sábado, 22 de outubro de 2022

Reflexão para seu domingo:

Refugiar-se na compaixão de Deus

José Antonio Pagola

De acordo com Lucas, Jesus dirige a parábola do fariseu e o publicano a alguns que se presumem justos diante de Deus e desprezam os outros. Os dois protagonistas que sobem ao templo para orar representam duas atitudes religiosas contrapostas e irreconciliáveis. Mas, qual é a postura acertada diante de Deus? É esta a pergunta de fundo.

O fariseu é um observante escrupuloso da Lei e um praticante fiel de sua religião. Sente-se seguro no templo. Ora de pé e com a cabeça erguida. Sua oração é a mais bela: uma oração de louvor e ação de graças a Deus. Mas não lhe dá graças por sua grandeza, por sua bondade ou misericórdia, e sim pelo que há de bom e grande nele próprio.

Imediatamente, observa-se algo falso nesta oração. Mais que orar, este homem está se contemplando a si mesmo. Conta sua própria história cheia de méritos. Ele precisa sentir-se bem diante de Deus e exibir-se como superior aos outros.

Este homem não sabe o que é orar. Não reconhece a grandeza misteriosa de Deus nem confessa sua própria pequenez. Buscar a Deus para enumerar diante dele nossas boas obras e desprezar os outros é coisa de imbecis. Por trás de sua aparente piedade esconde-se uma atitude “ateia”. Este homem não precisa de Deus. Não lhe pede nada. Basta-se a si mesmo.

A oração do publicano é muito diferente. Ele sabe que sua presença no templo é malvista por todos. Seu ofício de cobrador de impostos é odiado e desprezado. Ele não se escusa. Reconhece que é pecador. O bater no peito e as poucas palavras que sussurra dizem tudo: -o Deus, tem compaixão deste pecador”.

Este homem sabe que não pode vangloriar-se. Não tem nada a oferecer a Deus, mas sim muito a receber dele: seu perdão e sua misericórdia. Em sua oração há autenticidade. Este homem é pecador, mas está no caminho da verdade.

Os dois sobem ao templo para orar, mas cada um traz em seu coração sua imagem de Deus e seu modo de relacionar-se com Ele. O fariseu continua enredado numa religião legalista: para ele o importante é estar em ordem com Deus e ser mais observante do que todos. O cobrador, pelo contrário, abre-se ao Deus do Amor que Jesus prega: aprendeu a viver do perdão, sem vangloriar-se de nada e sem condenar ninguém.

_______________________________

JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

.........................................................................................................................................................
                                                     Reflexão: franciscanos.org.br        BIlustração: vaticannews.va

Nenhum comentário:

Postar um comentário