Nossa Senhora da
Conceição Aparecida
Nossa Senhora da
Conceição Aparecida é a Padroeira do Brasil. A imagem foi encontrada em 1717
por uns pescadores, no rio Paraíba, e a devoção popular surgiu espontaneamente,
em função dos favores alcançados por intercessão de Maria Santíssima. A
primeira capela é de 1745. Em 1904 a imagem foi coroada solenemente. Recebeu a
“Rosa de Ouro” do Papa Paulo VI em 1967, e a nova Basílica foi dedicada por
João Paulo II em 4 de julho de 1980.
I. Os santuários da Virgem, sinais de Deus
Contam as
crônicas que em 1717 três pescadores, chamados João, Filipe e Domingos,
trabalhavam com as suas redes no rio, sem obter nenhum resultado. O governador
de Minas Gerais e de São Paulo ia passar por aquelas terras e os pescadores
haviam recebido ordem de levar tudo o que lhes caísse nas redes para o banquete
que se ia oferecer àquela autoridade.
Mãe de Deus e nossa, abençoai o povo brasileiro! |
Guardaram
piedosamente a imagem recém-aparecida entre os seus pertences e, confiando em
Nossa Senhora, lançaram outra vez as redes à água. Conta o cronista que, a
partir desse momento, a pesca foi tão abundante que tiveram receio de naufragar pelo
muito peixe que havia nas canoas.
Começou então a
veneração a essa imagem, guardada na casa de Filipe. Posta num oratório,
“ajuntava-se a vizinhança a cantar o terço e mais devoções”. Era o início de um
fervor popular que cresceria mais e mais com o passar do tempo, até dar origem
ao Santuário Nacional de Aparecida.
Incontáveis
peregrinos dirigem-se diariamente aos santuários dedicados a Nossa Senhora,
para encontrarem ali os caminhos de Deus ou neles se reafirmarem, para acharem
a paz de suas almas e consolo em suas aflições. Nesses lugares de oração, a
Virgem torna mais fácil e acessível o encontro com o seu Filho. Todo o
santuário converte-se em “uma antena permanente da Boa-Nova da Salvação”1.
Hoje celebramos
a festa de Nossa Senhora Aparecida, a que tantos cristãos recorreram e recorrem
para buscar auxílio, a fim de seguirem adiante no caminho da vida, que nem
sempre é fácil. Quantos encontraram ali a paz da alma, a chamada de Deus a uma
maior entrega, a cura, o consolo no meio de uma tribulação...! “O que buscavam
os antigos romeiros? O que buscam os peregrinos de hoje? Aquilo mesmo que
buscavam no dia, mais ou menos remoto, do seu Batismo: a fé e os meios para
alimentá-la. Buscam os sacramentos da Igreja, sobretudo a reconciliação com
Deus e o alimento eucarístico. E voltam revigorados e agradecidos à Senhora,
Mãe de Deus e nossa”2.
Não podemos
esquecer que peregrinamos em direção a uma meta bem concreta: o Céu. O fim de
uma viagem determina em boa parte o modo de viajar, os objetos que se levam, os
alimentos para o caminho... A Virgem Maria diz-nos a cada um de nós que não
devemos levar excessivos apetrechos nesta peregrinação da vida, nem vestes
demasiado pesadas, pois dificultariam a caminhada, e que devemos caminhar para
a casa do Pai em grandes passadas. Recorda-nos que não existem metas
definitivas aqui na terra e que tudo deve estar orientado para o fim desse
caminho, do qual talvez já tenhamos percorrido uma boa parte.
II. Nossa Senhora, esperança em qualquer necessidade
A virtude do
peregrino é a esperança; sem ela, deixaria de caminhar ou o faria com passo
cansado. A Virgem é a nossa esperança, pois alenta-nos a continuar adiante,
ajuda-nos a superar os momentos de desalento, acompanha-nos maternalmente nas
circunstâncias mais difíceis. Sempre que recorremos a Ela – ainda que seja com
a brevidade de uma jaculatória, ou com um olhar a uma imagem –, saímos
reconfortados.
A primeira
Leitura da Missa fala-nos da rainha Ester que se aproxima suplicante do
grande rei, e este põe à sua disposição todo o seu poder. Que petição é a
tua, para que te seja concedida? E que queres que se faça? Ainda que peças metade
do meu reino, tu a terás. E a rainha dirige-lhe o seu apelo: Ó rei, se eu
achei graça aos teus olhos, e se assim te apraz, concede-me a minha vida, pela
qual te rogo, e a do meu povo, pelo qual intercedo. É-nos muito fácil perceber
nesta rainha do Antigo Testamento a prefiguração da Rainha dos Céus,
intercedendo junto de Deus por nós, que somos seu povo e seus filhos. Confiamos
à intercessão de Maria as nossas necessidades, quer sejam pequenas, quer nos
pareçam muito grandes, as da nossa família, da Igreja e da sociedade. Diante de
Deus, Maria se referirá a nós dizendo que este é o meu povo, pelo qual
intercedo.
