de sustento da vocação e esperança nas
dificuldades
Dom Majella com padres e diáconos da arquidiocese de Pouso Alegre - PASCOM
Neste Dia do Padre, alguns bispos do Brasil recordaram a missão dos presbíteros e
escreveram artigos com motivações e preces para que sejam sustentados na
vocação a qual foram chamados e fortalecidos diante das dificuldades.
Celebrado no dia de São João Maria Vianney, padroeiro dos sacerdotes, 4 de
agosto, o Dia do Padre é a motivação para a primeira semana do Mês Vocacional e
lembrado no domingo mais próximo da data do Santo Cura D’Ars, neste ano, dia 3
de agosto.
“Os padres
precisam de muita oração para bem conduzir o rebanho a eles confiado. Devemos
também suplicar a Deus para que nunca faltem sacerdotes, pois sem padres não há
Eucaristia, e sem Eucaristia não há Igreja”, escreveu.
Para ele, a
semana dedicada ao sacerdócio “é tempo oportuno para demonstrar gratidão,
desejar felicidades e rezar pelos nossos padres”. O cardeal também motivou os
fiéis a cuidarem dos padres, respeitá-los como “pais espirituais” da comunidade
e ser amigos deles.
“Rezo
especialmente por todos os sacerdotes: que o Senhor os recompense e fortaleça
para que continuem conduzindo o povo de Deus como bons pastores. Peço que o
Espírito Santo os ilumine para que, mesmo diante das dificuldades, permaneçam
fiéis ao chamado recebido”, escreveu dom Orani.
“Lembrando que é
a força de Deus que age em nós: ‘Não que sejamos capazes de conceber alguma
coisa como de nós mesmos; é do Senhor que provém a nossa capacidade. É Ele que
nos torna aptos para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do
Espírito; porque a letra mata, enquanto o Espírito dá vida’ (2Cor 3,5-6)”,
escreveu.
Em tempos
difíceis, afirmou, “ele foi farol de fé, homem da oração, pastor incansável do
povo, confessor misericordioso e, sobretudo, alguém que fez da simplicidade e
da fidelidade sua maior força”.
Dom Anuar
sugeriu voltar à fonte da vocação – o chamado de Deus que os amou e escolheu –
em meio aos desafios que marcam o nosso tempo, como cansaço pastoral, desânimo,
incompreensões, realidades sociais duras e a solidão.
“Nosso
ministério é dom e mistério. E mesmo quando enfrentamos momentos de aridez ou
fragilidade, o Senhor continua agindo através de nós. Ele não desiste da sua
Igreja, e não desiste dos seus sacerdotes. Por isso, irmãos, levantem o olhar.
Reavivem o dom que há em vocês (cf. 2Tm 1,6). Lembrem-se de quando foram
chamados, de quando colocaram as mãos no arado, de quando disseram o primeiro
‘sim’. Há uma alegria escondida na fidelidade”, motivou.
com o seu entusiasmo e fé todos aqueles que encontrarem
Em sua homilia
na missa do Jubileu dos Jovens, em Tor Vergata, Leão XIV os convidou a
permanecerem unidos a Jesus, a permanecerem "sempre na sua amizade,
cultivando-a com a oração, a adoração, a Comunhão eucarística, a Confissão
frequente, a caridade generosa, como nos ensinaram os beatos Piergiorgio
Frassati e Carlo Acutis, que em breve serão proclamados Santos".
Na manhã deste
domingo (03/08), o Papa Leão XIV presidiu a missa do Jubileu dos Jovens na
esplanada de Tor Vergata, em Roma, que contou com a participação de mais de um
milhão de pessoas. Antes do início da missa, o Santo Padre proferiu algumas
palavras espontâneas:
"Espero que
todos tenham descansado um pouco. Em breve, iniciaremos a maior celebração que
Cristo nos deixou, a Sua própria presença na Eucaristia. Deus os abençoe a
todos. Que esta seja uma ocasião verdadeiramente memorável para todos e cada um
de nós, quando juntos, como Igreja de Cristo, seguimos, caminhamos juntos e
vivemos com Jesus Cristo", disse ele.
