domingo, 24 de fevereiro de 2019

Reflexão para seu domingo:

“Sejam misericordiosos,
como também o vosso Pai é misericordioso" (Lc 6,36)
Deus que nos ama e perdoa, nos convida a fazermos o mesmo.

A vida de um cristão é uma grande contradição, ou seja, dar um testemunho diferente do que se espera a maioria das pessoas neste mundo. Somos chamados a sermos sinais de misericórdia, mesmo diante dos grandes desafios, porque nosso Pai age permanentemente de misericórdia conosco.
A liturgia deste sétimo domingo do tempo comum, nos alerta sobre a gratuidade das relações, sobretudo no que diz respeito ao perdão e a caridade ao próximo.
A história de Jesus é a expressão concreta do ato de amor totalmente livre e universal (enquanto éramos pecadores, ele foi o primeiro a amar-nos) com quem Deus se entrega à humanidade e em quem revela o que é. O cristão, portanto, deve amar com um amor gratuito e universal, porque Deus em Cristo nos amou assim. A própria capacidade de amar nos é dada pelo fato de que já fomos objeto de amor. Devemos agir com misericórdia, porque fomos os primeiros a necessitar do perdão e da compaixão. Deste modo devemos recordar que o princípio da vida moral e do amor cristão, livre e universal, da caridade não podem ser entendido fora do Evangelho.
São Lucas, no Evangelho deste domingo, não enuncia este princípio em forma abstrata, mas em forma concreta, recolhendo uns ditos de Jesus. Todos estes preceitos são indicações que nos são apresentados de forma dramática para dar referência a situações concretas, sobre a qualidade e a direção da ação humana em vista de sua conformação à ação divina (“Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso” Lc 6,36).
“Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam; Bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam; Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra; Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles (Lc 6,27-31).
Estas palavras de Jesus podem parecer assustadoras por causa da radicalidade e da necessidade. Porem é uma realidade que não podemos perder de vista. Esta direção é categórica. Jesus com suas indicações de como viver uma vida radicada nas palavras do Evangelho, deseja moldar nossa vida e ações no Homem celeste, como nos indica São Paulo na segunda leitura.
De certo modo, Jesus quer nos mostrar alguns exemplos de como é a vida nova e, o que ele nos mostra devemos aplicar em todas as áreas da vida. Nós mesmos devemos ser sinais da presença do Reino de Deus, sinais para indicar que algo aconteceu. Deve aparecer aos olhos do mundo a partir de nossa vida que o Reino de Deus está presente no meio de nós. Se é verdade que somos solidários com o homem que está em nós e cuja dinâmica é o pecado e a morte, também é verdade que, aderindo ao Evangelho, tornamo-nos solidários com Cristo e com a sua dinâmica de amor, vida e ressurreição.
Caros amigos, ouvindo novamente o Mestre que nos diz hoje: "Amai os vossos inimigos, fazei bem àqueles que vos odeiam" (Lc 6, 27), também nós fazemos o que Ele nos deu na sua última noite, sabendo que o entregariam à cruz, quando ele lavou os pés e disse:
“Vocês compreenderam o que acabei de fazer? Vocês dizem que eu sou o Mestre e Senhor. E vocês têm razão; eu sou mesmo. Pois bem: eu, que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz (Jo 13,12-15).
Façamos da oração de coleta deste domingo - “Concedei, ó Deus Todo-poderoso, que procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras e ações” – uma inspiração e um clamor para todos nós, de sempre recordarmos que sem a oração, não somos nem mesmo capazes de desejar fazer o bem. De pedir que sejamos homens e mulheres novos, transformados cotidianamente pela Palavra de Deus, acolhendo concretamente em nossas vidas a verdadeira “bondade e compaixão” que vem do Senhor. Ele “retribuirá a cada um conforme a sua justiça e a sua fidelidade” (1Sm 23,26).
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sábado, 23 de fevereiro de 2019

A "transparência" no centro do terceiro dia do

Encontro no Vaticano sobre menores
Durante a oração inicial deste sábado foi lida a experiência de um abusado: “Estou cansado e exausto, é como se se escondessem atrás de seus muros, a sua dignidade, os seus cargos que eu não entendo. Dói-me porque fui abusado, porque não dizem a verdade, e porque aqueles que deveriam ser ministros da verdade e da luz estão escondidos nas trevas".

