O Papa Francisco
inspirou sua homilia da Missa matutina celebrada na Casa Santa Marta a São João
Bosco, cuja memória é recordada hoje pela Igreja. O cerne de sua exortação é
que os sacerdotes não sejam funcionários, mas tenham a coragem de olhar a
realidade com olhos de homem e de Deus.
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco
celebrou a missa na Casa Santa Marta, nesta quinta-feira (31/01), e a sua
homilia foi sobre a figura de São João Bosco, que a Igreja recorda hoje.
O Pontífice
lembrou que no dia de sua ordenação, a mãe, uma mulher humilde e camponesa,
“que não tinha estudado na faculdade de teologia”, lhe disse: “Hoje, você
começará a sofrer”. Queria enfatizar uma realidade, mas também chamar a atenção
porque se o seu filho pensou que não haveria sofrimento, isso significava que
algo não estava certo. “É uma profecia de mãe”, uma mulher simples, mas com um
coração cheio do espírito. Para um sacerdote, o sofrimento é um sinal de que
tudo vai bem, mas não porque seja um “faquir”, mas pelo que Dom Bosco fez, que
teve a coragem de olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de
Deus. “Ele, disse o Papa Francisco, “viu naquela época maçônica, anticlerical”,
de “uma aristocracia fechada, onde os pobres eram realmente os pobres, o
descarte, aqueles jovens nas ruas e disse: “Não pode ser!”.
“Olhou com os
olhos de homem, um homem que é irmão e pai também, e disse: “Mas não, isso não
pode ser assim! Esses jovens talvez acabarão sendo condenados e precisarão do
apoio de pe. Cafasso. Não, não pode ser assim”, se comoveu como homem e como
homem começou a pensar nas maneiras de fazer crescer os jovens, amadurecer os
jovens. Estradas humanas. E depois teve a coragem de olhar com os olhos de Deus
e ir até Deus e dizer: “Mostram-me isso... isso é uma injustiça... o que fazer
diante disso ... Você criou essas pessoas para uma plenitude e elas estão numa
verdadeira tragédia...”. E assim, olhando para a realidade com o amor de um
pai, pai e mestre, diz a liturgia de hoje, e olhando para Deus com os olhos de
um mendigo que pede algo de luz, começa a seguir em frente.”
Pe. Giuseppe
Cafasso confortava os encarcerados, em Turim, no século XIX e muitas vezes
acompanhava até a forca, os condenados à morte. Ele ficou conhecido como “o
padre da forca” e foi um grande amigo de São João Bosco.
O sacerdote,
reiterou o Papa, deve ter “essas duas polaridades”: “olhar a realidade com os
olhos de homem e com os olhos de Deus”. Isso significa passar “muito tempo
diante do tabernáculo”.
“Olhar dessa
maneira fez-lhe ver o caminho, pois ele não foi com o Catecismo e o Crucifixo
somente, para dizer: “façam isso...”. Os jovens o teriam dito: “Deixa pra lá!
Nos vemos amanhã”. Não, não: ele estava próximo a eles, com a vivacidade deles.
Fez os jovens distrair, também em grupo, como irmãos. Ele foi, caminhou com
eles, ouviu com eles, viu com eles, chorou com eles e os levou adiante assim.
Um sacerdote que olha humanamente as pessoas, que está ao alcance de todos.”
O Papa enfatiza
assim, que os sacerdotes não devem ser funcionários ou empregados que recebem,
por exemplo, "das 15 às 17h30". "Temos tantos funcionários, bons
- continua ele - que fazem o seu trabalho, como devem fazer os funcionários.
Mas o padre não é um funcionário, não pode sê-lo".
Francisco então
exorta a olhar com os olhos de homem e "virá a você aquele sentimento,
aquela sabedoria de entender que são seus filhos, seus irmãos. E depois, ter
coragem de ir e lutar lá: o sacerdote é alguém que luta ao lado de Deus".
O Papa sabe que
“sempre existe o risco de olhar muito o humano e nada o divino, ou muito o
divino e nada o humano", mas "se não arriscarmos, não faremos nada na
vida", adverte.
Um pai, de fato,
arrisca pelo filho, um irmão se arrisca por um irmão quando existe amor. Isso
certamente comporta sofrimentos, começam as perseguições, a tagarelice:
"Este padre está lá, na rua", com aqueles jovens mal-educados que
"quebram o vidro da janela com a bola".
O Papa então
agradece a Deus por nos ter dado São João Bosco que, que desde criança começou
a trabalhar, sabia o que era ganhar o pão a cada dia e havia entendido o que
era a piedade, "qual era a verdadeira piedade". Este homem - sublinha
ainda Francisco ao concluir - teve de Deus um grande coração de pai e mestre:
“E qual é o
sinal de que um padre está fazendo bem, olhando para a realidade com os olhos
de homem e com os olhos de Deus? A alegria. A alegria. Quando um padre não
encontra alegria por dentro, pare imediatamente e pergunte o por quê. E a
alegria de Dom Bosco é conhecida: é o mestre da alegria, hein! Porque ele fazia
os outros se alegrarem e ele mesmo se alegrava. E ele próprio sofria. Peçamos
ao Senhor, por intercessão de Dom Bosco, hoje, a graça de que os nossos
sacerdotes sejam alegres: alegres porque têm o verdadeiro sentido de olhar para
as coisas da pastoral, o povo de Deus com os olhos de homem e com os olhos de
Deus”.
Foi divulgada nesta quinta-feira (31/01) a mensagem do Papa Francisco às vésperas de sua viagem aos
Emirados Árabes Unidos, de 3 a 5 de fevereiro.
Cidade do
Vaticano - A fé em Deus “une e não divide, aproxima não obstante a distinção,
afasta da hostilidade e da aversão": este é um trecho da mensagem do Papa
Francisco divulgada às vésperas de sua viagem aos Emirados Árabes Unidos, de 3
a 5 de fevereiro.
Respeito das
diversidades
“Somos irmãos
mesmo sendo diferentes”, afirma o Papa, saudando em árabe a população do país:
“Al Salamu Alaikum, a paz esteja convosco”. Francisco se declara “feliz” em
visitar os Emirados Árabes Unidos, uma “terra que – destaca o Pontífice – busca
ser um modelo de convivência, de fraternidade humana e de encontro entre as
diferentes civilizações e culturas, onde muitos encontram um lugar seguro para
trabalhar e viver livremente, no respeito das diversidades”.
Verdadeira
riqueza
O Pontífice se
prepara para encontrar um povo “que vive o presente com o olhar voltado ao
futuro”, citando o fundador dos Emirados Árabes Unidos o Xeque Zayed, que
declarava que a verdadeira riqueza “não reside somente nos recursos materiais”,
mas nos “homens”, “nas pessoas que constroem o futuro de sua nação”.
Fraternidade
humana
Francisco
agradece ao Xeque Mohammed bin Zayed bin Sultan Al Nahyan pelo convite a
participar “do encontro inter-religioso sobre o tema ‘Fraternidade humana’”,
que se realizará na segunda-feira à tarde no Founder’s Memorial de Abu Dhabi.
