A Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, por meio do seu Conselho Episcopal
Pastoral (Consep), reafirmou, em nota, seu compromisso com o “Pacto
pela Vida e pelo Brasil”, divulgado no dia 7 de abril, assinado
inicialmente por seis respeitadas instituições da sociedade civil e,
posteriormente, por mais de 150 entidades. O Pacto considera que “a hora é
grave e clama por liderança ética, arrojada, humanística, que ecoe um pacto
firmado por toda a sociedade, como compromisso e bússola para a superação da
crise atual”.
Na nota
intitulada “Posicionamento da CNBB – Em defesa da Democracia, pela Justiça
e pela Paz” -, a CNBB considera que esta é a mais grave crise sanitária
dos últimos tempos e afirma ser este momento dificílimo, que clama pelo efetivo
exercício da solidariedade e da caridade. “É tempo das palavras e atitudes
serenas de paz, de fé e de esperança, de respeito às leis e à democracia”, diz
um trecho.
“É com
perplexidade e indignação que assistimos manifestações violentas contra as
medidas de prevenção ao coronavírus; que ouvimos declarações enviesadas de
desprezo pela vida, por parte de agentes públicos sobre a morte de milhares de
brasileiros e brasileiras contaminados pelo covid-19; que vimos acontecer
eventos atentatórios à ordem constitucional, com a participação de autoridades
públicas, onde se defendeu o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo
Tribunal Federal, a volta do AI-5 e o retorno aos sombrios tempos da ditadura;
que todo o Brasil soube de denúncias acerca da politização da justiça, ferindo
sua necessária autonomia de investigação”.
No texto a CNBB
deixa claro que a Doutrina Social da Igreja ensina, com clareza, a intocável
harmonia e cooperação entre os Poderes, base constitutiva da República,
garantia do Estado Democrático de Direito, o princípio de que “é preferível que
cada poder seja equilibrado por outros poderes e outras esferas de competência
que o mantenham no seu justo limite. Este é o princípio do ‘Estado de direito’,
no qual é soberana a lei, e não a vontade arbitrária dos homens.” (CDSI, 408).
Também considera
que buscar soluções para os problemas do Brasil fora da institucionalidade
democrática e em confronto com os poderes da República, coloca em risco a
democracia e a integridade do povo brasileiro. “Nessa perspectiva, não são
toleráveis as manifestações sociais que atentam contra a Constituição, assim
como não é tolerável que qualquer autoridade viole os preceitos constitucionais
e despreze a vida. Espera-se das instituições republicanas, garantidoras do
Estado de direito, a devida responsabilização dos que atentam contra a ordem
democrática”, diz outro trecho.
Reiterando o
posicionamento contido no “Pacto
pela Vida e pelo Brasil”, a CNBB conclama a sociedade e os responsáveis
pelos poderes públicos a se libertarem dos “vírus mortais da discórdia”, da
violência, do ódio e a se unirem no único confronto que a todos interessa nesse
momento: a prevenção e o combate à Covid-19, em defesa da vida, especialmente a
dos mais pobres e vulneráveis.
O texto salienta,
ainda, que o cuidado da saúde das pessoas e da economia são fundamentais para a
garantia da vida em sua plenitude e não se opõem. “Sob a proteção de Nossa
Senhora Aparecida, Maria, mãe discípula de Jesus, irmanamo-nos na luta
empenhada por justiça e paz e pela democracia plena, onde deve prevalecer o bem
comum e a dignidade de cada pessoa, como partícipe da construção de uma nova
sociedade marcada pela solidariedade, como nos ensina o Papa Francisco”,
finaliza.
subsídio para estudo, interação na família e nas
redes sociais
O 1º de maio de
2020, como todas outras comemorações deste período de quarentena, tem
característica diferente dos demais. “Talvez seja a primeira vez na história,
desde 1886, que essa data não terá manifestações nas ruas ou romarias”, afirma
a Pastoral Operária.
“A memória do dia
internacional dos trabalhadores neste ano será em nossas casas, com nossas
famílias e nas redes sociais para os que puderem acompanhar. E outros estarão
nos postos de trabalho a serviço da vida”, reitera a Pastoral.
Deste modo, a Pastoral
Operária Nacional preparou um subsídio para estudo, reflexão, interação na
família e nas redes sociais. A Colegiada Nacional da Pastoral escolheu como
tema do subsídio “A escravidão dos novos tempos: a precarização do trabalho”.
A temática traz a
preocupação com os novos arranjos em torno do trabalho. “A pandemia da
Covid-19 acentuou essa questão. Famílias trabalhadoras na informalidade, sem
direitos, que estão sobrevivendo graças à solidariedade de outras pessoas.
Expôs a ferida aberta do capitalismo, da modernização neoliberal que aplicou
reformas no campo do trabalho, que retira direitos da classe trabalhadora”,
afirma a Pastoral.
Refletindo o lema
“Livrai o explorado da mão do opressor”, a Pastoral espera e acredita que o
direito seja restabelecido e a justiça seja a medida. “Todavia, isso é fruto também
da luta, da organização, da solidariedade. Quando a classe dos patrões pede o
fim do isolamento e o retorno ao trabalho em meio à pandemia, mesmo empresários
de grande capital financeiro, significa que eles/as sem nós não geram riquezas”,
afirma a Pastoral.
