Sínodo é um caminhar juntos, não um parlamento
Depois de
rezarem a hora média e da saudação do Presidente-delegado, Card. Vingt-Trois,
os padres sinodais ouviram o discurso do Santo Padre.
“A Igreja retoma
hoje o diálogo iniciado com a proclamação do Sínodo Extraordinário sobre a
família e certamente também muito antes, para avaliar e refletir juntos sobre o
texto do Instrumento de Trabalho elaborado pela Relatio Synodi e pelas
respostas das Conferências Episcopais e dos organismos autorizados”, afirmou.
Sínodo é
caminhar juntos
Francisco
recordou que o Sínodo não é um congresso ou um parlatório, não é um parlamento
nem um senado. Mas é um caminhar juntos, com o espírito de colegialidade e de
sinodalidade, adotando corajosamente a parresia, o zelo pastoral e doutrinal, a
sabedoria, a franqueza e colocando sempre diante dos olhos o bem da Igreja, das
famílias.
Papa Francisco: exemplo de escuta |
Espírito Santo
Todavia,
advertiu o Papa, o Sínodo só poderá ser um espaço da ação do Espírito Santo se
os participantes se revestirem de coragem apostólica, de humildade evangélica e
de oração confiante:
Família: instituição sagrada |
Sem ouvir Deus,
concluiu o Papa, “todas as nossas palavras serão somente palavras que não
saciam nem servem. Sem deixar-se guiar pelo Espírito, todas as nossas decisões
serão somente decorações que, ao invés de exaltar o Evangelho, o cobrem e o
escondem”.
Por fim, o
Pontífice agradeceu a todos que trabalham e trabalharam para a realização do
Sínodo, pedindo a intercessão da Sagrada Família para os trabalhos sinodais. (BF)
Sínodo:
Acompanhar as famílias com misericórdia, mas na verdade
O Relator-Geral do Sínodo, Card. Peter Erdö, apresentou na 1ª
Congregação Geral o Relatório introdutivo dos trabalhos. No texto, dividido em
três partes (os desafios, a vocação e a missão da família), o Cardeal húngaro
indicou um acompanhamento misericordioso para quem vive situações familiares
difíceis, mas sem deixar dúvidas quando à indissolubilidade do matrimônio.
Injustiças
desafiam a família
Os desafios para
a família são muitos, e o Card. Erdö as recorda com atenção: migrações,
injustiças sociais, salários baixos, violência contra as mulheres. As
instituições são frágeis, escreve, e os homens e mulheres do nosso tempo têm
medo de assumir compromissos definitivos.
Individualismo
O crescente
individualismo leva a confundir os confins de instituições fundamentais como o
matrimônio e a família, enquanto a sociedade consumista separa sexualidade e
procriação, tornando a vida humana e a genitorialidade “realidades componíveis
e decomponíveis”.
Indissolubilidade
do matrimônio
O Relatório,
todavia, ressalta aspectos positivos: são eles - o matrimônio e a família - que
não deixam os indivíduos isolados, mas transmitem valores e “oferecem uma
possibilidade de desenvolvimento à pessoa humana” insubstituível. E é
justamente do matrimônio indissolúvel que deriva a vocação familiar – explica a
segunda parte do documento. Indissolubilidade que não é um jogo, mas um dom.
Família é
princípio de vida na sociedade
Por isso, o
Card. Erdö reitera “a importância da promoção da dignidade do matrimônio e da
família”, enquanto “comunidade de vida e amor”. “Igreja doméstica baseada no
matrimônio sacramental entre dois cristãos”, “princípio de vida na sociedade”.
A família – destaca o documento – é o local onde se aprende a experiência do
bem comum”.
Formação dos
sacerdotes no acompanhamento familiar
E então qual é a
missão da família hoje? É o que explica a terceira parte do Relatório: em
primeiro lugar, se reitera a importância da formação seja para os esposos –
para que o matrimônio não seja somente um fato exterior e emocional, mas também
espiritual e eclesial – seja para o clero, para que acompanhe as famílias com
“um amadurecimento afetivo e psicológico”. Sem esquecer da exigência de uma
“conversão da linguagem, para que resulte efetivamente significativo” sobretudo
quando se trata de ajudar quem vive “situações problemáticas e difíceis”, nas
quais é preciso unir “misericórdia e justiça”:
Família e
instituições públicas
Outra missão das
famílias cristãs é colaborar com instituições públicas e criar estruturas
econômicas de apoio para ajudar os núcleos que vivem situações de pobreza,
desemprego e falta de assistência social e médica. “Toda a comunidade eclesial
deve tentar assistir as famílias vítimas de guerras e perseguições”, lê-se no
Relatório.
Famílias
feridas: misericórdia e acolhimento
Há ainda a
missão “delicada e exigente” da Igreja com as famílias feridas. O método –
explica o Relatório – deve ser o da misericórdia e do acolhimento, acompanhado
porém da apresentação clara da verdade sobre o matrimônio. “A maior
misericórdia é dizer a verdade com amor – afirmou o Card. Erdö. Deve-se ir além
da compaixão, porque “o amor misericordioso atrai e une, transforma e eleva e
convida à conversão”.
