Cardeal Bassetti:
Cidade do
Vaticano (RV) - Existem diferentes sensibilidades, porém, há uma grande
harmonia nas discussões fundamentais, nos princípios, como estamos verificando
nestes últimos dias de trabalho. A meu ver, está emergindo uma riqueza de
material que depois será colocada nas mãos do Santo Padre, de modo que possa
fazer um discernimento mais amplo.
É um novo percurso, não se volta atrás
É o que afirma o
arcebispo de Perugia – região italiana da Úmbria –, Cardeal Gualtiero Basseti,
comentando o clima do Sínodo ordinário dos bispos sobre a família, estes dias,
na reta final.
“É preciso
recordar a diferença entre Concílio ecumênico e Sínodo”, explica:
Cardeal Gualtiero Basseti |
Meu parecer é de
que neste Sínodo há uma comunhão de fundo que é dada justamente pela
colegialidade entre os bispos, pela relação dos prelados com os sacerdotes e
com os leigos. Porém, ao mesmo tempo, há também essa grande liberdade que,
graças a Deus, nos permite discutir”, continua o purpurado.
Mais integração
e acompanhamento
“A propósito do
tema das chamadas famílias feridas, abordado na terceira parte do Instrumenum
laboris, os percursos a serem desenvolvidos para ajudá-las, já acenados no
texto, são dois: o acompanhamento e a integração.”
“Porém – explica
–, ainda é preciso fazer muito para desenvolvê-los, porque o documento não
estabelece o que realizar concretamente para permitir a integração.”
“Há, por
exemplo, um alargamento da integração, até então unicamente no nível da
caridade, do voluntariado, para o nível litúrgico e catequético.”
“Aí – explica o
Cardeal Bassetti –, o campo se alarga, porque também um divorciado recasado,
que reconheceu erros, poderia tornar-se um professor de religião ou uma
testemunha da fé católica.”
“Também a nível
de acompanhamento estamos muito atrasados”, acrescenta. “Hoje preparamos os
jovens para a Crisma, e depois os perdemos todos. Somente alguns voltam no
âmbito da preparação para o matrimônio e, mesmo assim, muitas vezes procuram
não fazê-la totalmente. E depois, nesse caso, se dá um sacramento que implica
compromisso tanto quanto o da ordem, porque tem um grande impacto social e de
testemunho.”
Jovens: falta
educação para a sexualidade
“Aí seria
necessário mudar o sistema e acompanhar os jovens não somente antes da Crisma,
mas também depois, envolvendo as famílias. Inclusive enfrentando com os jovens
todos os problemas da afetividade e da sexualidade, algo que na Itália não se
faz”, explica o arcebispo de Perugia.
“Nesse campo
estamos no nível do ‘cada qual faça por conta própria’. Muitas vezes a escola
não trata desse âmbito, e se trata, do jeito como faz, é melhor que não trate.”
Os pais não tratam da questão, a paróquia também não, “e o resultado é que os
jovens não são acompanhados”.
“A Igreja –
conclui o cardeal – deve acompanhar os jovens até o matrimônio, e, sobretudo,
preocupar-se mais em acompanhar os jovens casais de esposos. Porque os
fracassos se dão sobretudo nos primeiros anos, é aí que se tem uma abordagem
errada”.
O convite de
Isaías
Segundo o
Cardeal Bassetti, com os dois Sínodos e o Jubileu da Misericórdia que se
iniciará em dezembro próximo, o Papa abriu um processo que prosseguirá por
muito tempo.
“Não se volta
atrás”, comenta o purpurado. “O Sínodo que desemboca no Jubileu é um gesto tal
de abertura a todos, que realiza o trecho de Isaías: ‘Ó vós todos que tendes
sede, vinde às águas’. A Igreja tem esse belíssimo depósito de graça e o quer
verdadeiramente colocar na mão de seus filhos. E mesmo quem não tem nada é
acolhido igualmente.” (RL)
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"Sínodo trará convite a discernir e compreender, sem julgar"
Cidade do
Vaticano (RV) – O texto final do Sínodo dos Bispos “foi aprovado por
unanimidade pela Comissão dos Dez chamada a verificar que tudo se realizasse na
máxima transparência para apresentá-lo à Assembleia”: foi o que adiantou Padre
Federico Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa, na coletiva concedida aos
jornalistas no final da manhã de sábado (24/10). O texto foi lido inteiramente
na Sala e será votado, ponto por ponto, na parte da tarde.