A Pastoral estima
que, com o material, as pessoas possam ajudar a construir pensamento crítico,
empoderar consciência de classe, provocar novos estilos de vida. “Desejamos que
esse seja canal de reflexão para você que o acessa, que discute com outras
pessoas, e que possa também nos enviar suas reflexões, percepção sobre o tema,
experiência ou o que desejar”.
Na Missa esta
quinta-feira (30/04) na Casa Santa Marta, no Vaticano, o Papa rezou em
particular pelos mortos sem nome, sepultados nas valas comuns. Na homilia,
recordou que anunciar Jesus não é fazer proselitismo, mas testemunhar a fé com
a própria vida e pedir ao Pai que atraia as pessoas ao Filho.
Vatican News - Francisco presidiu
a Missa na Casa Santa Marta na manhã desta quinta-feira (30/04) da III Semana
da Páscoa. Na introdução, dirigiu seu pensamento às vítimas do novo
coronavírus:
Rezemos hoje pelos
defuntos, aqueles que morreram por causa da pandemia; e também de modo especial
pelos defuntos – digamos assim – anônimos: vimos as fotografias das valas
comuns. Muitos ali…
Na homilia, o Papa
comentou a passagem do dia do Livro dos Atos
dos Apóstolos (At 8,26-40) que conta o encontro de Filipe com um
etíope eunuco, funcionário de Candace, desejoso de compreender quem era a
pessoa descrita pelo profeta Isaías: “Ele foi levado como ovelha ao matadouro”.
Depois que Filipe lhe explicou que se tratava de Jesus, o etíope se deixou
batizar.
É o Pai – afirmou
Francisco recordando o Evangelho de hoje (Jo 6,44-51) – quem atrai ao
conhecimento do Filho: sem essa intervenção não se pode conhecer o mistério de
Cristo. Foi o que aconteceu com o funcionário etíope, que ao ler o profeta
Isaías tinha uma inquietude colocada pelo Pai em seu coração. Isso – observou o
Papa – vale também para a missão: nós não convertemos ninguém, é o Pai que
atrai. Nós podemos simplesmente dar um testemunho de fé. O Pai atrai através do
testemunho de fé. É preciso pedir que o Pai atraia as pessoas a Jesus: são
necessários o testemunho e a oração. Esse é o centro do nosso apostolado.
Perguntemo-nos: dou testemunho com meu estilo de vida, rezo para que o Pai
atraia as pessoas a Jesus? Ir em missão não é fazer proselitismo, é
testemunhar. Nós não convertemos ninguém, é Deus que toca o coração das
pessoas. Peçamos ao Senhor – foi a oração conclusiva do Papa – a graça de viver
nosso trabalho com o testemunho e com a oração para que Ele possa atrair as
pessoas a Jesus.
A seguir, a
homilia transcrita pelo Vatican News:
“Ninguém pode vir
a mim, se o Pai que me enviou não o atrai”: Jesus recorda que também os profetas
tinham preanunciado isto: “E todos serão instruídos por Deus”. É Deus quem
atrai ao conhecimento do Filho. Sem isso, não se pode conhecer Jesus. Sim se
pode estudar, inclusive estudar a Bíblia, também conhecer como nasceu, o que
fez: isso sim. Mas conhecê-Lo interiormente, conhecer o mistério de Cristo é
somente para aqueles que foram atraídos pelo Pai para isso.
Foi o que
aconteceu a este ministro da economia da rainha da Etiópia. Vê-se que era um
homem piedoso e que reservou um tempo, em meio aos muitos negócios que tinha a
fazer, para ir adorar Deus. Um fiel. E voltava à pátria lendo o profeta Isaías.
O Senhor pegou Filipe, enviou-o àquele lugar e depois lhe disse: “Aproxima-te
desse carro”, e ouve o ministro que está lendo Isaías. (Ele) se aproxima e lhe
faz uma pergunta: “Compreendes?” – “Como posso, se ninguém mo explica?”, e faz
a pergunta: “De quem o profeta está dizendo isso?” Peço-te, suba no carro”, e
durante a viagem – não sei quanto tempo, penso que ao menos duas horas – Filipe
explicou: explicou Jesus (conf. versículos 26-35).
Aquela inquietude
que este senhor tinha na leitura do profeta Isaías era propriamente do Pai, que
atraia a Jesus: o tinha preparado, o tinha levado da Etiópia a Jerusalém para
adorar Deus e depois, com essa leitura, tinha preparado o coração para revelar
Jesus, a ponto que assim que viu a água disse: “Posso ser batizado”. E ele
acreditou.
E isso – que
ninguém pode conhecer Jesus sem que o Pai o atraia –, isso é válido para o
nosso apostolado, para a nossa missão apostólica como cristãos. Penso também
nas missões.
Uma passagem da
homilia do Papa Francisco
“O que você vai
fazer nas missões?” – “Eu, converter as pessoas” – “Pare, você não vai
converter ninguém! Será o Pai a atrair aqueles corações para reconhecer Jesus”.
Ir em missão é dar testemunho da própria fé; sem testemunho você não fará nada.
Ir em missão – e são bons missionários! – não significa criar grandes
estruturas, coisas... e parar por aí. Não: as estruturas devem ser testemunhos.