Cidade do Vaticano A "transparência" é o tema central do terceiro dia do Encontro no Vaticano sobre "A proteção dos menores na Igreja" (21-24 fevereiro). Os temas dos dois primeiros dias foram: responsabilidade e accountability (prestar conta).
O fruto da luz consiste na justiça e na verdade
Também na manhã deste sábado os trabalhos tiveram início na Sala Nova do Sínodo, na presença do Papa, com a oração de abertura. Depois do hino "Veni, Creator Spiritus", foi lida uma passagem da Carta de São Paulo aos Efésios (5: 1-11) que exorta a caminhar na caridade:
A imoralidade sexual e qualquer espécie de impureza ou cobiça nem sequer sejam mencionadas entre vós, como convém a santos. Nada de palavrões ou conversas tolas, nem­ de piadas de mau gosto: são coisas incon­venientes; entregai-vos, antes, à ação de graças. Pois, ficai bem certos: nenhum libertino ou impuro ou ganancioso – que é um idólatra – tem herança no reino de Cristo e de Deus. Que ninguém vos iluda com palavras fúteis:­ é isso que atrai a ira de Deus sobre os rebeldes. Não sejais cúmplices destes. Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor.  Procedei como filhos da luz. E o fruto da luz é toda espécie de bondade e de justiça e de ver­dade. Discerni o que agrada ao Senhor e não tomeis parte nas obras estéreis das tre­vas, mas, pelo contrário, denunciai-as. 
Um abusado: ministros da luz escondidos nas trevas
Como ocorreu nos dias anteriores, em seguida teve a leitura da experiência de um abusado:
"Eu me sinto como um mendigo nos portões do castelo. Um mendigo da verdade, da justiça, da luz e tudo o que eu obtenho é o silêncio e pouquíssima informação, que eu tenho que extrapolar. Estou cansado e exausto, é como se se escondessem atrás de seus muros, a sua dignidade, os seus cargos que eu não entendo. Dói-me porque fui abusado, porque não dizem a verdade e porque aqueles que deveriam ser ministros da verdade e da luz estão escondidos nas trevas".
"Salvai-nos da tentação de negar os crimes"
Um longo silêncio precedeu a oração final:
"Deus Santo, vós nos chamastes à santidade e nos enviastes aos homens como testemunhas de vossa verdade. Vós nos Iluminastes com a luz do Evangelho e quisestes que vivêssemos como filhos da luz. Nós Vos pedimos: dai-nos coragem para dizer a verdade e a liberdade para proclamar a nossa responsabilidade. Salvai-nos da tentação de negar os crimes e esconder a injustiça. Dai-nos a força para começar tudo de novo e de não desistir quando o pecado e a culpa obscurecem a luz do Evangelho. Fortalecei a nossa confiança em Vosso Filho, que é o único caminho, a verdade e a vida. O Vosso nome seja louvado por toda a eternidade".
Três discursos e liturgia penitencial
O programa de hoje: dois discursos pela manhã. O primeiro foi de uma religiosa nigeriana, Ir. Verônica Openibo, superiora geral da Sociedade do Santo Menino Jesus, sobre o tema "Estar disponíveis: enviados ao mundo". O segundo foi do cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique e Freising, presidente da Conferência Episcopal Alemã, que refletiu sobre o tema "Uma comunidade de fiéis transparente". O terceiro discurso, no período da tarde: a jornalista mexicana Valentina Alazraki fala sobre o tema "Comunicação: para todas as pessoas". Às 17h30, será realizada na Sala Regia a Liturgia Penitencial. Amanhã de manhã, às 9h30, o encontro termina com a missa celebrada também na Sala Regia.
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Papa na Liturgia Penitencial:
Há um longo caminho pela frente
"Precisamos reconquistar nossos irmãos e irmãs nas congregações e nas comunidades, reconquistar sua confiança e conseguir novamente sua disponibilidade para colaborarem conosco, para estabelecermos juntos o Reino de Deus", disse o Papa ao final de sua alocução.
