quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Arcebispo de Manaus traz a família amazônica para o Sínodo
Cidade do Vaticano (RV) – São quase 37 anos de missão na Amazônia, 17 como bispo. Dom Sérgio Eduardo Castriani, o arcebispo de Manaus, é único bispo brasileiro convidado pessoalmente pelo Papa para participar do Sínodo sobre a Família: Dom Sérgio é a voz da Amazônia na Assembleia, que para o Francisco, não podia faltar.
O arcebispo, membro de um ‘Círculo menor’ de fala ibérica, revela que levará para a região uma bagagem de experiência muito importante e única. Para ele, trazer a família amazônica ao Sínodo é realmente um privilégio e uma grande responsabilidade:
Dom Sérgio Castriani
“Estou trazendo para o Sínodo a família real. Acho que, em primeiro lugar, trago um grande desejo de ‘viver família’. Nós todos queremos viver em família, é um desejo humano. Todas as culturas, todos os povos, indígenas, ribeirinhos, queremos ‘ser família’. Se você perguntar a um jovem qual é o seu desejo ele responde: casar, estudar e trabalhar. A família é o lugar aonde vivemos os vínculos definitivos. É na família que aprendemos a nos relacionar, a ter amor incondicional, a fidelidade. A família é a base de tudo, a família real, a família sofrida, pois as famílias sofrem com a situação econômica, em primeiro lugar, que divide as famílias. Na Amazônia, há também o fenômeno da migração interna. Manaus cresceu demais porque existe este fenômeno. Pais que deixam filhos, jovens deixam suas casas e ir para a cidade grande. Há famílias que sofrem por causa do tráfico de drogas, é uma coisa impressionante..., o crime organizado ou não, que judia muito das famílias. Há um grande número de dependentes químicos. Há famílias que sofrem com o ataque da mídia: valores que não são nossos, uma cultura que não é do Evangelho; famílias que enfrentam a pressão da tecnologia, da Internet, famílias divididas por questões religiosas. Com a invasão de tantas propostas religiosas na Amazônia, cada um vai na sua Igreja. Então, estas famílias precisam ser acolhidas”.
“Trouxe também a questão do abuso sexual de crianças e adolescentes, a questão do tráfico humano, uma realidade do Brasil todo mas da Amazônia em particular. Então a Igreja, que olha para estas situações, tem a Pastoral Familiar: nossos padres, nossos agentes de pastoral, têm muito carinho com estas famílias. Nós estamos tentando acolhê-las e curá-las. A Igreja na Amazônia sempre é muito presente na vida do povo. Os missionários, que visitavam as comunidades, pelos rios, sempre estiveram muito presentes. Também na grande cidade, Manaus, há grandes comunidades que são grandes famílias. É esta a família que eu trago: a família real e que tem sonhos, que quer viver o Evangelho, quer ser feliz e realizar o desígnio de Deus também no dia a dia”.
“Uma coisa importante também que me tocou muito é que a família é a encarnação do Evangelho. É na família que se vive de fato o Evangelho, senão o Evangelho vira ideologia, vira palavreado; falamos muito mas vivemos pouco. É na vida familiar que temos o espaço de encarnação do Evangelho. Bonito isso, né? Lembrei-me de tantas famílias na Amazônia que vivem o Evangelho, com muita simplicidade. Com honradez. Esta palavra foi dita, em espanhol soa até mais bonita. Com honra, com honestidade, no trabalho diário.. é esta a família que trago no coração e na mente para o Sínodo”.
Dom Sérgio destaca ainda a proximidade com o Papa na Sala dos trabalhos.