Você pode fazer uma estrutura hospitalar, educacional de grande perfeição, de
grande desenvolvimento, mas se uma estrutura é sem testemunho cristão, seu
trabalho aí não será um trabalho de testemunha, um trabalho de verdadeira
pregação de Jesus: será uma sociedade de beneficência, muito boa – muito boa! –
mas nada mais.
Se eu quero ir em
missão, e digo isso se eu quero ir em apostolado, devo ir com a disponibilidade
que o Pai atraia as pessoas a Jesus, e isso é feito pelo testemunho. Jesus
mesmo o disse a Pedro, quando confessa que Ele é o Messias: “Feliz és tu, Simão
Pedro, porque quem te revelou isso foi o Pai”. É o Pai que atrai, e atrai com
nosso testemunho. “Eu farei muitas obras, aqui, ali, acolá, de educação, disso,
daquilo outro...”, mas sem testemunho são coisas boas, mas não são o anúncio do
Evangelho, não são lugares que dão a possibilidade que o Pai atraia ao
conhecimento de Jesus (conf. Jo 6,44). Trabalho e o testemunho.
“Mas como posso
fazer para que o Pai se preocupe em atrair essas pessoas?” A oração. E essa é a
oração pelas missões: rezar para que o Pai atraia as pessoas a Jesus.
Testemunho e oração caminham juntos. Sem testemunho e oração não se pode fazer
pregação apostólica, não se pode fazer anúncio. Você fará uma bonita pregação
moral, fará muitas coisas boas, todas boas. Mas o Pai não terá a possibilidade
de atrair as pessoas a Jesus. E esse é o centro: esse é o centro do nosso apostolado,
que o Pai possa atrair as pessoas a Jesus. Nosso testemunho abre as portas às
pessoas e nossa oração abre as portas ao coração do Pai para que atraia as
pessoas. Testemunho e oração. E isso não é somente para as missões, é também
para nosso trabalho como cristãos. Eu dou testemunho de vida cristã, realmente,
com o meu estilo de vida? Eu rezo para que o Pai atraia as pessoas a Jesus?
Essa é a grande
regra para nosso apostolado, em todos os lugares, e de modo especial para as
missões. Ir em missão não é fazer proselitismo. Uma vez... uma senhora – uma
boa pessoa, se via que era de boa vontade – se aproximou com dois jovens, um
jovem e uma jovem, e me disse: “Este (jovem), Padre, era protestante e se
converteu: eu o converti. E esta (jovem) era...” – não sei, animista, não sei o
que me disse, “e eu a converti”. E a senhora era boa: boa. Mas errava. Perdi um
pouco a paciência e disse: “Escute-me, a senhora não converteu ninguém: foi
Deus quem tocou o coração das pessoas. E não se esqueça: testemunho, sim; proselitismo,
não”.
Peçamos ao Senhor
a graça de viver nosso trabalho com testemunho e com oração, para que Ele, o
Pai, possa atrair as pessoas a Jesus.
O Santo Padre
terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer
a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Meu Jesus, eu
creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre
todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos
agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração.
Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente.
Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
Antes de deixar a
Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina
caeli”, cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus,
alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que
merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como
disse. Aleluia!
Rogai por nós a
Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e
exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o
Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!
A invisibilidade
do vírus e a visibilidade do amor de Deus
"Que possamos
fazer a experiência do amor de Deus, identificando no crucifixo um sinal de
redenção, salvação e vida nova"
Na noite de 22 de
maio de 1519, a Igreja de San Marcello al Corso, em Roma, ardeu em chamas,
ficando praticamente destruída. Um fato, no entanto, estarreceu as testemunhas:
o crucifixo do altar-mor estava intacto, mesmo tendo sido exposto às chamas que
consumiram o local. Passados alguns anos, a cidade de Roma foi atingida por uma
epidemia avassaladora: a peste negra, em 1522. Nessas circunstâncias, foi
realizada uma grande procissão pelas ruas de Roma, durante 16 dias seguidos,
conduzindo o crucifixo miraculoso, ao qual se atribuiu o cessar da terrível
ameaça.
Dom Edson José Oriolo dos Santos
Na liturgia
penitencial do Jubileu de 2000, o Papa São João Paulo II, rezou diante deste
mesmo crucificado, pedindo perdão por todos os pecados dos membros da Igreja.
No último dia 15 de março, depois de quase 500 anos, o Papa Francisco, no
contexto da pandemia do Covid-19, foi rezar diante da imagem, na Igreja de San
Marcello. No dia 27 de março, em comovente celebração, o crucifixo foi
apresentado na Praça de São Pedro. Diante da visibilidade do amor de Deus,
expresso por tão importante sinal, toda a humanidade se uniu ameaçada pela
invisibilidade do covid19.
O crucifixo é a
imagem do Cristo na Cruz. Ele mantém viva em nós a recordação do sacrifício de
Jesus Cristo. Quando olhamos, contemplamos e rezamos aos pés do crucifixo nos
deparamos com uma pessoa asfixiada, com sede, exposta às intempéries do tempo,
como sol e calor causticante, dores intensas, artérias da cabeça e estômago
cheios de sangue, febre traumática, tétano, perda contínua de sangue. Mesmo
assim, o crucifixo nos faz meditar sobre a presença amorosa da bondade divina.