Comunhão aos
divorciados e discernimento
Dom Raymundo Damasceno presidirá sessão conclusiva |
Sobre a hipótese
de readmitir à comunhão os divorciados recasados, “o Relatório final não contém
um ‘sim’ ou um ‘não’, mas um convite ao discernimento” das situações concretas,
antecipou, na coletiva, o Cardeal Christoph Schoenborn, arcebispo de Viena. O
documento vai propor critérios para o acompanhamento pastoral, não só para a
comunhão, mas para todas as questões”.
“A palavra-chave
é discernimento. Convido todos a pensar na palavra de São João Paulo II na
‘Familiaris consortio’, onde se fala da obrigação de exercer o discernimento
porque as situações são diferentes e o Papa Francisco, com bom jesuíta, a
aprendeu quando era jovem: neste caso, discernimento significa tentar entender
a situação de uma pessoa ou de um casal”.
Homossexualidade
A respeito da
homossexualidade, o arcebispo de Viena adiantou que “não consta muito no texto
e alguns ficarão desiludidos”.
“Constatamos
duas coisas. O tema tocado neste documento é tratado sob o aspecto da família
na qual existe a experiência de um irmão, uma irmã ou um tio homossexual. Como
cristãos, como lidar com estas situações? Muitos disseram que por razões
culturais ou políticas, o tema é delicado demais. No entanto, deixar este tema
fora do documento não quer dizer que na Europa ou na América do Norte não seja
um tema de Igreja, mas em nível de universalidade temos que respeitar a
diversidade das situações políticas e culturais”.
Em síntese, para
o Cardeal Schoenborn, a mensagem principal é o próprio tema do Sínodo: Um
grande ‘sim’ à família. “O êxito do Sínodo é justamente este: a família não é
um modelo superado, passado; é a realidade mais fundamental da sociedade. Não
há uma ‘rede’ mais segura em tempos difíceis do que a família, inclusive as
feridas e recompostas”.
Dom Raymundo
preside sessão conclusiva
Também estava
presente na coletiva de imprensa o Cardeal Damasceno Assis, arcebispo de
Aparecida, um dos Presidentes-delegados do Sínodo. Dom Raymundo salientou a
necessidade de os governos oferecerem políticas públicas às famílias: “A
família sozinha pode fazer pouco”, declarou.
Na expectativa da publicação do Relatório final, previsto para as 18h, ficou claro que em todas as situações, dos divorciados recasados aos jovens que têm receio de contrair o sacramento do matrimônio, as indicações são “atenção às famílias feridas; não julgar, discernir e compreender”. (CM)
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Na expectativa da publicação do Relatório final, previsto para as 18h, ficou claro que em todas as situações, dos divorciados recasados aos jovens que têm receio de contrair o sacramento do matrimônio, as indicações são “atenção às famílias feridas; não julgar, discernir e compreender”. (CM)
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Papa ao final do Sínodo:
A Igreja deve proclamar a misericórdia e não aplicar condenações
Cidade do
Vaticano (RV) – “Para a Igreja, encerrar o Sínodo significa voltar realmente a
«caminhar juntos» para levar a toda a parte do mundo, a cada diocese, a cada
comunidade e a cada situação a luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio
da misericórdia Deus!”: palavras do Papa Francisco ao encerrar neste sábado os
trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre a família.
Depois das
palavras do Cardeal Raymundo Damasceno Assis, que presidiu à 18ª Congregação
Geral, do Secretário do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, o
Pontífice agradeceu a todos os participantes que “trabalharam de forma
incansável e com total dedicação à Igreja”.