Misericórdia
requer a conversão do pecador
Papa cumprimenta o cardeal brasilero Dom Raymundo Damasceno |
“É imperativo um
acompanhamento pastoral misericordioso que, no entanto, não deixe dúvidas sobre
a verdade da indissolubilidade do matrimônio, como ensinado pelo próprio Jesus
Cristo. A misericórdia de Deus oferece ao pecador o perdão, mas exige a
conversão”.
O caminho da
penitência e a lei da gradualidade
O Relatório introdutório também enfoca o chamado
“caminho penitencial”, especificando que esse pode referir-se aos divorciados
recasados que praticam
continência e que portanto “poderão aceder também aos sacramentos da Penitência
e da Eucaristia, evitando porém de provocar escândalo”.Ou, esse pode ser entendido de acordo com a
prática tradicional da Igreja latina que permitia aos sacerdotes ouvir as
confissões dos divorciados recasados, dando absolvição apenas para aqueles que,
de fato, tinham a intenção de mudar de vida. Com relação à “lei da
gradualidade” para se aproximar dos Sacramentos, se especifica: “Embora algumas
formas de convivência trazem em si alguns aspectos positivos, isso não implica
que possam ser apresentadas como bens”. No entanto, uma vez que “a verdade
objetiva do bem moral e a responsabilidade subjetiva do indivíduo” são
distintas, então, “em nível subjetivo pode ter lugar a lei da gradualidade e
portanto a educação da consciência”.
Cuidado pastoral
das pessoas com tendências homossexuais
Assembleia dos Padres Sinodais |
“É totalmente
inaceitável que os Pastores da Igreja sofram pressões nesta matéria e que os
organismos internacionais condicionem as ajudas financeiras aos países pobres
para a introdução de leis que estabeleçam o ‘matrimônio’ entre pessoas do mesmo
sexo”.
Vida inviolável
desde a concepção até a morte natural. Não ao aborto e à eutanásia
Os últimos
parágrafos do Relatório abordam o tema da vida, da qual se reafirma o carácter
da inviolabilidade desde a concepção até a morte natural. Não, portanto, ao
aborto, à terapia agressiva, à eutanásia, e sim à abertura à vida como “uma
exigência intrínseca do amor conjugal”. O Cardeal Erdo lembra ainda o grande
trabalho da Igreja no apoio às mulheres grávidas, às crianças abandonadas, a
quem abortou, às famílias impossibilitadas de curar os seus entes queridos
doentes. A Igreja faz sentir a sua presença, compensando as deficiências do
Estado e oferecendo um apoio humano e espiritual ao trabalho de assistência,
diz o Relator geral, e estes são “valores que não podem ser quantificados com o
dinheiro”.
Incentivar a
adoção de crianças, uma forma de apostolado familiar
Recomendando,
além disso, a “promover a cultura da vida diante da cada vez mais difundida cultura
de morte”, o Relatório também sugere “um ensino adequado sobre métodos naturais
para a procriação responsável”, redescobrindo a mensagem da Encíclica Humanae
Vitae Paulo VI. Central também o incentivo à adoção das crianças, “forma
específica de apostolado familiar”.
Igreja seja
sempre mais testemunha da misericórdia de Deus
Finalmente, no
âmbito da educação, se recorda que “os pais são e permanecem os principais
responsáveis pela educação humana e religiosa dos seus filhos” e que cabe à
Igreja encorajá-los e apoiá-los “na participação vigilante e responsável” aos
programas escolares e educacionais dos filhos. O Relatório se conclui,
portanto, exortando a Igreja a “converter-se e tornar-se mais viva, mais
pessoal, mais comunitária”, testemunha da “maior misericórdia” de Deus.
Cardeal
Baldisseri: Sínodo olhe para a família com ternura e compaixão
Além do Cardeal
Erdo, a primeira Congregação Geral do Sínodo dos Bispos teve o discurso do
Secretário-Geral da Assembleia, Cardeal Lorenzo Baldisseri, que percorreu, em
ordem cronológica, o caminho preparatório deste 14º Sínodo ordinário,
enfatizando que a família é um tema “importante e transversal”, que diz
respeito não apenas os católicos, mas a todos os cristãos e à humanidade toda.
Convidando, em seguida, a Assembleia a trabalhar constantemente “na unidade e
para a unidade”, o purpurado saudou os muitos casais presentes no Sínodo, na
qualidade de Auditores e Peritos: entre eles - recordou - há uma presença
significativa feminina d qual se espera “uma contribuição especial para que o
Sínodo possa olhar para a família, com o olhar de ternura, e atenção e
compaixão das mulheres”. (BF-SP)
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Entrevista coletiva no início da tarde:
Não há dois ou mais partidos, mas pastores à escuta de Deus
Realizou-se no início da tarde desta segunda-feira, na Sala de
Imprensa da Santa Sé, no Vaticano, a primeira de uma longa série de coletivas
sobre o Sínodo, cujos trabalhos durarão três semanas.
