A presença de Maria no plano de Deus e na vida eclesial
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Ícone de Nossa Senhora com o Menino Jesus |
O plano de Deus referente à salvação humana
realizou-se pela resposta positiva de numa criatura, a bem-aventurada Virgem
Maria, para ser a mãe do Salvador. O Senhor a escolheu na sua infinita bondade,
para que ele entrasse na realidade humana. Desde que o homem pecou, pensou o
Senhor a nova Eva, uma nova geração que seria inaugurada pelo seu Filho, Jesus,
na qual haveria uma inimizade entre a primeira Eva e a mulher, entra a sua
descendência e a descendência da mulher, no caso de Maria (Gn 3,15). Na
anunciação disse o anjo à Maria que ela conceberia e daria à luz um filho, cujo
nome seria Jesus (Lc 1,31), o Salvador da Humanidade. Ela viveu o plano do
Senhor, onde em tudo se faria a vontade dele, segundo a palavra de Deus, dita
pelo anjo (Lc 1,38).
Dentro do mês vocacional, no terce iro
domingo, sabendo que o povo cristão, católico é chamado a rezar pelas
vocações, celebramos nós a vida religiosa, e, também a Assunção de Nossa
Senhora aos Céus. Os religiosos assumem os votos de pobreza, castidade e
obediência, na missão evangelizadora da Igreja e no mundo. A Assunção é uma
festa bonita que expressa a presença de Maria na vida do povo, as devoções, os
seus títulos que fazem com que todas as gerações a chamarão bem-aventurada,
porque o Deus todo-poderoso fez por ela grandes coisas e santo é o seu nome (Lc
1, 48-49). A Assunção de Maria tornou-se um dogma, verdade de fé, proclamado
pela Igreja onde se afirmou que ela foi elevada aos céus em corpo e alma,
associada ao mistério de seu Filho, Jesus Cristo. Ela foi concebida sem o
pecado original de modo que ela teve uma morte natural, e, antes que seu corpo
voltasse ao nada, ela foi ressuscitada pelo Senhor Deus, pelo Pai, em unidade
com o Espírito Santo. Como criatura ela antecede a todo o gênero humano, com a
ressurreição dos mortos, pois as coisas ocorridas nela logo após a sua morte
serão dadas para todas as pessoas no final da historia. É muito importante
analisar a forma como os santos padres, os primeiros escritores cristãos
elaboraram uma doutrina a respeito de Maria, a mãe do Filho de
Deus.
Um corpo livre do pecado
O Papa Pio XII, na proclamação do dogma da
Assunção de Nossa Senhora, primeiro de Novembro de 1950, citou um dos santos
padres para fundamentar a verdade de fé, São João Damasceno, padre escritor dos
séculos VII e VIII, afirmou que era conveniente que aquela que tinha guardado
ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, após a sua morte, livre de
toda a corrupção. Era conveniente que aquela que trouxera no seio o Criador
como Verbo de Deus encarnado, morasse nos tabernáculos divinos. Era também
conveniente que a Mãe de Deus possuísse o que pertence ao Filho e fosse
venerada por toda a criatura como mãe e serva de Deus [1].
Maria como a pessoa que fez a vontade do Pai
e era a bem-aventurada
Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos
IV e V especificou o motivo pelo qual Maria chamar-se bem aventurada, ao
interpretar a passagem bíblica onde os seus discípulos, que estavam com Jesus
disseram que sua mãe, os seus irmãos estavam lá, fora, perto dele de modo que o
Senhor afirmou quem eram a sua mãe, os seus irmãos?! E estendendo a mão, Jesus
disse que quem faz a vontade do seu Pai que está nos céus, era seu irmão, irmã,
e mãe (Mt 12,46-50). Maria estava dentro desta palavra de salvação, porque ela
fez a vontade do Pai [2].
Santo Agostinho ainda falou do elogio que o
Senhor recebeu de uma mulher que disse ser bem-aventurada o ventre que o gerou
e os seios que o amamentaram. Jesus afirmou que antes seriam bem-aventurados
aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam (Lc 11,27-28). Jesus teve
presente a sua mãe sendo bem-aventurada porque ela observou a Palavra de Deus,
proveniente do Verbo do Senhor por meio do qual foi criada e nela fez-se
carne [3].
Jesus, a forma de servo
Santo Agostinho ainda disse que a Virgem
Maria concebeu e deu à luz um filho, por causa da forma manifestada de servo,
pois um menino nasceu para a humanidade (Is 9,6). Mas pelo fato de que o Verbo
de Deus, que permanece para sempre (Is 40,8) fez-se carne para habitar entre as
pessoas (Jo 1,14) por causa da forma de Deus, que está escondida, a humanidade
chamou o Senhor de Emanuel, Deus conosco (Mt 1,23; Is 7,14). Fez-se homem,
permanecendo Deus, para que o Filho do Homem pudesse também se chamar Deus com
a humanidade. Exulte, portanto o mundo porque veio a ele aquele que o criou. O
Criador de Maria nasceu de Maria, o Salvador da humanidade [4].