Francisco no final do Sínodo |
Ao encerrar o
Sínodo, disse o Papa, “não significa que esgotamos todos os temas inerentes à
família, mas que procuramos iluminá-los com a luz do Evangelho”; “não significa
que encontramos soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que
desafiam e ameaçam a família, mas que colocamos tais dificuldades e dúvidas sob
a luz da Fé, abordamo-las sem medo e sem esconder a cabeça na areia”. Mas
significa "que demos provas da vitalidade da Igreja Católica, que não tem
medo de abalar as consciências anestesiadas ou sujar as mãos discutindo,
animada e francamente, sobre a família”.
O Pontífice
ressaltou ainda as diferentes opiniões que se expressaram livremente – “e às
vezes, infelizmente, com métodos não inteiramente benévolos” – que enriqueceram
e animaram o diálogo, proporcionando a imagem viva duma Igreja que não usa
'impressos prontos', mas que, da fonte inexaurível da sua fé, tira água viva
para saciar os corações ressequidos.
Para Francisco,
a experiência do Sínodo fez compreender melhor “que os verdadeiros defensores
da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas
o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão.
Isto não significa de forma alguma diminuir a importância das fórmulas, das
leis e dos mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus”.
“O primeiro
dever da Igreja não é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a
misericórdia de Deus, chamar à conversão e conduzir todos os homens à salvação
do Senhor”, acrescentou o Pontífice.
Leia a seguir a
íntegra das palavras de Francisco:
Amadas
Beatitudes, Eminências, Excelências, Queridos irmãos e irmãs!
Quero, antes de
mais, agradecer ao Senhor por ter guiado o nosso caminho sinodal nestes anos
através do Espírito Santo, que nunca deixa faltar à Igreja o seu apoio.
Agradeço de todo
o coração ao Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário-Geral do Sínodo, a Dom Fabio
Fabene, Subsecretário e, juntamente com eles, agradeço ao Relator, o Cardeal
Peter Erdö, e ao Secretário Especial, Dom Bruno Forte, aos presidentes
delegados, aos secretários, consultores, tradutores e todos aqueles que
trabalharam de forma incansável e com total dedicação à Igreja: um cordial
obrigado!
Agradeço a todos
vós, amados padres sinodais, delegados fraternos, auditores, auditoras e
conselheiros, párocos e famílias pela vossa ativa e frutuosa participação.
Agradeço ainda a
todas as pessoas que se empenharam, de forma anônima e em silêncio, prestando a
sua generosa contribuição para os trabalhos deste Sínodo.
Estai certos de
que a todos recordo na minha oração ao Senhor para que vos recompense com a
abundância dos seus dons e graças!
Enquanto
acompanhava os trabalhos do Sínodo, pus-me esta pergunta: Que há-de significar,
para a Igreja, encerrar este Sínodo dedicado à família?
Certamente não
significa que esgotamos todos os temas inerentes à família, mas que procuramos
iluminá-los com a luz do Evangelho, da tradição e da história bimilenária da
Igreja, infundindo neles a alegria da esperança, sem cair na fácil repetição do
que é indiscutível ou já se disse.
Seguramente não
significa que encontramos soluções exaustivas para todas as dificuldades e
dúvidas que desafiam e ameaçam a família, mas que colocamos tais dificuldades e
dúvidas sob a luz da Fé, examinâmo-las cuidadosamente, abordamo-las sem medo e
sem esconder a cabeça na areia.
Significa que
solicitamos todos a compreender a importância da instituição da família e do
Matrimônio entre homem e mulher, fundado sobre a unidade e a indissolubilidade
e a apreciá-la como base fundamental da sociedade e da vida humana.
Significa que
escutamos e fizemos escutar as vozes das famílias e dos pastores da Igreja que
vieram a Roma carregando sobre os ombros os fardos e as esperanças, as riquezas
e os desafios das famílias do mundo inteiro.
Significa que
demos provas da vitalidade da Igreja Católica, que não tem medo de abalar as
consciências anestesiadas ou sujar as mãos discutindo, animada e francamente,
sobre a família.
Significa que
procuramos olhar e ler a realidade, melhor dito as realidades, de hoje com os
olhos de Deus, para acender e iluminar, com a chama da fé, os corações dos
homens, num período histórico de desânimo e de crise social, econômica, moral e
de prevalecente negatividade.
