deus não nos deixa sozinhos, mas faz-Se presente para dar resposta às questões decisivas sobre o sentido da nossa existência: Quem sou eu? Donde venho? Por que nasci neste tempo? Por que amo? Por que sofro? Por que hei de morrer? Foi para dar uma resposta a estas questões que Deus Se fez homem. A sua proximidade traz luz onde há escuridão, e ilumina a quantos atravessam as trevas do sofrimento (cf. Lc 1, 79).
Merecem também uma referência as paisagens que fazem parte do Presépio; muitas vezes aparecem representadas as ruínas de casas e palácios antigos que, nalguns casos, substituem a gruta de Belém tornando-se a habitação da Sagrada Família. Parece que estas ruínas se inspiram na Legenda Áurea, do dominicano Jacopo de Varazze (século XIII), onde se refere a crença pagã segundo a qual o templo da Paz, em Roma, iria desabar quando desse à luz uma Virgem. Aquelas ruínas são sinal visível sobretudo da humanidade decaída, de tudo aquilo que cai em ruína, que se corrompe e definha. Este cenário diz que Jesus é a novidade no meio dum mundo velho, e veio para curar e reconstruir, para reconduzir a nossa vida e o mundo ao seu esplendor originário.
5. Uma grande emoção se deveria apoderar de nós, ao colocarmos no Presépio as montanhas, os riachos, as ovelhas e os pastores! Pois assim lembramos, como preanunciaram os profetas, que toda a criação participa na festa da vinda do Messias. Os anjos e a estrela-cometa são o sinal de que também nós somos chamados a pôr-nos a caminho para ir até à gruta adorar o Senhor.
«Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer» (Lc 2, 15): assim falam os pastores, depois do anúncio que os anjos lhes fizeram. É um ensinamento muito belo, que nos é dado na simplicidade da descrição. Ao contrário de tanta gente ocupada a fazer muitas outras coisas, os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida. São os mais humildes e os mais pobres que sabem acolher o acontecimento da Encarnação. A Deus, que vem ao nosso encontro no Menino Jesus, os pastores respondem, pondo-se a caminho rumo a Ele, para um encontro de amor e de grata admiração. É precisamente este encontro entre Deus e os seus filhos, graças a Jesus, que dá vida à nossa religião e constitui a sua beleza singular, que transparece de modo particular no Presépio.
6. Nos nossos Presépios, costumamos colocar muitas figuras simbólicas. Em primeiro lugar, as de mendigos e pessoas que não conhecem outra abundância a não ser a do coração. Também estas figuras estão próximas do Menino Jesus de pleno direito, sem que ninguém possa expulsá-las ou afastá-las dum berço de tal modo improvisado que os pobres, ao seu redor, não destoam absolutamente. Antes, os pobres são os privilegiados deste mistério e, muitas vezes, aqueles que melhor conseguem reconhecer a presença de Deus no meio de nós.
No Presépio, os pobres e os simples lembram-nos que Deus Se faz homem para aqueles que mais sentem a necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade. Jesus, «manso e humilde de coração» (Mt 11, 29), nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver do essencial. Do Presépio surge, clara, a mensagem de que não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efêmeras de felicidade. Como pano de fundo, aparece o palácio de Herodes, fechado, surdo ao jubiloso anúncio. Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado.
Muitas vezes, as crianças (mas os adultos também!) gostam de acrescentar, no Presépio, outras figuras que parecem não ter qualquer relação com as narrações do Evangelho. Contudo esta imaginação pretende expressar que, neste mundo novo inaugurado por Jesus, há espaço para tudo o que é humano e para toda a criatura. Do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres com a bilha de água ao ombro às crianças que brincam… tudo isso representa a santidade do dia a dia, a alegria de realizar de modo extraordinário as coisas de todos os dias, quando Jesus partilha conosco a sua vida divina.
7. A pouco e pouco, o Presépio leva-nos à gruta, onde encontramos as figuras de Maria e de José. Maria é uma mãe que contempla o seu Menino e O mostra a quantos vêm visitá-Lo. A sua figura faz pensar no grande mistério que envolveu esta jovem, quando Deus bateu à porta do seu coração imaculado. Ao anúncio do anjo que Lhe pedia para Se tornar a mãe de Deus, Maria responde com obediência plena e total. As suas palavras – «eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38) – são, para todos nós, o testemunho do modo como abandonar-se, na fé, à vontade de Deus. Com aquele «sim», Maria tornava-Se mãe do Filho de Deus, sem perder – antes, graças a Ele, consagrando – a sua virgindade. N’Ela, vemos a Mãe de Deus que não guarda o seu Filho só para Si mesma, mas pede a todos que obedeçam à palavra d’Ele e a ponham em prática (cf. Jo 2, 5).
Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José. Geralmente, é representado com o bordão na mão e, por vezes, também segurando um lampião. São José desempenha um papel muito importante na vida de Jesus e Maria. É o guardião que nunca se cansa de proteger a sua família. Quando Deus o avisar da ameaça de Herodes, não hesitará a pôr-se em viagem emigrando para o Egito (cf. Mt 2, 13-15). E depois, passado o perigo, reconduzirá a família para Nazaré, onde será o primeiro educador de Jesus, na sua infância e adolescência. José trazia no coração o grande mistério que envolvia Maria, sua esposa, e Jesus; homem justo que era, sempre se entregou à vontade de Deus e pô-la em prática.
8. O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços. Naquela fraqueza e fragilidade, esconde o seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja.
O nascimento duma criança suscita alegria e encanto, porque nos coloca perante o grande mistério da vida. Quando vemos brilhar os olhos dos jovens esposos diante do seu filho recém-nascido, compreendemos os sentimentos de Maria e José que, olhando o Menino Jesus, entreviam a presença de Deus na sua vida.
«De fato, a vida manifestou-se» (1 Jo 1, 2): assim o apóstolo João resume o mistério da Encarnação. O Presépio faz-nos ver, faz-nos tocar este acontecimento único e extraordinário que mudou o curso da história e a partir do qual também se contam os anos, antes e depois do nascimento de Cristo.
O modo de agir de Deus quase cria vertigens, pois parece impossível que Ele renuncie à sua glória para Se fazer homem como nós. Que surpresa ver Deus adotar os nossos próprios comportamentos: dorme, mama ao peito da mãe, chora e brinca, como todas as crianças. Como sempre, Deus gera perplexidade, é imprevisível, aparece continuamente fora dos nossos esquemas. Assim o Presépio, ao mesmo tempo que nos mostra Deus tal como entrou no mundo, desafia-nos a imaginar a nossa vida inserida na de Deus; convida a tornar-nos seus discípulos, se quisermos alcançar o sentido último da vida.
9. Quando se aproxima a festa da Epifania, colocam-se no Presépio as três figuras dos Reis Magos. Tendo observado a estrela, aqueles sábios e ricos senhores do Oriente puseram-se a caminho rumo a Belém para conhecer Jesus e oferecer-Lhe de presente ouro, incenso e mirra. Estes presentes têm também um significado alegórico: o ouro honra a realeza de Jesus; o incenso, a sua divindade; a mirra, a sua humanidade sagrada que experimentará a morte e a sepultura.
Ao fixarmos esta cena no Presépio, somos chamados a refletir sobre a responsabilidade que cada cristão tem de ser evangelizador. Cada um de nós torna-se portador da Boa-Nova para as pessoas que encontra, testemunhando a alegria de ter conhecido Jesus e o seu amor; e fá-lo com ações concretas de misericórdia.
Os Magos ensinam que se pode partir de muito longe para chegar a Cristo: são homens ricos, estrangeiros sábios, sedentos de infinito, que saem para uma viagem longa e perigosa e que os leva até Belém (cf. Mt 2, 1-12). À vista do Menino Rei, invade-os uma grande alegria. Não se deixam escandalizar pela pobreza do ambiente; não hesitam em pôr-se de joelhos e adorá-Lo. Diante d’Ele compreendem que Deus, tal como regula com soberana sabedoria o curso dos astros, assim também guia o curso da história, derrubando os poderosos e exaltando os humildes. E de certeza, quando regressaram ao seu país, falaram deste encontro surpreendente com o Messias, inaugurando a viagem do Evangelho entre os gentios.
10. Diante do Presépio, a mente corre de bom grado aos tempos em que se era criança e se esperava, com impaciência, o tempo para começar a construí-lo. Estas recordações induzem-nos a tomar consciência sempre de novo do grande dom que nos foi feito, transmitindo-nos a fé; e ao mesmo tempo, fazem-nos sentir o dever e a alegria de comunicar a mesma experiência aos filhos e netos. Não é importante a forma como se arma o Presépio; pode ser sempre igual ou modificá-la cada ano. O que conta, é que fale à nossa vida. Por todo o lado e na forma que for, o Presépio narra o amor de Deus, o Deus que Se fez menino para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independentemente da condição em que este se encontre.
Queridos irmãos e irmãs, o Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está conosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria. E educa para sentir que nisto está a felicidade. Na escola de São Francisco, abramos o coração a esta graça simples, deixemos que do encanto nasça uma prece humilde: o nosso «obrigado» a Deus, que tudo quis partilhar conosco para nunca nos deixar sozinhos.
Dado em Gréccio, no Santuário do Presépio, a 1 de dezembro de 2019, sétimo do meu pontificado.
[Franciscus]
[1] Santo Agostinho, Sermão 189, 4.
[2] Fontes Franciscanas, 468.
[3] Cf. Tomás de Celano, Vita Prima, 85: Fontes Franciscanas, 469.
[4] Ibid., 86: o. c., 470.
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