Cristo nasceu do Pai e de Maria
O bispo de Hipona também teve presentes as duas gerações, uma eterna e outra temporal na única Pessoa do Senhor. Jesus Cristo nasceu de Deus Pai, sendo Deus como Ele, homem pela mãe, Maria; da imortalidade do Pai, da virgindade da mãe, do Pai sem o tempo, eterna, da mãe no tempo sem a participação humana; do Pai como princípio de vida, da mãe para colocar fim à morte [5].
O nascimento humano e divino de Jesus
São Cirilo, bispo de Alexandria, século V disse que o nascimento de Jesus na humanidade estava unido ao seu ser humano e em conjunto com Deus. O Verbo mesmo encarnando-se na bem-aventurada Virgem, fez dela o próprio templo, porque aquele que saiu de Maria era do ponto de vista exterior, ser humano, mas, era intimamente verdadeiro Deus. O bispo continuou dizendo que aquela que foi considerada como bem-aventurada, por isso foi com razão chamada Mãe de Deus, pois a Virgem Mãe, Maria, gerou na carne o Filho de Deus, Jesus que nasceu dela [6].
Hino à mãe de Deus
Rábula de Edessa, bispo na Síria, século V, compôs um hino à Virgem Maria como mãe de Deus. Ela é santa, mas Maria é também tesouro maravilhoso e esplêndido, dado a todo o mundo, luz irradiante do Incompreensível, templo puro do Criador de todas as coisas. Através dela foi anunciado Aquele que tirou os pecados do mundo e os redimiu. Fortalece a nossa fé e doa a paz para o mundo inteiro. O bispo teve presente que os fiéis supliquem à Maria para que a nossa maldade não leve para a ruína e Maria volta-se ao seu povo, enquanto ela reza ao seu Unigênito, o Filho saído dela, para que tenha piedade de todos os fiéis, pela sua santa oração [7].
O bispo continuou a sua súplica em forma de
hino à Maria pedindo-lhe que ela intercedesse junto ao seu Unigênito pelos
pecadores que nela buscam refúgio. Todos os flagelos que atingiram a precedente
geração, também afetam as pessoas na vida real. Por isso os seres humanos
querem pela intercessão de Maria junto ao seu Filho, a misericórdia e o Senhor
tenha piedade de todos os pecadores e as pecadoras [8].
A assunção de Maria, Mãe de Deus.
São João Damasceno, monge, sacerdote, de Damasco, na Síria, séculos VII e VIII, disse que Maria foi submetida às leis da natureza através da morte, o seu corpo imaculado, mas ela recebeu a graça da incorruptibilidade (1 Cor 15,53). O Criador do universo acolheu com as mesmas mãos a alma santa na qual o Deus encarnado encontrou nela, a sua habitação. O Senhor concedeu a honra àquela que pela sua natureza humana, Ele a escolheu na sua infinita bondade para com os seres humanos, como mãe, segundo o plano da salvação, encarnando-se e aceitando a convivência humana. Ela teve uma morte maravilhosa, do momento que ela foi acolhida por Deus. Ela teve a morte natural, mas não permaneceu na morte e o seu corpo não se dissolveu na corrupção. O seu corpo foi preservado, mudando-se nela em tabernáculo grandioso e divino, livre da morte e destinado a durar pela eternidade junto com Deus. Após a sua morte ela teve a graça da assunção por parte de Deus, de seu Filho, na real habitação celeste, divina [9].
A presença de Maria leva as pessoas até
Deus, ao seu Filho no Espírito Santo. Maria nunca está sozinha porque ela
carrega nos braços o seu Filho Jesus Cristo. Nós vivamos bem com a presença de
Maria para que a nossa vida esteja ligada a Deus, ao próximo como a nós mesmos.
Maria interceda por nós junto a Deus e pela paz no mundo.
______________
[1] Cfr. Da Constituição Apostólica
Munificentissimus Deus, do Papa Pio XII. (AAS 42 [1950] 760-762. 767-769).
In: Liturgia das Horas, Ofício das Leituras. São Paulo, Edições
Paulinas, 1987, pg. 1515.
[2] Cfr. Agostino. Commento al
Vangelo di san Giovanni, 10,3. In: La teologia dei padri, v. 2. Roma,
Città Nuova Editrice, 1982, pg. 161.
[3] Cfr. Idem, pg. 161.
[4] Cfr. Santo Agostino d`Ippona. La
Vergine Maria, 22. Pagine scelte a cura di Michele Pellegrino. Milano,
Edizioni Paoline, 1993, pg. 67.
[5] Cfr. Idem, 28, pg. 73.
[6] Cfr. Cirillo di Alessandria. Contro
coloro che non riconoscono che Maria è la Madre di Dio, 4. In: Idem, pg.
161.
[7] Cfr. Rabbula di Edessa. Inni
liturgici, 1-5. In: Idem, pg. 163.
[8] Cfr. Idem, pg. 163.
[9] Cfr. Giovanni Damasceno. Omelia
sul transito di Maria, 1,10-11, 12-13. In: Idem, pgs. 171-172.
Dom Vital Corbellini - Bispo de Marabá
(PA)
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