terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A Rádio do Papa completa 88 anos:

Dos transmissores de Marconi às redes sociais
Em véspera de Dia Mundial da Rádio, anualmente comemorado em 13 de fevereiro, recordamos momentos marcantes que fizeram a história da emissora pontifícia. Do primeiro programa científico até as postagens da era social, passando por oito Papas até a informação multimídia de hoje produzida pelo Vatican News, Vatican Media e Rádio Vaticano Itália.
Cidade do Vaticano - No início dos anos 80, Fernando Bea era uma figura prestigiosa dentro da Rádio Vaticano e foi quem deu vida a um livro sobre os primeiros 50 anos de vida da emissora pontifícia. Ao final da obra, o autor professou: “o dinamismo excepcional e o zelo apostólico de João Paulo II de agora em diante vão se tornar, dia a dia, hora a hora, o ritmo da sua Rádio, que vai seguir cada passo”. Bea intuiu que o dinamismo do jovem Pontífice polonês traria reflexos no trabalho da Rádio Vaticano, mas não podia imaginar a revolução que trazia o Papa que “veio de um país distante”.
O livro de Bea conta minuciosamente, com informações e episódios, os primeiros anos da emissora vaticana, obrigada desde o início a mostrar sua capacidade de “influencer”, em vez de se limitar a fornecer à Santa Sé um eficiente e tranquilo serviço de radiotelegrafia, criado por Marconi a Pio XI.
Um baluarte racional pela paz
Estúdio
A propaganda fascista e depois nazista, que já usava de maneira moderna mas também sem escrúpulos a rádio, faz da Rádio Vaticano um contrabalanço através de ensinamentos do Papa e também das informações de primeira mão oriundas dos episcopados europeus – ideologias liberticidas que em muitos países estavam consumando a Igreja. E quando tudo precipitava para o conflito, o célebre “nada se perde com a paz, mas tudo pode ser perdido com a guerra” de Pio XII se transforma, mesmo que ignorado, um baluarte de racionalidade contra a loucura destrutiva que envenenava o resto do éter.
Microfone amigo que fala em 30 línguas
E é sempre o livro de Bea que recorda uma reportagem, tantas vezes citada, produzida pela Statio Radiophonica Vaticana durante os anos da II Guerra Mundial, de mais de um milhão e 200 mil mensagens transmitidas do Guichê de Informações – entre os anos 40 e 46 – que ajudam tantas mulheres a ter notícias sobre os maridos, irmãos e namorados desaparecidos ou prisioneiros de guerra.
Funcionários
O renascimento depois da guerra para a Rádio Vaticano se traduz num salto exponencial com a inauguração, em 1947, do Centro de Transmissão de Santa Maria de Galeria que suporta, em nível tecnológico, o esforço editorial realizado nos anos do Concílio. O Vaticano II é um teste jornalístico sem precedentes para a emissora que, enquanto isso, “aprendeu” a falar em 30 línguas e que consegue contar todas as fases de produção com 3 mil horas de transmissão e 300 mil Km de fitas de gravação.
Rádio de opinião
Paulo VI é um jornalista e quer que a “sua” Rádio ofereça chaves de leitura cristãs dos fatos do mundo. Quer jornalistas que agitem as consciências, não somente técnicos que façam funcionar a máquina. Isso é subentendido em 30 de junho de 1966 quando, em meio ao maquinário do Centro de Transmissão, explica de querer melhorar a Rádio Vaticano porque, diz ele: “para nada serve ter um magnífico instrumento, se depois não sabemos utilizar magnificamente”.
Papa Pio XI e autoridades
Por isso, a partir de 1970, as salas do Palácio Pio, ocupadas por várias siglas católicas, começam a dar espaço para a redações e estúdios. Depois, no Ano dos três Papas, 72 dias de fogo que afetam os ritmos bem compassados da emitente: para dar um exemplo, a cobertura das primeiras viagens ao exterior do Papa Montini com poucos jornalistas e ainda transmissões em menos. O tsunami que muda tudo é o primeiro Papa polonês da Igreja.
Velho e Novo
Momento atual
Quando João Paulo II infringe o protocolo e fala à multidão no dia da sua eleição, o gesto é um presságio do ímpeto com que a Rádio Vaticano deve quebrar os esquemas e hábitos consolidados. O Pontificado de Papa Wojtyla é contado no segundo dos dois livros, publicados em 2011 pela Livraria Editoria Vaticana (LEV), que sintetizam os primeiros 80 anos de história da Rádio Vaticano.
O autor da segunda parte é Alessandro De Carolis, que trabalha no jornalismo vaticano desde o Jubileu de 2000. E é justamente o Ano Santo, com suas 6 mil horas de transmissão, que se transforma num divisor de águas entre a Rádio pré-Internet e aquela sucessiva que deveria mudar várias vezes a pele para se adaptar aos condicionamentos impostos pela tecnologia e pelas mutações da web e das redes sociais à informação, ou seja, aquele “areópago da comunicação moderna”, como define Bento XVI durante sua visita à Rádio em 3 de março de 2006.
Rádio hoje
Nesse aerópago, Papa Francisco indicou com um Motu proprio uma nova direção, aquela da reorganização da mídia vaticana através de um único dicastério. Um desafio ainda aberto, que fala as mil línguas da interatividade e que requer a máxima credibilidade, própria de um veículo institucional e durante o breve segmento do “tempo real”. Tudo isso distante 90 anos dos transmissores de Marconi mas que, para fazer funcionar um novo motor, às vezes é necessário o coração de um válvula velha.


