exige fidelidade e comunhão, não autorreferencialidade
Na Carta
Apostólica “Uma fidelidade que gera futuro”, publicada nesta segunda-feira,
22/12, por ocasião dos 60 anos dos Decretos conciliares Optatam totius e
Presbyterorum Ordinis, o Papa Leão XIV reflete sobre a identidade, a missão e o
futuro do ministério presbiteral. Formação permanente, fraternidade,
sinodalidade e discernimento no uso das mídias estão no centro do texto, que
convida os sacerdotes a uma fidelidade vivida como dom, conversão e serviço à
evangelização.
Papa Leão XIV durante missa com ordenação sacerdotal em 31 de maio de 2025
A fidelidade
sacerdotal como caminho que gera futuro para a Igreja está no centro da Carta
Apostólica “Uma fidelidade que gera futuro”, publicada pelo Papa Leão XIV nesta
segunda-feira, 22 de dezembro, no contexto do 60º aniversário dos Decretos
conciliares Optatam totius e Presbyterorum Ordinis. No Documento, assinado na
Solenidade da Imaculada Conceição (08/12), o Pontífice propõe uma releitura
atualizada da identidade e da missão dos presbíteros, à luz das transformações
culturais, sociais e tecnológicas do nosso tempo.
O Papa recorda
que não se trata de uma simples comemoração histórica, mas de uma oportunidade
para “revigorar sempre e todos os dias o ministério presbiteral”, conscientes
de que “a desejada renovação de toda a Igreja depende, em grande parte, do
ministério sacerdotal, animado do espírito de Cristo”.
No início da
Carta, Leão XIV sublinha que toda vocação nasce do encontro pessoal com Jesus,
“que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. Antes de
qualquer atividade pastoral ou compromisso ministerial, está o chamado do
Senhor: “Vem e segue-me” (Mc 1,17) A fidelidade à vocação, observa o Papa,
fortalece-se quando o sacerdote não perde a memória daquele primeiro chamado e
permanece unido a Cristo:
“Ao longo de
toda a vida somos sempre ‘discípulos’, com o constante anseio de nos
configurarmos a Cristo. Apenas esta relação de obediente seguimento e fiel
discipulado pode manter a mente e o coração na direção certa, apesar das
perturbações que a vida reserva.”
Formação
permanente: memória viva da vocação
A Carta dedica
amplo espaço à formação permanente, definida como condição indispensável para
manter vivo o dom recebido na Ordenação. “A fidelidade ao chamamento não é
imobilismo ou fechamento, mas um caminho de conversão quotidiana”, afirma o
Papa, destacando que a formação não pode limitar-se ao tempo do seminário.
Diante das
feridas causadas pelos abusos e da dolorosa realidade do abandono do ministério
por parte de alguns sacerdotes, Leão XIV insiste na necessidade de uma formação
integral que assegure “o crescimento e a maturidade humana”, juntamente com uma
vida espiritual sólida. O seminário, recorda, deve ser “uma escola de afetos”,
onde se aprende a amar como Cristo, para que o sacerdote seja sempre “ponte,
não obstáculo ao encontro com Cristo”.
Fraternidade
presbiteral: dom a ser vivido
Outro eixo
fundamental do texto do Pontífice é a fraternidade presbiteral. O Papa recorda
que ela não é apenas um ideal ou um esforço organizativo, mas “um dom inerente
à graça da Ordenação”. Citando o Concílio, afirma que os presbíteros “são
irmãos entre os irmãos, membros de um só e mesmo corpo de Cristo”. A fidelidade
à comunhão exige superar o individualismo e cuidar concretamente uns dos
outros, sobretudo dos sacerdotes mais sós, doentes ou idosos, e
questiona:
“Como poderíamos
nós, ministros, ser construtores de comunidades vivas, se entre nós não
houvesse antes de tudo uma fraternidade efetiva e sincera?”
Sinodalidade e
corresponsabilidade
Inserida no
caminho sinodal da Igreja, a Carta exorta os presbíteros a cultivarem relações
marcadas pela escuta, pela colaboração e pelo reconhecimento dos carismas dos
leigos. “Devem descobrir com sentido de fé os carismas, humildes ou excelentes,
que sob múltiplas formas são concedidos aos leigos”, recorda Leão XIV, citando
o Presbyterorum Ordinis.
O ministério
sacerdotal, afirma o Papa, não perde força numa Igreja mais sinodal; ao
contrário, encontra novas possibilidades de fecundidade quando supera modelos
de liderança isolada e se abre a uma condução mais colegial e missionária.