Na ótica da
viagem, cujo lema é extraído da oração atribuída a São Francisco de Assis:
“Senhor, faz de mim um instrumento da sua paz”, o Papa define-se ainda “grato”
às demais autoridades dos Emirados Árabes Unidos “pela ótima colaboração, a
generosa hospitalidade e o fraterno acolhimento oferecidos nobremente para
realizar” a visita.
O Grande Imã de
Al-Azhar
Por fim, o Santo
Padre agradece ao “amigo e querido irmão o Grande Imã de Al-Azhar, Dr. Ahmed
Al-Tayeb, e aos que colaboraram na preparação do encontro” pela “coragem” e a
“vontade” de afirmar a capacidade da fé em Deus, que une e não divide. Com
“alegria”, conclui Francisco, "me preparo para encontrar e saudar ‘eyal
Zayid fi dar Zayid, os filhos de Zayid na casa de Zayid”, uma terra “de
prosperidade e de paz”, “de sol e de harmonia”, “de convivência e de encontro”.
Com o objetivo
de alertar a sociedade para os problemas do alcoolismo e ajudar as famílias a
enfrentar essa doença, a Pastoral da Sobriedade propõe a vivência da Semana
contra o alcoolismo nas paróquias da Arquidiocese de Pouso Alegre entre os dias
12 e 17 de fevereiro. É importante lembrar que o dia 18 de fevereiro é lembrado
como o Dia Nacional de combate ao alcoolismo.
A organização
dessa semana vai do incentivo do próprio pároco e também das lideranças
paroquiais. Porém, a coordenação arquidiocesana propõe alguns temas, a seguir:
12/02: Álcool
como agravante de problemas da saúde(clique aqui)
13/02: Álcool
como causador de acidentes de trânsito (clique aqui)
14/02: Álcool
como causador de violência, sobretudo doméstica(clique aqui)
15/02: Álcool
como uma droga, porém lícita (clique aqui)
16 e
17/02: Apresentação da pastoral nas paróquias
O Papa se
deteve, na habitual catequese, em sua recente Viagem Apostólica ao Panamá,
convidando os fiéis a darem graças a Deus, junto com ele, “por esta graça” que
o Senhor “quis doar à Igreja e ao povo daquele amado país”.
Cidade do Vaticano
- A Sala Paulo VI, no Vaticano, ficou repleta de fiéis que participaram da
Audiência Geral com o Papa Francisco, nesta quarta-feira (30/01).
O Papa se
deteve, na habitual catequese, em sua recente Viagem Apostólica ao Panamá,
convidando os fiéis a darem graças a Deus, junto com ele, “por esta
graça” que o Senhor “quis doar à Igreja e ao povo daquele amado país”.
Francisco
agradeceu o acolhimento caloroso e familiar do presidente do Panamá e demais
autoridades, e também dos voluntários e das pessoas que corriam para saudá-lo
“com grande fé e entusiasmo”.
O Papa disse que
as pessoas levantavam as crianças, como se estivessem dizendo: “Eis o meu
orgulho, eis o meu futuro! Quanta dignidade nesse gesto, e quanto é eloquente
para o inverno demográfico que estamos vivendo na Europa”, disse ele.
Jornada Mundial
da Juventude
“O motivo dessa
viagem foi a Jornada Mundial da Juventude. Todavia, nos encontros com os jovens
se realizaram outros ligados à realidade do país: com as autoridades, bispos,
jovens detentos, consagrados e uma casa-família. Tudo foi contagiado e
amalgamado pela presença alegre dos jovens: uma festa para eles e uma festa
para o Panamá, e também para toda a América Central, marcada por várias
situações e necessitada de esperança e paz.”
Francisco
recordou que antes da Jornada Mundial da Juventude, foram realizados os
encontros dos jovens indígenas e afro-americanos, “uma iniciativa importante
que manifestou ainda melhor o rosto multiforme da Igreja na América Latina.
Depois com a chegada de grupos de várias partes do mundo, formou-se uma grande
sinfonia de rostos e línguas, típica desse evento. Ver todas as bandeiras
desfilarem juntas, dançando nas mãos dos jovens alegres de se encontrar é um
sinal profético, um sinal contracorrente em relação à triste tendência atual
aos nacionalismos conflitantes. É um sinal de que os jovens cristãos são
fermento de paz no mundo”.
Forte impressão
mariana
O Papa disse
ainda que esta JMJ teve uma forte impressão mariana, pois o seu tema foram as
palavras da Virgem ao Anjo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo
a tua palavra”.
Segundo
Francisco, foi forte ouvir as palavras proferidas pelos representantes dos
jovens dos cinco continentes e vê-las transparecer em seus rostos. Enquanto
houver novas gerações capazes de dizer “eis-me aqui” a Deus, haverá um futuro
para o mundo.
O Pontífice
recordou alguns momentos da JMJ como a Via-Sacra com os jovens, afirmando que
no Panamá “os jovens levaram com Jesus e Maria o peso da condição de muitos
irmãos e irmãos que sofrem na América Central e no mundo inteiro. Dentre eles
se encontram muitos jovens, vítimas de várias formas de escravidão e pobreza.
Responsabilidade
dos adultos
A seguir,
recordou a Liturgia Penitencial com os jovens reclusos no Centro
Correcional de Menores e a visita ao Lar do Bom Samaritano que acolhe os
portadores de Hiv/Aids.
O Papa falou
também da Vigília e da missa com os jovens, ressaltando que na celebração
eucarística “fez um apelo à responsabilidade dos adultos para que não faltem às
novas gerações educação, trabalho, comunidade e família”.
Para Francisco,
o encontro com os bispos da América Central foi um momento de consolo. “Juntos
nos deixamos instruir pelo testemunho de São Óscar Romero, a fim de aprender
melhor o “sentir com a Igreja”, que era o seu lema episcopal, estando próximos
aos jovens, aos pobres, os sacerdotes e ao santo povo fiel de Deus.”
Jovens
discípulos missionários
Teve um forte
valor simbólico a consagração do altar da Igreja de Santa Maria La Antigua que
foi restaurada. “Um sinal da beleza reencontrada, para a glória de Deus, para a
fé e a festa do seu povo”, disse o Papa.
“Que a família
da Igreja no Panamá e no mundo inteiro possa obter do Espírito Santo sempre
nova fecundidade, para que continue e se difunda na terra a peregrinação dos
jovens discípulos missionários de Jesus Cristo”, concluiu Francisco.
Cuidar da
unidade e fidelidade, bens preciosos do matrimônio
O Papa
Francisco, em audiência nesta terça-feira (29/01), no Vaticano, com os
colaboradores do Tribunal Apostólico da Rota Romana, interpretou o matrimônio
através de "dois bens irrenunciáveis e constitutivos" do Sacramento:
a unidade e a fidelidade. O Pontífice também orientou sobre "o cuidado
pastoral constante e permanente da Igreja para o bem do matrimônio e da
família".