Não estamos sozinhos, não estamos abandonados e entregues a nós mesmos. Podemos
experimentar em meio a tantos sofrimentos o grande amor de Deus para com cada
um de nós.
Nesse tempo de
pandemia, a experiência da cruz nos faz olhar, contemplar e rezar com o
crucificado, flagelado e coroado de espinhos, com outra perspectiva. O
crucifixo da Igreja de San Marcello silenciou a humanidade e a colocou em posição
reflexiva. Reconhecemos n’Ele os nossos sofrimentos, medos, temores e
projetamos em sua paixão toda a nossa esperança na glória futura: “Toda ação de
Cristo é a glória da Igreja Católica. Contudo, a glória das glórias é a cruz.
Paulo, muito instruído disse: Longe de mim gloriar-me a não ser da Cruz de
Cristo” (cf. S. Cirilo de Jerusalém Séc. IV).
O crucifixo é o
símbolo maior de que estamos sob a proteção de Deus. É a recordação constante
de que Deus coloca sobre nós suas mãos para nos abençoar e doar vida plena. É,
também, um sinal questionador: um apelo para sairmos do nosso individualismo,
em todas as dimensões e começar a entender que o outro é um grande presente de
Deus em nossas vidas. Mostrando a fragilidade da vida como potencial de glória,
faz-nos ver a existência com outros olhos, redescobrindo a importância de
cuidar, proteger, interagir, rezar, partilhar, viver em comunhão com aquele que
o Bom Deus tem concedido a cada um de nós.
A imagem do Cristo
na cruz, maior símbolo da nossa fé, mantém vivo em nós o significado do
sacrifício de Cristo. O crucifixo revela a riqueza inesgotável do mistério
salvífico. No crucificado haurimos forças para superar os nossos medos, temores
e angústias. Que possamos fazer a experiência do amor de Deus, identificando no
crucifixo um sinal de redenção, salvação e vida nova, do amor misericordioso de
nosso Deus. São Paulo afirma que a origem da sua pregação não está na sabedoria
humana, hoje, mas no poder de Deus, isto é, no Cristo Crucificado. “Pois não
quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo
Crucificado. (1 Cor2,2).
Que a contemplação
do mistério da cruz nos faça compreender que o sofrimento é a passagem
inevitável para a glória.
Dom Edson José Oriolo dos Santos - Bispo Diocesano de Leopoldina
Na Missa esta quarta-feira (29/04), o Papa, recordando a memória litúrgica de Santa Catarina de Sena, padroeira da Europa, rezou pela unidade da Europa e da União Europeia, para que todos juntos possamos seguir adiante como irmãos. Na homilia, convidou a pedir ao Senhor a graça da simplicidade e da humildade para confessar os próprios pecados concretos, e assim encontrar o perdão de Deus.
Vatican News - Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta quarta-feira, 29 de abril, dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica deSanta Catarina de Sena, virgem, doutora da Igreja, padroeira da Itália e da Europa. Na introdução, dirigiu seu pensamento à Europa, como fez outras vezes nestes dias caracterizados pela pandemia da Covid-19:
Hoje é Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, padroeira da Europa. Rezemos pela Europa, pela unidade da Europa, pela unidade da União Europeia: para que todos juntos possamos seguir adiante como irmãos.
Na homilia, o Papa comentou a primeira Carta de São João (1,5-2,2) em que o apóstolo afirma que Deus é luz e se dissermos que estamos em comunhão com Ele estamos também em comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado. E adverte: se dissermos que não temos pecado, estamos nos enganando a nós mesmos, mas se reconhecermos nossos pecados, então Deus nos perdoa e nos purifica de toda culpa. O apóstolo – observou Francisco – chama à concretude da vida, à verdade: diz que não podemos caminhar na luz e estar nas trevas. Pior é caminhar no indefinido, porque faz você acreditar que caminha na luz e isso o tranquiliza. O indefinido é muito traidor. O contrário é a concretude de reconhecer os próprios pecados. A verdade é concreta, as mentiras são etéreas: por isso é preciso confessar os pecados não abstratamente, mas de modo concreto. Como diz o Evangelho do dia (Mt 11,25-30) em que Jesus louva ao Pai porque escondeu o Evangelho aos sábios e entendidos e o revelou aos pequeninos. Os pequeninos – ressaltou o Santo Padre – confessam os pecados de modo simples, dizem coisas concretas porque têm a simplicidade que Deus lhes dá. Também nós devemos ser simples e concretos e confessar, com humildade e vergonha, nossos pecados concretos. A concretude nos leva à humildade. E o Senhor nos perdoa: é preciso dar nome aos pecados. Se somos abstratos em confessá-los, somos genéricos, acabamos nas trevas. É importante – afirmou o Papa – ter a liberdade de dizer ao Senhor as coisas como elas são, ter a sabedoria da concretude, porque o diabo quer que nós vivamos na indefinição, nem branco nem preto. O Senhor não gosta dos mornos. A vida espiritual é simples, mas nós a complicamos com nuances. Peçamos ao Senhor – concluiu Francisco – a graça da simplicidade, a transparência, a graça da liberdade de dizer as coisas como elas são e de conhecer bem quem somos diante de Deus.