Missão,
sobriedade e discernimento no uso das mídias
Ao tratar da
missão, o Pontífice alerta para duas tentações opostas: a lógica da eficiência
e do ativismo, que mede o valor do sacerdote pela quantidade de atividades
realizadas, e o fechamento defensivo que paralisa o impulso evangelizador. A
resposta está na caridade pastoral, definida como “o princípio que unifica a
vida do presbítero”. É neste contexto que se insere uma importante reflexão
dedicada ao discernimento sobre a visibilidade pública do sacerdote e o uso dos
meios de comunicação:
“Educado pelo
mistério que celebra na santa liturgia, cada sacerdote deve ‘desaparecer para
que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e
glorificado (cf. Jo 3, 30), gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a
oportunidade de O conhecer e amar’. Por isso, a exposição mediática, o uso das
redes sociais e de todos os instrumentos hoje à disposição devem ser sempre
avaliados com sabedoria, tendo como paradigma de discernimento o serviço à
evangelização. ‘Tudo me é lícito! Sim, mas nem tudo convém’ (1 Cor 6, 12).”
Fidelidade que
gera futuro
Na conclusão,
Leão XIV expressa o desejo de que este aniversário conciliar suscite um
renovado impulso vocacional na Igreja. “Não há futuro sem cuidar de todas as
vocações”, afirma, convidando a uma pastoral juvenil e familiar mais corajosa e
explicitamente vocacional:
“A escassez de
vocações sacerdotais exige que todos reflitam sobre a fecundidade das práticas
pastorais da Igreja. É verdade que os motivos desta crise podem,
frequentemente, ser variados e múltiplos, dependendo, em particular, do
contexto sociocultural; porém, ao mesmo tempo, é necessário que tenhamos a
coragem de fazer propostas fortes e libertadoras aos jovens, disponibilizando
cada vez mais nas Igrejas particulares os ambientes e as formas de pastoral
juvenil impregnadas de Evangelho, onde as vocações ao dom total de si possam
manifestar-se e amadurecer.”
Por fim, ao
confiar os seminaristas, diáconos e presbíteros à intercessão da Virgem Maria e
de São João Maria Vianney, o Papa recorda que “o sacerdócio é o amor do coração
de Jesus. Um amor tão forte que dissipa as nuvens da rotina, do desânimo e da
solidão; um amor total que nos é dado em plenitude na Eucaristia. Amor
eucarístico, amor sacerdotal”.
Já cantei, já
preguei, já escrevi sobre uma Igreja com rumo e prumo! Não sou profeta nem adivinho,
mas acho que sei ler os sinais dos tempos, certamente não como Jesus sabia.
Mas muitos
pensadores cristãos e católicos através dos tempos souberam analisar sua época
e devolver serenidade a muitos católicos do seu tempo. Francisco de Assis,
Tereza de Ávila, Catarina de Siena, Bento de Núrcia, Boaventura, Thomas de
Aquino, Agostinho por exemplo!… Entenderam as mudanças do seu tempo! Eram tudo
menos deslumbrados. Tinham rumo e tinham prumo
***
Estamos
assistindo um novo tempo. Sairemos do deslumbramento desses últimos 50 anos
para o vislumbre ao qual PAULO se referia em Efésios 3,4-21 Que os Efésios
saíssem do deslumbramento para o vislumbre! …
***
Nossa Igreja
ainda está atravessando uma grave crise de RUMO E PRUMO. Mas o pêndulo está
mudando mais rapidamente do que se imagina.
Não vê quem não
lê e não vislumbra. Os deslumbrados desses últimos 40 ou 50 anos não perceberam
que a era do deslumbramento está indo para o fim. Há deslumbrados lá que nesses
últimos 45 anos embarcaram no louvor sem libertação e outros na libertação sem louvor.
***
Talvez tenha
chegado a era do vislumbre, ou seja: a era do LOUVOR QUE LIBERTA e a da
LIBERTAÇÃO QUE CONTEMPLA. Está nos salmos de 3 mil anos atrás...
Os hebreus e
israelitas daquele tempo conseguiam misturar política nacional com súplica e
louvor, ao mesmo tempo em que buscavam sua libertação integral. É claro que
havia exageros, mas os salmistas viviam de vislumbres. Um dia seu povo chegaria
lá …
***
E vislumbre foi
o que propuseram os últimos 8 papas desde Pio XII a Leão XIV. O deslumbramento
está com seus dias contados. Começou a era do VISLUMBRE. Católicos de pé e
joelhos no chão, mas cabeça por aqui mesmo e não nas nuvens.