“Aqui em Roma desta vez é uma coisa diferente, a gente chega e ele já está lá, esperando... vem a pé, da casa dele, andando, está ali, quem quer pode cumprimentar, dizer uma palavra, de onde é... é uma convivência que espanta porque a gente não imagina estar tão próximo ao Papa, de uma forma tão familiar. Isto demonstra o que é o Sínodo. É um colégio episcopal reunido, que não existe sem o Papa. Junto com ele, os bispos são responsáveis por toda a Igreja. É uma experiência única, com muita familiaridade, muita simplicidade. Ele está ali conosco.. não podemos abusar... mas chegamos, cumprimentamos, de repente ele está ali no cafezinho... saindo ou chegando. Então, é uma experiência única, muito bonita, interessante. Vai me marcar por toda a minha vida”. (CM)
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Cardeal Hummes:
"Sínodo responderá aos casais em segunda união"
Aos 81 anos, o Cardeal Cláudio Hummes não participa pessoalmente do Sínodo dos Bispos sobre “A vocação e a missão da Família na Igreja e no mundo contemporâneo”, em andamento no Vaticano, mas o acompanha com atenção. Arcebispo emérito de São Paulo e Prefeito emérito da Congregação para o Clero durante o papado de Bento XVI, Dom Cláudio é bispo há 40 anos e, a partir de sua experiência pastoral, se diz certo de que a Assembleia vai trazer respostas às expectativas das famílias. Ouça a entrevista concedida em exclusiva à RV:
“Eu sou muito esperançoso, espero muito que o Espírito Santo ilumine os padres sinodais para que possam, de fato, dar um apoio ao Papa naquilo que ele vai decidir sobre as grandes questões, seja da pastoral familiar, seja das questões mais específicas de dificuldades, por exemplo, sobretudo o que mais se foca, a situação dos casais em segunda união. Espero, sem dúvida nenhuma, muito disto. Apoio plenamente que se encontre um caminho penitencial para os casais em segunda união, para que possam participar mais dos sacramentos da Igreja. Espero isso e apoio plenamente esta esperança e, digamos este estudo, porque é um estudo que se quer fazer e se quer procurar de toda forma um caminho penitencial para eles. E é o que também, é claro, a imprensa mundial mais enfoca”.
Cardeal Hummes - Arcebispo emérito de São Paulo (SP)
“Eu gostei muito também da entrevista que Dom Sérgio Castriani (arcebispo de Manaus, ndr) concedeu à RV sobre a família na Amazônia, em que ele coloca tantos aspectos sobre a vida familiar na Amazônia. Os católicos, os cristãos, vivem num mundo muito diferente, que evoluiu; há uma mudança de época, é uma sociedade muito secularizada, muito laicizada, subjetivista, enfim... E este é o mundo que está aí, não podemos pensar numa família em outro mundo senão neste! Então, os católicos, os cristãos, procuram viver o Evangelho neste mundo! Não adianta sonhar num mundo que ainda não existe ou num mundo que já existiu e que já não está mais aí. Temos que ajudar os católicos, as famílias, a viver como eles querem neste mundo de hoje, nesta civilização, nesta cultura dominante de hoje. Acho que, de fato, é um momento muito decisivo e tenho muita esperança que o Espírito Santo ilumine o Papa depois e ajude a encontrar este caminho que ele também tanto busca. Mas ele quer o apoio e as luzes, através do diálogo com a Igreja e sobretudo com o Sínodo. Ele sempre diz que ‘o Sínodo não é um parlamento’ onde vamos defender posições individuais ou de grupos, mas é um caminhar juntos, a Igreja tem que caminhar junto, e o Papa é que vai guiar, finalmente, esta caminhada. Espera-se que a Igreja caminhe com ele mesmo, às vezes, na penumbra do mistério... a nossa fé nos leva a isso, nós temos que caminhar mesmo na penumbra da fé, acreditando que o Papa nos conduz porque ele tem, de modo muito particular, esta função e, portanto, também a assistência do Espírito Santo para isto”.  (CM)
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Cardeal Odilo:
Dia de partilha
Esta quarta-feira (14/10), depois de dois dias de círculos menores, os padres sinodais se reúnem em plenária para a 8ª Congregação Geral.
Sobre o trabalho desta quarta, eis o que disse à Rádio Vaticano o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer:
Padres Sinodais em oração
“Nós estaremos voltando ao grande plenário e são apresentadas as observações que vêm dos círculos menores, dos grupos, de modo que se partilha com o grande grupo aquilo que foi trabalho no pequeno grupo. Naturalmente, há também muitas emendas, novas propostas, acréscimos ao texto do Instrumento de Trabalho também são entregues hoje à Comissão de Redação. Hoje vai ser um dia de partilha daquilo que se trabalhou nos últimos três dias.”
Card. Odilo falou também da questão dos divorciados recasados, um dos temas da coletiva de imprensa de terça-feira, no Vaticano:
“De fato estamos diante de uma situação que merece toda a atenção. Há muitos casais católicos que não estão regularmente casados na Igreja, não se trata só dos divorciados recasados e há a questão do acesso dessas pessoas à comunhão e à confissão. É uma situação angustiante, sim. E os padres sinodais estão concordes neste ponto, de que se trata de uma situação angustiante que merece a atenção da Igreja, mas ainda está difícil de se ver uma solução que tenha aceitação da maioria. É certo que existe um debate sobre isto na Sala do Sínodo e isto se tornará mais evidente na terceira parte, nos próximos dias.”
