Memória da procissão do Encontro
Semana Santa de 2016 - Paróquia São José - Paraisópolis - MG (Arquivo do blog) |
Celebramos, tradicionalmente, em tempos normais, na
Quarta-feira da Semana Santa, a piedosa celebração da Procissão do Encontro.
Neste ano só faremos memória à distância pois as procissões estão supressas.
Mas vale a pena fazer refletir sobre esse fato da piedade popular. A Procissão
do Encontro consiste no encontro de Nossa Senhora das Dores com o Senhor dos
Passos. Normalmente, as mulheres saem de um ponto da paróquia com a imagem de
Nossa Senhora das Dores e os homens de outro ponto, com o Senhor dos Passos.
Ambas as imagens chegam juntas e se encontram em frente à Igreja Matriz. Após a
procissão, quem preside faz um pequeno sermão (ou homilia) em frente ou dentro
da Igreja.
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Dom Orani João Tempesta |
Precisamos, nos dias de hoje, mesmo que sejam por filmes de
anos anteriores, resgatar algumas celebrações, que fazem parte da devoção
popular, sobretudo, as celebrações da Semana Santa. A Semana Santa culmina
sempre no Tríduo Pascal, de Quinta-feira Santa ao domingo da Ressurreição. Mas
ela se inicia no Domingo de Ramos, com a bênção dos Ramos, e devemos vivenciá-la
a semana inteira. Na Segunda-Feira, temos o a Procissão do Depósito de Jesus,
seguido do ofício de Trevas; na Terça-Feira, temos a Procissão do Encontro e,
na Quarta-Feira Santa, a meditação das Sete Dores de Nossa Senhora, com o
Sermão das Dores. De Quinta-feira em diante, iniciando-se com a Missa dos
Santos Óleos na Catedral Metropolitana, as celebrações que já conhecemos.
Por isso, nos dias de hoje, mais do que nunca precisamos
resgatar essas celebrações e fazermos com que o povo tome gosto por elas e os
ajude em sua espiritualidade durante a Semana Santa. Conforme foi dito, nesse
ano devido à pandemia da Covid-19, não seria possível participar dessas
celebrações, evitando aglomerações, mas podemos participar por meio da TV,
Rádio e internet.
Na procissão do Encontro, Nossa Senhora das Dores e Jesus
dos Passos se entreolham, ou seja, trocam olhares, não dizem nada, mas um
contempla o sofrimento do outro. Por outro lado, o coração se enche de
gratidão, por estarem cumprindo a missão, na qual Deus os chamou.
Podemos contemplar pelo olhar de Nossa Senhora, o olhar de
muitas mães que perdem seus filhos para as drogas, para a violência ou perdem
seus filhos por acidente de carro ou moto. Façamos uma prece por todas as mães
que perderam seus filhos durante a pandemia da Covid-19, para que com a força
da fé, revigorem as suas forças e continuem a sua caminhada aqui na terra, na
certeza de que um dia todos nos reencontraremos na eternidade.
Quando Jesus encontra com Maria sua Mãe, e as outras
mulheres de Jerusalém, como podemos acompanhar na 8ª estação da Via Sacra,
Jesus diz: “Mulheres de Jerusalém, não choreis por Mim; chorai antes por
vós mesmas e pelos vossos filhos. Pois dias virão em que se dirá: “Felizes as
estéreis, as entranhas que não tiveram filhos e os peitos que não
amamentaram”. Jesus quer dizer que não deveriam chorar por Ele, pois Ele
estava cumprindo a missão na qual Deus o chamou. Mas, antes deveriam chorar por
aqueles que praticam a violência ou por aqueles que o mandaram matar. E
deveriam chorar pelos tempos difíceis que estariam por vir.
Portanto, somos convidados nessa procissão a contemplar as
imagens de Jesus e de Nossa Senhora das Dores. Duas imagens que nos ensinam e
deixam o nosso coração tomado de emoção. Primeiro, a Imagem de Cristo, que nos
ensina a obediência filial a Deus, até a morte de Cruz. Se fez obediente ao
Pai, por amor a nós e através da morte de Cruz, nos resgatou do pecado e com a
Ressurreição nos dá a garantia da vida eterna e que a vida vence a morte. E ao
contemplarmos a imagem de Nossa Senhora das Dores, podemos observar o olhar
triste, o olhar de dor, como gostam os artistas de representar, mas ao mesmo
tempo um olhar que se conforma à vontade do Pai.
Peçamos ao Senhor, nessa piedosa memória da celebração da
Procissão do Encontro, que o Senhor console o nosso Brasil e afaste dele todo o
mal. Console as mães que perdem seus filhos para o crime e drogas. Console
tantas famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social e aquelas
pessoas que são feridas em sua dignidade. Por fim, que o Senhor console todos
que são vítimas de corrupção e extorsão. Enfim, que o Senhor console todos
aqueles que agora choram, para que logo mais, possam ter a certeza de que vão
sorrir.
Que o nosso Brasil e a nossa cidade, principalmente, que
agora está chorando devido à pandemia da Covid-19, logo possam sorrir, com a
vacinação para toda a população. Que as pessoas possam ter mais Deus em seu
coração e, consequentemente, mais amor ao próximo. É disso que precisamos para
construir um mundo mais justo e fraterno. Para obtermos o “novo normal” depois
da pandemia, não é somente com a vacina, mas sim, o que deve mudar é o coração
das pessoas. Se certas atitudes não mudarem, continuaremos da mesma forma.
Celebremos essa Semana Santa com o coração cheio de
confiança, na certeza de que não ficaremos no calvário, mas que chegaremos à
glória da Ressurreição. Que o choro e o sofrimento são passageiros, mas a
alegria final é eterna.
Que a Virgem Maria, a Mãe das Dores, interceda por nós junto
ao seu Filho Jesus, nosso Redentor. Amém.
Cardeal Orani João Tempesta - Arcebispo do Rio de Janeiro
(RJ)
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