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco inaugurou nesta terça-feira (29/01) o Ano
Judiciário recebendo em audiência, na Sala Clementina, no Vaticano, oficiais,
advogados e colaboradores do Tribunal Apostólico da Rota Romana. No discurso
aos presentes, o Pontífice interpretou o Sacramento do matrimônio em meio ao
momento vivido pela atual sociedade “sempre mais secularizada” e que não
“favorece o crescimento da fé”.
Unidade e
fidelidade no matrimônio
Nesse contexto,
afirmou o Papa, a Igreja precisa agir a serviço do matrimônio cristão,
oferecendo um suporte espiritual e pastoral adequado. Os membros da Rota
Romana, recordou o Pontífice, podem trabalhar em cima de dois bens matrimoniais
como valores importantes e necessários entre os cônjuges, fundamentais da
teologia e do direito matrimonial canônico, mas também da “própria essência da
Igreja de Cristo”: a unidade e a fidelidade.
“Estes dois
bens irrenunciáveis e constitutivos do matrimônio requerem ser ilustrados
adequadamente não só aos futuros casados, mas solicitam a ação pastoral da
Igreja, especialmente dos bispos e dos sacerdotes, para acompanhar a família
nas diversas etapas da sua formação e do seu desenvolvimento. […] É necessária
uma preparação tripla ao matrimônio: remota, próxima e permanente.”
Cuidado pastoral
da Igreja pelo bem da família
A etapa
permanente, salientou o Papa, refere-se à formação da vida conjugal, mediante
um acompanhamento que ajude a fazer crescer, no casal, a consciência dos
valores e dos compromissos da vocação. E aí entra “a responsabilidade primária”
dos pastores, em virtude do próprio ofício e ministério, e a “participação
ativa” dos componentes das comunidades eclesiais, sob orientação do bispo e do
pároco. Francisco aqui fez referência aos mais fiéis companheiros da missão de
São Paulo, os cônjuges Áquila e Priscila, com fé robusta e espírito apostólico.
“O cuidado
pastoral constante e permanente da Igreja para o bem do matrimônio e da família
precisa ser realizado com os vários meios pastorais: a aproximação à Palavra de
Deus, especialmente mediante a lectio divina; os encontros de catequese; o
envolvimento na celebração dos Sacramentos, sobretudo a Eucaristia; a conversa
e a direção espiritual; a participação em grupos familiares e de serviços
beneficentes para fazer um paralelo com outras famílias e a abertura às
necessidades dos mais desfavorecidos”.
Testemunhas de
fidelidade
O Papa Francisco,
então, citou os casais que já representam “uma ajuda preciosa pastoral à
Igreja” ao viver o matrimônio “na unidade generosa e com amor fiel”. Eles são
testemunhas da fecundidade da Igreja e “uma oração silenciosa para todos”,
todos os dias, mesmo que esse “casal que vive por tantos anos juntos não faz
notícia - é triste -, enquanto os escândalos, as separações e os divórcios
fazem notícia” (cfr. Homilia na Santa Marta de 18 de maio de 2018).
“Os casados que
vivem na unidade e na fidelidade refletem bem a imagem e a semelhança de Deus.
Essa é a boa notícia: que a fidelidade é possível porque é um dom, nos casados
como nos presbíteros. Essa é a notícia que deveria tornar mais forte e
encorajante também o ministério fiel e cheio de amor evangélico de bispos e
sacerdotes; como foram de conforto para Paulo e Apolo o amor e a fidelidade
conjugal do casal Áquila e Priscila.”
O avião Boeing
787 Avianca trazendo a bordo o Pontífice chegou na manhã de segunda-feira a
Roma. Depois de intensos quatro dias no Panamá, o Papa se prepara agora para
uma nova missão: os Emirados Árabes Unidos.
Cidade do
Vaticano - O avião trazendo
a bordo o Papa Francisco aterrissou ao aeroporto romano de Ciampino às 11h15,
hora local. Assim que chegou, o Santo Padre foi diretamente para a Basílica de
Santa Maria Maior, onde se recolheu em oração diante do ícone "Salus
Popoli Romani", em agradeicmento pelo bom êxito de sua missão.
O Pontífice
encerra assim sua 26 viagem apostólica internacional, que o levou ao Panamá
para a Jornada Mundial da Juventude. Esta foi a
primeira de muitas visitas previstas para este ano de 2019.
Emirados Árabes
Unidos
Daqui menos de
uma semana, o Papa embarca para uma nova missão, desta vez nos Emirados Árabes
Unidos.
Francisco
chegará à cidade de Abu Dhabi na noite de domingo, 3 de fevereiro, permanecendo
na cidade até terça-feira, dia 5.
Entre os
compromissos, a reunião com os membros do Conselho Muçulmano dos Anciãos, um
encontro inter-religioso e a celebração da Santa Missa.
Papa na Coletiva de Imprensa durante voo de retorno:
“No confessionário entendi o drama do aborto”
Francisco no voo
de retorno do Panamá: "Às mulheres que têm essa angústia eu digo: seu
filho está no céu, fale com ele, cante a canção de ninar que você não pôde
cantar a ele". Para a Venezuela pede uma solução pacífica:
"Assusta-me o derramamento de sangue". No encontro de fevereiro para
a proteção dos menores: "devemos nos conscientizar sobre o drama e ter
protocolos, os bispos devem saber o que fazer".
Cidade do
Vaticano - Para entender o drama do aborto é preciso estar no confessionário e
ajudar as mulheres a se reconciliarem com o filho não nascido. Para ser Papa é
preciso "sentir" as pessoas, ferir-se nos encontros que se realiza,
ferir-se com pessoas que nos atingem com suas histórias e seus dramas, levando
tudo diante do Senhor para que os confirme na fé. No encontro de fevereiro
sobre a proteção de menores, será necessário "tomar consciência" do
que significam um menino ou uma menina abusados, para ficar do lado daqueles
que sofreram essa violência terrível. E nessa idêntica perspectiva está a
preocupação pela Venezuela, que leva Francisco a pedir uma solução pacífica e
evitar o derramamento de sangue. O Papa, que disse estar "destruído"
pela intensidade de uma viagem na qual não se poupou, dialoga por cinquenta
minutos com os jornalistas no voo que o trouxe de volta a Roma, na primeira
coletiva de imprensa guiada pelo diretor interino da Sala de Imprensa da Santa
Sé, Alessandro Gisotti.
Pergunta: Qual o impacto
que sua missão teve no Panamá? Que impacto lhe provocou?
