terça-feira, 18 de julho de 2023

Vale a leitura:

Fundamento das Pastorais Sociais da Igreja Católica

Parte I

“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo,
mas, quando pergunto pelas causas da pobreza,
me chamam de comunista”.
Dom Hélder Câmara

A Igreja Católica tem um vasto catálogo de pastorais que querem ser a atenção especial por algum tipo de ação ou segmento da própria Igreja ou da sociedade. As pastorais Catequética, Familiar, Litúrgica, entre outras, são voltadas para o interior da Igreja. Já, as pastorais que se voltam para a sociedade são chamadas de Pastorais Sociais. Entre as Pastorais Sociais, podemos citar: Pastoral da Terra, Pastoral da Criança, Pastoral da Saúde, Pastoral da Mulher Marginalizada. Porém, qual é mesmo o fundamento das Pastorais Sociais da Igreja? Por que a Igreja se preocupa com os problemas sociais? Por que o agir da Igreja na sociedade se dá dessa forma? Na verdade, a preocupação não é com os problemas, mas com as pessoas atingidas por eles.

Toda ação da Igreja tem como objetivo o ser humano, imagem e semelhança de Deus e salvo por Jesus em sua encarnação e ressurreição.

Então, vejamos a fé cristã. Ela tem como centro a vivência da caridade, compreendida como amor a Deus e ao próximo. Há duas formas de se viver a caridade. Uma é a vida de comunidade expressa na vivência fraterna de seus membros. A vida fraterna acontece na família, numa pastoral ou movimento de Igreja, numa comunidade. Entretanto, só a vivência fraterna não é suficiente, pois a caridade é bem maior que essa vivência. Assim, ela se expressa também no serviço aos pobres como socorro aos irmãos e irmãs necessitados. Desde seu início, a Igreja está ao lado dos pobres de forma muito forte. Em tempos passados, os hospitais, as creches e a assistência social eram cuidados, quase que completamente, pela Igreja. Esse tipo de ação social da Igreja é conhecido como “assistência”: dar ao outro aquilo que ele precisa imediatamente.

No século XVII, um cristão leigo, Frederico Ozanan, hoje declarado beato pela Igreja, criou as Conferências de São Vicente de Paulo, inspirado na obra do santo da caridade. As conferências, no sonho de Ozanan, tinham como objetivo discutir as causas da pobreza. Porém, para que as discussões não fossem só teóricas, cada conferência deveria assistir e promover uma família carente.

Aí, está o outro nível de serviço aos pobres feito pela Igreja: a promoção, que é arrumar um emprego ou dar uma formação, para que as pessoas não precisem mais serem assistidas e possam prover o próprio sustento.

A partir do século XIX, com o advento das Ciências Sociais, a Igreja passou a dialogar com elas. No século XX, o Concílio Vaticano II (1962 a 1965) introduziu a Igreja, por fim, na modernidade. Os documentos do Concílio incentivaram a Igreja, cada vez mais, a atuar no serviço aos pobres da sociedade. Voltando às fontes dos seus primórdios, a Igreja compreendeu que sua ação social é parte integrante da fé, pois vem do amor, caridade. Isso significa que se envolver nas questões sociais é uma obrigação da Igreja e não uma opção, algo que eu possa escolher ou não. Debruçando-se mais sobre as realidades sociais e com o auxílio das ciências sociais, a Igreja descobriu que muitos dos problemas que afligem a sociedade não estão aí por acaso e nem são vontade de Deus. O que existem são “estruturas” sociais historicamente construídas e que estão acima das pessoas e dos grupos.

Assim, uma caridade eficaz não pode ser meramente assistencial e promocional. A verdadeira caridade precisa enfrentar os mecanismos sociais que geram a pobreza e a mantém. Para isso, é preciso conhecer o processo de estruturação e organização da sociedade e conhecer também o modo adequado de interferir nessas estruturas, em vista da garantia dos direitos dos pobres e marginalizados.

É preciso compreender que nascemos e vivemos em uma sociedade concreta, organizada de forma bem determinada. A sociedade condiciona e determina, em grande medida, para o bem e/ou para o mal, a vida de todas as pessoas.

É preciso também compreender que a interferência nas estruturas da sociedade enfrenta inúmeras dificuldades, pois há setores sociais bem determinados que se beneficiam dessas estruturas. Esses setores não estão dispostos a perder seus privilégios e fazem forte oposição aos que ousam mudar o modo como a sociedade está estruturada. Outra dificuldade é que essa discussão parece ser muito teórica e não chega ao chão onde as pessoas vivem. Por isso, é preciso um esforço enorme de convencimento dentro da própria Igreja e no meio dos pobres de que essas lutas precisam ser travadas e de que são vontade de Deus, o qual nos convidou a defendermos uma vida plena para todos. Esse esforço de convencimento precisa ser feito também juntos aos pobres e excluídos para que eles mesmo tomem a sua parte no processo, sejam sujeitos dele e tomem, em suas mãos, a direção de suas vidas. É importante ainda que a interferência seja um processo coletivo e social, em parceria com outras forças vivas da sociedade, os quais trarão sua colaboração.

Sendo assim, é necessário que as Pastorais Sociais se preparem para o embate com conhecimento técnico e as análises sociológicas suficientes para lutar. Ainda mais, é preciso que busquem o verdadeiro fundamento dessas ações, o qual é a caridade cristã, para assim se fortalecerem espiritualmente. É preciso que tenham uma verdadeira mística cristã e conheçam a Palavra de Deus e a Doutrina Social da Igreja.

Este texto continua no próximo mês. Aguardo você!

Imagem: billy cedeno por Pixabay

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