Arcebispo de Manaus traz a família amazônica para o Sínodo
Cidade do
Vaticano (RV) – São quase 37 anos de missão na Amazônia, 17 como bispo. Dom
Sérgio Eduardo Castriani, o arcebispo de Manaus, é único bispo brasileiro
convidado pessoalmente pelo Papa para participar do Sínodo sobre a Família: Dom
Sérgio é a voz da Amazônia na Assembleia, que para o Francisco, não podia
faltar.
O arcebispo,
membro de um ‘Círculo menor’ de fala ibérica, revela que levará para a região
uma bagagem de experiência muito importante e única. Para ele, trazer a família
amazônica ao Sínodo é realmente um privilégio e uma grande responsabilidade:
Dom Sérgio Castriani |
“Estou trazendo
para o Sínodo a família real. Acho que, em primeiro lugar, trago um grande
desejo de ‘viver família’. Nós todos queremos viver em família, é um desejo
humano. Todas as culturas, todos os povos, indígenas, ribeirinhos, queremos
‘ser família’. Se você perguntar a um jovem qual é o seu desejo ele responde:
casar, estudar e trabalhar. A família é o lugar aonde vivemos os vínculos
definitivos. É na família que aprendemos a nos relacionar, a ter amor
incondicional, a fidelidade. A família é a base de tudo, a família real, a
família sofrida, pois as famílias sofrem com a situação econômica, em primeiro
lugar, que divide as famílias. Na Amazônia, há também o fenômeno da migração
interna. Manaus cresceu demais porque existe este fenômeno. Pais que deixam
filhos, jovens deixam suas casas e ir para a cidade grande. Há famílias que
sofrem por causa do tráfico de drogas, é uma coisa impressionante..., o crime
organizado ou não, que judia muito das famílias. Há um grande número de
dependentes químicos. Há famílias que sofrem com o ataque da mídia: valores que
não são nossos, uma cultura que não é do Evangelho; famílias que enfrentam a
pressão da tecnologia, da Internet, famílias divididas por questões religiosas.
Com a invasão de tantas propostas religiosas na Amazônia, cada um vai na sua
Igreja. Então, estas famílias precisam ser acolhidas”.
“Trouxe também a
questão do abuso sexual de crianças e adolescentes, a questão do tráfico
humano, uma realidade do Brasil todo mas da Amazônia em particular. Então a Igreja,
que olha para estas situações, tem a Pastoral Familiar: nossos padres, nossos
agentes de pastoral, têm muito carinho com estas famílias. Nós estamos tentando
acolhê-las e curá-las. A Igreja na Amazônia sempre é muito presente na vida do
povo. Os missionários, que visitavam as comunidades, pelos rios, sempre
estiveram muito presentes. Também na grande cidade, Manaus, há grandes
comunidades que são grandes famílias. É esta a família que eu trago: a família
real e que tem sonhos, que quer viver o Evangelho, quer ser feliz e realizar o
desígnio de Deus também no dia a dia”.
“Uma coisa
importante também que me tocou muito é que a família é a encarnação do
Evangelho. É na família que se vive de fato o Evangelho, senão o Evangelho vira
ideologia, vira palavreado; falamos muito mas vivemos pouco. É na vida familiar
que temos o espaço de encarnação do Evangelho. Bonito isso, né? Lembrei-me de
tantas famílias na Amazônia que vivem o Evangelho, com muita simplicidade. Com
honradez. Esta palavra foi dita, em espanhol soa até mais bonita. Com honra,
com honestidade, no trabalho diário.. é esta a família que trago no coração e
na mente para o Sínodo”.
Dom Sérgio
destaca ainda a proximidade com o Papa na Sala dos trabalhos.
“Aqui em Roma
desta vez é uma coisa diferente, a gente chega e ele já está lá, esperando...
vem a pé, da casa dele, andando, está ali, quem quer pode cumprimentar, dizer
uma palavra, de onde é... é uma convivência que espanta porque a gente não
imagina estar tão próximo ao Papa, de uma forma tão familiar. Isto demonstra o
que é o Sínodo. É um colégio episcopal reunido, que não existe sem o Papa.
Junto com ele, os bispos são responsáveis por toda a Igreja. É uma experiência
única, com muita familiaridade, muita simplicidade. Ele está ali conosco.. não
podemos abusar... mas chegamos, cumprimentamos, de repente ele está ali no
cafezinho... saindo ou chegando. Então, é uma experiência única, muito bonita,
interessante. Vai me marcar por toda a minha vida”. (CM)
..............................................................................................................................................................