Significa que
testemunhamos a todos que o Evangelho continua a ser, para a Igreja, a fonte
viva de novidade eterna, contra aqueles que querem «endoutriná-lo» como pedras
mortas para as jogar contra os outros.
Significa também
que espoliamos os corações fechados que, frequentemente, se escondem mesmo por
detrás dos ensinamentos da Igreja ou das boas intenções para se sentar na
cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os
casos difíceis e as famílias feridas.
Significa que
afirmamos que a Igreja é Igreja dos pobres em espírito e dos pecadores à
procura do perdão e não apenas dos justos e dos santos, ou melhor dos justos e
dos santos quando se sentem pobres e pecadores.
Significa que
procuramos abrir os horizontes para superar toda a hermenêutica conspiradora ou
perspectiva fechada, para defender e difundir a liberdade dos filhos de Deus,
para transmitir a beleza da Novidade cristã, por vezes coberta pela ferrugem
duma linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível.
No caminho deste
Sínodo, as diferentes opiniões que se expressaram livremente – e às vezes,
infelizmente, com métodos não inteiramente benévolos – enriqueceram e animaram
certamente o diálogo, proporcionando a imagem viva duma Igreja que não usa
«impressos prontos», mas que, da fonte inexaurível da sua fé, tira água viva
para saciar os corações ressequidos.¹
E vimos também –
sem entrar nas questões dogmáticas, bem definidas pelo Magistério da Igreja –
que aquilo que parece normal para um bispo de um continente, pode resultar
estranho, quase um escândalo, para o bispo doutro continente; aquilo que se
considera violação de um direito numa sociedade, pode ser preceito óbvio e
intocável noutra; aquilo que para alguns é liberdade de consciência, para
outros pode ser só confusão. Na realidade, as culturas são muito diferentes
entre si e cada princípio geral, se quiser ser observado e aplicado, precisa de
ser inculturado.² O Sínodo de 1985, que comemorava o vigésimo aniversário do
encerramento do Concílio Vaticano II, falou da inculturação como da «íntima
transformação dos autênticos valores culturais mediante a integração no
cristianismo e a encarnação do cristianismo nas várias culturas humanas».³ A
inculturação não debilita os valores verdadeiros, mas demonstra a sua
verdadeira força e a sua autenticidade, já que eles adaptam-se sem se alterar,
antes transformam pacífica e gradualmente as várias culturas.4
Vimos, inclusive
através da riqueza da nossa diversidade, que o desafio que temos pela frente é
sempre o mesmo: anunciar o Evangelho ao homem de hoje, defendendo a família de
todos os ataques ideológicos e individualistas.
E, sem nunca
cair no perigo do relativismo ou de demonizar os outros, procuramos abraçar
plena e corajosamente a bondade e a misericórdia de Deus, que ultrapassa os
nossos cálculos humanos e nada mais quer senão que «todos os homens sejam
salvos» (1 Tim 2, 4), para integrar e viver este Sínodo no contexto do Ano
Extraordinário da Misericórdia que a Igreja está chamada a viver.
Amados irmãos!
A experiência do
Sínodo fez-nos compreender melhor também que os verdadeiros defensores da
doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as
fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão. Isto não significa
de forma alguma diminuir a importância das fórmulas, das leis e dos mandamentos
divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo
os nossos méritos nem segundo as nossas obras, mas unicamente segundo a
generosidade sem limites da sua Misericórdia (cf. Rm 3, 21-30; Sal 129/130; Lc
11, 37-54). Significa vencer as tentações constantes do irmão mais velho (cf.
Lc 15, 25-32) e dos trabalhadores invejosos (cf. Mt 20, 1-16). Antes, significa
valorizar ainda mais as leis e os mandamentos, criados para o homem e não
vice-versa (cf. Mc 2, 27).
Neste sentido, o
necessário arrependimento, as obras e os esforços humanos ganham um sentido
mais profundo, não como preço da Salvação – que não se pode adquirir –
realizada por Cristo gratuitamente na Cruz, mas como resposta Àquele que nos
amou primeiro e salvou com o preço do seu sangue inocente, quando ainda éramos
pecadores (cf. Rm 5, 6).