Cidade do Vaticano - No final do terceiro dia do Encontro sobre a Proteção dos Menores na Igreja, o Papa Francisco presidiu na Sala Regia do Palácio Apostólico, uma Liturgia Penitencial na presença dos presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo. Eis suas palavras:
“Irmãos e irmãs, 
todos conhecemos a Parábola do Filho Pródigo. Nós a contamos frequentemente e frequentemente fizemos homilias sobre ela.  Nas nossas congregações e nas nossas comunidades a consideramos nada mais que óbvia: declama-se aos pecadores para induzi-los ao arrependimento. Talvez tenha se tornado um hábito tão comum, que esquecemos algo importante. Esquecemos rapidamente de aplicar essa Escritura para nós mesmos, de nos ver pelo que somos, ou seja filhos pródigos.  
Precisamente como o filho pródigo do Evangelho, pedimos nossa parte da herança, ganhamo-la e agora a estamos esbanjando com muito desempenho. Essa crise dos abusos é uma expressão disso. O Senhor nos confiou a administração dos bens da salvação, Ele confia e acredita que nós vamos cumprir Sua missão, que vamos proclamar a Boa Nova e vamos construir a estabelecer o Reino de Deus.
Muito pelo contrário, o que fazemos? Fazemos jus ao que nos foi confiado? Nós não poderíamos responder a essa pergunta com um "sim" honesto, não se tem dúvida disso. 
Frequentemente ficamos por demais parados, olhamos para outro lado, evitamos conflitos - estávamos demasiadamente confortáveis para nos confrontarmos com o lado escuro da Igreja.  Traímos portanto a confiança  em nós depostiada, de modo especial em relação ao abuso no âmbito da responsabilidade da Igreja, que é substancialmente nossa responsabilidade. Não garantimos às pessoas a proteção que elas têm direito de ter, destruímos a esperança e as pessoas foram brutalmente violadas no corpo e no espírito.
O filho pródigo do Evangelho perde tudo: não apenas sua herança, mas também seu estado social, sua boa posição, sua reputação. Não seria de se admirar se coubesse a nós um destino semelhante, se as pessoas falam mal de nós, se há desconfiança em nós, se alguns ameaçam retirar seu apoio moral. Não devemos reclamar por causa disso: mais do que isso, precisaríamos nos perguntar o que deveríamos fazer diferente. Ninguém pode se furtar, ninguém pode dizer: mas eu pessoalmente não fiz nada de mal. Nós somos irmãos (no episcopado) e não somos responsáveis apenas por nós mesmos, mas também por cada membro da fraternidade e pela própria fraternidade.
O que precisamos fazer de modo diferente e por onde precisamos começar? Olhemos mais uma vez o filho pródigo do Evangelho. Para ele a situação começa a melhorar ao resolver ser muito humilde, desempenhar cargos muito simples e não pretender nenhum privilégio. Sua situação muda quando ele se reconhece e admite ter cometido um erro, ele confessa isso ao Pai, fala com ele abertamente e está pronto para sofrer as consequências disso. Deste modo, o Pai experimenta a grande alegria pela volta do seu filho pródigo e ajuda a fazer com que os irmãos se ajudem mutuamente. 
Seremos capazes de fazer isso? Desejaremos fazer isso? O atual encontro vai desvendar isso, deve desvendá-lo, se quisermos demonstrar que somos dignos filhos do Senhor, nosso Pai celeste. Como ouvimos e discutimos hoje e nos dois dias precedentes, isso implica assumirmos responsabilidades, mostrarmos a accountability (a obrigação de se dar conta daquilo que se faz) e instituirmos a transparência.
O caminho à nossa frente para implementarmos de verdade tudo isso de modo sustentável e apropriado é longo. Conseguimos progressos variados caminhando com velocidades diferentes. O encontro atual foi somente um passo entre muitos. Não acreditemos que apenas porque começamos a trocar algo entre nós, todas as dificuldades tenham sido eliminadas. E como para o filho do Evangelho que volta para casa, nem tudo está resolvido – quanto mais não seja, ele vai precisar reconquistar seu irmão. Nós precisamos fazer a mesma coisa: precisamos reconquistar nossos irmãos e irmãs nas congregações e nas comunidades, reconquistar sua confiança e conseguir novamente sua disponibilidade para colaborarem conosco, para estabelecermos juntos o Reino de Deus".