Cardeal Hummes:
"Sínodo responderá aos casais em segunda união"
Aos 81 anos, o Cardeal Cláudio Hummes não participa
pessoalmente do Sínodo dos Bispos sobre “A vocação e a missão da Família na
Igreja e no mundo contemporâneo”, em andamento no Vaticano, mas o acompanha com
atenção. Arcebispo emérito de São Paulo e Prefeito emérito da Congregação para
o Clero durante o papado de Bento XVI, Dom Cláudio é bispo há 40 anos e, a
partir de sua experiência pastoral, se diz certo de que a Assembleia vai trazer
respostas às expectativas das famílias. Ouça a entrevista concedida em
exclusiva à RV:
“Eu sou muito
esperançoso, espero muito que o Espírito Santo ilumine os padres sinodais para
que possam, de fato, dar um apoio ao Papa naquilo que ele vai decidir sobre as
grandes questões, seja da pastoral familiar, seja das questões mais específicas
de dificuldades, por exemplo, sobretudo o que mais se foca, a situação dos
casais em segunda união. Espero, sem dúvida nenhuma, muito disto. Apoio
plenamente que se encontre um caminho penitencial para os casais em segunda
união, para que possam participar mais dos sacramentos da Igreja. Espero isso e
apoio plenamente esta esperança e, digamos este estudo, porque é um estudo que
se quer fazer e se quer procurar de toda forma um caminho penitencial para
eles. E é o que também, é claro, a imprensa mundial mais enfoca”.
Cardeal Hummes - Arcebispo emérito de São Paulo (SP) |
“Eu gostei muito
também da entrevista que Dom Sérgio Castriani (arcebispo de Manaus, ndr)
concedeu à RV sobre a família na Amazônia, em que ele coloca tantos aspectos
sobre a vida familiar na Amazônia. Os católicos, os cristãos, vivem num mundo
muito diferente, que evoluiu; há uma mudança de época, é uma sociedade muito
secularizada, muito laicizada, subjetivista, enfim... E este é o mundo que está
aí, não podemos pensar numa família em outro mundo senão neste! Então, os
católicos, os cristãos, procuram viver o Evangelho neste mundo! Não adianta
sonhar num mundo que ainda não existe ou num mundo que já existiu e que já não
está mais aí. Temos que ajudar os católicos, as famílias, a viver como eles
querem neste mundo de hoje, nesta civilização, nesta cultura dominante de hoje.
Acho que, de fato, é um momento muito decisivo e tenho muita esperança que o
Espírito Santo ilumine o Papa depois e ajude a encontrar este caminho que ele
também tanto busca. Mas ele quer o apoio e as luzes, através do diálogo com a
Igreja e sobretudo com o Sínodo. Ele sempre diz que ‘o Sínodo não é um
parlamento’ onde vamos defender posições individuais ou de grupos, mas é um
caminhar juntos, a Igreja tem que caminhar junto, e o Papa é que vai guiar,
finalmente, esta caminhada. Espera-se que a Igreja caminhe com ele mesmo, às
vezes, na penumbra do mistério... a nossa fé nos leva a isso, nós temos que
caminhar mesmo na penumbra da fé, acreditando que o Papa nos conduz porque ele
tem, de modo muito particular, esta função e, portanto, também a assistência do
Espírito Santo para isto”. (CM)
............................................................................................................................................................
Cardeal Odilo:
Dia de partilha
Esta quarta-feira (14/10), depois de dois dias de círculos
menores, os padres sinodais se reúnem em plenária para a 8ª Congregação Geral.
Sobre o trabalho
desta quarta, eis o que disse à Rádio Vaticano o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer:
Padres Sinodais em oração |
“Nós estaremos
voltando ao grande plenário e são apresentadas as observações que vêm dos
círculos menores, dos grupos, de modo que se partilha com o grande grupo aquilo
que foi trabalho no pequeno grupo. Naturalmente, há também muitas emendas,
novas propostas, acréscimos ao texto do Instrumento de Trabalho também são
entregues hoje à Comissão de Redação. Hoje vai ser um dia de partilha daquilo
que se trabalhou nos últimos três dias.”
Card. Odilo
falou também da questão dos divorciados recasados, um dos temas da coletiva de
imprensa de terça-feira, no Vaticano:
“De fato estamos
diante de uma situação que merece toda a atenção. Há muitos casais católicos
que não estão regularmente casados na Igreja, não se trata só dos divorciados
recasados e há a questão do acesso dessas pessoas à comunhão e à confissão. É
uma situação angustiante, sim. E os padres sinodais estão concordes neste
ponto, de que se trata de uma situação angustiante que merece a atenção da
Igreja, mas ainda está difícil de se ver uma solução que tenha aceitação da
maioria. É certo que existe um debate sobre isto na Sala do Sínodo e isto se
tornará mais evidente na terceira parte, nos próximos dias.”
Por fim, o
Arcebispo de São Paulo falou também do encontro que teve com Bento XVI
“Foi muito
bonito. Há algum tempo desejava saudar o Papa Bento XVI desde que ele se
retirou. Nos saudamos em celebrações, mas muito brevemente. Ontem consegui um
momento para estar com ele na hora em que ele reza o terço com Dom Gaenswein.