A seguir, o texto da homilia transcrita pelo Vatican News:
Na primeira Carta de São João apóstolo há muitos contrastes: entre luz e trevas, entre mentira e verdade, entre pecado e inocência. Mas sempre o apóstolo chama à concretude, à verdade, e nos diz que não podemos estar em comunhão com Jesus e caminhar nas trevas, porque Ele é luz. Ou uma coisa ou outra: o indefinido é pior ainda, porque o indefinido faz você acreditar que caminha na luz, porque você não se encontra nas trevas e isso o tranquiliza. O indefinido é muito traidor. Ou uma coisa ou outra.
O apóstolo continua: “Se dissermos que não temos pecado, estamos nos enganando a nós mesmos, e a verdade não está dentro de nós”, porque todos pecamos, todos somos pecadores. E aqui há algo que pode nos enganar: dizer “todos somos pecadores”, como quem diz “bom-dia”, “tenha um bom-dia”, uma coisa habitual, também uma coisa social, e assim não temos uma verdadeira consciência do pecado. Não: eu sou pecador por isto, isto, isto. A concretude. A concretude da verdade: a verdade é sempre concreta; as mentiras são etéreas, são como o ar, você não pode pegá-lo. A verdade é concreta. E você não pode ir confessar seus pecados de modo abstrato: “Sim, eu... sim, uma vez perdi a paciência, outra...”, e coisas abstratas. “Sou pecador”. A concretude: “Eu fiz isto. Eu pensei isto. Eu disse isto”. A concretude é aquilo que me faz sentir-me seriamente pecador e não pecador no ar.
Jesus no Evangelho: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos”. A concretude dos pequeninos. É bonito ouvir os pequeninos quando veem confessar-se: não dizem coisas estranhas, no ar; dizem as coisas concretas; e às vezes demasiadamente concretas porque têm aquela simplicidade que Deus dá aos pequeninos. Lembro-me sempre de uma criança que uma vez veio dizer-me que estava triste porque tinha brigado com a tia... Depois continuou. Eu disse: “Mas o que você fez?” – “Eu estava em casa, queria ir jogar bola – uma criança, hein? – mas a tia, a mãe estava fora, disse: “Não, você não sai: primeiro deve fazer as tarefas”. Palavra vai, palavra vem, e no final acabei xingando-a. Era uma criança de grande cultura geográfica... Disse-me inclusive o nome do lugar para onde tinha mandado a tia! São assim: simples, concretas.
Também nós devemos ser simples, concretos: a concretude leva você à humildade, porque a humildade é concreta. “Somos todos pecadores” é uma coisa abstrata. Não: “eu sou pecador por isto, isto e isto”, e isso me leva à vergonha de olhar para Jesus: “Perdoai-me”. A verdadeira atitude do pecador. “Se dissermos que não temos pecado, estamos nos enganando a nós mesmos, e a verdade não está dentro de nós”. É um modo de dizer que não temos pecado, é esta atitude abstrata : “Sim, somos pecadores, sim, uma vez perdi a paciência...” mas tudo no ar. Não me dou conta da realidade dos meus pecados. “Mas, o senhor sabe, todos fazemos essas coisas, sinto muito, sinto muito... me entristece, não quero mais fazer isso, não quero mais dizer isso, não quero mais pensar isso”. É importante que nós, dentro de nós, demos nome aos nossos pecados. A concretude. Porque se mantermos no ar, acabaremos nas trevas. Sejamos como os pequeninos, que dizem aquilo que sentem, aquilo que pensam: ainda não aprenderam a arte de dizer as coisas um pouco camufladas para que sejam entendidas mas não sejam ditas. Essa é uma arte dos adultos, que muitas vezes não nos faz bem.
Ontem recebi uma carta de um garoto de Caravaggio. Chama-se André. E me contava suas coisas: as cartas dos garotos, das crianças, são belíssimas, pela concretude. E me dizia que tinha acompanhado a Missa pela televisão e que devia “reclamar-me” uma coisa: que eu digo “A paz esteja convosco”, “e você não pode dizer isso porque com a pandemia não podemos tocar-nos”. Não vê que vocês fazem assim com a cabeça e não se tocam. Mas a liberdade de dizer as coisas como elas são.
Também nós, com o Senhor, a liberdade de dizer as coisas como elas são: “Senhor, estou no pecado: ajuda-me”. Como Pedro após a primeira pesca milagrosa: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador”. Ter essa sabedoria da concretude. Porque o diabo quer que nós vivamos na tepidez, mornos, no indefinido: nem bons nem maus, nem branco nem preto: indefinido. Uma vida que não agrada ao Senhor. O Senhor não gosta dos mornos.
Uma passagem da homilia do Papa Francisco
Concretude. Para não ser mentirosos. Se confessarmos nossos pecados, Ele se mostra fiel e justo, para nos perdoar: perdoa-nos quando somos concretos. A vida espiritual é muito simples, muito simples; mas nós a tornamos complicada com essas nuances, e acabamos jamais chegando à meta.
Peçamos ao Senhor a graça da simplicidade e que Ele nos dê essa graça que dá aos simples, às crianças, aos jovens que dizem aquilo que sentem, que não escondem aquilo que sentem. Mesmo se é uma coisa errada, mas o dizem. Mesmo com Ele, dizer as coisas: a transparência. E não viver uma vida que não é uma coisa nem outra. A graça da liberdade para dizer essas coisas e também a graça de conhecer bem quem somos diante de Deus.