Enfim, católicos
que oram olhando para cima e para baixo e para o lado, mas que sabem que Jesus
não está lá em cima, mas, sim, no meio de nós! Mãos mais estendidas do que
postas em forma de concha, e olhos circulando ao redor e procurando irmãos na fé.
Enfim, católicos que mais procuram do que acham que acharam …
***
Exatamente o que
seria esta era do vislumbre? Releiam os escritos dos Papas desde 1958 até hoje.
Verão vislumbre em cima de vislumbre.
Foram oito Papas
acertando novos rumos e novos prumos para nossa Igreja! Acertaram? Estão acertando!
Releiam as quase
50 encíclicas e instruções desde Pio XII até hoje. A Igreja estava e está
mudando há mais de 8 décadas, depois da grande guerra que mudou a geografia e o
desenho das canções do mundo. O Concílio de 1962-1965 foi o começo do grande ajuste!
Leiam a GAUDIUM ET SPES de 7.12.1965. Era a Igreja respondendo aos povos e
religiões do mundo qual seria daquele dia em diante como seria nossa Igreja,
Milhões de
católicos aceitaram estas mudanças, milhares foram contra e continuam contra!
***
Mas, nos
próximos dez anos veremos sérias mudanças e correções de rumo para os
deslumbrados desses últimos 50 anos. O encantamento do “é assim” cederá à
Igreja pé no chão: nem nefelibata nem revolucionária. Será dialogante, mais
conciliar e mais sinodal.
***
Conservadores,
ultra conservadores, avançados, mudancistas, esquerdistas, direitistas,
centristas terão que se avaliar e corrigir suas rotas. O deslumbramento
lentamente cederá lugar ao vislumbre e ao “PODE SER ASSIM”.
O altar, as vestes,
o púlpito, os corredores dos templos, o ambão, os coro, os cantores, as composições,
os compositores, as bandas, o som, tudo sofrerá mudanças: nem para o passado,
nem para um futuro que ainda não chegou. Aceitará a realidade do agora da Igreja,
mas vislumbrará um novo Sínodo Católico repassando o Concilio que será sempre
atualizado a cada nova encíclica do novo Papa.
É o que está
acontecendo nos três escritos até agora do novo Papa. Você já os leu?
***
Como eu sei que
estamos mudando para o VISLUMBRE? A história muda e a Igreja tem ciclos. Pio V,
Pio IX, Leão XIII, João XXIII, Francisco e Leão XIV. A história registra vários
pêndulos nesses últimos 150 anos! Com Francisco de Buenos Aires e com Leão XVI
estamos num novo pêndulo! Nem esquerda, nem direita, nem centro: mas em diálogo
catequético.
Livre demais,
proibido demais, moderado, outra vez sem rumo e fora do prumo? Pouco diálogo,
diálogo sereno ou rejeição a qualquer diálogo? Eis o vai e vem desses 150 anos.
***
Houve perdas de
rumo e de prumo? Sim! E os maiores estragos ocorreram na liturgia. Depois, na teologia.
Depois, na sociologia.
Muitos grupos
criaram igrejas paralelas, missas paralelas, terços paralelos, um Jesus
paralelo e comunidades paralelas de direita e de esquerda.
Tudo deslumbramentos!
Tudo era dado como certo! Era a Igreja do “é por aqui que se vai “Estamos
ensaiando a era do TALVEZ SEJA POR AQUI!
***
A humildade faz
bem a quem deixa a certeza absoluta para embarcar na busca humilde de mestres
que não falem só por um canto da boca ou só por um canto do coração.
***
O púlpito não
será só de um tipo de pregador. Haverá outros pregadores com sabedoria
suficiente complementar a catequese católica. Serão pregadores mais estudiosos
a falar naqueles púlpitos e a repercutir o que os Papas e os colégios
episcopais estão dizendo
e não o que
indivíduos com poder de mídia estão gritando. O “por aqui” dará ao lugar a
Efésios 3,4-21 “pode ser por aqui”. O Cristo da fé e o Cristo Histórico estarão
sendo estudados por catequistas e bispos que sabem o que é SÍNTESE!
Pregadores não
ditarão como os fiéis devem falar com Deus … As ênfases dos pentecostais
evangélicos e dos carismáticos católicos nesses últimos 40 ou 50 anos são
deslumbramentos da fé.
