domingo, 8 de dezembro de 2024

Papa na missa da Solenidade da Imaculada Conceição:

Maria salva o mundo; não há salvação sem a mulher

Na missa no Vaticano com os novos cardeais, Francisco deseja que o modo como a Virgem viveu a filiação, a responsalidade e a maternidade “nos conquiste”, porque a Imaculada não é um mito, mas um projeto bonito e concreto. Toda presunção de autossuficiência, de fato, não gera nem amor, nem felicidade: “de que adiantam os altos níveis de crescimento econômico dos países privilegiados, se metade do mundo morre de fome e de guerra, e outros ainda observam com indiferença?”



Na Solenidade da Imaculada Conceição, que este ano coincide com o segundo Domingo do Advento, o Papa Francisco preside a Santa Missa na Basílica Vaticana, onde neste sábado (07/12) criou 21 cardeais, “portadores de uma única Sabedoria com muitas faces”, que neste domingo (08/12) participam da celebração de ação de graças com o Pontífice. A homilia se concentrou na beleza de Maria, “serva” não no sentido de “subjugada”, mas de “estimada”. Uma existência, a dela, a ser tomada como critério praticável de vida, no aqui e agora, capaz de fecundar com amor autêntico tanto a esfera familiar quanto as relações sociais e entre as nações.

Não há salvação sem a mulher, a Igreja é a mulher 

A contemplação da Virgem oferecida pelo Papa a torna particularmente próxima e familiar. Maria, Francisco nos lembra, teve uma infância que não é contada nos textos sagrados. E, no entanto, nesse mesmo anonimato - que nos Evangelhos dá lugar à sugestão de uma vida rica em fé, humilde e simples, toda harmonia e candura - o reflexo do amor de Deus floresce e se irradia muito além do desconhecido vilarejo de Nazaré. É “uma flor que cresceu sem ser notada”. Uma filha de “coração puro” com o “perfume da santidade”. A vida de Maria é uma doação contínua. Como esposa, é definida como “serva do Senhor”; mas aqui o Papa faz questão de esclarecer: “serva” não no sentido de “subjugada” e “humilhada”, mas de uma pessoa “confiável”, “estimada”, a quem o Senhor confia os tesouros mais preciosos e as missões mais importantes. E mais uma ênfase, acrescentada pelo Pontífice:

O Concílio diz o seguinte: Deus escolheu Maria, escolheu uma mulher como companheira para o seu projeto de salvação. Não há salvação sem a mulher, porque a Igreja também é mulher.

A Imaculada Conceição não é uma doutrina abstrata ou um ideal impossível

A maternidade de Maria, que se tornou a característica que mais interessou aos artistas na história da Igreja, sugere uma generatividade que está totalmente atenta à exaltação do outro, o Filho. Com um coração livre de pecado, dócil à ação do Espírito Santo. A fecundidade da Imaculada, observa o Papa, é bonita precisamente porque ela sabe morrer para dar vida, “em seu esquecer-se de si mesma para cuidar daqueles que, pequenos e indefesos, a Ela se agarram”. Entretanto, é uma figura que encarna uma beleza que não é muito alta, inatingível. 

A Imaculada, portanto, não é um mito, uma doutrina abstrata ou um ideal impossível: é a proposta de um bonito e concreto projeto, o modelo plenamente realizado de nossa humanidade, por meio do qual, pela graça de Deus, todos nós podemos contribuir para mudar o nosso mundo para melhor.

A beleza de Maria salva o mundo da autossuficiência

A beleza de Maria é uma beleza “que salva o mundo” e, portanto, deve nos conquistar e nos converter, espera o Sucessor de Pedro. Uma beleza em que as famílias são um espaço de verdadeira partilha e em que os pais estão “presentes em carne e osso junto dos filhos”. Se esse estilo for internalizado, poderão surgir atitudes de abertura, solidariedade, empatia e harmonia, afetando todas as áreas da vida que, com muita frequência, são condicionadas por pretensões de autossuficiência. É essa preocupação em “ser como Deus”, diz o Papa, que continua a ferir a humanidade e não gera nem amor nem felicidade.

De que serve o dinheiro se metade do mundo morre?

