terça-feira, 6 de outubro de 2020

Presidência da CNBB manifesta-se sobre a Fratelli Tutti,

encíclica lançada no dia 4 de outubro pelo Santo Padre

A presidência da CNBB divulgou, nesta segunda-feira, 5 de outubro, uma nota sobre a terceira encíclica lançada pelo Papa Francisco no último dia 4 de outubro: Fratelli Tutti. No documento, os bispos afirmam que a Encíclica é um convite ao diálogo generoso a ser acolhido por todas as pessoas, como possibilidade para encontrar novos itinerários, a partir das indicações do Santo Padre para investimentos na dimensão universal da doutrina do amor e na melhor política – fundamentada na caridade social.

A presidência da CNBB afirma que a Igreja no Brasil acompanhou com muita atenção e alegria a assinatura e a publicação da Encíclica Fratelli Tutti. A nota também enaltece a coragem do Papa Francisco que, com sua voz profética, aponta para o esvaziamento das palavras que consolidaram o ideário de um mundo moderno – liberdade, justiça, democracia e unidade. “O Santo Padre também adverte a respeito do atual sistema econômico: não gera vida. Ao contrário disso, aprofunda desigualdades sociais”, diz um trecho do documento.

Leia a nota na íntegra:

Encíclica Fratelli Tutti

A Igreja no Brasil acompanhou com muita atenção e alegria a assinatura e a publicação da Encíclica Fratelli Tutti. A apresentação da Encíclica, em cerimônia simples, mas muito significativa, ocorreu no túmulo de São Francisco de Assis, inspiração para o magistério do Papa Francisco.

O Santo Padre, que já havia indicado a necessidade de a Igreja sair rumo às periferias existenciais, agora nos pede para vencer as sombras de um mundo fechado. Um caminho que exige investimentos na dimensão universal da doutrina do amor e na melhor política – fundamentada na caridade social.

A Encíclica é publicada em contexto oportuno, quando se percebe que muitas sociedades, com seus líderes e projetos, ao invés de promoverem o bem comum, geram mais divisão e polarizações, criando abismos entre grupos. Uma divisão que se reflete e é ampliada nas plataformas e redes sociais.

Fratelli Tutti é um convite ao diálogo generoso a ser acolhido por todas as pessoas. Eis a possibilidade para encontrar novos itinerários, a partir das indicações do Santo Padre. Louvado seja Deus pela coragem do Papa Francisco que, com sua voz profética, aponta para o esvaziamento das palavras que consolidaram o ideário de um mundo moderno – liberdade, justiça, democracia e unidade. O Santo Padre também adverte a respeito do atual sistema econômico: não gera vida. Ao contrário disso, aprofunda desigualdades sociais.

A Encíclica é um convite a cada pessoa para efetivamente participar na reabilitação de uma sociedade que precisa curar as suas feridas. O texto do Papa Francisco estimula a reflexão e as ações concretas ante aqueles que permanecem caídos e feridos, nossos irmãos. Uma pergunta interpelante: seguiremos o exemplo do Bom Samaritano ou permaneceremos indiferentes à dor de nosso semelhante?

A Igreja no Brasil vai se dedicar à Encíclica e, inspirada em suas reflexões, trilhará novos percursos para ajudar na construção da Fraternidade Universal. Um compromisso com a promoção do bem comum, dos valores universais e da nossa fé.

Brasília-DF, 5 de outubro de 2020

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte, MG
Presidente

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral

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Baixe o documento

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Sobre Encíclica:

"Fratelli tutti", forte documento para

a renovação moral da política e da economia, dizem bispos EUA

A Encíclica “desafia-nos a superar o individualismo da nossa cultura e a servir o próximo com amor, vendo Jesus Cristo em cada pessoa e buscando uma sociedade de justiça e misericórdia, compaixão e interesse recíproco", afirma o presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos.

Vatican News - A Encíclica "Fratelli tutti sobre a fraternidade e a amizade social oferece "uma visão poderosa e urgente para a renovação moral da política e da economia, do nível local ao global, chamando-nos a construir um futuro comum que realmente sirva ao bem da pessoa humana”.

É o que afirma em uma nota o arcebispo de Los Angeles e presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, Dom José H. Gomez, ao saudar a terceira Encíclica do Papa Francisco, divulgada no domingo, 4 de outubro. Um documento que representa “uma importante contribuição à Doutrina Social da Igreja - escreve o prelado - e que oferece “um ensinamento profundo e belo: Deus nosso Pai criou cada ser humano com igual santidade e dignidade, com iguais direitos e deveres, e nosso Criador nos chama a formar uma única família humana na qual vivemos como irmãos e irmãs”.