Eles afirmam que
“Jesus era assim”! Como não são muito de ler, de estudar e de aprofundar os
dogmas católicos, nunca perceberam São Paulo aos Efésios 3,4-21. Paulo mandava
reler o que ele escrevia para que os cristãos daquela igreja >>>>
“pudessem compreender,
com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade
do mistério do Cristo”. (Efésios 3,18)
“ali eles
cresceriam na fé consolidados e enraizados”
e não serão
crentes superficiais a repetir slogans e óbvios ditados a um
microfone. Terão
livros na mão conferindo o que está nos evangelhos!
***
Ninguém gosta de
admitir que o deslumbramento e a ênfase na fé ainda não são VISLUMBRES.
Paulo ensinava o
VISLUMBRE nas suas epístolas. Havia mais para se celebrar e crer. Não parassem
em frases feitas e decoradas do último retiro!...
***
Há um novo ciclo
despontando na Igreja Católica. E este ciclo é o do VISLUMBRE que, em poucos anos,
dará lugar a menos ÊNFASES e mais CATEQUESES.
Seremos
católicos menos enfáticos e mais estudiosos da Cristologia. O “é assim e era
assim” pouco a pouco cederá lugar ao “aprofundemos o que sempre foi, para
vislumbrar como seremos nas próximas décadas”.
***
Talvez o
autoritário “creiam em nome de Jesus” seja menos gritado nos microfones, para
ceder lugar ao humilde “aprendamos com Jesus, por Jesus e em Jesus e em favor
de quem mais precisa dele”.
Nos últimos dias
do Advento, Leão XIV exortou os fiéis a educarem o coração para o encontro com
Cristo praticando o perdão e a misericórdia, tal qual São José, o protagonista
do Evangelho deste domingo.
Piedade e
caridade, misericórdia e abandono: essas foram as virtudes apontadas pelo Papa
Leão para viver os últimos dias do Advento, inspirando-se na figura de São
José, apresentada na Liturgia de hoje.
Aos fiéis
reunidos na Praça São Pedro para o Angelus dominical, o Santo Padre comentou
esta página "muito bonita" da história da salvação, quando Deus
revela a São José, em sonho, a sua missão. O protagonista é um homem frágil e
falível como nós, mas, ao mesmo tempo, corajoso e forte na fé.
O evangelista
Mateus o chama de “homem justo”, o que o caracteriza como um piedoso israelita,
cumpridor da Lei e assíduo da sinagoga. Além disso, José de Nazaré aparece
também como uma pessoa extremamente sensível e humana.
Preparar o
coração para o encontro com Cristo
Diante de uma
situação difícil de compreender e aceitar em relação à sua futura esposa, Leão
XIV notou que São José não opta pelo escândalo e pela condenação pública, mas
escolhe o caminho discreto e benevolente do repúdio secreto. Assim, mostra
compreender o sentido mais profundo da sua própria observância religiosa: o da
misericórdia.
Todavia, a
pureza e a nobreza dos seus sentimentos tornam-se ainda mais evidentes quando o
Senhor, num sonho, lhe revela o seu plano de salvação, indicando o papel
inesperado que deverá assumir: ser o esposo da Virgem Mãe do Messias. E o faz
com um grande ato de fé:
“Piedade e
caridade, misericórdia e abandono: eis as virtudes do homem de Nazaré que a
Liturgia hoje nos propõe, para que nos acompanhem nestes últimos dias do
Advento, rumo ao Santo Natal. São atitudes importantes, que educam o coração
para o encontro com Cristo e com os irmãos, e que podem ajudar-nos a ser, uns
para os outros, presépio acolhedor, casa hospitaleira, sinal da presença de
Deus. Neste tempo de graça, não percamos a oportunidade de as praticar:
perdoando, encorajando, dando um pouco de esperança às pessoas com quem vivemos
e àquelas que encontramos; e renovando na oração o nosso abandono filial ao
Senhor e à sua Providência, entregando-lhe tudo com confiança.”
"Que a
Virgem Maria e São José nos ajudem", concluiu o Papa, pois eles que foram
os primeiros a acolher Jesus, o Salvador do mundo, com fé e grande amor.
A tradição da
bênção dos "bambinelli" começou em 1969 com o Papa Paulo VI e
testemunha uma relação especial entre as crianças de Roma e seu pastor. Neste
domingo, cerca de 1500 crianças participaram da primeira bênção do Papa Leão.
Este ano, a
tradicional bênção dos "bambinelli", as imagens do Menino Jesus a
serem colocadas no presépio na noite de Natal, foi acompanhada de um pedido
especial do Papa:
“Queridas
crianças, diante do presépio, rezem a Jesus também pelas intenções do Papa. De
modo especial, rezemos juntos para que todas as crianças do mundo possam viver
em paz. Eu lhes agradeço de coração!”