O primeiro dever
da Igreja não é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia
de Deus, chamar à conversão e conduzir todos os homens à salvação do Senhor
(cf. Jo 12, 44-50).
Do Beato Paulo
VI temos estas palavras estupendas: «Por conseguinte podemos pensar que cada um
dos nossos pecados ou fugas de Deus acende n’Ele uma chama de amor mais
intenso, um desejo de nos reaver e inserir de novo no seu plano de salvação
(...). Deus, em Cristo, revela-Se infinitamente bom (...). Deus é bom. E não
apenas em Si mesmo; Deus – dizemo-lo chorando – é bom para nós. Ele nos ama,
procura, pensa, conhece, inspira e espera… Ele – se tal se pode dizer – será
feliz no dia em que regressarmos e Lhe dissermos: Senhor, na vossa bondade,
perdoai-me. Vemos, assim, o nosso arrependimento tornar-se a alegria de Deus».5
Por sua vez São
João Paulo II afirmava que «a Igreja vive uma vida autêntica, quando professa e
proclama a misericórdia, (...) e quando aproxima os homens das fontes da
misericórdia do Salvador das quais ela é depositária e dispensadora».6
Também o Papa
Bento XVI disse: «Na realidade, a misericórdia é o núcleo da mensagem
evangélica, é o próprio nome de Deus (...). Tudo o que a Igreja diz e realiza,
manifesta a misericórdia que Deus sente pelo homem, portanto, por nós. Quando a
Igreja deve reafirmar uma verdade menosprezada, ou um bem traído, fá-lo sempre
estimulada pelo amor misericordioso, para que os homens tenham vida e a tenham
em abundância (cf. Jo 10, 10)».7
Sob esta luz e
graça, neste tempo de graça que a Igreja viveu dialogando e discutindo sobre a
família, sentimo-nos enriquecidos mutuamente; e muitos de nós experimentaram a
ação do Espírito Santo, que é o verdadeiro protagonista e artífice do Sínodo.
Para todos nós, a palavra «família» já não soa como antes, a ponto de
encontrarmos nela o resumo da sua vocação e o significado de todo o caminho
sinodal.8
Na verdade, para
a Igreja, encerrar o Sínodo significa voltar realmente a «caminhar juntos» para
levar a toda a parte do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada
situação a luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia Deus!
Obrigado!
_____________________________
1 Cf. PAPA
FRANCISCO, Carta ao Magno Chanceler da "Pontificia Universidad Católica
Argentina", no centenário da Faculdade de Teologia, 3 de Março de 2015.
2 Cf. PONTIFÍCIA
COMISSÃO BÍBLICA, Fé e cultura à luz da Bíblia. Actas da Sessão Plenária de
1979 da Pontifícia Comissão Bíblica, LDC, Leumann 1981; CONC. ECUM. VAT. II,
Gaudium et spes, 44.
3 Relação final
(7 de Dezembro de 1985), II/D.4: L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de
22/XII/1985), 652.
4 «Em virtude da
sua missão pastoral, a Igreja deve manter-se sempre atenta às mudanças
históricas e à evolução das mentalidades. Certamente não para se submeter a
elas, mas para superar os obstáculos que possam opor-se à recepção das suas
recomendações e das suas directrizes» (Entrevista ao Cardeal Georges Cottier,
La Civiltà Cattolica, 3963-3964, 8 de Agosto de 2015, p. 272).
5 Homilia, 23 de
Junho de 1968: Insegnamenti 6, 1968, 1177-1178.
6 Carta. enc.
Dives in misericordia, 30 de Novembro de 1980, 13. Disse também: «No mistério
pascal, (…) Deus mostra-Se-nos por aquilo que é: um Pai de coração terno, que
não se rende diante da ingratidão dos seus filhos, e está sempre disposto
ao perdão» (JOÃO PAULO II, Alocução do «Regina Caeli», 23 de Abril de 1995:
Insegnamenti 18/1, 1995, 1035). E descrevia a resistência à misericórdia com
estas palavras: «A mentalidade contemporânea, talvez mais do que a do homem do
passado, parece opor-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar
da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia. A palavra
e o conceito de misericórdia parecem causar mal-estar ao homem» (Carta enc. Dives
in misericordia, 2).