Foi muito bonito e ele está muito bem para a sua idade.” (BF)
..............................................................................................................................................................
Pe. Lombardi:
Carta dos cardeais não impactou nos trabalhos sinodais
O Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico
Lombardi, frisou na coletiva desta quarta-feira (14/10), que a recente carta
endereçada ao Papa Francisco por um grupo de cardeais não causou nenhum impacto
nos trabalhos do Sínodo sobre a Família. O jesuíta convidou a ir adiante com os
compromissos sinodais.
O mesmo parecer
foi expresso pelo Arcebispo de Westminster, Cardeal Vincent Nichols, Presidente
da Conferência Episcopal da Inglaterra e Galles, que disse que a missiva não
teve nenhuma ênfase no andamento dos trabalhos do Sínodo.
Pe. Lombardi
esclareceu aos jornalistas a propósito do perdão pedido pelo Papa Francisco na
Audiência Geral desta quarta-feira. O porta-voz vaticano disse que Francisco
fez referência a Roma, mas “não ao prefeito especificamente”, porque se trata
de uma questão “de caráter político e não eclesial”.
“O Papa se deu
conta de que existem pessoas que vêm às audiências e às vezes ficam chocadas ou
ofendidas com as notícias que se leem. Nesse sentido, como há uma
responsabilidade da Igreja ou de homens da Igreja, o Papa pede perdão pelos
exemplos negativos ou coisas que incomodam.”
Na coletiva, foi
feito um confronto entre os sínodos precedentes e o que está em andamento. O
Cardeal Nichols ficou surpreso com a correlação entre os Círculos Menores e as
sessões plenárias, caracterizada por uma maior criatividade e energia.
O que guia os bispos é a beleza da Doutrina Católica sobre o matrimônio e a família |
O Arcebispo de
Westminster observou que no documento final do Sínodo Extraordinário foram
inseridas as contribuições que chegaram das consultas realizadas entre a
assembleia do ano passado e a atual.
“Esta combinação levou muitos grupos hoje a
dizer que o Instrumento de Trabalho, nesta segunda parte, precisa de uma
restruturação, de um impulso, de um tema teológico mais forte para guiar todos
nós.”
Na coletiva de
imprensa também tomaram a palavra o Presidente do Conselho Episcopal
Latino-americano (CELAM), Cardeal Rúben Salazar Gómez, e o Arcebispo de
Uagadugu, Burkina Faso, Cardeal Philippe Ouédraogo.
O Presidente do
CELAM recordou que nos dois Sínodos que ele participou, depois da apresentação
do Instrumento de Trabalho, nos Círculos Menores se trabalhavam as propostas
sobre o documento a ser apresentado ao Santo Padre:
“Neste momento não sabemos se o documento
sobre o qual estamos trabalhando será publicado diretamente ou se servirá ao
pontífice para uma nova Exortação apostólica”.
“O compromisso é
olhar para o futuro para responder a todas as dúvidas e esperanças de hoje.
Está sendo feito um esforço enorme para ouvir as vozes das famílias e pessoas,
em particular daquelas que vivem momentos difíceis e que precisam de uma ajuda
particular”, disse ainda o Arcebispo de Bogotá.
Segundo o
cardeal colombiano, o que guia os trabalhos sinodais é “a beleza da Doutrina da
Igreja Católica sobre o matrimônio e família, onde há uma fonte permanente para
qualquer resposta”. Ele confirmou que entre as propostas feitas está a ideia de
Assembleias continentais que precedem os sínodos.
O Arcebispo de
Uagadugu, Cardeal Philippe Ouédraogo, confirmou aos jornalistas que em alguns
Círculos Menores foi notada uma característica ocidental do debate. Ele
sublinhou que cada situação específica, desde a questão dos divorciados
recasados à questão da poligamia, é vista segundo a situação cultural do
território.
O purpurado
convidou a “voltar a João XXIII”, sobre o que disse acerca da atualização e
compreensão do Evangelho. “Podemos entendê-lo cada vez mais se partilhamos as
nossas opiniões”, disse ele. Depois, o Cardeal Ouédraogo sublinhou que os
países da África, como por exemplo Burkina Faso, são terras de primeira
evangelização e que no Sínodo busquem entender melhor o “projeto de Deus para o
homem, a mulher, o matrimônio e a família”:
“Não vimos para
nos casar com os valores ou os não valores culturais dos outros, mas para
juntos contemplar Cristo, e no Evangelho, procurar entender quais são os
desafios que o mundo atual apresenta hoje para a Criação e a família”. (MJ)
........................................................................................................................
Fonte: radiovaticana.va news.vaws.va
Nenhum comentário:
Postar um comentário