Papa Francisco: "Minha
missão em uma Jornada Mundial da Juventude é a missão de Pedro, confirmar na fé
e isso não com mandatos" frios "ou preceptivos, mas deixando-me tocar
o coração e respondendo ao que acontece ali. Eu a vivo assim, custa-me pensar
que alguém possa realizar uma missão só com a cabeça. Para realizar uma missão
você deve sentir, e quando sente, você é atingido. Isso afeta sua vida, você é
atingido por problemas. No aeroporto eu estava saudando o Presidente e
trouxeram um menino de cor, simpático, pequeno assim. E ele me disse:
"Olha, essa criança estava atravessando a fronteira da Colômbia, sua mãe
morreu, e ele ficou sozinho. Ele tem cinco anos de idade. Vem da África, mas
ainda não sabemos de qual país porque não fala inglês, nem português, nem francês.
Ele fala apenas a língua da sua tribo. Nós em certo sentido o adotamos". O
drama de uma criança abandonada pela vida, porque sua mãe morreu e um policial
a entregou às autoridades para tomar conta dela, afeta você, e assim a missão
começa a tomar cor, faz você dizer algo, faz você acariciar. A missão sempre
envolve você. Pelo menos a mim envolve. Eu sempre digo aos jovens: vocês, o que
fazem na vida, devem fazer caminhando e com as três linguagens: a da cabeça, a
do coração, e a das mãos. E as três linguagens harmonizadas, de modo que vocês
pensem o que sentem e o que fazem, sintam o que pensam e o que fazem, façam o
que sentem e o que pensam. Eu não posso fazer um balanço da missão. Com tudo
isso eu vou diante do Senhor para rezar, às vezes adormeço diante do Senhor,
mas levo todas essas coisas que vivi na missão e peço a Ele para confirmá-los
na fé através de mim. É assim que eu procuro viver a missão de Papa e como eu a
vivo."
Pergunta: A JMJ no
Panamá correspondeu às suas expectativas?
Papa Francisco: "Sim, o
termômetro é a fadiga e eu estou destruído."
Pergunta: Existe um
problema que é comum em toda a América Central, incluindo o Panamá e
grande parte da América Latina: gravidez precoce. Só no Panamá foram dez mil no
ano passado. Os detratores da Igreja Católica culpam-na por resistir à educação
sexual nas escolas. Qual é a opinião do Papa?
Papa Francisco: "Creio
que nas escolas é preciso dar educação sexual. Sexo é um dom de Deus não é um
monstro. É o dom de Deus para amar e se alguém o usa para ganhar dinheiro ou
explorar o outro, é um problema diferente. Precisamos oferecer uma educação
sexual objetiva, como é, sem colonização ideológica. Porque se nas escolas se
dá uma educação sexual embebida de colonizações ideológicas, destrói a pessoa.
O sexo como dom de Deus deve ser educado, não rigidamente. Educado, de "educere", para fazer emergir o melhor da pessoa e acompanhá-la no caminho. O problema está nos responsáveis pela educação, seja a nível nacional, seja local, como também em cada unidade escolar: quem são os
professores para isso, que livros de textos usar... Eu vi de todos os tipos, há
coisas que amadurecem e outras que causam danos. Digo isso sem entrar nos
problemas políticos do Panamá: precisamos dar educação sexual para as crianças.
O ideal é que comecem em casa, com os pais. Nem sempre é possível por causa de
muitas situações familiares, ou porque não sabem como fazê-lo. A escola
compensa isso e deve fazê-lo, caso contrário, resta um vazio que é preenchido
por qualquer ideologia."
Pergunta: Nestes dias o
senhor falou com várias pessoas e muitos jovens. Falou também com os jovens que
se distanciaram da Igreja. Quais são os motivos que os afastaram?
Papa Francisco: “São muitos,
alguns são pessoais. Mas o mais geral é a falta de testemunho dos cristãos, dos
padres e dos bispos. Não digo dos Papas porque seria demais, mas ... também. Se
um pastor é um empreendedor ou organizador de um plano pastoral, se não está
próximo das pessoas, não dá um testemunho de pastor. O pastor deve estar com as
pessoas. O pastor deve estar na frente do rebanho, para indicar o caminho, no meio
do rebanho para sentir o cheiro das pessoas e entender o que as pessoas sentem
e o que precisam. Deve estar atrás do rebanho para proteger a retaguarda. Mas
se um pastor não vive com paixão, as pessoas se sentem abandonadas ou sentem um
certo sentido de desprezo. Sentem-se órfãs. Falei sobre os pastores, mas há
também os cristãos, os católicos. Existem os católicos hipócritas que vão à
missa todos os domingos e não pagam o décimo terceiro, pagam por fora, exploram
as pessoas. Depois, vão ao Caribe de férias com o que explorou das pessoas. Se
você faz isso, dá uma contratestemunho. A meu ver, isso é o que distancia mais
as pessoas da Igreja. Sugeriria aos leigos: não diga que é católico se não dá
testemunho. Em vez disso, você pode dizer: venho de uma educação católica, mas
sou morno, sou mundano, peço desculpa, não me olhem como exemplo. Isso é o que
se deve dizer. Tenho medo de católicos assim, que acreditam ser perfeitos. A
história se repete, o mesmo aconteceu com Jesus com os doutores da Lei que rezavam,
dizendo: “Obrigado, Senhor, por não ser como esses pecadores.”
Pergunta: Vimos por quatro
dias os jovens rezar com muita intensidade, podemos pensar que muitos tenham a
vocação. Talvez alguns deles estão hesitando, porque não podem se casar. É
possível que o senhor permita aos homens casados se tornarem padres na Igreja
católica de rito latino, como acontece nas Igrejas orientais?
Papa Francisco: “Na Igreja
católica de rito oriental eles podem fazer isso se fazem a opção celibatária ou
de esposo antes do diaconato. Quanto ao rito latino, lembro-me de uma frase de
São Paulo VI: “Prefiro dar a vida antes de mudar a lei do celibato”. Isso me
veio em mente e quero afirmá-lo porque é uma frase corajosa. Ele disse isso em
1968-1970, num momento mais difícil do que o atual. Pessoalmente, penso que o
celibato seja um dom para a Igreja e não concordo em permitir o celibato
opcional. Não. Permaneceria alguma possibilidade nos lugares mais distantes,
penso nas ilhas do Pacífico, mas é algo em que pensar quando há necessidade
pastoral. O pastor deve pensar nos fiéis. Existe um livro do pe. Lobinger,
interessante. É algo em discussão entre os teólogos, não há uma decisão minha.
A minha decisão é: não ao celibato opcional antes do diaconato. É uma coisa
minha, pessoal. Eu não o farei, isso é claro. Sou fechado? Talvez, mas não me
sinto de colocar-me diante de Deus com esta decisão. Padre Lobinger diz: “A
Igreja faz a eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja. Mas onde não há Eucaristia
há comunidade, pense nas ilhas do Pacífico. Lobinger pergunta: quem faz a
Eucaristia? Os diretores e organizadores dessas comunidades são diáconos,
religiosas ou leigos. Lobinger diz ainda: se poderia ordenar sacerdote um idoso
casado, esta é a sua tese. Mas que exercite apenas o munus sanctificandi, isto
é, celebre a missa, administre o Sacramento da Reconciliação e dê a unção dos enfermos.