No início de sua
homilia, o Pontífice frisou que nesta experiência de encontro, "podemos
imaginar que estamos percorrendo o caminho feito pelos discípulos de Emaús na
tarde do dia de Páscoa". A liturgia deste domingo, não nos fala
diretamente sobre este episódio, "mas nos ajuda a refletir sobre o que
nele se narra: o encontro com o Cristo Ressuscitado que muda a nossa existência
e que ilumina os nossos afetos, desejos e pensamentos".
Não enganemos o
nosso coração
A seguir, o Papa
comentou a primeira leitura, extraída do Livro de Eclesiastes, que nos convida
a entrar em contato, como os dois discípulos de Emaús, "com a experiência
dos nossos limites, da finitude das coisas que passam". Comentou também o Salmo
responsorial, que ecoando a mesma mensagem, "propõe-nos a imagem da «erva
que de manhã brota vicejante, mas à tarde está murcha e seca»". "São
duas advertências fortes, talvez um pouco chocantes, mas que não devem
assustar-nos, como se fossem temas “tabu” a evitar. Na verdade, a fragilidade
de que nos falam faz parte da maravilha que somos", sublinhou.
"Pensemos
no símbolo da erva: não é lindo um campo florido?" Perguntou Leão XIV.
"Claro, é delicado, feito de caules finos, vulneráveis, sujeitos a secar,
dobrar-se, partir-se, mas, ao mesmo tempo, imediatamente substituídos por
outros que brotam depois deles e dos quais os primeiros se tornam generosamente
alimento e adubo, ao desfazerem-se no solo. É assim que vive o campo,
renovando-se continuamente e, mesmo durante os meses gelados do inverno, quando
tudo parece silencioso, a sua energia vibra sob a terra e prepara-se para, na
primavera, explodir em milhares de cores", sublinhou.
“Queridos
amigos, nós também somos assim: fomos feitos para isto. Não para uma vida onde
tudo é óbvio e parado, mas para uma existência que se renova constantemente no
dom, no amor. E assim aspiramos continuamente a um “algo mais” que nenhuma
realidade criada nos pode dar. Sentimos uma sede tão grande e ardente que
nenhuma bebida deste mundo pode saciar.”
Diante dessa
sede, "não enganemos o nosso coração, tentando extingui-la com
subterfúgios ineficazes! Antes, devemos ouvi-la"! Mesmo aos vinte anos, é
bom abrir o coração a Deus, "deixá-lo entrar, para depois nos aventurarmos
com Ele rumo aos espaços eternos do infinito".
Leão XIV citou
Santo Agostinho, que a propósito de sua intensa busca por Deus, perguntava-se:
«Qual é, então, o objeto da nossa esperança […]? É a terra? Não». Pensando no
caminho que tinha percorrido, Agostinho rezava, dizendo: «Eis que habitavas
dentro de mim e eu te procurava do lado de fora! […] Tu me tocaste, e agora
estou ardendo no desejo de tua paz».
Unidos a Deus e
aos irmãos na caridade
A seguir, o Papa
Leão XIV recordou as palavras do Papa Francisco aos jovens, em Lisboa, durante
a Jornada Mundial da Juventude, em que o Pontífice falecido disse a eles que
não nos devemos nos alarmar «se nos encontramos intimamente sedentos,
inquietos, incompletos, desejosos de sentido e de futuro […] Não estamos
doentes, estamos vivos!»
"Há uma
solicitação importante no nosso coração, uma necessidade de verdade que não
podemos ignorar, que nos leva a perguntar: o que é realmente a felicidade? Qual
é o verdadeiro sabor da vida? O que nos liberta dos pântanos do absurdo, do
tédio, da mediocridade?" Perguntou Leão XIV.