Testemunho
Durante a liturgia penitencial, também um testemunho:
O abuso, de qualquer tipo, é a maior humilhação que um indivíduo possa sofrer. É preciso confrontar com a consciência de que não se pode defender contra a força superior do agressor. Você não pode escapar do que acontece, mas você tem que suportar, não importa o quão ruim seja. Quando se vive o abuso, gostaríamos de acabar com tudo. Mas isso não é possível.
Gostaria de escapar, então acontece que você não é mais si mesmo. Gostaria de fugir tentando escapar de si mesmo. Assim, com o tempo, a pessoa fica completamente sozinha. Você está sozinho, porque se retirou para outro lugar e não pode ou não quer voltar para si mesmo. Quanto mais acontece, menos você retorna a si mesmo. Você é outra pessoa e sempre permanecerá assim. O que você carrega dentro é como um fantasma, que os outros não são capazes de ver. Nunca verão você e não conhecerão você completamente. O que mais magoa é a certeza de que ninguém vai entender você. E isso fica com você pelo resto da vida.
As tentativas de retornar ao verdadeiro eu e de participar do mundo "precedente", como antes do abuso, são tão dolorosas quanto o próprio abuso. Você sempre vive em dois mundos ao mesmo tempo. Eu gostaria que os agressores pudessem entender que criam essa divisão nas vítimas. Pelo resto de nossas vidas.
Quanto maior o seu desejo e as suas tentativas de reconciliar esses dois mundos, mais dolorosa é a certeza de que isso não é possível. Não há sonho sem lembranças do que aconteceu, nenhum dia sem recordações (flashbacks).
Agora consigo administrar melhor essa situação, aprendendo a viver com essas duas vidas. Eu tento me concentrar sobre o meu direito divino de estar vivo. Eu posso e devo estar aqui. Isso me dá coragem. Acabou agora. Eu posso continuar. Eu tenho que continuar. Se eu desistisse agora ou parasse, eu deixaria que essa injustiça interferisse na minha vida. Eu posso evitar que isso aconteça aprendendo a controlá-lo e aprendendo a falar sobre isso.
Exame de consciência
A Parábola do Pai misericordioso nos mostra que Deus oferece o perdão e uma esperança futura. O Filho que deixou o Pai, porém, não pode permanecer longe, mas deve reconhecer sua culpa, arrepender-se e retornar ao Pai.
Durante três dias, conversamos entre nós e ouvimos as vozes das vítimas sobreviventes sobre os crimes que as crianças e os jovens sofreram na nossa Igreja. Perguntamos um ao outro: como podemos agir com responsabilidade e quais são as medidas que precisamos tomar agora? Mas para enfrentar o futuro com nova coragem, devemos dizer, como o filho pródigo: "Pai, pequei". Devemos avaliar onde há necessidade de ações concretas para as Igrejas locais, para os membros de nossas Conferências Episcopais, para nós mesmos. E isso exigirá de nossa parte uma visão honesta da situação em nossos países e de nossas ações.
Que abusos foram cometidos contra crianças e jovens por clérigos e outros membros da Igreja em meu país? O que eu sei sobre as pessoas da minha diocese que foram abusadas e violentadas por padres, diáconos e religiosos? Como a Igreja em meu país respondeu àqueles que foram submetidos a abusos de poder, consciência e abuso sexual? Que obstáculos colocamos na frente deles? Nós os ouvimos? Nós procuramos ajudá-los? Procuramos justiça para eles? Eu mantive minhas responsabilidades?
Na Igreja do meu país, como nos comportamos com os bispos, sacerdotes, diáconos e religiosos acusados de abuso sexual? Como tratamos aqueles cujos crimes foram estabelecidos? E o que eu pessoalmente fiz para evitar essa injustiça e estabelecer justiça? O que eu deixei de fazer? Que atenção demos em nosso país às pessoas cuja fé foi abalada e às pessoas que sofreram e foram indiretamente feridas e afetadas por tais horríveis eventos? Há ajuda para famílias e parentes de pessoas que foram abusadas? Ajudamos pessoas nas paróquia onde o acusado e os criminosos estavam trabalhando? Eu me permiti acompanhar os sofrimentos dessas pessoas? Que medidas adotamos em nosso país para evitar uma nova injustiça? Trabalhamos para sermos coerentes em nossas ações? Fomos coerentes? Na minha diocese, fiz todo o possível para fazer justiça e aliviar as feridas das vítimas e das pessoas que sofrem por causa delas? Eu negligenciei o que é importante?
