nota sobre a realidade sociopolítica brasileira
Dom Leonardo Steiner, Dom Sergio Rocha e Dom Murilo Krieger |
Na nota, a CNBB
manifesta-se a respeito do momento de crise na atual conjuntura. “A
permanência e o agravamento da crise política e econômica, que toma conta do
Brasil, parecem indicar incapacidade das instituições republicanas que não
encontram um modo de superar o conflito de interesses que sufoca a vida
nacional, e que faz parecer que todas as atividades do país estão paralisadas e
sem rumo”, declaram os bispos.
Confira a
íntegra do texto:
A REALIDADE
SOCIOPOLÍTICA BRASILEIRA
DIFICULDADES E
OPORTUNIDADES
O Conselho
Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em
Brasília de 27 a 29 de outubro de 2015, comprometido com a vivência democrática
e com os valores humanos, consciente de que é dever da Igreja cooperar com a
sociedade para a construção do bem comum, manifesta-se acerca do momento de
crise na atual conjuntura social e política brasileira.
A permanência e
o agravamento da crise política e econômica, que toma conta do Brasil, parecem
indicar a incapacidade das instituições republicanas que não encontram um modo
de superar o conflito de interesses que sufoca a vida nacional, e que faz
parecer que todas as atividades do país estão paralisadas e sem rumo. A
frustração presente e a incerteza no futuro somam-se à desconfiança nas
autoridades e à propaganda derrotista, gerando um pessimismo contaminador,
porém, equivocado, de que o Brasil está num beco sem saída. Não nos deixaremos
tomar pela “sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e
desencantados com cara de vinagre” (Papa Francisco – Alegria do Evangelho,
85).
A serviço do Povo de Deus |
É preciso
garantir o aprofundamento das conquistas sociais com vistas à construção de uma
sociedade justa e igualitária. Cabe à sociedade civil exigir que os governantes
do executivo, legislativo e judiciário recusem terminantemente mecanismos
políticos que, disfarçados de solução, aprofundam a exclusão social e alimentam
a violência, entre os quais o estado penal seletivo, as tentativas de redução
da maioridade penal, a flexibilização ou revogação do Estatuto do Desarmamento
e a transferência da demarcação de terras indígenas para o Congresso Nacional.
No genuíno enfrentamento das atuais dificuldades pelas quais passa o país, não
se pode abrir espaço para medidas que, de maneira oportunista, se apresentam
como soluções fáceis para questões sabidamente graves e que exigem reflexão e
discussão mais profundas com a sociedade.
A superação da
crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer corrupção, pelo
incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que resulte num
compromisso comum entre os responsáveis pela administração dos poderes do
Estado e a sociedade. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever
ético e moral de favorecer a busca de caminhos que recoloquem o país na
normalidade. É inadmissível alimentar a crise econômica com uma crise política
irresponsável e inconsequente.
Recorde-se que
“uma sociedade política dura no tempo quando, como uma vocação, se esforça por
satisfazer as carências comuns, estimulando o crescimento de todos os seus
membros, especialmente aqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade
ou risco. A atividade legislativa baseia-se sempre no cuidado das pessoas”
(Papa Francisco ao Congresso dos EUA). Nesse sentido, com o espírito profético
inspirado na observância do Evangelho, a CNBB reitera que o povo brasileiro, os
trabalhadores e, principalmente, os mais pobres não podem ser prejudicados em
nome de um crescimento desigual que reserva benefícios a poucos e estende a
muitos o desemprego, o empobrecimento e a exclusão.
A construção de
pontes que favoreçam o diálogo entre todos os segmentos que legitimamente
representam a sociedade é condição fundamental para a superação dos discursos
de ódio, vingança, punição e rotulação seletivas que geram um clima de
permanente animosidade e conflito entre cidadãos e grupos sociais. Esse clima
belicoso, às vezes alimentado por parte da imprensa e das redes sociais, poderá
contaminar ainda mais os corações e mentes das pessoas, aprofundando abismos e
guetos que, historicamente, maculam nossa organização social. Ao aproximar-se o
período eleitoral de 2016, é responsabilidade de todos os atores políticos e
sociais, comprometidos com a ética, a justiça e a paz, aperfeiçoarem o ambiente
democrático para que as eleições não sejam contagiadas pelos discursos
segregacionistas que ratificam preconceitos e colocam em xeque a ampliação da
cidadania em nosso país.
A corrupção se
tornou uma “praga da sociedade” e um “pecado grave que brada aos céus” (Papa
Francisco - O rosto da misericórdia, n.19). Acometendo tanto instituições
públicas, quanto da iniciativa privada, esse mal demanda uma atitude forte e
decidida de combate aos mecanismos que contribuem para sua existência. Nesse
sentido, destaca-se a atuação sem precedentes dos órgãos públicos aos quais
compete combater a corrupção. A contraposição eficaz à corrupção e à sua
impunidade exige, antes de mais nada, que o Estado cumpra com rigor e
imparcialidade a sua função de punir igualmente tanto os corruptos como os
corruptores, de acordo com os ditames da lei e as exigências de justiça.
Deus nos dê a
força e a sabedoria de seu Espírito, a fim de que vivamos nosso ideal de
construtores do bem comum, base da nova sociedade que almejamos para nós e para
as futuras gerações.
Brasília, 28 de
outubro de 2015.
Dom Sergio da
Rocha - Arcebispo de Brasília-DF - Presidente da CNBB
Dom Murilo S. R.
Krieger -Arcebispo de São Salvador da Bahia- BA - Vice-presidente da CNBB
Dom Leonardo
Ulrich Steiner - Bispo Auxiliar de Brasília-DF - Secretário Geral da CNBB
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Fonte: cnbb.org.br
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