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Meu Jesus, eu creio que estais presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração. Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus, alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse. Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!
O caminho das Bem-aventuranças nos leva a ser de Cristo e não do mundo
"Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.” Esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”, disse o Papa na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira.
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano - Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (29/04), realizada na Biblioteca do Palácio Apostólico por causa da pandemia de coronavírus, o Papa Francisco concluiu o percurso das Bem-aventuranças.
“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céus.” Esta Bem-aventurança proclama “a alegria escatológica dos perseguidos por justiça”. Segundo Francisco, ela “anuncia a mesma felicidade que a primeira: o Reino dos Céus é dos perseguidos e dos pobres em espírito”.
“Pobreza em espírito, choro, mansidão, sede de santidade, misericórdia, purificação do coração e obras de paz podem levar à perseguição por causa de Cristo, mas, no final, essa perseguição é motivo de alegria e grande recompensa nos céus”, sublinhou Francisco. Para o Pontífice, “o caminho das Bem-aventuranças é um caminho pascal que leva de uma vida segundo o mundo para a vida segundo Deus, de uma existência guiada pela carne, ou seja, pelo egoísmo, para uma existência guiada pelo Espírito”. E o Papa acrescentou:
O mundo, com seus ídolos, seus acordos e suas prioridades, não pode aprovar esse tipo de existência. As ‘estruturas de pecado, muitas vezes produzidas pela mentalidade humana, tão estranhas ao Espírito da verdade que o mundo não pode receber, só podem rejeitar a pobreza ou a mansidão ou a pureza e declarar a vida segundo o Evangelho como um erro e um problema, como algo a ser marginalizado. O mundo pensa assim: estes são idealistas ou fanáticos.
Segundo Francisco, “se o mundo vive em função do dinheiro, qualquer um que demonstre que a vida pode ser cumprida no dom e na renúncia se torna um incômodo para o sistema ávido. A palavra ‘fastio’ é fundamental, pois o testemunho cristão, que faz bem a muitas pessoas, incomoda aqueles que têm uma mentalidade mundana. Eles vivem isso como uma repreensão. Quando a santidade aparece e a vida dos filhos de Deus emerge, nessa beleza há algo de inconveniente que exige uma tomada de posição: ser questionado e abrir-se ao bem ou recusar essa luz e endurecer o coração”.
O Papa frisou que “é curioso, chama a atenção ver como, nas perseguições dos mártires, a hostilidade aumenta a ponto de incomodar”. Basta recordar “as perseguições das ditaduras europeias do século passado: como se chega à ira contra os cristãos, contra o testemunho cristão e contra o heroísmo dos cristãos”.
É doloroso recordar que, neste momento, existem muitos cristãos que sofrem perseguições em várias áreas do mundo, e devemos esperar e rezar para que sua tribulação seja interrompida o mais rápido possível. São muitos: os mártires de hoje são mais do que os mártires dos primeiros séculos. Expressamos nossa proximidade a esses irmãos e irmãs: somos um único corpo, e esses cristãos são os membros ensanguentados do corpo de Cristo, que é a Igreja.
Segundo o Papa, “devemos estar atentos para não ler essa Bem-aventurança de maneira vitimista, de auto-comiseração. De fato, o desprezo dos homens nem sempre é sinônimo de perseguição: logo após Jesus diz que os cristãos são o “sal da terra” e alerta contra o perigo de “perder o sabor”, caso contrário, o sal “não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Portanto, há também um desprezo que é culpa nossa quando perdemos o sabor de Cristo e do Evangelho”.
Francisco afirmou que “devemos ser fiéis ao caminho humilde das Bem-aventuranças, porque é o que leva a ser de Cristo e não do mundo. Vale a pena lembrar o percurso de São Paulo: quando ele pensava que era justo, era de fato perseguidor, mas quando descobriu que era perseguidor, tornou-se um homem de amor, que enfrentou de bom grado o sofrimento da perseguição que sofria”.
A exclusão e a perseguição, se Deus nos concede graça, nos fazem assemelhar a Cristo crucificado e, associando-nos à sua paixão, são a manifestação de uma nova vida. Esta vida é a mesma de Cristo, que para nós homens e para a nossa salvação foi “desprezado e rejeitado pelos homens”. Acolher seu Espírito pode nos levar a ter tanto amor no coração a ponto de oferecermos a vida ao mundo sem fazer acordos com seus enganos e aceitando a recusa.
“Os acordos com o mundo são perigosos: o cristão é sempre tentado a fazer acordos com o mundo, com o espírito do mundo”, disse o Papa, ressaltando que é preciso “rejeitar os acordos e seguir o caminho de Jesus Cristo. A vida do Reino dos Céus é a maior alegria, a verdadeira alegria”.
“Nas perseguições, há sempre a presença de Jesus que nos acompanha, a presença de Jesus que nos consola e a força do Espírito que nos ajuda a seguir em frente. Não desanimemos quando uma vida coerente do Evangelho atrai as perseguições das pessoas: o Espírito nos sustenta nesse caminho”, concluiu o Papa.
O Papa convida a rezar o Terço e pede a proteção de Santa Catarina de Sena
Nas saudações aos fiéis, no final da Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco recordou a festa de São José Operário celebrada na próxima sexta-feira, 1° de maio, pedindo a intercessão dele para os desempregados por causa da pandemia de coronavírus, suplicou a proteção de Santa Catarina de Sena para a Itália e a Europa, e convidou a rezar o Terço no mês de maio dedicado a Maria.