Nossa Senhora
foi motivo de alegria, de paz e de esperança para todos enquanto esteve
presente aqui na terra. No Sábado Santo, quando, com a morte de Jesus, a
escuridão mais completa desceu sobre o mundo, só ficou acesa a esperança de
Maria. Por isso, os Apóstolos reuniram-se sob o seu amparo. Agora, no Céu, “por
sua maternal caridade, cuida dos irmãos do seu Filho, que ainda peregrinam
rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à pátria feliz”4.
São Bernardo explica com beleza que a Virgem é o aqueduto que,
recebendo a graça da fonte que brota do coração do Pai, no-la distribui. Este
fluxo de água celestial desce sobre os homens “não todo de uma vez, mas gota a
gota [...] sobre os nossos corações ressequidos”5, segundo a nossa necessidade
e as nossas disposições para recebê-la.
A Virgem
reconforta-nos sempre e está presente quando necessitamos de proteção, pois
esta vida é como uma longa navegação em que padecemos ventos e tormentas. Ela é
o porto seguro, onde nenhuma nave naufraga6. Não deixemos cair na rotina essas
pequenas devoções com que nos dirigimos a Ela cada dia: oAngelus, o Santo
Rosário, as três Ave-Marias para pedir pela santa pureza de todos, a devoção do
escapulário... E quando fizermos alguma romaria, ou formos buscar a sua
intercessão em algum santuário ou ermida dedicada a Ela, acolhamo-nos
especialmente à sua misericórdia e amor.
III. Esperança e filiação divina
Como a
peregrinação da vida prossegue, pois não temos aqui morada permanente7, é
uma medida de prudência solicitarmos da nossa Mãe do Céu umas “provisões de
energia de que possamos valer-nos nas etapas posteriores”8 que ainda nos
falta percorrer. Um dos maiores inimigos do caminhante, o que tira mais forças,
é o desalento, a falta de esperança em chegar à meta. Não cai no desânimo quem
passa por dificuldades, mas quem deixa de aspirar à santidade e quem, depois de
um erro, de uma queda, não se levanta depressa e continua a caminhar.
Quem pôs a sua
esperança em Cristo vive dela, e traz já em si mesmo algo do gozo celestial que
o espera, pois a esperança é fonte de alegria e permite suportar com paciência
as dificuldades9; reza confiantemente e com consciência em todas as situações
da vida; suporta pacientemente a tentação, as tribulações e a dor; trabalha com
esforço pelo Reino de Deus, num apostolado eficaz, principalmente com aqueles
com quem se relaciona mais de perto... A esperança leva ao abandono em Deus, à
filiação divina, pois o cristão sabe que Ele conhece e conta com as situações
por que devemos passar: idade, doença, problemas familiares ou profissionais...
Sabe também que em cada situação teremos as ajudas necessárias para ir adiante.
E é a Virgem quem distribui essas ajudas e graças, quem as multiplica... Ela
estende-nos a mão depois de uma queda, de um momento de vacilação; facilita a
contrição pelas nossas faltas e põe no nosso coração os sentimentos do filho
pródigo.
Conta Santa
Teresa que, ao morrer a sua mãe, quando tinha uns doze anos, caiu na conta do
que realmente havia perdido, e “fui aflita – escreve a Santa – a uma imagem de
Nossa Senhora e supliquei-lhe com muitas lágrimas que me servisse de mãe. Penso
que esta prece, ainda que feita com simplicidade, me tem valido; pois
conhecidamente tenho achado esta Virgem Soberana em tudo aquilo em que me
encomendo a Ela, e finalmente me converteu a si”10. Com esta simplicidade e
confiança devemos recorrer a Nossa Senhora em cada uma das suas festas e
invocações. Recorremos hoje a Nossa Senhora Aparecida, pedindo-lhe que nos
ensine o caminho da esperança.
“Não cesseis, ó
Virgem Aparecida, pela vossa mesma presença, de manifestar nesta terra que o
Amor é mais forte que a morte, mais poderoso que o pecado! Não cesseis de
mostrar-nos Deus, que amou tanto o mundo, a ponto de entregar o seu Filho
Unigênito, para que nenhum de nós pereça, mas tenha a vida eterna! Amém!”
Luiz
Fernando Cintra
NOTAS
(1) João Paulo II, Aos
reitores dos santuários, 22-I-1981;
(2) idem, Homilia na
Basílica nacional de Aparecida, 4-VII-1980;
(3) Est 5, 1b-2; 7, 2b-3;
(4) Conc. Vat. II, Const. Lumen
gentium, 62;
(5) São Bernardo, Homilia na
natividade da Bem-aventurada Virgem Maria, 3-5;
(6) cfr. São João Damasceno, Homilia
na dormição da Bem-aventurada Virgem Maria;
(7) Hebr 13, 14;
(8) João Paulo II, Discurso
no Santuário de Nossa Senhora de Montserrat, 17-XI-1982;
(9) cfr. Col 1, 11-24;
(10) Santa Teresa, Vida, 1,
7;
(11) João Paulo II, Dedicação
da Basílica nacional de Aparecida, 4-VII-1980.
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Falar com Deus, vol. VII, Quadrante, São Paulo, 2005. Fonte: quadrante.com.br
Falar com Deus, vol. VII, Quadrante, São Paulo, 2005. Fonte: quadrante.com.br
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