“Nos últimos
dias, vocês viveram muitas experiências bonitas. Encontraram-se com jovens da
sua idade, vindos de várias partes do mundo, pertencentes a diferentes
culturas. Trocaram conhecimentos, partilharam expectativas, dialogaram com a
cidade através da arte, da música, da informática, do esporte. No Circo Máximo,
aproximando do Sacramento da Penitência, vocês receberam o perdão de Deus e
pediram sua ajuda para uma vida boa.”
Segundo o Papa,
em tudo isto, podemos "encontrar uma resposta importante: a plenitude da
nossa existência não depende do que acumulamos nem do que possuímos, como
ouvimos no Evangelho. Está ligada ao que sabemos acolher e partilhar com
alegria".
“Comprar,
acumular, consumir não basta. Precisamos levantar os olhos, olhar para cima,
para as «coisas do alto», para perceber que, entre as realidades do mundo, tudo
tem sentido apenas na medida em que serve para nos unir a Deus e aos irmãos na
caridade, fazendo crescer em nós «sentimentos de misericórdia, de bondade, de
humildade, de mansidão, de paciência», de perdão, de paz, como os de Cristo.”
Neste horizonte
compreenderemos cada vez melhor o que significa «a esperança não engana, porque
o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos
foi dado».
Permanecer na
amizade com o Senhor
"Queridos
jovens, a nossa esperança é Jesus", disse ainda Leão XIV, recordando as
palavras de São João Paulo II, que dizia que o Senhor é «quem suscita em vocês
o desejo de fazer de suas vidas algo de grande […], no aperfeiçoamento de vocês
e da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna».
"Mantenhamo-nos
unidos a Ele, permaneçamos sempre na sua amizade, cultivando-a com a oração, a
adoração, a Comunhão eucarística, a Confissão frequente, a caridade generosa,
como nos ensinaram os beatos Piergiorgio Frassati e Carlo Acutis, que em breve
serão proclamados Santos", disse ainda o Papa, convidando os jovens onde
quer que estejam, a aspirar "a coisas grandes, à santidade. Não se
contentem com menos. Então, vocês verão crescer todos os dias, em vocês e ao
seu redor, a luz do Evangelho".
O Santo Padre
confiou os jovens "a Maria, Virgem da Esperança. Com a sua ajuda, ao
regressarem nos próximos dias aos seus países, em todas as partes do mundo,
continuem caminhando com alegria seguindo as pegadas do Salvador e contagiem
com o seu entusiasmo e o testemunho da sua fé todos aqueles que
encontrarem".
Saudação final
Antes de deixar
Tor Vergata, Leão XIV saudou e agradeceu aos jovens que participaram da
celebração em Tor Vergata. Agradeceu também ao coro pelas músicas e a todos os
que trabalharam na preparação dos eventos durante esta semana do Jubileu.
"Já
dissemos que o próximo encontro será na Coreia. Aplausos dos muitos coreanos
presentes. Peço-lhes que transmitam também uma saudação aos muitos jovens que
não puderam vir e estar aqui conosco, em muitos países dos quais era impossível
sair. Há lugares onde os jovens não puderam vir por razões que conhecemos.
Levem esta alegria, este entusiasmo, ao mundo inteiro. Vocês são o sal da
terra, a luz do mundo, e transmitam esta saudação a todos os seus amigos, a
todos os jovens que precisam de uma mensagem de esperança. Obrigado novamente a
todos vocês! E boa viagem!"
de todas as terras terras ensanguentadas pela guerra
Na alocução que
precedeu a oração mariana do Angelus, Leão XIV manifestou sua proximidade a
todos "os jovens que sofrem o pior tipo de mal: aquele que é causado por
outros seres humanos". "Estamos com os jovens de Gaza, com os jovens
da Ucrânia", disse ele. "Meus jovens irmãos e irmãs, vocês são o
sinal de que um mundo diferente é possível: um mundo de fraternidade e amizade,
onde os conflitos não são resolvidos com armas, mas com o diálogo",
sublinhou.
No final da
missa do Jubileu dos Jovens, em Tor Vergata, neste domingo, 3 de agosto, Leão
XIV rezou a oração mariana do Angelus.