Por fim, o Arcebispo de São Paulo falou também do encontro que teve com Bento XVI
“Foi muito bonito. Há algum tempo desejava saudar o Papa Bento XVI desde que ele se retirou. Nos saudamos em celebrações, mas muito brevemente. Ontem consegui um momento para estar com ele na hora em que ele reza o terço com Dom Gaenswein. Foi muito bonito e ele está muito bem para a sua idade.” (BF)
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Pe. Lombardi:
Carta dos cardeais não impactou nos trabalhos sinodais
O Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, frisou na coletiva desta quarta-feira (14/10), que a recente carta endereçada ao Papa Francisco por um grupo de cardeais não causou nenhum impacto nos trabalhos do Sínodo sobre a Família. O jesuíta convidou a ir adiante com os compromissos sinodais. 
O mesmo parecer foi expresso pelo Arcebispo de Westminster, Cardeal Vincent Nichols, Presidente da Conferência Episcopal da Inglaterra e Galles, que disse que a missiva não teve nenhuma ênfase no andamento dos trabalhos do Sínodo.
Pe. Lombardi esclareceu aos jornalistas a propósito do perdão pedido pelo Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira. O porta-voz vaticano disse que Francisco fez referência a Roma, mas “não ao prefeito especificamente”, porque se trata de uma questão “de caráter político e não eclesial”.
“O Papa se deu conta de que existem pessoas que vêm às audiências e às vezes ficam chocadas ou ofendidas com as notícias que se leem. Nesse sentido, como há uma responsabilidade da Igreja ou de homens da Igreja, o Papa pede perdão pelos exemplos negativos ou coisas que incomodam.”
Na coletiva, foi feito um confronto entre os sínodos precedentes e o que está em andamento. O Cardeal Nichols ficou surpreso com a correlação entre os Círculos Menores e as sessões plenárias, caracterizada por uma maior criatividade e energia. 
O que guia os bispos é a
beleza da Doutrina Católica sobre o matrimônio e a família
O Arcebispo de Westminster observou que no documento final do Sínodo Extraordinário foram inseridas as contribuições que chegaram das consultas realizadas entre a assembleia do ano passado e a atual.
 “Esta combinação levou muitos grupos hoje a dizer que o Instrumento de Trabalho, nesta segunda parte, precisa de uma restruturação, de um impulso, de um tema teológico mais forte para guiar todos nós.”
Na coletiva de imprensa também tomaram a palavra o Presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), Cardeal Rúben Salazar Gómez, e o Arcebispo de Uagadugu, Burkina Faso, Cardeal Philippe Ouédraogo.
O Presidente do CELAM recordou que nos dois Sínodos que ele participou, depois da apresentação do Instrumento de Trabalho, nos Círculos Menores se trabalhavam as propostas sobre o documento a ser apresentado ao Santo Padre:
“Neste momento não sabemos se o documento sobre o qual estamos trabalhando será publicado diretamente ou se servirá ao pontífice para uma nova Exortação apostólica”.
“O compromisso é olhar para o futuro para responder a todas as dúvidas e esperanças de hoje. Está sendo feito um esforço enorme para ouvir as vozes das famílias e pessoas, em particular daquelas que vivem momentos difíceis e que precisam de uma ajuda particular”, disse ainda o Arcebispo de Bogotá.
Segundo o cardeal colombiano, o que guia os trabalhos sinodais é “a beleza da Doutrina da Igreja Católica sobre o matrimônio e família, onde há uma fonte permanente para qualquer resposta”. Ele confirmou que entre as propostas feitas está a ideia de Assembleias continentais que precedem os sínodos. 
O Arcebispo de Uagadugu, Cardeal Philippe Ouédraogo, confirmou aos jornalistas que em alguns Círculos Menores foi notada uma característica ocidental do debate. Ele sublinhou que cada situação específica, desde a questão dos divorciados recasados à questão da poligamia, é vista segundo a situação cultural do território. 
O purpurado convidou a “voltar a João XXIII”, sobre o que disse acerca da atualização e compreensão do Evangelho. “Podemos entendê-lo cada vez mais se partilhamos as nossas opiniões”, disse ele. Depois, o Cardeal Ouédraogo sublinhou que os países da África, como por exemplo Burkina Faso, são terras de primeira evangelização e que no Sínodo busquem entender melhor o “projeto de Deus para o homem, a mulher, o matrimônio e a família”: 
“Não vimos para nos casar com os valores ou os não valores culturais dos outros, mas para juntos contemplar Cristo, e no Evangelho, procurar entender quais são os desafios que o mundo atual apresenta hoje para a Criação e a família”. (MJ)
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                                                                    Fonte: radiovaticana.va      news.vaws.va

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