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                                                                                                                 Fonte: vaticannews.va

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Leituras do

7º Domingo do Tempo Comum
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 1.ª Leitura: 1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23
Primeiro Livro de Samuel:
Naqueles dias, Saul pôs-se em marcha e desceu ao deserto de Zif. Vinha acompanhado de três mil homens, escolhidos de Israel, para procurar Davi no deserto de Zif.
Davi e Abisai dirigiram-se de noite até ao acampamento, e encontraram Saul deitado e dormindo no meio das barricadas, com a sua lança à cabeceira, fincada no chão. Abner e seus soldados dormiam ao redor dele.
Abisai disse a Davi: “Deus entregou hoje em tuas mãos o teu inimigo. Vou cravá-lo em terra com uma lançada, e não será preciso repetir o golpe”.
Mas Davi respondeu: “Não o mates! Pois quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar impune?”
Então Davi apanhou a lança e a bilha de água, que estavam junto da cabeceira de Saul, e foram-se embora. Ninguém os viu, ninguém se deu conta de nada, ninguém despertou, pois todos dormiam um profundo sono que o Senhor lhes tinha enviado.
Davi atravessou para o outro lado, parou no alto do monte, ao longe, deixando um grande espaço entre eles.
E Davi disse: “Aqui está a lança do rei. Venha cá um dos teus servos buscá-la! O Senhor retribuirá a cada um conforme a sua justiça e a sua fidelidade. Pois ele te havia entregue hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o ungido do Senhor.
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Salmo: 102
- O Senhor é bondoso e compassivo.
- O Senhor é bondoso e compassivo.
- Bendize, ó minha alma, ao Senhor,/ e todo o meu ser, seu santo nome!/ Bendize, ó minha alma, ao Senhor,/ não te esqueças de nenhum de seus favores!
- Pois ele te perdoa toda culpa,/ e cura toda a tua enfermidade;/ da sepultura ele salva a tua vida/ e te cerca de carinho e compaixão.
- O Senhor é indulgente, é favorável,/ é paciente, é bondoso e compassivo./ Não nos trata como exigem nossas faltas,/ nem nos pune em proporção às nossas culpas.
- Quanto dista o nascente do poente,/ tanto afasta para longe nossos crimes./ Como um pai se compadece de seus filhos,/ o Senhor tem compaixão dos que o temem.
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2ª Leitura: 1Cor 15,45-49
Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios:
Irmãos: O primeiro homem, Adão, “foi um ser vivo”. O segundo Adão é um espírito vivificante.
Veio primeiro não o homem espiritual, mas o homem natural; depois é que veio o homem espiritual.
O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem vem do céu.
Como foi o homem terrestre, assim também são as pessoas terrestres; e como é o homem celeste, assim também vão ser as pessoas celestes.
E como já refletimos a imagem do homem terrestre, assim também refletiremos a imagem do homem celeste.
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Evangelho: Lc 6,27-38
Evangelho de São Lucas:
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “A vós, que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam.
Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica.
Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles.
Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam.
E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim.
E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia.
Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus. Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso.
Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será colocada no vosso colo; porque, com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.
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Reflexão:
Vencer a violência com o amor!!
A liturgia deste domingo exige-nos o amor total, o amor sem limites, mesmo para com os nossos inimigos. Convida-nos a pôr de lado a lógica da violência e a substituí-la pela lógica do amor.
A primeira leitura (cf. 1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23) apresenta-nos o exemplo concreto de um homem de coração magnânimo, do Rei David, que, tendo a possibilidade de eliminar o seu inimigo, escolhe o perdão.
O Evangelho (cf. Lc 6,27-38) reforça esta proposta. Exige dos seguidores de Jesus um coração sempre disponível para perdoar, para acolher, para dar a mão, independentemente de quem esteja do outro lado. Não se trata de amar apenas os membros do próprio grupo social, da própria raça, do próprio povo, da própria classe, partido, igreja ou clube de futebol; trata-se de um amor sem discriminações, que nos leve a ver em cada homem – mesmo no inimigo – um nosso irmão.