Ele prossegue listando uma série de situações críticas: “quem exalta como uma conquista a rejeição de qualquer vínculo estável e duradouro, concretamente não fomenta liberdade. Aqueles que não respeitam o pai e a mãe, que não querem ter filhos, que consideram os outros como um objeto ou um incômodo, que avaliam a partilha como uma perda e a solidariedade como um empobrecimento, não espalham alegria nem futuro”. Em seguida, o Pontífice faz algumas perguntas, provocações que analisam algumas contradições óbvias nas sociedades contemporâneas:

De que serve o dinheiro no banco, o conforto nos apartamentos, as falsas “amizades” do mundo virtual, se os corações permanecem frios, vazios, fechados? De que adiantam os altos níveis de crescimento econômico dos países privilegiados, se metade do mundo morre de fome e de guerra, e outros ainda observam com indiferença? De que adianta viajar pelo mundo inteiro, se cada encontro é reduzido à emoção de um momento, a uma fotografia que, em alguns dias ou meses, ninguém se lembrará mais?

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Papa no Angelus:

em tempo de guerras e seduções digitais,
confiemos toda esperança a Deus

No Angelus da Imaculada Conceição, o Papa se detém sobre o esforço de possuir e dominar, sobre a fome de dinheiro, sobre o desejo de ter “amigos poderosos”, os “falsos modelos brilhantes” que vêm da mídia e da internet: deem lugar à docilidade na misericórdia do Pai, como a Virgem fez com o seu “sim” ao Arcanjo Gabriel. “Hoje é um bom dia para decidir fazer uma boa Confissão”, acrescenta. “O Senhor perdoa tudo”.

Maria colocou seu destino em boas mãos. Isso nos é lembrado pela catequese do Papa Francisco no Angelus deste domingo (08/12), de Solenidade da Imaculada Conceição, na iminência da abertura da Porta Santa do Jubileu. A origem periférica dessa moça humilde e desconhecida torna-se o centro de uma nova história. Até que ponto estamos dispostos, em uma época angustiada e sombria, a fazer como ela fez diante do Arcanjo Gabriel? Essa é a questão central que o Pontífice aborda hoje.

Desejo de domínio ou confiança na misericórdia de Deus?

A contemplação da cena narrada no início do Evangelho de Lucas - que o Papa recomenda reler, passando um pouco de tempo ali, porque “eu asseguro que lhes fará bem” - está sintonizada com os tempos atuais. O Sucessor de Pedro faz uma série de perguntas, como fez na homilia na missa celebrada pouco antes na Basílica de São Pedro. Mais uma vez, é o individualismo e o que vem com ele que preocupa o Papa:

Em nossa época, agitada por guerras e concentrada no esforço de possuir e dominar, eu, onde coloco a minha esperança? Na força, no dinheiro, nos amigos poderosos, ali coloco a minha esperança? Ou na infinita misericórdia de Deus? E diante dos modelos falsos brilhantes que circulam na mídia e na Internet, onde busco eu a minha felicidade? Onde está o tesouro do meu coração? Está no fato de que Deus me ama gratuitamente, que o seu amor me precede para sempre e está pronto para me perdoar quando volto arrependido para Ele? Naquela esperança filial no amor de Deus? Ou me iludo ao tentar afirmar a todo custo o meu eu e a minha vontade?

Em Maria, o encontro do humano e do divino

O humano e o divino se unem nessa pequena palavra dita por Maria. É “um instante abençoado”, enfatiza o Papa. Daquela atitude de uma mulher de Nazaré, dependia o destino de toda a humanidade.

Como na cena da criação de Adão, pintada por Michelangelo na Capela Sistina, em que o dedo do Pai celeste quase toca aquele do homem; também aqui o humano e o divino se encontram, no início da nossa Redenção, se encontram com uma delicadeza maravilhosa, no instante abençoado em que a Virgem Maria pronuncia o seu “sim”.

Reservar tempo para uma bela confissão

Por fim, o Papa marcou um encontro na Praça de Espanha neste domingo (08/12), onde irá, como de costume nesse dia de festa, prestar homenagem à estátua de Maria Imaculada, que se refere, ele nos lembra, àquele serviço da Palavra de Deus que cada um é chamado a renovar na vida cotidiana. Aqui Francisco acrescenta um conselho: “hoje é um belo dia para decidir fazer uma boa Confissão”. E lembra que o Senhor perdoa tudo e todos. Ele retorna à Virgem, que revela um mistério, um amor incondicional. 

Nela não há nada que resista à sua vontade, à vontade de Deus, nada que se oponha à verdade e à caridade. Eis a sua bem-aventurança, que todas as gerações cantarão. Alegremo-nos também nós porque a Imaculada nos deu Jesus, que é a nossa salvação!

Antonella Palermo - Vatican News

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