Tradição de mais
de 50 anos
Cerca de 1500
crianças, acompanhadas de familiares e catequistas, participaram na Praça São
Pedro do Angelus dominical para renovarem uma tradição que remonta ao ano de
1969 com o Papa Paulo VI, e seguida por todos os seus sucessores. A iniciativa
é normalmente realizada no terceiro domingo do Advento, mas este ano coincidiu
com o calendário dos eventos jubilares e foi adiada.
A saudação do
Pontífice foi também ao Centro Oratórios Romanos, uma associação pública de
fiéis que trabalha para promover a pastoral do oratórios em Roma. A comunidade,
formada por educadores voluntários, acolhe crianças e adolescentes nas
paróquias para uma experiência eclesial educativa, com um estilo de animação
alegre do Evangelho, com fins para a integração entre a fé e a vida.
Há uma pergunta que todos os anos me ronda desde que começo a observar pelas ruas os preparativos que anunciam a proximidade do Natal: o que pode haver ainda de verdade no fundo dessas festas tão degeneradas por interesses consumistas e por nossa própria mediocridade?
Não sou o único. Ouço muitas pessoas falar da superficialidade do Natal, da perda de seu caráter íntimo e familiar, da vergonhosa manipulação dos símbolos religiosos e de tantos excessos e despropósitos que deterioram hoje o Natal.
Mas, na minha opinião, o problema é mais profundo. Como pode celebrar o mistério de um “Deus feito homem” uma sociedade que vive praticamente de costas para Deus, e que destrói de tantas maneiras a dignidade do ser humano?
Como pode celebrar “o nascimento de Deus” uma sociedade na qual o célebre professor francês G. Lipovetsky, ao descrever a atual indiferença, pode dizer estas palavras: “Deus está morto, as grandes finalidades se extinguem’ mas para todo o mundo isso dá na mesma, é essa a feliz notícia”?
Ao que parece, são muitas as pessoas para as quais dá exatamente no mesmo crer ou não crer, ouvir que “Deus está morto” ou que “Deus nasceu’: Sua vida continua funcionando como sempre. Parece que não precisam mais de Deus.
E, no entanto, a história contemporânea já está nos obrigando a fazer algumas graves perguntas. Há algum tempo se falava da “morte de Deus”; hoje se fala da “morte do ser humano’: Há alguns anos se proclamava “o desaparecimento de Deus”; hoje se anuncia “o desaparecimento do ser humano”. Será que a morte de Deus não arrasta consigo de maneira inevitável a morte do ser humano?
Expulso Deus de nossas vidas, encerrados em um mundo criado por nós mesmos e que não reflete senão nossas próprias contradições e misérias, quem pode dizer-nos quem somos e o que realmente queremos?
Não é indispensável que Deus nasça de novo entre nós, que brote com nova luz em nossas consciências, que se abra caminho no meio de nossos conflitos e contradições?
Para encontrar-nos com esse Deus não é preciso ir muito longe. Basta achegar-nos silenciosamente a nós mesmos. Basta aprofundar-nos em nossas interrogações e anseios mais profundos.
Esta é a mensagem do Natal: Deus está perto de ti, onde estás, contanto que te abras a seu Mistério. O Deus inacessível se fez humano e sua proximidade misteriosa nos envolve. Em cada um de nós Deus pode nascer.
JOSÉ ANTONIO PAGOLAcursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
♦ Estamos bem às portas do Natal. Deus conosco, Emanuel. Ainda um pouco de tempo para enfeitar nosso interior e deixar de lado preocupações exageradas com o secundário que anda tomando o lugar do essencial: o Senhor que os espaços siderais não comportam veio viver nossa existência em todas as circunstâncias. Mateus vem nos dizer que o Menino das Palhas é o único que podemos chamar de Emanuel. Aquele que vive a nossa vida.
♦ Inspirado em página de Pagola podemos seguir suas sugestões para a preparação mais imediata da festa da Encarnação:
>> É preciso que tenhamos a coragem de ficar a sós. Procurar um lugar tranquilo e sossegado. Escutar nosso interior, nossa verdade mais íntima. Vivemos cercados de pessoas que amamos e pelas quais somos amados. Quando entramos no mundo do silêncio parece que tudo pode ganhar distância e vemos as coisas em sua nudez. Tomamos distância de nós e de circunstâncias que podem nos empobrecer.
