domingo, 14 de dezembro de 2025

Reflexão para o seu domingo:

O amor à vida

José Antonio Pagola

Diante das diferentes tendências destrutivas que podem ser detectadas na sociedade contemporânea (necrofilia), Erich Fromm fez um apelo vigoroso a desenvolver tudo que seja amor à vida (biofilia), se não quisermos cair no que o célebre cientista chama “síndrome de decadência”.

Devemos certamente estar muito atentos às diversas formas de agressividade, violência e destruição que são geradas na sociedade moderna. Mais de um sociólogo fala de autêntica “cultura da violência” Mas existem outras formas mais sutis e, por isso mesmo, mais eficazes de destruir o crescimento e a vida das pessoas.

A mecanização do trabalho, a massificação do estilo de vida, a burocratização da sociedade, a coisificação das relações são outros tantos fatores que estão levando muitas pessoas a sentir-se não seres vivos, mas peças de uma engrenagem social.

Milhões de indivíduos vivem hoje no Ocidente vidas cômodas, mas monótonas, onde a falta de sentido e de projeto pode afogar todo crescimento verdadeiramente humano.

Então, algumas pessoas acabam por perder o contato com tudo o que é vivo. Sua vida se enche de coisas. Só parecem vibrar adquirindo novos artigos. Funcionam segundo o programa que lhes dita a sociedade.

Outras pessoas buscam todo tipo de estímulos. Precisam trabalhar, produzir, agitar-se ou divertir-se. Hão de experimentar sempre novas emoções, algo excitante que lhes permita sentir-se ainda vivas.

Se algo caracteriza a personalidade de Jesus é seu amor apaixonado pela vida, sua biofilia. Os relatos evangélicos o apresentam lutando contra tudo que bloqueia, mutila ou minimiza a vida. Sempre atento ao que pode fazer as pessoas crescer, sempre semeando vida, saúde, sentido.

Ele mesmo nos traça sua tarefa com expressões tomadas de Isaías: “Os cegos veem e os coxos andam; os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem: os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia. E feliz aquele que não se escandalizar de mim”.

Verdadeiramente felizes são aqueles que descobrem que ser crente não é odiar a vida, mas amá-la; não é bloquear ou mutilar nosso ser, mas abri-lo às suas melhores possibilidades. Muitas pessoas abandonam hoje a fé em Jesus Cristo, antes de ter experimentado a verdade destas suas palavras: “Eu vim para que os seres humanos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                          Fonte: franciscanos.org.br   Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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