Na alocução que
precedeu a oração, o Papa agradeceu a Deus pelo dom destes dias Jubileu dos
Jovens.
“Foi uma chuva
de graças para a Igreja e para o mundo inteiro! E foi assim através da
participação de cada um de vocês. Por isso, quero agradecer-lhes, um a um, de
todo o coração. Em particular, recordo e confio ao Senhor duas jovens
peregrinas, Maria e Pascale, uma espanhola e outra egípcia, que nos deixaram
nestes dias.”
A seguir,
agradeceu aos bispos, que eram cerca de quatrocentos e cinquenta, na
celebração, e aos sacerdotes, que eram cerca de sete mil, às religiosas e aos
religiosos, aos educadores que acompanharam os jovens e também "a todos
aqueles que, participando espiritualmente, rezaram por este evento".
"Em
comunhão com Cristo, nossa paz e esperança para o mundo, estamos mais próximos
do que nunca dos jovens que sofrem o pior tipo de mal: aquele que é causado por
outros seres humanos", disse o Pontífice, acrescentando:
“Estamos com os
jovens de Gaza, com os jovens da Ucrânia, com os de todas as terras
ensanguentadas pela guerra. Meus jovens irmãos e irmãs, vocês são o sinal de
que um mundo diferente é possível: um mundo de fraternidade e amizade, onde os
conflitos não são resolvidos com armas, mas com o diálogo.”
"Sim, com
Cristo é possível", frisou ainda Leão XIV. "Com o seu amor, com o seu
perdão, com a força do seu Espírito. Meus queridos amigos, unidos a Jesus, como
os ramos à videira, vocês darão muito fruto; serão sal da terra e luz do mundo;
serão sementes de esperança onde quer que vivam: na família, com os amigos, na
escola, no trabalho, no esporte. Sementes de esperança com Cristo, nossa
esperança", destacou.
"Após este
Jubileu, a 'peregrinação de esperança' dos jovens continua e nos levará à
Ásia", disse Leão XIV, a propósito do próximo encontro juvenil.
“Renovo o
convite feito pelo Papa Francisco em Lisboa, há dois anos: os jovens de todo o
mundo se reunirão com o Sucessor de Pedro para celebrar a Jornada Mundial da
Juventude em Seul, na Coreia, de 3 a 8 de agosto de 2027.”
O tema dessa
Jornada é "Tende coragem: eu venci o mundo"! "É a esperança que
habita em nossos corações a dar-nos a força para anunciar a vitória de Cristo
Ressuscitado sobre o mal e a morte. Disso, vocês, jovens peregrinos de
esperança, serão testemunhas até aos confins da terra. Encontramo-nos, então,
em Seul: continuemos juntos a sonhar e a alimentar a esperança", concluiu.
Um dos traços mais chamativos na pregação de Jesus é a lucidez com que soube desmascarar o poder alienante e desumanizador que se encerra nas riquezas.
A visão de Jesus não é a de um moralista preocupado em saber como adquirimos nossos bens e como os usamos. O risco de quem vive desfrutando suas riquezas é esquecer sua condição de filho de um Deus Pai e irmão de todos.
Daí seu grito de alerta: “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro”. Não podemos ser fiéis a um Deus Pai que busca justiça, solidariedade e fraternidade para todos, e ao mesmo tempo viver pendentes de nossos bens e riquezas.
O dinheiro pode dar poder, fama, prestígio, segurança, bem-estar… mas, na medida em que escraviza a pessoa, fecha-a a Deus Pai, a faz esquecer sua condição de irmão e a leva a romper a solidariedade com os outros. Deus não pode reinar na vida de quem está dominado pelo dinheiro.
A raiz profunda está em que as riquezas despertam em nós o desejo insaciável de ter sempre mais. E então cresce na pessoa a necessidade de acumular, capitalizar e possuir sempre mais. Jesus considera uma verdadeira loucura a vida daqueles proprietários de terras da Palestina, cuja obsessão é armazenar suas colheitas em celeiros cada vez maiores. É uma insensatez dedicar as melhores energias e esforços a adquirir e acumular riquezas.