>> Continuando ainda em silêncio podemos ter a impressão que fazemos parte de uma realidade mais ampla, desconhecida. Donde nos chega a vida? O que há no fundo de nosso ser? Se continuarmos mais um pouco em silêncio talvez venhamos a experimentar um certo temor e, ao mesmo tempo, uma paz que antes não havíamos experimentado. Estamos diante do mistério ultimo de nosso ser que chamamos de Altíssimo, Senhor, Magnífico.
>> Precisamos nos abandonar a esse Mistério com confiança. Deus parece imenso e longínquo. Se nos abrimos a ele, haveremos de perceber que está próximo de nós. Ele está em nós sustentando nossa fragilidade e fazendo-nos viver. Não é como as pessoas que nos amam a partir do exterior. Deus é mais íntimo do que somos a nós mesmos.
>> Karl Ranher afirma que a experiência do coração é única que nos faz compreender a mensagem de fé do Natal: Deus se fez homem. Nunca estamos sozinhos. Se assim for, podemos celebrar o Natal. Haveremos de nos alegrar com os nossos e ser mais generoso com os que sofrem e vivem tristes.
♦ E Maria se faz presente neste 4º domingo do Advento. Essa mocinha de Nazaré foi colocada diante da proposta do Altíssimo de viver perto de nós. O Deus grande por meio do mensageiro pede assentimento à moça de Nazaré. Há hesitações, solicitações de esclarecimentos, relutância com protesto de humildade de sua parte. Ela pertencia ao grupo dos pobres de Javé que contavam com a ação de Deus em sua vida e na história de seu povo. “Eis aqui a serva do Senhor. Fala-se em mim segundo a sua Palavra”. Quem sabe tudo isso levou tempo. Maria deixou o convite descansar nos cantinhos de seu interior. Com o seu assentimento abrem-se as cortinas de seu interior. O sim da moça de Nazaré é a primeira etapa da instauração do mundo novo com Jesus.
♦ Passou ela a guardar as coisas no fundo do coração. Vestida da força do alto, respirando esperança, Maria vai percorrer seu caminho de fé de mulher grávida. Vai acompanhar seu Filho em suas andanças, aplausos e perseguições, até o alto da cruz… Sempre mãe, sempre fiel, sempre levando as coisas ao fundo do coração.
♦ Deus não é o Ser onipotente e poderoso que às vezes nós, humanos, imaginamos, encerrado na seriedade e no mistério de seu mundo inacessível. Deus é esse menino entregue carinhosamente à humanidade, esse pequeno que busca o nosso olhar para alegrar-nos com seu sorriso. O fato de Deus se ter feito menino diz muito mais sobre Deus as sutilezas e especulações sobre seu mistério.
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
"A
universalidade da salvação. Uma esperança incondicional": este é o tema da
terceira meditação do Advento desta manhã, 19 de dezembro, na Sala Paulo VI, na
presença do Papa. O pregador da Casa Pontifícia centra-se na atitude dos Magos,
que ousaram abrir-se ao desconhecido. Devemos rever "os nossos hábitos
missionários" e "ajudar os outros a reconhecer a luz que já habita
neles", "guardar Cristo para o oferecer a todos", "a
verdadeira luz do Natal ilumina cada homem".
Reconhecer a
vinda de Jesus Cristo "como uma luz a ser acolhida, expandida e oferecida
ao mundo": este é o "desafio" que o Natal e o Jubileu nos
convidam a empreender. O pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini,
enfatizou isso no início de sua terceira meditação do Advento, sobre o tema
"A universalidade da salvação", proferida esta manhã de sexta-feira,
19 de dezembro, na Sala Paulo VI, na presença de Leão XIV e da Cúria Romana.
A luz que
desmascara
O frade menor
capuchinho propôs uma reflexão sobre a manifestação universal da salvação,
sobre Cristo, a "verdadeira luz", que é "capaz de iluminar,
esclarecer e orientar toda a complexidade da experiência humana", que
"não apaga as perguntas, os desejos e as buscas humanas, mas os coloca em
relação, os purifica e os conduz a um significado mais pleno". Luz que o
mundo não abraçou porque "os homens amaram mais as trevas". O
problema, explicou o padre Pasolini, é "nossa disponibilidade" em
acolher a luz, que "é necessária e bonita, mas também exigente: desmascara
ficções, expõe contradições, obriga a reconhecer o que preferiríamos não
ver", e por isso "a evitamos".
No entanto,
observou o religioso, "Jesus não contrapõe quem pratica o mal a quem
pratica o bem, mas quem pratica o mal a quem vive a verdade". Isso
significa que, "para acolher a luz da Encarnação", não é preciso
"já ser bom ou perfeito, mas começar a tornar a verdade uma realidade na
própria vida", ou seja, "parar de se esconder e aceitar ser visto por
quem se é", porque "Deus está mais interessado em nossa verdade do
que na bondade de fachada".