Dom Eurico dos Santos Veloso
No seu “Sermão na Planície” (o paralelo em São Luxas ao Sermão da Montanha, no Evangelho de São Mateus), Jesus ensina aos seus discípulos a beleza e o desafio do amor ao próximo. Jesus está delineando a sua maneira pessoal de enxergar e pôr em prática o amor fraterno. Podemos ter certeza de que este projeto necessitava da força e constância até da parte do próprio Jesus. Nunca na história do mundo houve um programa tão coerente, tão abrangente e tão exigente. Consideremos o ponto central do seu programa: Jesus manda seus discípulos amarem seus inimigos (cf. Lc 6,27). Este é o cerne de sua proposta – um amor universal e incondicional, um amor que se baseia não no tratamento que recebemos nem nos sentimentos que tal tratamento possa despertar em nós, mas no compromisso de amar. O que leva Jesus a propor que devemos amar nossos inimigos? Primeiro que Jesus percebe neste amor que se estende até os inimigos a vivência mais conforme a nossa identidade de “filhos do Altíssimo” (cf. Lc 6,35), criados em sua imagem e semelhança. Em segundo lugar Jesus reconhece que quando seres humanos se comportam assim, Deus, seu Pai, é glorificado. Terceiro: Jesus vê no amor dos inimigos a cura da ferida fratricida infligida em nós todos por Caim quando matou seu irmão Abel. Em quarto lugar, Jesus simplesmente amava os seres humanos. Para Jesus, “inimigo” era uma designação errônea. Não há inimigos: só amigos cuja amizade precisa ser recuperada. Grandes teólogos do passado e do presente afirmam que Jesus nos salvou na cruz, não tanto pela sua dor, mas pelo perdão que pediu do Pai para seus carrascos – isto é, pelo amor que mostrou para com os seus inimigos. A Carta aos Hebreus chama Jesus aquele que “vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição” (cf. Hb 12,2). Que ele faça a mesma coisa com nosso amor, levando-o à perfeição de estendê-lo a todos.
Jesus não dá lições de filantropia, mas convida os seus interlocutores a erguer os olhos para Deus seu Pai, a fim de se tornarem semelhantes a Ele. Porque Deus é bom para com os ingratos e os maus, o homem deve procurar ser bom para com todos. Porque Deus é misericordioso, o homem é convidado a perdoar. Não é uma lição de moral, mas fundamentalmente um ato de fé do qual decorre um conjunto de comportamentos. Jesus, o Filho de Deus Altíssimo, veio tirar o homem de tudo aquilo que o pode afastar da semelhança com Deus, o pecado. Jesus é a perfeita imagem de Deus. Dirá mesmo: “Quem Me viu, viu o Pai”. As suas palavras são palavra de Deus, os seus gestos são gestos de Deus. O desafio está em procurarmos ser semelhantes a Jesus, ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito.
A segunda leitura (cf.1Cor 15,45-49) continua a catequese iniciada há uns domingos atrás sobre a ressurreição. Podemos ligá-la com o tema central da Palavra de Deus deste domingo – o amor aos inimigos – dizendo que é na lógica do amor que preparamos essa vida plena que Deus nos reserva; e que o amor vivido com radicalidade e sem limitações é um anúncio desse mundo novo que nos espera para além desta terra.
Somos da família de Deus, que é bom para os ingratos e os maus. Então, somos convidados a imitar a maneira de agir do nosso Pai. Ele não ama apenas aqueles que O amam. Ama a todos, bons e maus. E mesmo quando os homens O colocam à margem da sua vida, Ele não deixa de os amar. Jesus, que é o Filho bem-amado, a perfeita imagem de Deus, conformou-Se à moral de seu Pai. Na cruz, rezou: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Amou os seus inimigos. Nunca rejeitou ninguém. O que Jesus nos diz hoje não são normas culpabilizantes e impraticáveis. São convites, urgentes e exigentes, é verdade, para que manifestemos, pela nossa maneira de agir, que somos da família do nosso Pai dos céus. Cristãos, somos convidados a colocar a nossa vida na luz de Jesus e da sua palavra, a não nos contentarmos do que fazem os pecadores. É somente num estreito acompanhamento com Jesus que recebemos do Espírito a força de ir sempre mais além no caminho, rude, mas exaltante, do amor, como o de Jesus e do Pai.