Quando, por fim, Deus se aproxima do rico para buscar sua vida, fica evidente que ele a desperdiçou. Sua vida carece de conteúdo e valor. “Insensato!..” “Assim é aquele que acumula riquezas para si e não é rico diante de Deus”.
Algum dia, o pensamento cristão descobrirá, com uma lucidez que hoje não temos, a profunda contradição que existe entre o espírito que anima o capitalismo e o que anima o projeto de vida querido por Jesus. Esta contradição não se resolve nem com a profissão de fé dos que vivem com espírito capitalista nem com toda a beneficência que possam fazer com seus ganhos.
JOSÉ ANTONIO PAGOLAcursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
Dom Antonio
Carlos Rossi - Bispo de
Frederico Westphalen (RS)
O 18º Domingo do
Tempo Comum, no Ano Litúrgico C, traz uma advertência urgente e profundamente
atual: operigo da avareza e a ilusão de que a vida consiste na abundância
de bens. Em um mundo marcado pelo consumismo, pela corrida por mais e melhor, e
pela busca incessante de segurança material, o Evangelho deste domingo soa como
um chamado a repensar os verdadeiros valores da vida. Jesus nos alerta: “Cuidado!
Ficai atentos e guardai-vos de toda espécie de ganância, porque a vida de
alguém não consiste na abundância dos seus bens” (Lc 12,15). A mensagem central
é clara: a riqueza, por si só, não garante plenitude; o que dá sentido à
vida é a relação com Deus e o uso correto dos bens para o bem comum.
Este domingo nos
convida a uma conversão interior: a abandonar a mentalidade do “ter” para
abraçar a do “ser” e do “compartilhar”. A verdadeira riqueza não está nos
celeiros cheios, mas no coração generoso, na alma voltada para Deus e o
próximo.
O livro do
Eclesiastes (1,2; 2,21-23) apresenta uma reflexão existencial sobre o
sentido da vida. O “pregador” (Qohelet) conclui que tudo é “vaidade” — isto é,
passageiro, efêmero, sem sentido duradouro quando visto somente do ponto de
vista humano. A leitura de hoje destaca o esforço do homem que trabalha com
sabedoria, mas que, no fim, deixa tudo para alguém que não suou por isso. A
frustração é evidente: “Que proveito tem o homem com todo o seu trabalho e com
a preocupação do seu coração?” (Ecl. 2,22).
Este texto não é
pessimista, mas realista. Ele nos lembra que a vida não pode ser reduzida ao
trabalho e à acumulação. A busca desenfreada por bens materiais é vã se não for
acompanhada de sabedoria espiritual. A única resposta verdadeira ao vazio
humano é a confiança em Deus, que dá sentido ao trabalho e ao descanso.
São Paulo, na
Carta aos Colossenses (3,1-5.9-11), exorta os cristãos a “viver com Cristo”.
Ele nos convida a buscar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita
de Deus, e a não se apegarem às coisas terrenas. Paulo identifica claramente os
pecados que impedem essa união com Cristo: imoralidade, paixões más, cobiça —
que ele chama de idolatria.
A cobiça, ou
avareza, é aqui apresentada como uma forma de idolatria porque coloca os bens
materiais no lugar de Deus. Quando o coração se fixa nos tesouros da terra,
afasta-se do verdadeiro tesouro: a vida em Cristo. Paulo conclui com uma bela
afirmação fundamentada na inclusão redentora do Evangelho: em Cristo, não há
distinção entre judeu e grego, escravo e livre, pois “Cristo é tudo em todos”.
A nova vida em Cristo transcende as divisões e cria uma comunidade de irmãos,
onde o amor e a partilha prevalecem.
O episódio do
Evangelho de hoje (Lucas 12,13-21) começa com um homem pedindo a Jesus que
intervenha em uma disputa de herança. Jesus recusa o papel de árbitro e
aproveita a ocasião para lançar uma advertência solene: “Cuidado com a avareza!”