Igreja,
comunidade que vive a luz de Cristo
Para a Igreja,
isso significa "iniciar um caminho de maior verdade", o que significa
não "exibir uma pureza moral ou reivindicar uma coerência impecável",
mas "apresentar-se com sinceridade e reconhecer resistências e fragilidades".
Porque o mundo não espera "uma instituição sem fissuras, nem mais um
discurso indicando o que deve ser feito", disse o padre Pasolini, mas
"precisa encontrar uma comunidade que, apesar de suas imperfeições e
contradições, viva verdadeiramente à luz de Cristo e não tem medo de se mostrar
como é". Os Reis Magos, por exemplo, demonstraram uma maneira singular de
serem verdadeiros ao "trilharem o caminho do Senhor", explicou o
religioso. Eles partiram de longe, mostrando "que para acolher a luz do
Natal, é necessário um certo distanciamento", para "enxergar melhor
as coisas: com um olhar mais livre, mais profundo, mais capaz de
surpreender". Em vez disso, o hábito de "olhar a realidade de perto
demais" nos torna "prisioneiros de julgamentos previsíveis e
interpretações excessivamente consolidadas", e isso também acontece
"com aqueles que vivem permanentemente no centro da vida eclesial e
comporta responsabilidades", observou o pregador da Casa Pontifícia,
porque "a familiaridade cotidiana com funções, estruturas, decisões e
emergências pode, com o tempo, estreitar o olhar" e, assim, corre-se o
risco de não reconhecer "os novos sinais pelos quais Deus se faz presente
na vida do mundo".
Os caminhos
inesperados de Deus
Se o Natal
celebra a entrada da luz no mundo, a Epifania destaca que essa luz não se
impõe, mas se deixa reconhecer, manifesta-se numa história ainda marcada pela
escuridão e pela busca, e é uma presença que se oferece a quem está disposto a
se mover. Nem todos a veem da mesma maneira e a reconhecem ao mesmo tempo,
porque a luz de Cristo se deixa encontrar por quem aceita sair de si mesmo,
quem se coloca a caminho, quem busca, enfatizou o frei capuchinho,
acrescentando que isso também é verdade para o caminho da Igreja, já que nem
tudo o que é verdadeiro se mostra imediatamente claro, nem o que é evangélico é
imediatamente eficaz. E, às vezes, a verdade exige ser seguida mesmo antes de
ser plenamente compreendida.
A este respeito,
o Padre Pasolini citou a experiência dos Magos, que não avançaram
"apoiados por certezas consolidadas, mas por uma estrela frágil, porém
suficiente para guiá-los em sua viagem". Os sábios que vieram do Oriente
para Belém ensinam essencialmente que "para encontrar o rosto de Deus
feito homem, é preciso colocar-se a caminho", e isso, enfatizou o pregador
da Casa Pontifícia, "se aplica a todo fiel", e especialmente a quem
têm "a responsabilidade de proteger, guiar e discernir". "Sem um
desejo que permanece vivo, mesmo as mais elevadas formas de serviço correm o
risco de se tornarem repetitivas, autorreferenciais, incapazes de
surpreender". A estrela que guiou os Magos, para o padre Pasolini, é
também "o sinal das discretas lembranças com as quais Deus continua a se
fazer presente na história", e assim, aqueles sábios que "não
conhecem as Escrituras de Israel", mas leem os céus, lembram "que
Deus também fala por meios inesperados, experiências periféricas, perguntas que
surgem do contato com a realidade e aguardam para serem ouvidas".
Imobilidade
Mas outro
aspecto importante que emerge da história dos Magos é a atitude de busca: não
se importar, "não se colocar em moviment", pode levar a
"acomodação em uma posição que parece reconfortante, baseada em certezas e
hábitos consolidados, mas que com o tempo corre o risco de se tornar uma forma
de imobilidade interior", que "lentamente isola, muitas vezes sem que
percebamos". É o que acontece com Herodes, "ele parece atento:
questiona, calcula, planeja", mas não parte para Belém, não aceita "o
risco e a surpresa do que poderia acontecer" e delega a tarefa de ir aos
Magos, reservando-se o direito de ser informado sobre os acontecimentos.
