domingo, 29 de setembro de 2019

Papa Francisco neste domingo:

Não podemos não chorar,
não podemos não reagir diante destes pecados
"Como cristãos não podemos permanecer indiferentes diante do drama das velhas e novas pobrezas, das solidões mais sombrias, do desprezo e da discriminação de quem não pertence ao “nosso” grupo. Não podemos permanecer insensíveis, com o coração anestesiado, diante da miséria de tantos inocentes. Não podemos não chorar. Não podemos não reagir. Não podemos não chorar, não podemos não reagir. Peçamos ao Senhor a graça de chorar, aquele choro que converte o coração diante destes pecados", disse o Santo Padre em sua homilia.
Cidade do Vaticano - Na manhã deste domingo, 29, o Papa Francisco presidiu a Celebração Eucarística na Praça São Pedro, por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Eis a sua homilia:
"O Salmo Responsorial recordou-nos que o Senhor defende os estrangeiros, juntamente com as viúvas e os órfãos do povo. O salmista faz explícita menção daquelas categorias que são particularmente vulneráveis, frequentemente esquecidas e expostas a abusos. Os estrangeiros, as viúvas e os órfãos são os que não têm direitos, os excluídos, os marginalizados, pelos quais o Senhor tem uma especial solicitude. Por isso, Deus pede aos Israelitas que tenham para com eles uma atenção especial.
No livro do Êxodo, o Senhor adverte o povo que não maltrate de nenhuma forma as viúvas e os órfãos, porque Ele escuta o seu clamor (cf. 22,23). A mesma advertência é retomada duas vezes no Deuteronómio (cf. 24,10; 27,19), com o acrescento dos estrangeiros entre as categorias protegidas. E a razão de tal advertência é claramente explicada no mesmo livro: o Deus de Israel é Aquele que «faz justiça ao órfão e à viúva, ama o estrangeiro e dá-lhe pão e vestuário» (10,18). Esta preocupação amorosa para com os menos privilegiados é apresentada como um traço distintivo do Deus de Israel, e é também exigida, como um dever moral, a todos quantos querem pertencer ao seu povo.
Eis a razão pela qual devemos ter uma atenção especial para com os estrangeiros, como também pelas viúvas, os órfãos e todos os descartados dos nossos dias. Na Mensagem para este 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado repete-se como um refrão o tema: “Não se trata apenas de migrantes”. E é verdade: não se trata apenas de estrangeiros, trata-se de todos os habitantes das periferias existenciais que, juntamente com os migrantes e os refugiados, são vítimas da cultura do descarte. O Senhor pede-nos que ponhamos em prática a caridade para com eles; pede-nos que restauremos a sua humanidade, juntamente com a nossa, sem excluir ninguém, sem deixar ninguém de fora.
Mas, simultaneamente ao exercício da caridade, o Senhor pede-nos que reflitamos sobre as injustiças que geram exclusão, em particular sobre os privilégios de uns poucos que, para se manterem, resultam em detrimento de muitos. «O mundo atual vai-se tornando, dia após dia, mais elitista e cruel para com os excluídos. Os países em vias de desenvolvimento continuam a ser depauperados dos seus melhores recursos naturais e humanos em benefício de poucos mercados privilegiados. As guerras abatem-se apenas sobre algumas regiões do mundo, enquanto as armas para as fazer são produzidas e vendidas noutras regiões, que depois não querem ocupar-se dos refugiados causados por tais conflitos. Quem sofre as consequências são sempre os pequenos, os pobres, os mais vulneráveis, a quem se impede de sentar-se à mesa deixando-lhe as “migalhas” do banquete» (Mensagem para o 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado).
É neste sentido que se compreendem as duras palavras do profeta Amós proclamadas na primeira Leitura (6,1.4-7). Ai dos despreocupados e dos que vivem comodamente em Sião, que não se preocupam com a ruína do povo de Deus, visível aos olhos de todos. Eles não se apercebem do colapso de Israel, pois estão demasiado ocupados a garantir uma boa vida, comidas deliciosas e bebidas refinadas. É impressionante como, à distância de 28 séculos, estas advertências conservam intacta a sua atualidade. Também hoje, na verdade, «a cultura do bem-estar […] nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, […] leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença» (Homilia em Lampedusa, 8 de julho de 2013).
No final, corremos o risco de nos tornarmos, também nós, como aquele homem rico de que nos fala o Evangelho, o qual não se importa com o pobre Lázaro «coberto de chagas [e que] bem desejava […] saciar-se com o que caía da mesa» (Lc 16,20-21). Demasiado absorvido a comprar vestidos elegantes e a organizar esplêndidos banquetes, o rico da parábola não vê os sofrimentos de Lázaro. E também nós, demasiado ocupados a preservar o nosso bem-estar, corremos o risco de não nos darmos conta do irmão e da irmã em dificuldade.