Em seguida, conta a parábola do homem rico que, ao ter uma colheita abundante,
decide construir celeiros maiores para guardar tudo, pensando em viver
tranquilamente. Mas Deus lhe diz: “Tolo! Nesta mesma noite, a tua vida te será
pedida. E o que preparaste, para quem ficará?” (Lc 12,20).
A parábola é um
retrato vívido da mentalidade materialista: segurança baseada em riquezas,
planejamento exclusivamente terreno, ausência de Deus e de solidariedade. O
homem rico pensa somente em si, em seu “eu” e em seu “meu” (uso recorrente dos
pronomes possessivos). Ele esquece que a vida é um dom efêmero e que os bens
são para serem administrados, não acumulados. A verdadeira riqueza, segundo
Jesus, é “ser rico para com Deus” — ou seja, viver na justiça, na generosidade
e na fé.
A liturgia deste
domingo não nos deixa indiferentes. Ela nos interpela a examinar nossas
prioridades, nossos desejos e nosso uso dos bens. Como viver essa mensagem
durante a semana? Aqui estão três sugestões práticas:
Examinar nosso
coração diante dos bens materiais
Podemos fazer um
exercício de autoavaliação: o que ocupa o centro da minha vida? Quanto tempo
dedico a planejar o futuro financeiro comparado ao tempo que dedico à oração, à
família, ao serviço? Podemos também buscar identificar sinais de avareza em
nossa vida: medo de compartilhar, desejo excessivo de segurança, inveja do que
os outros têm. Peçamos a Deus a graça da liberdade interior.
Praticar o
desapego e a generosidade
Podemos, nesta
semana, escolher uma ação concreta de partilha: doar algo que já não usamos,
ajudar alguém em necessidade, contribuir com uma causa solidária. A
generosidade não começa com o que sobra, mas com a decisão de viver com menos
para que outros possam ter o necessário. Não nos esqueçamos: “É melhor dar do
que receber” (At 20,35).
Cultivar a
gratidão e a oração
Podemos nos
comprometer a começar e terminar o dia agradecendo a Deus pelos bens que
recebemos — não apenas materiais, mas também afetivos, espirituais e naturais.
Na oração, reconhecer que tudo vem dele e tudo é para usar com
responsabilidade. A gratidão cura o coração da ganância e nos lembra que somos
administradores, não donos, da vida e dos bens.
Conclusão
O 18º Domingo do
Tempo Comum nos lembra que a vida é mais do que posses. A verdadeira riqueza
está em viver em comunhão com Deus e com o próximo. Que esta liturgia nos
inspire a viver com simplicidade, generosidade e esperança, lembrando que “onde
estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Lc 12,34). Que
possamos, cada dia, ser “ricos para com Deus” — não por quanto temos, mas por
quanto amamos.
Na manhã deste
sábado, na Catedral do Bom Jesus, na missa das 9h, o arcebispo metropolitano de
Pouso Alegre, dom José Luiz Majella Delgado, C.Ss.R., ordenou os primeiros
diáconos permanentes formados pela Escola Diaconal Santa Dulce dos Pobres.
Os diaconado
permanente pode ser conferido a homens casados, solteiros ou viúvos. No caso desses
dois últimos devem apresentar o compromisso de se tornarem celibatários.
"Os diáconos participam de modo
especial na missão e na graça de Cristo. O sacramento da Ordem
marca-os com um selo ('caráter') que ninguém pode fazer desaparecer e
que os configura com Cristo, que se fez 'diácono', isto é, o servo de todos.
Entre outros serviços, pertence aos diáconos assistir o bispo e os
sacerdotes na celebração dos divinos mistérios, sobretudo da Eucaristia,
distribuí-la, assistir ao Matrimônio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e
pregar, presidir aos funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade,
e também o Ministro do Batismo." (Catecismo da Igreja Católica, 1570).
