Dom Leonardo
Ulrich Steiner, Secretário-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) fala ao Vatican News sobre as eleições presidenciais no Brasil, que deu
a vitória ao candidato Jair Bolsonaro. Para Dom Leonardo o fato de as eleições
terem corrido em um ambiente harmônico é um bom sinal “sinal de que os
brasileiros querem um país com convivência mais fraterna, mais irmã!”.
Futuro do Brasil
Quanto ao
futuro, do Brasil, depende de “como se comportará o Supremo Tribunal, o
Executivo e o Legislativo, são os três poderes que devem ajudar o Brasil”.
Porém, para o Bispo, “existe uma preocupação porque muitas das afirmações
durante o tempo das eleições não eram favoráveis aos indígenas, quilombolas,
pobres e aos direitos humanos”. Então tudo depende deste período pós eleição se
muda a linguagem e as atitudes.
Reconciliação e
comunhão
Dom Leonardo
acredita que “como sociedade brasileira da qual a CNBB faz parte, agora temos
um momento necessariamente de comunhão”. Recordando a nota da CNBB antes das
eleições diz que foi falado de “reconciliação”, várias entidades buscam
isso neste momento. “Depois da eleição busquemos defender a democracia com a
reconciliação”.
Democracia
Ao falar de
democracia, diz o bispo “fala-se no sentido de que as pessoas possam participar
ativamente, viver na liberdade, mas ao mesmo tempo ter políticas públicas em
benefício de todos, essa é a tarefa de toda a sociedade”.
Tempo de
estender a mão
Hoje no Brasil
existe divisões mas também tensões, e não só na sociedade, mas nas nossas
próprias famílias, por isso chegou o tempo de fazer um movimento “de estender a
mão, saber ouvir! O tempo das eleições foi um tempo que não soube ouvir, havia
a capacidade de agressão e não da palavra, não da escuta – diz o bispo – e esse
tempo da escuta e da palavra deve vir agora.
Abrir-se ao
diálogo
Ao comentar
sobre qual seria o papel da Igreja para que este Brasil dividido possa se
reencontrar, Dom Leonardo diz que não será uma tarefa fácil, depende da atitude
dos governantes, evidenciado que “quando um governo assume precisa ouvir a
sociedade, não se impor, senão os movimentos sociais começam a se manifestar ir
às ruas e isso leva a tensões e divisões maiores ainda. Por isso o Governo
precisa estender a mão e abrir-se ao diálogo”.
Papel da Igreja
Quanto ao papel
da Igreja para diminuir as divisões, Dom Leonardo confirma que a CNBB “nunca
indicou um candidato, mas foram indicados critérios para escolher um candidato.
Tais critérios são a democracia, diálogo, opção pelos pobres, defesa da vida em
todos os sentidos, não apenas a questão do aborto, mas fala-se de toda a
abrangência que a palavra vida tem, inclusive a questão do meio
ambiente. Porém, frisou Dom Leonardo, “como Igreja é preciso ajudar a articular
para o diálogo e criar um movimento dentro do Brasil, para que possamos sentar
todos juntos ao redor de uma mesa”. “É um trabalho difícil mas a Igreja não vai
se furtar a esta tarefa que o Evangelho nos confia, de criarmos uma
fraternidade. Fraternidade significa um rumo, um rumo que é de justiça, de
verdade e de amor.
Mensagem ao novo
Presidente
“Desejo a
Bolsonaro um bom governo, que ele possa governar para os brasileiros, para
todos os brasileiros, todos. Se ele o fizer, certamente terá feito um bom
governo”.
da sua missão e torna mais
vigoroso o seu testemunho
Inspirada no
exemplo da Igreja da Alemanha, que realiza duas campanhas anuais, a Igreja no
Brasil criou a Campanha para a Evangelização no tempo do advento, após ser
aprovada pela 35ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), em 1997. Na assembleia seguinte, a 36ª, a ideia saiu do papel e foi
realizada pela primeira vez no advento de 1998.
Despertar os
discípulos e as discípulas missionários para o compromisso evangelizador e para
a responsabilidade pela sustentação das atividades pastorais no Brasil está
entre os principais enfoques da Campanha deste ano, que acontece em sintonia
com a Exortação Apostólica do papa Francisco: Gaudete et Exsultate, sobre o
chamado à santidade no mundo atual, com o lema “Evangelizar partindo de
Cristo”.
Sua abertura
será realizada na Festa do Cristo Rei e Dia dos Cristãos Leigos e Leigas,
encerramento do Ano Litúrgico, no dia 25 de novembro. A conclusão acontece no
terceiro domingo do Advento, dia 16 de dezembro, quando deve ser realizada, em
todas as comunidades católicas, a Coleta para a Ação Evangelizadora no Brasil,
que pretende apoiar as inúmeras iniciativas da Igreja no Brasil no serviço da
evangelização, da dinamização das pastorais, na luta pela justiça social, nas
experiências missionárias das Igrejas irmãs e na missão ad gentes.
“Desejamos uma
boa Campanha para Evangelização com as bênçãos de Deus e a proteção de Maria,
mãe e seguidora de Jesus de Nazaré”, afirma a Comissão Episcopal da Campanha
para Evangelização.
Partilha
O gesto concreto
de colaboração na Coleta da Campanha para a Evangelização será partilhado,
solidariamente, entre as arquidioceses, dioceses e prelazias, que receberão 45%
dos recursos; os 18 regionais da CNBB que terão 20% e o Secretariado-geral da
CNBB que contará com 35% das contribuições.