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano - Na saudação aos fiéis de língua italiana, no final da catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco lembrou que hoje a Igreja recorda a memória litúrgica de Santa Catarina de Sena, doutora da Igreja, padroeira da Itália e da Europa.
“Essa grande figura de mulher tirou da comunhão com Jesus a coragem da ação e a esperança inexaurível que a sustentou nas horas mais difíceis, mesmo quando tudo parecia perdido, e lhe permitiu influenciar os outros, até mesmo nos mais altos níveis civil e eclesiástico, com a força de sua fé. Que o seu exemplo ajude cada um a saber unir, com coerência cristã, um intenso amor à Igreja e um zelo eficaz pela comunidade civil, especialmente neste período de provação. Peço a Santa Catarina para que proteja a Itália durante essa pandemia; e que proteja a Europa, pois é a padroeira da Europa, que proteja toda a Europa a fim de que permaneça unida.”
Na saudação aos fiéis de língua francesa, o Papa recordou a festa de São José Operário celebrada na próxima sexta-feira, 1° de maio.
“Por sua intercessão, confio à misericórdia de Deus as pessoas que estão desempregadas por causa da pandemia atual. Que o Senhor seja a providência de todos os necessitados e nos encoraje a ajudá-los”, disse o Papa.
Na saudação aos poloneses, Francisco recordou que na próxima sexta-feira (1°/05), tem início o mês dedicado a Maria.
“Permanecendo em casa por causa da pandemia, vamos aproveitar esse tempo para redescobrir a beleza de rezar o Terço e a tradição das funções marianas. Em família, ou individualmente, a todo momento, fixar o olhar no rosto de Cristo e no coração de Maria. A sua materna intercessão os ajude a enfrentar esse momento de provação”, sublinhou Francisco.
Por fim, o Papa saudou os fiéis de língua portuguesa, confiando “ao bom Deus suas vidas e as de seus familiares”. “Rezem também por mim”, disse Francisco. “Que suas famílias se reúnam diariamente para rezar o terço sob o olhar da Virgem Mãe, para que nelas não se acabe jamais o óleo da fé e da alegria, que jorra da vida daqueles que estão em comunhão com Deus.”
Juntos podemos minimizar o sofrimento de nossos irmãos
Você é convidado a
participar do Projeto Bom Samaritano, idealizado e liderado pela Paróquia São
José de Paraisópolis por meio do pároco, Pe. Leandro Carvalho. Um grupo de
jovens e colaboradores montaram 30 cestas com produtos ofertados por moradores de
nossa cidade. O Supermercado Unissul fez a doação de outras 100.
Nesta
segunda-feira, iniciou-se a entrega das cestas às famílias assistidas pelo
Projeto, que congrega também pastorais e movimentos paroquiais, além de algumas
instituições da sociedade civil e do CRAS, órgão de assistência municipal.
O Senhor
dê prudência a seu povo diante da pandemia
Na Missa esta
terça-feira (28/04) na Casa Santa Marta, non Vaticano, Francisco rezou para que
o povo de Deus seja obediente às disposições em vista do fim da quarentena,
para que a pandemia não volte. Na homilia, o Papa convidou a não cair no
pequeno linchamento diário do mexerico que provoca falsos julgamentos sobre as
pessoas.
Vatican News - Francisco presidiu
a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta terça-feira (28/04) da
III Semana da Páscoa. Na introdução, pensou no comportamento do povo de Deus
diante do fim da quarentena:
Neste tempo, no
qual se começa a ter disposições para sair da quarentena, rezemos ao Senhor
para que dê a seu povo, a todos nós, a graça da prudência e da obediência às
disposições, para que a pandemia não volte.
Na homilia, o Papa
comentou a passagem do dia do Livro dos Atos
dos Apóstolos (At 7,51-8,1a), em que Estêvão fala com coragem ao povo,
aos anciãos e aos doutores da lei, que o julgam com falsos testemunhos,
arrastam-no para fora da cidade e o apedrejam. Também com Jesus fizeram o mesmo
– afirmou o Papa –, buscando convencer o povo de que era um blasfemo. É uma
brutalidade partir de falsos testemunhos para “fazer justiça”: notícias falsas,
calúnias, que esquentam o povo para “fazer justiça”, é um verdadeiro
linchamento. Fizeram assim com Estêvão, usando um povo que foi enganado.
Acontece assim com os mártires de hoje, como Asia Bibi, durante tantos anos no
prisão, julgada por uma calúnia. Diante da avalanche de notícias falsas que
criam opinião, às vezes não se pode fazer nada. Penso no Holocausto, disse o
Papa: foi criada uma opinião contra um povo para eliminá-lo. Há ainda o perigo
do linchamento diário que busca condenar as pessoas, criar uma má fama, o
pequeno linchamento diário do mexerico que cria opiniões para condenar as
pessoas. A verdade, ao invés, é clara e transparente, é o testemunho do
verdadeiro, daquilo em que se crê. Pensemos em nossa língua: muitas vezes com
nossos comentários iniciamos um linchamento desse tipo. Também em nossas
instituições cristãs vimos muitos linchamentos diários que nasceram dos
mexericos. Rezemos ao Senhor – foi a sua oração conclusiva – para que nos ajude
a ser justos em nossos julgamentos, a não começar ou seguir essa condenação
maciça que o mexerico provoca.