De nossa
paróquia, recebeu o primeiro grau do sacramento da Ordem Roger Faria Caetano. Ele
e os demais diáconos permanentes ordenados poderão batizar, abençoar matrimônios, assistir os enfermos
com o viático, celebrar a Liturgia da Palavra, expor o Santíssimo Sacramento,
pregar, evangelizar, catequizar, fazer a homilia, abençoar, dar palestras e cursos
de formação.
Nossos cumprimentos ao diácono Roger!
Que Deus abençoe seu ministério de serviço a Deus e a nossa família paroquial!
Para dar certo
na vida não basta passar bem. O ser humano não é apenas um animal faminto de
prazer e de bem-estar. Ele é feito também para cultivar o espírito, conhecer a
amizade, experimentar o mistério do transcendente, agradecer a vida, viver a
solidariedade. (José Antonio Pagola)
Não há dúvida o
homem é mais do que seus bens, sua conta bancária, seus recursos econômicos. As
palavras de José Antonio Pagola mencionadas norteiam nossa reflexão, a maneira
de nos posicionar diante dos bens. De graça recebemos, de graça damos. Nossa existência
é partilha não somente de bens materiais, mas sobretudo de nós mesmos, do
melhor que brotou dentro de nós com nosso contato com a fé e nossa convivência
com Cristo ressuscitado ao longo do caminho da vida.
O homem da
parábola teve muita sorte na vida. Teve grande colheita. O agronegócio deu
certo. A terra, a chuva, o tempo clemente foram lhe sorrindo. Com tanta
abundância precisou pensar em levantar novos galpões e amplos celeiros. E
assim, garantido, podia aproveitar a vida “Eu poderei dizer a mim mesmo: Meu
caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe,
aproveita”.
Os bens
materiais são necessários para que possamos levar a uma vida digna: casa
decente, roupa para o corpo, alimento para a mesa, férias para o espírito e o
corpo. Não somos espíritos desencarnados. Os bens materiais, os avanços da
técnica, os sucessos das pesquisas médicas tudo vem em benefício do ser humano
e em respeito pela sua dignidade. Lutamos e lutaremos para que os mais
desfavorecidos possam, o mais breve possível, ter os recursos para que levem
uma vida digna e tenham mesmo a abundância das coisas necessárias.
A sociedade de
consume pode, no entanto, olhar com muita paixão os bens materiais, o desejo de
ter, de ter sempre mais. A sociedade da produtividade, da concorrência da
pressa vai nos esterilizando por dentro. Vamos colocando nossa convicção no
poder, no prestígio, no lucro, no ter mas e até mesmo nem sempre um ter lícito
e esquecendo-se somos companheiros de viagens de tantos e tantas que carecem de
tudo.
Somos mistérios
ambulantes. Não somos donos de nossa vida. Alguém nos inventou. Somos hóspedes
na humanidade. Somos com os outros. Só somos com os outros. Deles dependemos e
eles dependem de nós numa interminável cadeia de solidariedades. Com a mãe e o
pai, com a escola e os amigos, com o pão e a água, o sol e a chuva. Juntos.
Debaixo de um mesmo guarda-chuva. Levantando os caídos, ajudando os velhos a
andarem, fazendo com que os casados aprendam se estimar. Partilha de vida, do
tempo, das riquezas que Deus coloca dentro de cada um. Partilha dos bens com os
de perto e os de longe. Engajamentos em campanhas que promovam uma distribuição
sadia dos bens e combata toda forma de corrupção.
Palavras de José
Antonio Pagola: “O dinheiro pode dar poder, fama, prestígio, segurança,
bem-estar… mas na medida em que escraviza a pessoa, fecha-a para Deus Pai e faz
esquecer a condição de irmão e a leva a romper a solidariedade com os outros.
Deus não pode reinar na vida de que está dominado pelo dinheiro. A raiz
profunda está em que as riquezas despertam em nós o desejo insaciável de ter
mais. E então cresce na pessoa a necessidade de acumular, capitalizar e possuir
sempre mais (Pagola, Lucas p. 206).
FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
“Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”. Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça. De fato, que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam debaixo do sol Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração. Também isso é vaidade.
— Vós fazeis voltar ao pó todo mortal,/ quando dizeis: “Voltai ao pó, filhos de Adão!”/ Pois mil anos para vós são como ontem,/ qual vigília de uma noite que passou.
— Eles passam como o sono da manhã,/ são iguais à erva verde pelos campos:/ de manhã ela floresce vicejante,/ mas à tarde é cortada e logo seca.
— Ensinai-nos a contar os nossos dias,/ e dai ao nosso coração sabedoria!/ Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis?/ Tende piedade e compaixão de vossos servos!
— Saciai-nos de manhã com vosso amor,/ e exultaremos de alegria todo o dia!/ Que a bondade do Senhor e nosso Deus/ repouse sobre nós e nos conduza!/ Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho.
Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus.
Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória.
Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria.
Não mintais uns aos outros. Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador, em ordem ao conhecimento.
Aí não se faz distinção entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, inculto, selvagem, escravo e livre, mas Cristo é tudo em todos.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas
Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: «Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.» Jesus respondeu: «Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?» Depois Jesus falou a todos: «Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens.» E contou-lhes uma parábola: «A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus.»
A liturgia de hoje ensina a vaidade da riqueza. Para que tanto trabalhar, se nada podemos levar e devemos deixar o fruto de nosso trabalho para outros (1ª leitura)? Os pais arrecadam, os filhos aproveitam, os netos põem a perder… No evangelho, Jesus ilustra essa realidade com a parábola do homem que chegou a assegurar sua vida material, mas na mesma noite iria morrer … Quem é materialista e só quer conhecer os prazeres deste mundo, para este o ensinamento de Jesus é indigesto, mas nem por isso deixa de ser verdade. Não levamos nada daqui. As riquezas materiais não têm valor duradouro, nem podem ser o fim ao qual o homem se dedica.
Talvez o consumismo de hoje tenha isto de bom: lembra-nos essa precariedade. O produto que compramos hoje amanhã já saiu da moda, e depois de amanhã nem haverá mais peças de reposição para consertá-lo. Nossa nova TV estará fora de moda antes que tivermos completado as prestações … Por outro lado, esse consumismo é grosseira injustiça, pois gastamos em uma geração os recursos das gerações futuras. Se as coisas valem tão pouco, melhor seria não as comprar, e voltar a uma vida mais simples e mais desprendida. Haveria recessão econômica, mas também haveria menos necessidade de dinheiro para ser gasto.
A caça à riqueza material é um beco sem saída. A razão por que se insiste em produzir sempre mais é que os donos do mundo lucram com a produção, sobretudo das coisas supérfluas que enchem as prateleiras das lojas. Para vender esses supérfluos, criam nas pessoas a necessidade de possuí-las, mediante a publicidade na rua, no jornal e na televisão. Quando então as pessoas não conseguem adquirir todas essas coisas, ficam irrequietas; quando conseguem, ficam enjoadas; e nos dois casos aparece mais uma necessidade: a psicoterapia …
A “sabedoria do lucro” é injusta e assassina. Leva as pessoas a desconsiderar os fracos. Um proeminente político deste país disse que “quem não pode competir não deve consumir” … O sistema do lucro e do desejo sempre mais acirrado precisa manter as desigualdades, pois parte do pressuposto que todos querem superar a todos. Tal sistema é “intrinsecamente pecaminoso”, disseram os papas Paulo VI e João Paulo II.
Ser rico, não para si, mas para Deus … Não amontoar riquezas que na hora do juízo serão as testemunhas de nossa avareza, injustiça e exploração (cf. Tg 5,1-6), mas riquezas que constituam a alegria de Deus!
Não adianta muito discutir se a produção tem que ser capitalista ou socialista, enquanto não se tem claro que o ser humano não existe para a produção, e sim a produção para o ser humano. E este, se for sábio, tentará precisar dela o menos possível.
PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.