                                                                                                Eugenio Bonanata, Andressa Collet
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12 de fevereiro de 1931,
dia em que o Papa inaugurou a Rádio
Em 12 de fevereiro de 88 anos atrás, um dia depois do aniversário do Tratado de Latrão, Pio XI inaugurou a “Statio Radiophonica Vaticana”. O tesouro tecnológico construído por Guglielmo Marconi abre as fronteiras do mundo ao Magistério dos Papas. Eis a crônica da primeira transmissão papal ao vivo da história.
Guglielmo Marconi entre os maquinários da Rádio Vaticano


Cidade do Vaticano - Sopra uma tramontana discreta, em Roma, por volta das quatro e meia da tarde, mas não preocupa a multidão que estava se reunindo em diferentes pontos do centro, porque é um dia especial, 12 de fevereiro de 1931, e os aglomerados de pessoas se notam sobretudo nos lugares onde há um aparelho de rádio.
Não que seja uma novidade, mas desta vez é diferente. Há curiosidade pelo grande evento, demonstrado pelas redações de jornais e até pelas lojas de itens elétricos que penduraram alto-falantes do lado de fora. Entre a Via IV Novembre, Piazza Vittorio, Via Nazionale e em outros lugares reúnem-se centenas de pessoas que se tornam milhares, somando com as de Turim e outras cidades italianas, e também de em Melbourne, Nova York, Québec e não só.
Edifício na colina
Papa Pio XI
Há outra multidão esmagada naqueles mesmos minutos no espaço de alguns cômodos, cheios de circuitos e maquinários que atordoam de maneira ensurdecedora. Parece uma oficina das maravilhas. Na realidade é o edifício construído, em dois anos, na colina atrás da Basílica de São Pietro, no verde dos jardins. Com suas torres e arquitetura sóbria, o prédio é mais um dos imensos locais transformados por Pio XI após a assinatura do Tratado de Latrão. O ponto de encontro dos olhares é o grande microfone hexagonal sustentado por quatro molas dentro de um círculo de metal. Às quatro e vinte da tarde, Pio XI chega ao local.
Microfone livre
O primeiro a se aproximar do grande microfone foi o grande arquiteto. Guglielmo Marconi tinha 56 anos e dois anos antes, Pio XI, que queria uma estação de rádio de última geração para a recém-criada Cidade do Vaticano, fez-lhe tal proposta.
Primeiros equipamentos
O inventor da rádio visita o Vaticano em 11 de junho de 1929, apenas quatro dias depois da assinatura do Tratado de Latrão. Estava acompanhado por Francesco Pacelli, homem-chave nas negociações entre Santa Sé e Estado italiano.
Os trabalhos de construção começaram logo e quando se aproxima o segundo aniversário do Tratado, que sancionou  a independência da Santa Sé, se aproxima também a inauguração da rádio que garantirá ao Centro da Igreja um maior grau de liberdade.
Uma hora inesquecível
Diante do microfone, um Marconi emocionado que sublinha o aspecto mais marcante da novidade. Depois de “vinte séculos” de magistério pontifício que se “fez ouvir” com os documentos, é a “primeira vez” em que este pode ser ouvido “simultaneamente” pela “voz viva” do Papa.
Papa no dia da inauguração
E Pio XI, que tinha escrito de próprio punho a primeira mensagem de rádio, não queria decepcionar as expectativas. Às 16h49, o Papa entoa em latim, uma oração-apelo-universal que reúne a criação e os sofredores, Deus e os governantes, ricos e pobres, patrões e operários, diante da “invenção admirável de Marconi”.
Uma hora depois, Pio XI e Marconi estão nas proximidades da Casina Pio IV, sede da Academia das Ciências. Na presença de estudiosos membros da associação, o construtor da Rádio do Papa foi solenemente nomeado membro da Academia a pedido do diretor da emissora pontifícia, pe. Joseph Gianfranceschi, jesuíta e físico de fama internacional.
Audição clara
As crônicas detalhadas daquele dia refletem o interesse e o clamor suscitados pela primeira transmissão papal ao vivo da história. O sucesso também é devido à excelente qualidade da transmissão. Os jornais dos dias sucessivos noticiam aquela extraordinária hora.
Papa e autoridades
Os Reais do Piemonte voltaram ao hotel para ouvirem a mensagem de rádio, filas de habitantes nas ruas de Veneza, a competição anunciada pelo jornal inglês “The Universe” com um prêmio de 5 libras esterlinas para quem enviasse o melhor pensamento sobre ouviu a voz do Papa.
As observações do repórter do “Times” em apontar que o discurso de Pio XI tinha sido “um pouco mais rápido do que os dos lábios acostumados a transmissões de rádio”. Ou as palavras do presidente da Sociedade Nacional Americana de Radiodifusão que de Nova York refere a Marconi de transmissões captadas perfeitamente em “lugares como Nassau, nas Índias Ocidentais”.
Mas, talvez, a notícia mais curiosa tenha sido a do jornal do Papa. O l’Osservatore Romano daqueles dias relata uma correspondência de Praga de um médico surdo que ouviu a voz de Pio XI no rádio, graças a um aparelho que ele inventou. O título era: “Até os surdos o ouviram”. Não é um milagre, mas é de tirar o chapéu para o humorismo.
                                                                                                             Alessandro De Carolis
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