A ordenação sacerdotal dá os três munera: o munus regendi (o pastor que guia),
o munus docendi (o pastor que ensina) e o munus sanctificandi. O bispo só lhe
daria a licença para o munus sanctificandi. Esta é a tese. O livro é
interessante e talvez isso possa ajudar a responder o problema. Acredito que o
tema deve ser aberto nesse sentido para os lugares onde existe um problema
pastoral, por falta de sacerdotes. Não digo que deve ser feito, eu não refleti,
não rezei o suficiente sobre isso. Mas os teólogos debatem sobre isso, devem
estudar. Estava conversando com um oficial da Secretaria de Estado, um bispo
que teve que trabalhar num país comunista no início da revolução. Quando viram
como essa revolução chegava nos anos 50, os bispos ordenaram secretamente
camponeses, bons e religiosos. Depois que a crise passou, trinta anos depois, a
coisa se resolveu. Ele me contou a emoção que sentiu quando numa celebração viu
esses camponeses com mãos de camponeses colocarem suas vestes para concelebrar
com os bispos. Na história da Igreja isso se verificou. É algo a ser pensado e
sobre o qual rezar. Por fim, me esqueci de citar o Anglicanorum coetibus, de
Bento XVI, para os sacerdotes anglicanos que se tornaram católicos, mantendo
suas vidas como se fossem orientais. Lembro-me ter visto muitos deles com o
colarinho clerical e com mulheres e crianças numa audiência de quarta-feira.”
Pergunta: Durante a
Via-Sacra um jovem pronunciou palavras muito fortes sobre o aborto: “Há um
túmulo que brada ao céu e denuncia a terrível crueldade da humanidade, é o
túmulo que se abre no ventre das mães... Deus nos conceda defender com firmeza
a vida e fazer de modo que as leis que matam a vida sejam eliminadas para
sempre”. Trata-se de uma posição muito radical. Gostaria de saber se essa posição
respeita também o sofrimento das mulheres nesta situação e se corresponde à sua
mensagem de misericórdia.
Papa Francisco: “A mensagem da
misericórdia é para todos, inclusive para a pessoa humana que é gestante. Após
este falimento, há também a misericórdia. Mas uma misericórdia difícil, porque
o problema não é conceder o perdão, mas acompanhar uma mulher que tomou
consciência de ter abortado. São dramas terríveis. Uma mulher quando pensa
naquilo que fez... É preciso estar no confessionário, ali deve dar consolação e
por isso concedi a todos os padres a faculdade de absolver o aborto, por
misericórdia. Muitas vezes, mas sempre, elas devem “encontrar-se” com o filho.
Quando choram e têm essa angústia eu muitas vezes as aconselho assim: seu filho
está no céu, fale com ele, cante-lhe o nana neném que não pôde
cantar-lhe. E ali se encontra um caminho de reconciliação da mãe com o filho.
Com Deus já existe a reconciliação, Deus perdoa sempre. Mas ela também deve
elaborar o ocorrido. O drama do aborto, para ser bem entendido, você precisa
estar num confessionário. É terrível.”
Pergunta:O senhor disse
no Panamá fazer-se muito próximo dos venezuelanos e pediu uma solução justa e
pacífica, no respeito pelos direitos humanos de todos. Os venezuelanos querem
entender: o que significa? A solução passa mediante o reconhecimento de Juan
Guaidó que foi apoiado por muitos países? Outros pedem eleições livres em breve
tempo. O povo quer ouvir seu apoio, sua ajuda e seu conselho.
Papa Francisco: “Eu apoio neste
momento todo o povo da Venezuela porque está sofrendo, os de um lado e os do
outro. Se eu ressaltasse aquilo que diz este ou aquele país, estaria me
expressando sobre algo que não conheço, seria uma imprudência pastoral de minha
parte e seria danoso. As palavras que eu disse foram por mim pensadas e
repensadas. E creio que com elas expressei a minha proximidade, aquilo que
sinto. Eu sofro com o que está acontecendo neste momento na Venezuela e por
isso peço que haja uma solução justa e pacífica. O que me espanta é o
derramamento de sangue. E peço grandeza na ajuda por parte daqueles que podem
ajudar a resolver o problema. O problema da violência me aterroriza, após todo
o processo de paz na Colômbia, pensem naquele atentado outro dia na escola dos
cadetes, algo terrificante. Por isso devo ser... não gosto da palavra
“equilibrado”, quero ser pastor e se há necessidade de uma ajuda, que peçam de
comum acordo.”
Pergunta: Uma jovem
estadunidense contou-nos que durante seu almoço com os jovens o senhor lhe
falou da dor pela crise dos abusos. Muitos católicos estadunidenses se sentem
traídos e abatidos após as notícias de abusos e acobertamentos por parte de
alguns bispos. Quais são suas expectativas e esperanças para o encontro de
fevereiro, a fim de que a Igreja possa reconstruir a confiança?
Papa Francisco: “A ideia deste
encontro nasceu no C9 porque nós vimos que alguns bispos não entendiam bem ou
não sabiam o que fazer ou faziam uma coisa boa e outra errada. Sentimos a
responsabilidade de dar uma “catequese” sobre esse problema às conferências
episcopais e por isso os presidentes dos episcopados foram chamados. Primeiro:
que se tome consciência do drama, de que se trata de um menino ou uma menina
vítimas de abuso. Recebo regularmente pessoas vítimas de abuso. Recordo uma
pessoa: 40 anos sem poder rezar. É terrível, o sofrimento é terrível. Segundo:
que saibam o que deve ser feito, qual é o procedimento. Porque às vezes o bispo
não sabe o que fazer. É algo que cresceu muito forte e não chegou a todos os
lugares. E ademais, que sejam feitos programas gerais, mas que cheguem a todas
as conferências episcopais sobre aquilo que o bispo deve fazer, e aquilo que
devem fazer o arcebispo metropolitano e o presidente da conferência episcopal.
Que haja protocolos claros. Esse é o objetivo principal. Mas antes das coisas
que devem ser feitas, é preciso tomar consciência. No encontro se rezará,
haverá alguns testemunhos para se tomar consciência, alguma liturgia
penitencial para pedir perdão por toda a Igreja. Estão trabalhando bem na
preparação do encontro. Permito-me dizer ter percebido uma expectativa de certo
modo exagerada. É preciso moderar as expectativas em relação a estes pontos que
lhes disse, porque o problema dos abusos continuará, é um problema humano, em
todos os lugares. Outro dia li uma estatística. Diz: 50% dos casos é
denunciado, e somente para 5% destes casis há uma condenação. É terrível. É um
drama humano do qual tomar consciência. Também nós, resolvendo o problema na
Igreja, ajudaremos a resolvê-lo na sociedade e nas famílias, onde a vergonha
cobre tudo. Mas primeiro devemos tomar consciência e ter os protocolos.”