7 Alocução do
«Regina Caeli», 30 de Março de 2008: Insegnamenti 4/1, 2008, 489-490. E,
referindo-se ao poder da misericórdia, afirma: «É a misericórdia que põe um
limite ao mal. Nela expressa-se a natureza muito peculiar de Deus - a sua
santidade, o poder da verdade e do amor» (Homilia no Domingo da Divina
Misericórdia, 15 de Abril de 2017: Insegnamenti 3/1, 2007, 667).
8 Uma análise,
em acróstico, da palavra «família» ajuda-nos a resumir a missão da Igreja na
sua tarefa de: Formar as novas gerações para viverem seriamente o amor, não
como pretensão individualista baseada apenas no prazer e no «usa e joga fora»,
mas para acreditarem novamente no amor autêntico, fecundo e perpétuo, como o
único caminho para sair de si mesmo, para se abrir ao outro, para sair da
solidão, para viver a vontade de Deus, para se realizar plenamente, para
compreender que o matrimónio é o «espaço onde se manifesta o amor divino, para
defender a sacralidade da vida, de toda a vida, para defender a unidade e a indissolubilidade
do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o homem tem
de amar seriamente» (Homilia na Missa de Abertura do Sínodo, 4 de Outubro de
2015) e para valorizar os cursos pré-matrimoniais como oportunidade de aprofundar
o sentido cristão do sacramento do Matrimónio; Aviar-se ao encontro dos outros,
porque uma Igreja fechada em si mesma é uma Igreja morta; uma Igreja que não
sai do seu aprisco para procurar, acolher e conduzir todos a Cristo é uma
Igreja que atraiçoa a sua missão e vocação; Manifestar e estender a
misericórdia de Deus às famílias necessitadas, às pessoas abandonadas, aos
idosos negligenciados, aos filhos feridos pela separação dos pais, às famílias
pobres que lutam para sobreviver, aos pecadores que batem às nossas portas e
àqueles que se mantêm longe, aos deficientes e a todos aqueles que se sentem
feridos na alma e no corpo e aos casais dilacerados pela dor, a doença, a morte
ou a perseguição; Iluminar as consciências, frequentemente rodeadas por dinâmicas
nocivas e subtis que procuram até pôr-se no lugar de Deus criador: tais
dinâmicas devem ser desmascaradas e combatidas no pleno respeito pela dignidade
de cada pessoa; ganhar e reconstruir com humildade a confiança na Igreja,
seriamente diminuída por causa da conduta e dos pecados dos seus próprios
filhos; infelizmente, o contratestemunho e os escândalos cometidos dentro da
Igreja por alguns clérigos afetaram a sua credibilidade e obscureceram o
fulgor da sua mensagem salvífica; Labutar intensamente por apoiar e incentivar
as famílias sãs, as famílias fiéis, as famílias numerosas que continuam, não
obstante as suas fadigas diárias, a dar um grande testemunho de fidelidade aos
ensinamentos da Igreja e aos mandamentos do Senhor; Idear uma pastoral familiar
renovada, que esteja baseada no Evangelho e respeite as diferenças culturais;
uma pastoral capaz de transmitir a Boa Nova com linguagem atraente e jubilosa e
tirar do coração dos jovens o medo de assumir compromissos definitivos; uma
pastoral que preste uma atenção particular aos filhos que são as verdadeiras
vítimas das lacerações familiares; uma pastoral inovadora que implemente uma
preparação adequada para o sacramento do Matrimônio e ponha termo a costumes
vigentes que muitas vezes se preocupam mais com a aparência duma formalidade do
que com a educação para um compromisso que dure a vida inteira; Amar
incondicionalmente todas as famílias e, de modo particular, aquelas que
atravessam um período de dificuldade: nenhuma família deve sentir-se sozinha ou
excluída do amor e do abraço da Igreja; o verdadeiro escândalo é o medo de amar
e de manifestar concretamente este amor.
[01826-PO.01]
[Texto original: Italiano] [B0817-XX.01]
Asssita:
Fonte: radiovaticana.va news.va
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