segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Reflita com dom Pedro Cipollini:

Momento de crise

Frequentemente ouvimos dizer que nossa sociedade está em  crise, uma crise sem precedentes, porque afeta diretamente o ser humano: “crise antropológica”. A crise em si mesma não é ruim, tanto na vida pessoal como social, pois nos faz crescer, se a assumimos e buscamos soluções. Como a própria palavra diz no seu significado original grego, crise é momento de separação, discernimento e escolha. 

Dom Pedro Cipollini
A crise que atravessamos no seu aspecto mais evidente é uma crise moral, ética. Perdemos referências e valores morais. Não há reação ao mal, á má administração, á violência, nem preocupação com o sofrimento alheio. É a vitória da esperteza e do levar vantagem em tudo. Principalmente falta direção ao conjunto da sociedade para resolver os graves problemas que a afeta. 

Nestes últimos anos cresceu o número dos moradores de rua nas cidades, a fome vai se espalhando. As vítimas de um sistema social injusto e desigual, numa  sociedade onde há sempre mais ricos, a custa da multiplicação da miséria, tendem a ser absorvidas nas estatísticas. Acabam vistas como um fato natural de um “novo normal” (perverso). É a “banalidade do mal” no dizer da filósofa Anna Harendt. 

Em meio a tudo isto, Jesus nos convida a olharmos mais atentamente para as necessidades dos pobres. Para estarmos bem com Deus precisamos passar pela vida do próximo pois, o maior mandamento é o amor a Deus que passa pelo amor aos irmãos. 

Daí o grande apelo à solidariedade que brota do Evangelho. Quando nos lembramos dos dez mandamentos, é nítido que o amor de Deus vem primeiro na ordem dos princípios, mas o amor ao próximo vem primeiro na ordem prática, como ensinou Santo Agostinho.  

Temos necessidade de vencer a cultura individualista na qual estamos mergulhados. Ela  degrada as relações sociais em especial as relações familiares. Somos levados a pensar que para sermos felizes precisamos amar primeiro a si mesmo, como se uma áurea egocêntrica, centrada em si mesmo é que vale a pena: eu em primeiro lugar e acima de tudo e de todos, o resto não interessa. 

Diante da crise moral, política, sanitária, econômica, etc que atravessamos, é necessário voltar aos dez mandamentos da Lei de Deus, os quais Jesus resumiu num só mandamento: Amar. Há necessidade de uma mudança, conversão pessoal, individual e social neste sentido.  

A responsabilidade de cada um é evidente, mas também a responsabilidade do Poder Público que, de forma coordenada e planejada deve ser capaz de implementar políticas públicas, para termos uma sociedade mais justa e fraterna. É isto que justifica a existência do Estado, dos governos e da política, a qual é trabalho em prol do bem comum. 

Jesus fala de um olhar interior luminoso. O olho não tem luz própria, mas iluminado pela fé em Deus e no próximo, torna-se janela da alma, capaz de enxergar as soluções e viabilizá-las. É preciso um olhar diferente sobre o mundo, um olhar de compaixão e misericórdia. Veremos que em qualquer momento de crise, isto faz a diferença.  

Dom Pedro Cipollini Bispo de Santo André (SP)

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