Pergunta: O senhor disse
que é absurdo e irresponsável considerar os migrantes como portadores do mal
social. Na Itália as novas políticas sobre os migrantes levaram ao fechamento
do centro de acolhida “Castelnuovo di Porto”, que o senhor conhece bem. No
Centro havia claros sinais de integração, as crianças frequentavam a escola e
agora correm o risco de marginalização.
Papa Francisco: “Ouvi falar
sobre o que estava acontecendo na Itália, mas estava imerso nesta viagem. Não
conheço os fatos com precisão, mas posso imaginá-los. É verdade, o problema é
muito complexo. É preciso memória. Devemos nos perguntar se a minha pátria é
formada por migrantes. Nós, argentinos, somos todos migrantes. Os Estados
Unidos, todos migrantes. Um bispo escreveu um artigo muito bonito sobre o
problema da falta de memória. Usou palavras que eu uso: receber, o coração
aberto para receber. Acompanhar, ajudar a crescer e integrar. O governante deve
usar a prudência, porque a prudência é a virtude dos que governam. É uma
equação difícil. Recorda-me o exemplo sueco, que nos anos 1970, com as
ditaduras na América Latina recebeu muitos imigrantes, e todos foram integrados
na sociedade. Recordo também do trabalho que é feito pela Comunidade de Santo
Egídio, por exemplo: preocupa-se em logo integrar os migrantes. Mas no ano
passado os suecos disseram: teremos que diminuir a entrada porque não
conseguimos completar o percurso de integração. E esta é a prudência do
governante. É um problema de caridade, de amor, de solidariedade. Reitero que as
nações mais generosas em receber foram a Itália e a Grécia e um pouco também a
Turquia. A Grécia foi muito generosa assim como a Itália, muito mesmo. É
verdade que se deve pensar com realismo. Também tem outra coisa: um modo de
resolver o problema das migrações é ajudar os países de onde vêm os migrantes.
Eles vêm por causa da fome ou da guerra. A Europa tem a possibilidade de
investir onde há fome, e este é um modo de ajudar aqueles países a crescerem.
Mas há sempre aquela imaginação popular que temos na inconsciência: a África
deve ser explorada! Isso pertence à história e faz mal! Os migrantes do Oriente
Médio encontraram outras saídas: O Líbano é uma maravilha em sua generosidade,
hospeda mais de um milhão de sírios. A Jordânia, faz o mesmo. E fazem o que
pode, tentando integrá-los. A Turquia também recebeu migrantes. Nós também, na
Itália recebemos alguns. É um problema complexo sobre o qual deve-se falar sem
preconceitos.”
“Agradeço a
todos pelo seu trabalho – concluiu o Papa – gostaria de dizer uma coisa sobre o
Panamá: ali senti um novo sentimento, veio-me esta palavra: o Panamá uma nação
nobre. Encontrei nobreza. E também gostaria de dizer outra coisa, que nós na
Europa, não vemos o que eu vi no Panamá. Vi pais que erguiam seus filhos nos
braços e diziam: esta é a minha vitória, este é o meu orgulho, este é o meu
futuro. No inverno demográfico que vivemos na Europa – e na Itália é abaixo de
zero – deve nos fazer pensar. Qual é o meu orgulho? O turismo, as férias, a
casa, o cachorrinho? Ou o filho?."
Na missa de
envio da JMJ do Panamá, Francisco alertou os jovens para o risco de pensar que
a vida seja uma promessa que vale só para o futuro, que nada tem a ver com o
presente.
Cidade do Vaticano - Na mesma
esplanada que acolheu 600 mil jovens para a festa da Vigília na noite anterior,
o Papa celebrou na manhã deste domingo (27/01) a missa campal de envio da
edição panamenha da Jornada Mundial da Juventude.
Chegando em
papamóvel ao Metro Park, Francisco foi recebido pelo Arcebispo de
Panamá,Dom José Domingo Ulloa Mendieta, e com ele a bordo, prosseguiu entre os
fiéis até a Sacristia do Campo São João Paulo II. Telões foram instalados em
pontos estratégicos do campo para uma melhor visibilidade das 600 mil pessoas
presentes. Na área destinada às autoridades, estavam os presidentes de 5 países
latino-americanos: Costa Rica, Colômbia, Guatemala, El Salvador e Honduras,
além do português Marcelo Rebelo de Souza.
Jesus e o
ceticismo da comunidade
Em sua homilia,
o Papa refletiu sobre ‘o agora de Deus’, tema apresentado no Evangelho de
Lucas:
Era o início da
missão pública de Jesus e na sinagoga, circundado por conhecidos e vizinhos,
Ele pronuncia publicamente as palavras “Cumpriu-se hoje”, que significavam a
presença de Deus, o tempo de Deus que torna justos e oportunos todos os espaços
e situações. Em Jesus, começa e faz-se vida o futuro prometido.
Mas nem todos
aqueles que lá O ouviram, se sentiam convidados ou convocados; não estavam
prontos para acreditar em alguém que conheciam e tinham visto crescer e que os
convidava a realizar um sonho há muito aguardado. E o mesmo acontece às vezes
também conosco, explicou o Papa:
“Nem sempre
acreditamos que Deus possa ser tão concreto no dia-a-dia, tão próximo e real, e
menos ainda que Se faça assim presente agindo através de alguém conhecido, como
um vizinho, um amigo, um parente”.
Não subestimar,
mas assumir
De fato,
prosseguiu Francisco, é comum comportarmo-nos como os vizinhos de Nazaré,
preferindo um Deus à distância: magnífico, bom, generoso mas distante e que não
incomode, porque um Deus próximo no dia-a-dia, amigo e irmão, nos pede para
aprendermos proximidade, presença diária e, sobretudo, fraternidade.
Francisco
alertou os jovens para o risco de pensar que a vida seja uma promessa que vale
só para o futuro, que nada tem a ver com o presente. Como se ser jovem fosse
sinônimo de uma ‘sala de espera’ para o futuro, considerando que o seu ‘agora’
ainda não chegou; que são jovens demais para se envolverem no sonho e na
construção do amanhã.
Criar um espaço
comum e lutar por ele
A este ponto, o
Papa recordou o recente Sínodo dos Jovens, celebrado em outubro passado, no
Vaticano, destacando como um de seus frutos “a riqueza da escuta entre
gerações, do intercâmbio e do valor de reconhecer que precisamos uns dos
outros; “que devemos esforçar-nos por promover canais e espaços onde nos
comprometamos a sonhar e construir o amanhã, já hoje, unidos, criando um espaço
em comum: um espaço que não nos é oferecido como um presente, nem o ganhamos na
loteria, mas um espaço pelo qual vocês também devem lutar”.
“Porque vocês,
queridos jovens, não são o futuro, mas o agora de Deus.”
“Ele os convoca
e os chama, em suas comunidades e cidades, para irem à procura dos avós, dos
mais velhos; para se erguerem de pé e, juntamente com eles, tomar a palavra e
realizar o sonho com que o Senhor os sonhou. Não amanhã; mas agora!”.