                    Dom Eurico dos Santos Veloso - Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
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    Reflexão: cnbbleste2.org.br     Banner: cnbb.org.br     Ilustração: domvob.files.wordpress.com

O segundo dia do

Encontro sobre a Proteção dos menores no Vaticano
O segundo dia do Encontro no Vaticano sobre a Proteção dos Menores foi aberto pela oração da manhã em que se pediu para viver uma fé sem hipocrisia. Também nesta sexta-feira foi lida a experiência de uma vítima de abusos: "Quando eu fui abusado por um sacerdote, a minha mãe Igreja me deixou sozinho ... todos se esconderam e eu me senti ainda mais sozinho sem saber a quem recorrer".
Cidade do Vaticano - Foi aberto nesta manhã de sexta-feira na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, na presença do Papa, o segundo dia do Encontro sobre "A Proteção dos Menores na Igreja" (21-24 fevereiro).
Na oração inicial de hoje, guiada por Dom Pierbattista Pizzaballa, administrador apostólico de Jerusalém dos Latinos, após o canto do hino "Veni, Creator Spiritus", foi pronunciada em espanhol pela irmã Aurora Calvo Ruiz, superiora geral das Mercedárias da Caridade, uma passagem da Carta de São Paulo aos Romanos , onde o apóstolo convida a viver uma fé sincera, longe de qualquer falsidade e duplicidade: “O amor seja sincero. Detestai o mal, apegai-vos ao bem. Que o amor fraterno vos una uns aos outros, com terna afeição, rivalizando-vos em atenções recíprocas. Sede zelosos e diligentes, fervorosos de espírito, servindo sempre ao Senhor”.
Logo depois, a experiência de uma vítima de abuso foi lida em inglês:
“Quando Jesus estava prestes a morrer, sua mãe estava com ele. Quando fui abusado por um sacerdote, a minha mãe Igreja me deixou sozinho. Quando eu precisei de alguém na igreja para falar sobre meus abusos e minha solidão, todos se esconderam e eu me senti ainda mais sozinho, sem saber a quem recorrer.”
Como no dia de ontem, depois de ouvir o testemunho, seguiu-se um longo silêncio. Na oração final, dom Pizzaballa rezou para que "ninguém jamais tivesse que temer a violência e a opressão" na Igreja, "mas sim encontrar nela toda segurança e ajuda". Então concluiu com este pedido a Deus:
“Impeça àqueles que exercem o ministério na Igreja de abusar dos outros para seus próprios fins, mas dê a eles a humildade de servir os outros desinteressadamente como discípulos de Jesus.”
No final da oração, o padre Federico Lombardi, moderador do Encontro, lembrou que hoje a Igreja celebra a Solenidade da Cátedra de São Pedro e "portanto - observou - toda a Igreja reza pelo Santo Padre, pelo seu serviço de ensinamento e guia" e acrescentou: "Fazemos os votos de todo o coração, junto com toda a Igreja ".
O padre Lombardi recordou em seguida o desejo do Papa Francisco de que todos os participantes no Encontro pudessem ter à sua disposição uma documentação oficial das Nações Unidas sobre os temas da luta contra a violência contra as crianças. Por esta razão, entre os documentos distribuídos aos presentes - sublinhou - há o mais recente relatório global das Nações Unidas sobre o combate à violência sobre crianças, intitulado “Toward a world free from violence. Global survey on violence against children” (Rumo a um mundo livre da violência. Pesquisa global sobre violência contra crianças), e o relatório Unicef ​​2017 “A familiar face”, isto é" um rosto familiar, para dizer que a violência contra as crianças, muitas vezes, vem de alguém que é familiar, próximo às crianças. E isso - disse o padre Lombardi - é resultado das investigações universais sobre o problema da violência contra crianças".
Os documentos foram enviados pela Sra. Marta Maria de Morais dos Santos Pais, representante oficial do secretário geral da ONU para o combate à violência contra as crianças, que enviou um e-mail dizendo estar honrada em por poder contribuir com esse "importante Encontro" sobre a proteção das crianças na Igreja e enviou os seus melhores votos "de uma reflexão frutuosa e de bons resultados deste encontro".
