Em uma mensagem
enviada do Hospital Gemelli de Roma, o Papa se dirige aos participantes da
Assembleia Geral da Pontifícia Academia para a Vida e alerta sobre os
desafios da atual crise global: "Se não analisarmos seriamente nossas
resistências profundas à mudança, tanto como indivíduos quanto como sociedade,
continuaremos a repetir os mesmos erros cometidos diante de crises
anteriores".
O Papa Francisco, nesta segunda-feira, 03 de março, dirigiu uma mensagem aos participantes da Assembleia Geral da Pontifícia Academia para a Vida, que tem como tema: "Fim do mundo? Crises, responsabilidades e esperanças". No texto, o Pontífice destaca a necessidade de uma profunda reflexão sobre a atual "policrise", que envolve desafios como guerras, mudanças climáticas, crises energéticas, pandemias, fluxos migratórios e inovações tecnológicas, e ressalta que essa convergência de crises demanda uma revisão das concepções humanas sobre o mundo e uma escuta atenta do conhecimento científico.
Um olhar sobre o
destino do mundo
Francisco
enfatiza a importância de examinar com atenção a representação do mundo e do
cosmo. "Se não analisarmos seriamente nossas resistências profundas à
mudança, tanto como indivíduos quanto como sociedade, continuaremos a repetir
os mesmos erros cometidos diante de crises anteriores", alerta. O
Pontífice lamenta que a humanidade tenha desperdiçado oportunidades de
transformação, como no caso da pandemia de Covid-19: "Poderíamos ter
trabalhado mais intensamente na transformação das consciências e das práticas
sociais".
Segundo o Papa,
um passo essencial para evitar a estagnação diante dos desafios globais é saber
escutar: "O tema da escuta é decisivo. Ele é uma das palavras-chave de
todo o processo sinodal que iniciamos e que agora está na fase de implementação".
O Papa também elogia a abordagem da Assembleia, que busca integrar essa escuta
em sua metodologia. "Vejo nela um esforço para praticar aquela 'profecia
social' a que também o Sínodo se dedicou".
Ciência e ética
na construção do futuro
Ao sublinhar a
relevância da ciência na construção de um novo olhar sobre a vida, Francisco
destaca que "o conhecimento científico nos apresenta continuamente novas
descobertas. Basta considerar o que nos dizem sobre a estrutura da matéria e a
evolução dos seres vivos". Para o Papa, essa visão dinâmica da natureza
exige uma reformulação da ideia de "criação contínua", afastando-se
da tecnocracia como solução. "Não será a tecnocracia que nos salvará.
Submeter-se a uma desregulação utilitarista e neoliberal global significa impor
a lei do mais forte, e essa é uma lei que desumaniza".
A esperança como
fundamento da ação
O Santo Padre
reforça a necessidade de cultivar a esperança como atitude essencial diante das
crises globais. "A esperança não consiste em esperar resignadamente, mas
em lançar-se com vigor em direção à verdadeira vida, que vai muito além do
estreito perímetro individual", recordando em seguida as palavras do Papa
Bento XVI: "A esperança está ligada ao fato de estar em união existencial
com um 'povo' e só pode se realizar plenamente dentro desse 'nós'".
Nesse contexto,
o Pontífice destaca a urgência de fortalecer organizações internacionais que
possam responder eficazmente às crises globais. "Infelizmente, constatamos
uma crescente irrelevância dos organismos internacionais, minados por atitudes
míopes que priorizam interesses particulares e nacionais. No entanto, devemos
continuar a trabalhar com determinação para 'organizações mundiais mais
eficazes, dotadas de autoridade para assegurar o bem comum global, a
erradicação da fome e da miséria e a defesa inegociável dos direitos humanos
fundamentais'", referindo-se à encíclica Fratelli tutti.
Um compromisso
pelo bem da humanidade
O Papa finaliza
sua mensagem confiando os membros da Pontifícia Academia para a Vida à
intercessão de Maria, "Sede da Sabedoria e Mãe da Esperança" e
encoraja os participantes da Assembleia a caminharem "como povo peregrino,
povo da vida e pela vida, confiantes na promessa de 'um novo céu e uma nova
terra'".
A mensagem foi
enviada do Hospital Gemelli, em Roma, onde Francisco se encontra desde 14 de
fevereiro, continuando a realizar alguns trabalhos e atividades pastorais. O
Pontífice concluiu sua saudação concedendo sua bênção a todos os presentes e ao
trabalho realizado pela Pontifícia Academia para a Vida.
Thulio Fonseca - Vatican News
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