A missão com
Deus é a nossa vida
Incitando os
jovens a deixar-se apaixonar por Deus, sentindo que possuem uma missão,
Francisco concluiu sua homilia lembrando que o Senhor e sua missão não são um
‘entretanto’, uma coisa passageira, mas são ‘as nossas vidas’, e que o amor de
Deus é concreto, próximo e real:
“É alegria
festiva que nasce da opção de participar na pesca miraculosa da esperança e da
caridade, da solidariedade e da fraternidade frente a tantos olhares
paralisados e paralisadores por causa dos medos e da exclusão, da especulação e
da manipulação”.
Viver o amor
concretamente
Assim como
Maria, que não Se limitou a acreditar em Deus e nas suas promessas como algo
possível, mas acreditou em Deus e teve a coragem de dizer ‘sim’ para participar
neste agora do Senhor, devemos viver em concreto o nosso amor:
“Que o seu ‘sim’
continue a ser a porta de entrada para que o Espírito Santo conceda um novo
Pentecostes ao mundo e à Igreja” – foram as palavras conclusivas do Papa.
O 'obrigado' do
Papa
No final desta
celebração, Francisco agradeceu todas as autoridades civis, o arcebispo de
Panamá e os bispos do país e das nações vizinhas, por tudo o que fizeram em
suas comunidades para dar abrigo e ajuda a tantos jovens. O ‘obrigado’ do Papa
se dirigiu também a todas as pessoas que a apoiaram com a a oração e
colaboraram com dedicação e trabalho na realização da JMJ e principalmente, a
todos os jovens:
“Sua fé e
alegria fizeram vibrar o Panamá, a América e o mundo inteiro”
O último pedido
a todos foi para que regressem às suas paróquias e comunidades, famílias e
amigos e transmitam esta experiência, para que outros possam vibrar “com a sua
força e o seu sonho”.
Papa Francisco
recorda vítimas da tragédia em Brumadinho
"Confio
todas as pessoas falecidas à misericórdia de Deus e ao mesmo tempo expresso meu
afeto e minha proximidade espiritual aos familiares e a toda a população do
Estado de Minas Gerais", disse Francisco no Angelus deste domingo.
Cidade do
Vaticano - Após a oração
mariana do Angelus, deste domingo (27/01), no Lar do Bom Samaritano Juaz Díaz,
em Cidade do Panamá, o Papa Francisco recordou as vítimas do rompimento da
barragem Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), no final da manhã de
sexta-feira (25/01). Pelo menos 37 pessoas morreram.
O Pontífice
citou também a tragédia ocorrida no Estado mexicano de Hidalgo, onde a explosão
de um oleoduto perfurado ilegalmente mantou até o momento 114 pessoas.
“Desejo
expressar meus sentimentos de pesar pelas tragédias que atingiram os Estados de
Minas Gerais, no Brasil, e Hidalgo, no México. Confio à misericórdia de Deus
todas as pessoas falecidas. Ao mesmo tempo, rezo pelos feridos e expresso meu
afeto e proximidade espiritual a seus familiares e a toda a população.”
A presidência da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também manifestou sua
solidariedade para com as vítimas de Brumadinho, emitindo uma Nota de
Solidariedade, na tarde deste sábado (26/01), a respeito do fato ocorrido na
sexta-feira.
Na nota, os
bispos destacam que aquela tragédia recente e semelhante quando houve
rompimento de outra barragem em Mariana (MG) ensinou muito pouco.
Em nome do
episcopado brasileiro, os bispos da presidência se unem aos familiares das
vítimas e às comunidades para pedir: “As famílias e as comunidades esperam da
parte do Executivo rigor na fiscalização, do Legislativo, responsabilidade
ética de rever o projeto do Código de Mineração, e do Judiciário, agilidade e
justiça“.
A presidência
manifesta estar unida também com toda a família arquidiocesana de Belo
Horizonte e reforça o pedido do arcebispo, dom Walmor Oliveira: “É urgência
minimizar a dor dos atingidos por mais esse desastre ambiental, sem se esquecer
de acompanhar, de perto, a atuação das autoridades, na apuração dos responsáveis
por mais um triste e lamentável episódio, chaga aberta no coração de Minas
Gerais”.
No final da Nota
de Solidariedade, a Presidência da CNBB “oferece orações ao Senhor da Vida em
favor das famílias, das comunidades da Arquidiocese de Belo Horizonte, atingidas
pelo rompimento da barragem da mineradora Vale. Convidamos cada pessoa cristã a
se associar aos irmãos e irmãs que sofrem com a perda de seus entes queridos e
de seus bens“.
Leia a Nota, na
íntegra:
NOTA DE
SOLIDARIEDADE
“Toda a criação,
até o presente, está gemendo como que em dores de parto” (Rm 8, 22)
A tragédia em
Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, vem confirmar
a profecia de São Paulo VI: “Por motivo de uma exploração que não leva em
consideração a natureza, o ser humano começa a correr o risco de a destruir e
de vir a ser, também ele, vítima dessa degradação (Discurso à FAO,
(16/11/1970).
Por ocasião do
“Desastre de Mariana”, também em Minas Gerais, o Conselho Episcopal de Pastoral
da CNBB afirmava que “é preciso colocar um limite ao lucro a todo custo que,
muitas vezes, faz negligenciar medidas de segurança e proteção à vida das
pessoas e do planeta” (25/12/2015). “O princípio da maximização do lucro, que
tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceitual
da economia” (Laudato Sì, 195). Esse princípio destrói a natureza e a pessoa
humana.
É muito triste
constatar que o “desastre de Mariana” tenha ensinado tão pouco. É urgente que a
atividade mineradora no Brasil tenha um marco regulatório que retire do centro
o lucro exorbitante das mineradoras ao preço do sacrifício humano e da
depredação do meio ambiente, com a consequente destruição da biodiversidade. “O
meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e
responsabilidade de todos” (Laudato Sì, 95).
As famílias e as
comunidades esperam da parte do Executivo rigor na fiscalização, do
Legislativo, responsabilidade ética de rever o projeto do Código de Mineração,
e do Judiciário, agilidade e justiça.
Unidos à família
arquidiocesana de Belo Horizonte, assumimos como nossas as palavras do seu
Arcebispo Dom Walmor Oliveira de Azevedo: “É urgência minimizar a dor dos
atingidos por mais esse desastre ambiental, sem se esquecer de acompanhar, de
perto, a atuação das autoridades, na apuração dos responsáveis por mais um
triste e lamentável episódio, chaga aberta no coração de Minas Gerais. A
justiça seja feita, com lucidez e sem mediocridades que geram passivos, com
sentido humanístico e priorizando o bem comum, com incondicional respeito e
compromisso com os mais pobres” (25/01/2019).
A Presidência da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) expressa solidariedade e
oferece orações ao Senhor da Vida em favor das famílias, das comunidades da
Arquidiocese de Belo Horizonte, atingidas pelo rompimento da barragem da
mineradora Vale. Convidamos cada pessoa cristã a se associar aos irmãos e irmãs
que sofrem com a perda de seus entes queridos e de seus bens.