Contudo, como cristãos não podemos permanecer indiferentes diante do drama das velhas e novas pobrezas, das solidões mais sombrias, do desprezo e da discriminação de quem não pertence ao “nosso” grupo. Não podemos permanecer insensíveis, com o coração anestesiado, diante da miséria de tantos inocentes. Não podemos não chorar. Não podemos não reagir.
Se queremos ser homens e mulheres de Deus, como pede São Paulo a Timóteo, devemos «guardar o mandamento […] sem mancha e acima de toda a censura» (1Tm 6,14); e o mandamento é amar a Deus e amar o próximo. Não se podem separar! E amar o próximo como a nós mesmos quer dizer também comprometer-se seriamente pela construção de um mundo mais justo, onde todos tenham acesso aos bens da terra, onde todos tenham a possibilidade de se realizar como pessoas e como famílias, onde a todos sejam garantidos os direitos fundamentais e a dignidade.
Amar o próximo significa sentir compaixão pelo sofrimento dos irmãos e irmãs, aproximar-se, tocar as suas feridas, partilhar as suas histórias, para manifestar concretamente a ternura de Deus para com eles. Significa fazer-se próximo de todos os viajantes maltratados e abandonados pelas estradas do mundo, para aliviar os seus ferimentos e os conduzir ao local de hospedagem mais próximo, onde se possa dar resposta às suas necessidades.
Este santo mandamento foi dado por Deus ao seu povo, e foi selado com o sangue do seu Filho Jesus, para que seja fonte de bênção para toda a humanidade. Para que juntos possamos empenhar-nos na construção da família humana segundo o projeto originário, revelado em Jesus Cristo: todos irmãos, filhos do único Pai.
Confiamos hoje ao amor materno de Maria, Nossa Senhora da Estrada, os migrantes e os refugiados, juntamente com os habitantes das periferias do mundo e quantos se fazem seus companheiros de viagem."
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No Angelus,
apelo do Papa por paz justa e duradoura em Camarões
Aos presentes na Praça São Pedro na manhã deste domingo, o Papa pediu orações para que o encontro de diálogo que terá início na segunda-feira em Camarões, para encontrar soluções para a crise, "seja frutífero e leve a soluções de paz justa e duradoura, em benefício de todos".
Cecilia Sepia - Cidade do Vaticano - Antes de rezar o Angelus na Praça de São Pedro, ao final da Celebração Eucarística por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, o Papa Francisco rezou pela paz na República dos Camarões, às vésperas do grande encontro de diálogo nacional, na qual estarão presentes líderes políticos e religiosos. O Santo Padre pediu orações para que os frutos desta iniciativa levem a uma paz “justa e duradoura”:
“Amanhã, segunda-feira, 30 de setembro, será aberto nos Camarões um encontro de diálogo nacional para a busca de uma solução para a difícil crise que há anos aflige o país. Sentindo-me próximo aos sofrimentos e às esperanças do amado povo camaronês, convido todos a rezar para que esse diálogo seja frutífero e leve a soluções de paz justa e duradoura, em benefício de todos. Maria, Rainha da Paz, interceda por nós.”
As causas da crise
Há meses é verificado nos Camarões um recrudescimento do conflito entre separatistas das regiões anglófonas e governo central. Os separatistas da proclamaram independência no outono de 2017 e, após anos de fracassos nas negociações políticas, foi escolhido o caminho das armas, a situação caiu progressivamente no caos, quase levando a uma guerra civil.
Com a proclamação de independência da República da Ambazônia pelos separatistas e com os fracassos das negociações, o caminho escolhido foi o das armas. Desde então a situação precipitou gradativamente no caos, quase desencadeando uma guerra civil.
A situação nos Camarões
Os confrontos se multiplicaram e, de acordo com algumas estatísticas, em menos de dois anos,mais de 2 mil pessoas morreram, há  milhares de feridos e mais de meio milhão de civis abandonaram suas casas em busca de refúgio nos países vizinhos. Quase 3 milhões de cidadãos vivem em condições de grave insegurança alimentar, entre as quais muitas crianças,  que morrem por causa de doenças que podem ser facilmente tratadas. Em um relatório divulgado no início de maio, a Human Rights Watch denunciou "o uso regular de tortura e de detenção ilegal".
A mediação da Igreja
Nesta espiral de crise e violência, a Igreja vem tentando há algum tempo propor-se como mediadora do conflito, enquanto trabalha incessantemente para apoiar a população sujeita a riscos constantes.
Por esse motivo os representantes religiosos decidiram participar do grande debate nacional anunciado pelo presidente Paul Biya, que será realizado a partir da segunda-feira, 30 de setembro, até o dia 4 de outubro próximo, para discutir os grandes problemas do país.
"Somos obrigados a fazer tudo o que pudermos, mesmo às custas de nossas vidas, para trazer a paz de volta aos Camarões", disse à Agência Fides o cardeal Christian Wiyghan Tumi, arcebispo emérito de Douala, que participará da reunião.
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Assista:
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