"É a atitude de quem quer saber tudo sem se expor, permanecendo protegido
das consequências de um envolvimento real", afirmou o frade franciscano,
alertando contra uma "abundância de conhecimento" que carece de
"envolvimento real". Sabemos muitas coisas, mas permanecemos
distantes. Observamos a realidade sem nos deixarmos tocar, protegidos por uma
posição que nos protege do imprevisto." Acontece, então, que na Igreja se
pode "conhecer bem a doutrina, preservar a tradição, celebrar a liturgia
com zelo e, ainda assim, permanecer parados". "Como os escribas de
Jerusalém, também nós podemos saber onde o Senhor continua se fazendo presente
— nas periferias, entre os pobres, nas feridas da história — sem encontrar a
força ou a coragem para seguir nessa direção", advertiu o pregador da Casa
Pontifícia.
A coragem de se
levantar
Em síntese, para
encontrar Deus, "o primeiro passo é sempre se levantar: sair de nossos
refúgios interiores, de nossas certezas, nossa visão consolidada das
coisas", insistiu o padre Pasolini, especificando que "levantar-se
exige coragem. Significa abandonar o estilo de vida sedentário que nos protege,
mas nos imobiliza, aceitar o cansaço do caminho, expor-se à incerteza do que
ainda não está claro". Como fizeram os Reis Magos, deixando sua terra
natal e cruzando "distâncias sem garantias, guiados apenas por um sinal
tênue e discreto", sem saber o que encontrariam, mas confiando na luz que
os precedia. Isso é o que significa esperar.
O padre Pasolini
também destacou o abaixamento humilde dos Reis Magos. Ao chegarem a Belém,
adoraram o Menino, se colocaram a caminho, buscaram e se abriram ao mistério:
"Levantar-se e depois ajoelhar-se: este é o movimento da fé. Levantar-se
para sair de si, não para colocar-se no centro. E depois se abaixar, porque se
percebe que o que encontramos está além do nosso controle." Para o
pregador da Casa Pontifícia, "isso vale na relação com Deus, nas relações
cotidianas" — quando "o outro nos surpreende, nos decepciona ou nos
transforma" — e é preciso parar de impor nosso próprio ponto de vista e
"aprender a verdadeiramente escutar". E, ampliando a perspectiva,
vale também para a Igreja, que "é chamada a se mover, a sair, a encontrar
pessoas e situações que lhe são distantes", e "também a saber parar,
abaixar o olhar, a reconhecer que nem tudo lhe pertence nem pode ser
controlado". Então, "o dom da salvação pode se tornar universal"
se "a Igreja aceitar em deixar de lado suas próprias certezas" e
olhar "com respeito para a vida dos outros, reconhecendo que mesmo ali,
muitas vezes de maneiras inesperadas, algo da luz de Cristo pode emergir".
A verdadeira luz
do Natal
Um último
aspecto sobre o qual o pregador da Casa Pontifícia convidou a refletir foi que
"se Deus escolheu habitar nossa carne, então cada vida humana carrega em
si uma luz, uma vocação, um valor que não pode ser apagado". Isso nos leva
a concluir que "não viemos ao mundo apenas para sobreviver ou atravessar o
tempo da melhor maneira possível", mas "para ter acesso a uma vida
maior: a de filhos de Deus". Assim, a tarefa da Igreja é "oferecer a
luz de Cristo ao mundo. Não como algo a impor ou defender, mas como uma
presença a oferecer", deixando que todos se aproximem. Portanto, "sob
essa perspectiva, a missão não consiste em forçar o encontro, mas em torná-lo
possível", concluiu o padre Pasolini. "Uma Igreja que oferece a
presença de Cristo a todos não se apropria de sua luz, mas a reflete. Não se
coloca no centro para dominar, mas para atrair", tornando-se, portanto,
"um espaço de encontro, onde cada pessoa pode reconhecer Cristo e, diante
dele, redescobrir o sentido de sua vida". A perspectiva sobre os "hábitos
missionários" deve, portanto, mudar: muitas vezes se pensa "que
evangelizar significa levar algo que falta, preencher um vazio, corrigir um
erro", mas "a Epifania aponta para outro caminho", que é o de
"ajudar o outro a reconhecer a luz que já habita nele, a dignidade que já
possui, os dons que já possui". Portanto, a catolicidade da Igreja
consiste em "guardar Cristo para oferecê-lo a todos, com a confiança de
que a beleza, a bondade e a verdade já estão presentes em cada pessoa, chamada
à plenitude e a encontrar nele o seu pleno significado". Em conclusão,
para o pregador da Casa Pontifícia, "a verdadeira luz do Natal 'ilumina
cada homem' precisamente porque é capaz de revelar a cada um a própria verdade,
a própria vocação, a própria semelhança com Deus".