A Encíclica - frisa Dom Gomez - “desafia-nos a superar o individualismo da nossa cultura e a servir o próximo com amor, vendo Jesus Cristo em cada pessoa e buscando uma sociedade de justiça e misericórdia, compaixão e interesse recíproco".

Por fim, do bispo estadunidense, os votos de que “os católicos e todas as pessoas de boa vontade reflitam” sobre o documento pontifício e assumam “um novo compromisso na busca da unidade da família humana”.

                                                                                                                 Vatican News Service – IP

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“Fratelli tutti”:

com Francisco uma Encíclica à procura da fraternidade

O Papa assinou em Assis uma nova Encíclica. O jornalista e vaticanista português Octávio Carmo oferece-nos um primeiro comentário sobre este texto papal.

Rui Saraiva – Porto - Francisco de Roma deixou-se inspirar por Francisco de Assis e colocou-se na esteira do futuro propondo um caminho de fraternidade. O Papa assinou em Assis neste sábado dia 3 de outubro a Encíclica “Fratelli Tutti”, “Todos Irmãos”. Um documento sobre “a fraternidade e a amizade social”. 

O desafio da fraternidade

Desde o primeiro dia do seu pontificado, que o Papa Francisco se apresentou ao mundo com a palavra “irmãos”. Logo ali na noite da sua eleição, em Roma, a 13 de março de 2013: “Irmãos e irmãs, boa noite!” – disse.

E lançou um desafio: “Comecemos este caminho, bispo e povo, um caminho de fraternidade e de confiança entre nós.”

Depois da Encíclica “Lumen Fidei”, em 2013 e da “Laudato Si”, em 2015, Francisco dirige-nos um grande desafio. O desafio da fraternidade proposta por Jesus: amar o próximo como a mim mesmo.

O jornalista e vaticanista da Agência Ecclesia, Octávio Carmo, fez para o Vatican News um primeiro comentário sobre a Encíclica do Papa.

“Fratelli tutti?”

“De Lampedusa a Assis, passando por Paris e Abu Dhabi. ‘Fratelli Tutti’ deve ser a encíclica menos romana de que tenho memória, em quase 20 anos de profissão e outros mais de estudo, nesta área.

Tal como a Laudato Si', em 2015, procurou responder com o conceito de ecologia integral aos desafios das alterações climáticas, em pleno debate que levaria ao Acordo de Paris, a encíclica sobre a fraternidade e a amizade social quer propor valores fundamentais num mundo marcado pela pandemia. E oferecer uma resposta à questão inicial de todo o edifício ético ocidental, vinda do próprio Deus: Onde está o teu irmão?

Como vimos com a trágica crise dos últimos meses, acima da dignidade humana têm estado valores económicos, jogos políticos e interesses partidários. Mas a vida nunca é relativa.

A este respeito, recordo as perguntas que surgem no primeiro livro da Bíblia, o Génesis, que me parecem fundadoras da ética ocidental: “Onde está o teu irmão?” e “Que [lhe] fizeste?”.

O “interrogatório” de Deus a Caim, após a morte do seu irmão Abel, condensa o apelo fundamental que viria a ser sintetizado no ensinamento de Jesus Cristo: amar o próximo como a si mesmo.

Outro momento central do pontificado parece evidente na escolha do tema da nova encíclica: a fraternidade humana. Na histórica viagem a Abu Dhabi, a 4 de fevereiro de 2019, onde assinou com o imã de Al-Azhar uma declaração que condena a violência em nome da religião, o Papa deixou uma frase que define a sua visão do diálogo entre religiões e destas com a sociedade: “Hoje também nós, em nome de Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma única família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a arca da fraternidade”.

A pandemia devolveu-nos a perceção de limite. Não estávamos prontos para isso, no frenesim de 2020. Temos diante de nós o desafio de retirar consequências éticas e antropológicas da passagem por esta situação: o que somos, quando chega o fim?

A transformação dos mais vulneráveis em sujeitos dispensáveis é uma das marcas mais negativas (e temo que seja permanente) deste tempo. Caímos na globalização da indiferença, que o Papa denunciava na sua primeira viagem, carregada de simbolismo, em 2013, à ilha de Lampedusa.

Habituamo-nos ao sofrimento do outro. Uma crítica terrível, de Francisco, que nos convida agora a redescobrir a amizade social, um conceito que une sujeitos e instituições na construção de uma nova sociedade, marcada pela fraternidade. Fratelli Tutti, como pedia São Francisco de Assis, irmão de todos.”

Octávio Carmo, jornalista e vaticanista da Agência Ecclesia, com uma primeira leitura, sobre a Encíclica do Papa Francisco dedicada ao tema da fraternidade.

Porque somos “todos irmãos”.

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