A seguir, o texto
da homilia transcrita pelo Vatican News:
Na primeira
Leitura destes dias ouvimos o martírio de Estêvão: uma coisa simples, como
aconteceu. Os doutores da Lei não toleravam a clareza da doutrina e, como
saída, foram pedir a alguém que dissessem que tinham ouvido que Estêvão
blasfemava contra Deus, contra a Lei. E depois disso caíram em cima dele e o
apedrejaram: simples assim. É uma estrutura de ação que não é a primeira:
também com Jesus fizeram o mesmo. O povo que estava ali, buscou convencer de
que era um blasfemo e eles gritaram: “Crucifica-o”. É uma brutalidade. Uma
brutalidade, partir de falsos testemunhos para se chegar a “fazer justiça”.
Este é o esquema. Também na Bíblia há casos desse tipo: fizeram o mesmo com
Susana, fizeram o mesmo com Nabot, depois Amã procurou fazer o mesmo com o povo
de Deus... Notícias falsas, calúnias que esquentam o povo e pedem a justiça. É
um linchamento, um verdadeiro linchamento.
E assim, levam ao
juiz, para que o juiz dê forma legal a isso: mas já está julgado, o juiz deve
ser muito, muito corajoso para ir contra um julgamento tão popular, feito de
propósito, preparado. É o caso de Pilatos: Pilatos viu claramente que Jesus era
inocente, mas viu o povo, lavou as mãos. É um modo de fazer jurisprudência.
Também hoje vemos isso: também hoje está em andamento, em alguns países, quando
se quer fazer um golpe de Estado ou excluir algum político para que não
participe das eleições, ou assim, se faz o seguinte: notícias falsas, calúnias,
depois cai num juiz daqueles que gostam de criar jurisprudência com este
positivismo “da situação” que está na moda, e depois condena. É um linchamento
social. E assim foi feito com Estêvão, assim foi feito o julgamento de Estêvão:
levaram para julgar alguém que já tinha sido julgado pelo povo enganado.
Isso acontece
também com os mártires de hoje: que os juízes não têm a possibilidade de fazer
justiça porque já foram julgados. Pensemos em Asia Bibi, por exemplo, que
vimos: dez anos na prisão porque foi julgada por uma calúnia e um povo que quer
a sua morte. Diante dessa avalanche de notícias falsas que criam opinião,
muitas vezes não se pode fazer nada: não se pode fazer nada.
Penso muito,
nisso, no Holocausto. O holocausto é um caso desse tipo: foi criada a opinião
contra um povo e depois era normal: “Sim, sim: devem morrer, devem morrer”. Um
modo de proceder para eliminar as pessoas que incomodam, que atrapalham.
Todos sabemos que
isso não é bom, mas o que não sabemos é que existe um pequeno linchamento
diário que busca condenar as pessoas, criar uma má fama nas pessoas,
descartá-las: o pequeno linchamento diário do mexerico que cria uma opinião.
Muitas vezes uma pessoa ouve se difamar alguém, e diz: “Mas não, essa pessoa é
uma pessoa justa!” – “não, não: se diz que...”, e com aquele “se diz que” se
cria uma opinião para acabar com uma pessoa. A verdade é outra: a verdade é o
testemunho do verdadeiro, das coisas em que uma pessoa crê; a verdade é clara,
é transparente. A verdade não tolera as pressões. Vejamos Estêvão, mártir:
primeiro mártir depois de Jesus. Primeiro mártir. Pensemos nos apóstolos: todos
deram testemunho. E pensemos em tantos mártires que – também de hoje, São Pedro
Chanel – que foi o mexerico ali, a inventar que era contra o rei... se cria uma
fama, e se deve matar.
Uma passagem da
homilia do Papa Francisco
E pensemos em nós,
em nossa língua: nós muitas vezes, com nossos comentários, iniciamos um
linchamento desse tipo. E em nossas instituições cristãs vimos muitos
linchamentos diários que nasceram do mexerico.
Que o Senhor nos
ajude a ser justos em nossos julgamentos, a não começar ou seguir essa
condenação maciça que o mexerico provoca.
O Santo Padre
terminou a celebração com a adoração e a bênção eucarística, convidando a fazer
a Comunhão espiritual. A seguir, a oração recitada pelo Papa:
Aos vossos pés, ó
meu Jesus, me prostro e vos ofereço o arrependimento do meu coração contrito
que mergulha no seu nada na Vossa santa presença. Eu vos adoro no Sacramento do
vosso amor, a inefável Eucaristia. Desejo receber-vos na pobre morada que meu
coração vos oferece; à espera da felicidade da comunhão sacramental, quero
possuir-vos em Espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, que eu venha a vós. Que o
vosso amor possa inflamar todo o meu ser, para a vida e para a morte. Creio em
vós, espero em vós. Amo-vos. Assim seja.
Antes de deixar a
Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a antífona
mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal:
Rainha dos céus,
alegrai-vos. Aleluia!
Porque Aquele que
merecestes trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como
disse. Aleluia!
Rogai por nós a
Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e
exultai, ó Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o
Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!