Conduzida pelo
diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, a coletiva teve
a participação de um presidente-delegado, Cardeal André Vingt-Trois, do
relator-geral, Cardeal Peter Erdő, e do secretário especial, Dom Bruno Forte.
Card. André
Vingt-Trois: o Sínodo é tempo de oração, de reunião e de caminho
As primeiras
impressões sobre a assembleia sinodal, o contexto atual ligado às realidades
vividas pelas famílias e as finalidades do Sínodo. Esses foram os temas no
centro da coletiva aberta pelo Cardeal Vingt-Trois, que recordou que os eventos
vividos a partir de sábado representam uma significativa introdução ao Sínodo.
Coragem, audácia, firmeza, destemor |
A assembleia
sinodal é um tempo em que a Igreja está em oração, como se deu durante a
Vigília de sábado passado e como durante a missa de abertura – afirmou o
presidente-delegado de turno.
O Sínodo –
acrescentou – é também um tempo em que a Igreja se reúne, como este dia, em
torno do Papa. É um tempo em que se coloca junto em caminho. Em seguida, o
cardeal francês ressaltou suas primeiras impressões sobre o Sínodo:
A primeira
impressão muito forte, que tive na manhã de segunda-feira, foi ver, de modo
excepcional, a grande diversidade dos participantes, a diversidade dos
continentes representados, a diversidade de Igrejas – porque há representantes
das Igrejas orientais e das Igrejas latinas –, a diversidade de experiências...
Todo esse conjunto e essa diversidade – que poderia levar a considerar
improvável que se chegue a concordar sobre alguma coisa – são reunidos em torno
do Papa, tendo como indicações as que já foram dadas no Sínodo de 2014 e que
foram reiteradas esta segunda-feira. As indicações com as quais debatemos e
refletimos neste momento de modo aberto: como a dizer que estaremos abertos a
Deus que nos guiará através da oração e da meditação da Palavra de Deus.
Estaremos abertos uns aos outros e esse é o estilo do diálogo que devemos
buscar viver. Estaremos abertos às realidades que as famílias vivem, partindo
justamente dos relatórios que obtivemos ao longo do ano.”
Cardeal Erdő:
fundamental o papel de comunidades compostas por boas famílias
Referindo-se ao
trabalho preparatório em vista da Relatio, o Card. Erdő afirmou que emergiram
duas grandes realidades:
“A primeira era
a desconfiança global para com as instituições, não somente para com a
instituição do matrimônio e da família, mas pelas instituições em geral. Outro
fenômeno é a presença maciça e o papel fundamental das comunidades cristãs
católicas compostas por boas famílias, que se ajudam reciprocamente, que já têm
um papel importante em muitas paróquias, em muitos movimentos, inclusive na
transmissão da fé. E que têm também tantos meios para preparar humanamente os
jovens para o matrimônio e a família, e acompanhar o casal, ajudar nos momentos
de crise, inclusive em situações de problemas existenciais, como o desemprego,
a precariedade no trabalho, a doença... E nesse entrelaçamento de comunidades
de famílias tornou-se mais claro que a família mononuclear sozinha não basta
para salvaguardar ou reforçar a solidariedade entre as gerações. Também nesse
campo é necessário – não somente importante, mas parece necessário – o papel
dessas comunidades de famílias.”
Dom Forte: não
há dois ou mais partidos, mas pastores à escuta de Deus
Por sua vez, o
secretário especial do Sínodo, Dom Forte, recordou que entre os bispos há não
dois ou mais partidos como defenderam alguns meios de informação. “Trata-se de
pastores, homens de fé que se colocam à escuta de Deus e diante das
expectativas e dos desafios do povo.” “Isso nos une muito mais profundamente do
que todas as nuanças e diferenças”, disse o prelado. Em seguida, Dom Forte
recordou as finalidades do Sínodo:
“As finalidades
são fundamentalmente duas. A primeira é propor o Evangelho da família, a
família como sujeito e objeto central da pastoral, como valor prioritário sobre
o qual investir, mesmo numa época em que em tantas partes do mundo ela parece
em crise. Por outro lado, a atitude pastoral de acompanhamento e de integração
necessária para com todos. Obviamente, a começar pelas famílias ou pelas
famílias em crise. Isso exige um estilo de grande parresia (coragem, audácia,
firmeza, destemor, ndr), de grande franqueza, inclusive no Sínodo, porque
precisamos fazer-nos ressonância das esperanças e das dores de todas as
famílias do mundo, mas também um sentido de profunda responsabilidade diante de
Deus e dos homens. O Papa Francisco falou de coragem e de humildade e falou de
oração confiante. Creio que essas são as chaves para que o estilo do Sínodo
possa ser fecundo: não fechar os olhos diante do nada; ter um sentido alto de
responsabilidade diante de Deus e dos homens, das suas esperanças, de seus
sofrimentos, viver uma profunda docilidade à ação do Espírito Santo, a partir
de um estilo de oração, de humildade evangélica diante do Senhor e de coragem
apostólica diante do mundo.” (RL)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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