Deposito minha esperança em tua Palavra!
No próximo dia 26, as comunidades cristãs católicas celebram o Domingo da Palavra. Este evento anual foi definido em 2019, pelo Papa Francisco, e acontece sempre no terceiro domingo do tempo comum. Esta efeméride vem somar-se ao Mês da Bíblia, celebrado no Brasil há 48 anos, no mês de setembro. Os dois eventos resgatam a relevância da Palavra de Deus na vida cristã, bastante esquecida nos últimos quatro séculos.
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Dom Itacir Brassiani |
Com este evento,
a Igreja quer reforçar o convite insistente de Jesus a ouvir, guardar e
praticar a sua Palavra e, assim, dar ao mundo o testemunho de uma esperança que
nos ajude a superar as dificuldades do presente. “Deposito minha esperança em
tua Palavra”, é o grito de resistência e esperança que atravessa todo o Salmo
119, o mais longo da Bíblia, dedicado inteiramente à meditação da Palavra que
sai da boca de Deus.
No conturbado e
complexo lapso de tempo que vai do século XVI a meados do século XX, a
relevância e a pertinência da Palavra de Deus manteve-se viva graças à
fidelidade do movimento protestante. Neste período, as tradições católicas
priorizaram outros aspectos das fontes da fé. Se não chegou a impedir aos fiéis
o acesso às Sagradas Escrituras, A Igreja ao menos não recomendou que fosse
lida e valorizada.
É claro que,
enquanto inspirada por Deus, a Bíblia contém a Palavra divina. Mas que ninguém
tente confinar a Palavra de Deus aos livros sagrados, aos textos escritos. A
Palavra de Deus é viva e dinâmica. Jesus, a Palavra de Deus que se faz carne,
precede (existiu antes) e excede (ressoa também nos acontecimentos) a Sagrada
Escritura. Com a ajuda da tradição cristã viva, a pessoa de Jesus é a chave que
nos abre seu sentido.
Bento XVI
corrobora isso ao dizer que, em Jesus Cristo, “a Palavra eterna fez-Se pequena;
tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa
ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível; agora a Palavra tem um rosto”. No alto da
cruz, “o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque Se disse até calar, nada
retendo do que nos devia comunicar” (Verbum Domini,
12).
Vale a pena
recordar aqui o apóstolo Pedro. Ele conheceu Jesus depois de uma frustrada
noite de pescaria, quando ele sobe no seu barco repleto de cansaço e desolação
e, desde este vazio, anuncia o Evangelho. No fim, Jesus pede que Pedro avance
para águas mais profundas e lance de novo as redes. Mesmo sabendo por
experiência que a hora não era adequada, em atenção à Palavre dele, jogou a
rede, e foi surpreendido pelo resultado.
Que este Domingo
da Palavra ressoe como apelo e seja vivido como uma oportunidade a
familiarizar-se com a Palavra de Deus, permitindo que o Evangelho seja a luz a
guiar nossos passos, projetos e decisões. Que ele nos ajude a avançar como
peregrinos de esperança. E que, diante das Escrituras, numa atitude de escuta
atenta e dócil acolhida, possamos tecer de novo os laços da unidade cristã.
Afinal, católicos e evangélicos temos todos a mesma Escritura, a Palavra que se
fez carne e Boa Notícia de salvação em Jesus.
Dom Itacir Brassiani - Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)
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