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Confira a programação (em italiano):  http://www.pbc2019.org/it/conferenza/programma
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Card. O'Malley:
O nosso futuro é a transparência
A denúncia às autoridades civis em casos de abusos, o caso do ex-cardeal estadunidense Theodore Edgar McCarrick, a sinodalidade, a responsabilidade do bispo e a proximidade às vítimas: estes são alguns dos temas no centro do briefing, desta sexta-feira, realizado no Instituto Patrístico Augustinianum, dedicado ao encontro sobre "A proteção dos menores na Igreja".
Cidade do Vaticano - Depois da "terrível crise" que atingiu os Estados Unidos precisamente por causa das "omissões", "estamos comprometidos a denunciar sempre" os casos de abuso: "a transparência representa o nosso futuro, devemos enfrentar os nossos pecados, não procurar fazê-los desaparecer". O cardeal Seán Patrick O'Malley, arcebispo de Boston, presidente da Comissão para a Proteção dos Menores e membro do Conselho dos Cardeais, deixa claro que a colaboração com as autoridades civis é essencial para "enfrentar e lidar com a traição cometida contra crianças e adultos vulneráveis".
No segundo “briefing” dedicado ao Encontro sobre "A proteção dos menores na Igreja", no Instituto Patrístico Augustinianum, o cardeal assinala também que "no momento não há nada mais urgente para a Igreja que se unir para individuar o melhor modo para proteger os menores".
As feridas da aldeia global
Em "nossa aldeia global", prossegue o capuchinho, "um fato que ocorre em uma parte do mundo tem consequências para todos": por isso "devemos nos ajudar e nos apoiar uns aos outros para tornar a Igreja um lugar seguro para todos, especialmente para as crianças".
No que diz respeito à punição e ao abandono do ministério por parte de quem se mancha de crimes semelhantes, falou dom Charles J. Scicluna, arcebispo de Malta, secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé e membro da Comissão Organizadora. "Aqueles que podem ferir os jovens não devem ser deixados no ministério", disse ele. A punição pode ser proporcional, mas uma atitude prudente "é fundamental": "Eu não removo alguém do rebanho para puni-lo, mas para proteger o rebanho".
A Igreja deve ser “um time”
O arcebispo de Malta evidenciou também o tema da colegialidade, porque a Igreja “é um time” e ninguém deve ser deixado sozinho em situações de crise. O que está em andamento nas diferentes nuances culturais, é uma verdadeira “mudança de mentalidade”, afirmou o cardeal Blase Joseph Cupich, arcebispo de Chicago e membro do Comissão organizadora.
“Todos iremos embora mudados”, acrescentou ele, na consciência de que “devemos investir uns nos outros”. O purpurado agradeceu também as vítimas por sua “coragem” e “testemunho’. “Todos nós”, prosseguiu, “queremos resultados concretos”, que os bispos sintam a “responsabilidade” de suas ações.
Uma força tarefa para as pequenas realidades
O prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, tomou parte da coletiva com os jornalistas, junto com o presidente da Fundação Vaticana Joseph Ratzinger-Bento XVI, pe. Federico Lombardi,  moderador do encontro.
Ruffini ilustrou os muitos temas debatidos nas últimas 24 horas, em plenário e no âmbito dos círculos menores. Foi reiterada a importância de “procedimentos claros” a fim de favorecer “uma redução dos casos de abuso”, a relevância dos leigos, a possibilidade de criar uma “força tarefa” para ajudar as “Igrejas pequenas” e a promoção de uma “cultura da denúncia”.
Nos grupos de trabalho foi falado sobre como “evitar o fenômeno dos seminaristas errantes, excluídos de um seminário e acolhidos em outro”.
Por sua vez, pe. Lombardi enfatizou a atmosfera do encontro, “serena, positiva, incluindo a gravidade do tema, sua seriedade, e dor que isso comporta”. “Eu não sinto tensões na assembleia”, esclareceu. “Sinto um grande desejo de refletir juntos”. 
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                                                                                                                 Fonte: vaticannews.va