A esperança de
viver na “Casa Comum” anime os nossos passos, e a fé na ressurreição ilumine a
nossa dor!
Brasília-DF, 26
de janeiro de 2019
Cardeal Sérgio
da Rocha - Arcebispo de Brasília - Presidente da CNBB
Dom Murilo S. R.
Krieger, SCJ - Arcebispo de Salvador - Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo
Ulrich Steiner, OFM - Bispo Auxiliar de Brasília - Secretário-Geral da CNBB
O anúncio
oficial foi feito ao final da missa conclusiva da Jornada Mundial da Juventude
do Panamá, realizada neste domingo (27/01) no Campo São João Paulo II, no Metro
Park, na Cidade do Panamá. Lisboa vai sediar a próxima edição da JMJ.
Cidade do Vaticano - O Presidente do
Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Cardeal Kevin Farrell, anunciou
a próxima cidade que irá receber a Jornada Mundial da Juventude ao final da
missa conclusiva do evento do Panamá neste domingo (27/01), no Campo São João
Paulo II. A cidade de Lisboa, em Portugal, vai sediar a JMJ de 2022.
A preparação
para a próxima festa mundial dos jovens começa já nesta semana, segundo afirma
o Pe. José Manuel Pereira de Almeida, teólogo e vice-reitor da Universidade
Católica de Portugal: “será uma ocasião extraordinária ter os jovens do mundo
inteiro e o Papa aqui. Começamos a trabalhar já nesta semana!”.
Além da alegria
de receber a JMJ em Lisboa, seja pela realidade da Igreja que pela situação da
juventude local e também dos africanos de expressão portuguesa que podem chegar
facilmente ao país, Pe. José acredita que "devem trabalhar para que o
evento possa ser aquilo para o que é chamado ser: o encontro entre nós, com o
Papa e com o Senhor Jesus, que nos chama para estar presentes com coragem, com
fé e como serviço à vida e à esperança de todos".
O vice-reitor
também disse que o Papa vai encontrar em Portugal uma Igreja "de um lado
tradicional, ligada à fé simples das pessoas que, por exemplo, vê a mensagem de
Fátima como um gancho de segurança; mas vai encontrar a possibilidade de
renovar uma Igreja que gostaria de estar mais próxima do Evangelho, mais
simples, mais em sintonia com os apelos que o Papa nos faz. É uma Igreja dos
pobres, em saída, uma Igreja que espera ser, de fato, mais evangélica no dia a
dia. Comunidades pequenas, mas cheias de vida e sentido missionário",
finalizou o Pe. José.
Às 18h25 minutos
deste domingo, o avião levando o Papa Francisco para Roma decolou do Aeroporto
Internacional de Tocumen, concluindo assim a 26a Viagem Apostólica
Internacional de seu Pontificado.
Cidade do Panamá
- No final da tarde deste domingo, 27, o Papa deixou o Panamá para voltar ao Vaticano,
concluindo mais uma Viagem Apostólica internacional de seu Pontificado. E
deixou o Panamá com saudades. Este pequeno país da América Central
acolheu de braços abertos Francisco e os milhares de peregrinos de todas as
partes do mundo que vieram para a Jornada Mundial da Juventude. Uma visita
histórica e inesquecível, comentavam os panamenhos, pois - perguntavam-se
– quando e por que um Papa viria ao Panamá?, mesmo ainda estando na memória a
visita de São João Paulo II em março de 1985.
Realmente, um
pequeno país pelas dimensões, com pouco mais de 4 milhões de habitantes, canal
e ponte entre a América do Sul e o restante da América. Daqui partiu a
evangelização para o restante do continente e aqui foi ereta a primeira Diocese
em “terra firme”.
Pela
localização, a JMJ possibilitou uma maior presença de jovens vindos da
Nicarágua, Costa Rica, El Salvador, Venezuela, Colômbia, que vivem em muitos
casos com desafios semelhantes. Francisco veio como pai e pastor, trazer um
alento e um encorajamento especialmente à juventude deste lado do Oceano.
Uma palavra que
bem poderia resumir sua viagem é “esperança”, uma esperança levada por suas
palavras e gestos ao que parecia perdido, a esperança ao que parece não ter
saída. O fez, ao visitar o centro de recuperação de menores onde também ouviu
confissões e fez até mesmo correr lágrimas de jornalistas. O fez novamente ao
visitar o centro que acolhe doentes de aids e que não recebem apoio de suas
famílias e nem tem condições de pagar algum tratamento. Não julgou, não
repreendeu, simplesmente amou.
Em continuidade
ao Sínodo dos bispos de outubro, esta Jornada tinha um forte chamado
vocacional, como diz o próprio lema: “Eis-me aqui, faça-se em mim segundo a tua
vontade”. E “dizer sim ao Senhor é ter a coragem de abraçar a vida como vem,
com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas
contradições e insignificâncias, abraçá-la com amor”, disse ao jovens na
Vigília. “Damos também provas de que se abraça a vida, quando acolhemos tudo o
que não é perfeito, puro ou destilado, mas lá por isso não menos digno de
amor”, completou.
Nos dez
pronunciamentos – incluindo três homilias mais o Angelus – Francisco falou de
imigração, de pecados da Igreja, de dor, de miséria, de crianças não nascidas,
de violência contra a mulher, de corrupção: “é preciso ter a ousadia de
criar uma cultura de maior transparência entre governos, setor privado e
população.”
O Papa é
conhecedor das dificuldades enfrentadas pelos jovens. “São muitos os que dolorosamente
foram seduzidos com respostas imediatas que hipotecam a vida”, afirmou. Mas
também sabe do grande potencial de bem que há no ser humano e é este potencial
que busca despertar, para que num mundo nem sempre tão luminoso, possa brilhar
e se propagar esta luz, capaz de contrastar a indiferença, o egoísmo e a
mentira: os peregrinos da JMJ, “com seus gestos e atitudes, com seu olhar, seus
desejos e especialmente com sua sensibilidade, desmentem e desautorizam todos
os discursos que se concentram e se empenham em semear divisão, em excluir ou
expulsar ‘os que não são como nós’.”
Usando
expressões para chegar mais facilmente a seus interlocutores, Francisco disse
que Maria foi a maior ‘influencer’ da história, mesmo não usando redes sociais.
Na mensagem antes
da jornada, já havia dito que nossa vida só encontra sentido no serviço a Deus
e ao próximo. E ao agradecer aos voluntários antes de partir, disse que eles
quiseram “dar o melhor de si para tornar possível o milagre da multiplicação,
não só dos pães, mas da esperança. Precisamos multiplicar a esperança.”
JMJ é
peregrinação, é comunhão, é partilha, uma marca que fica no coração. A próxima,
será em Portugal 2022. Que até lá nós, e os milhares de jovens que aqui
estiveram, possam multiplicar a esperança.