“A Igreja no
Brasil, mais uma vez, faz um forte apelo para que nossas comunidades locais se
motivem na comunhão e na participação para que, por meio dessa partilha, muitas
iniciativas de evangelização sejam fortalecidas”, afirma a Comissão Episcopal
da Campanha para Evangelização.
Materiais
Os materiais da
Campanha para a Evangelização estão disponíveis para download no site da
Editora da CNBB (clique aqui).
Foi preparado o texto motivacional, o cartaz e a oração da CE.
Oração da CE
Deus, nosso Pai,
quereis a salvação de todos os povos da Terra.
Nós vos pedimos
que susciteis em nós o compromisso com a Evangelização, para que todos conheçam
a vida que de vós provém.
Nós vos pedimos
que nossos projetos evangelizadores sirvam para nossa santificação e da
sociedade inteira que, assim, será justa, fraterna e solidária.
Nós vos pedimos
que, em nossas comunidades e em toda a Igreja no Brasil, cresça o sentimento de
partilha e que, por meio da Coleta para a Evangelização e do testemunho de
comunhão, todas as comunidades recebam a força do Evangelho.
Por nosso Senhor
Jesus Cristo vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
É
revolucionário amar o cônjuge assim como Cristo amou a Igreja
Na Audiência
desta quarta-feira, Francisco completou sua reflexão sobre o sexto mandamento,
"não cometer adultério". "Amar é sair de si, é
descentralizar", afirmou.
Cidade do
Vaticano - Quarta-feira é dia de Audiência Geral no Vaticano. Cerca de 20 mil
fiéis participaram na Praça São Pedro do encontro semanal com o Pontífice.
Nesta
quarta-feira (31/10), o Papa Francisco completou a catequese sobre o sexto
mandamento, “não cometer adultério”, evidenciando que o amor fiel de Cristo é a
luz para viver a beleza da afetividade humana. O amor se manifesta na
fidelidade, no acolhimento e na misericórdia.
Revolução
No meio do povo
Este mandamento,
recordou o Papa, refere-se explicitamente à fidelidade matrimonial. Francisco
definiu como “revolucionário” o trecho da Carta de São Paulo aos Efésios lido
no início da Audiência, em que o Apóstolo afirma que o marido deve amar a
esposa assim como Cristo amou a Igreja. Levando em consideração a antropologia
da época, disse o Papa, “é uma revolução. Talvez, naquele tempo, é a coisa mais
revolucionária dita sobre o matrimônio”.
Por isso, é
importante refletir profundamente sobre o significado de esponsal, estando
ciente, porém, de que o mandamento da fidelidade é destinado a todos os
batizados, não só aos casados.
Amar é
descentralizar
De fato, o
caminho do amadurecimento humano é o próprio percurso do amor, que vai desde o
receber cuidados até a capacidade de oferecer cuidados; de receber a vida à
capacidade de dar a vida. Tornar-se adultos significa viver a atitude esponsal,
ou seja, capaz de doar-se sem medida aos outros.
Entrando para a Catequese
O infiel,
portanto, é uma pessoa imatura, que interpreta as situações com base no próprio
bem-estar. “Para se casar, não basta celebrar o matrimônio!”, recordou o Papa.
É preciso fazer um caminho do eu ao nós. De pensar sozinho, a pensar a dois. A
viver sozinho, a viver a dois. Descentralizar é uma atitude esponsal.
Por isso,
acrescentou Francisco, “toda vocação cristã é esponsal”, pois é fruto do laço
de amor com Cristo mediante o qual fomos regenerados. O sacerdote é chamado a
servir a comunidade com todo o afeto e a sabedoria que o Senhor doa.
A Igreja não
necessita de aspirantes ao papel de sacerdotes, “é melhor que fiquem em casa”,
mas homens cujo coração é tocado pelo Espírito Santo com um amor sem reservas
para a Esposa de Cristo. No sacerdócio, se ama o povo de Deus com toda a
paternidade, ternura e a força de um esposo e de um pai. O mesmo vale para quem
é chamado a viver a virgindade consagrada.
O corpo não é um
instrumento de prazer
“O corpo humano
não é um instrumento de prazer, mas o local da nossa chamada ao amor, e no amor
autêntico não há espaço para a luxúria e para a sua superficialidade. Os homens
e as mulheres merecem mais!”
O Papa concluiu
recordando que o sexto mandamento, mesmo em sua forma negativa – não cometer
adultério – nos oriente à nossa chamada originária, isto é, ao amor esponsal
pleno e fiel, que Jesus Cristo nos revelou e doou.
Dia de Finados
Ao final da
Audiência, o Papa recordou a celebração do Dia de Finados. “Que o testemunho de
fé dos que nos precederam reforce em nós a certeza de que Deus acompanha cada
um no caminho da vida, jamais abandona alguém a si mesmo, e quer que todos
sejamos santos, assim como Ele é santo.”
Depois do
Sínodo, ressoa com força o apelo do Papa para continuar a rezar pela Igreja, a
caminhar juntos, levando o Evangelho ao mundo, enquanto o demônio acusa e
divide: “é aquele que nos divide e nos separa de Deus”
Cidade do
Vaticano - Papa Francisco convidou a rezar o Terço no mês de outubro, invocando Nossa
Senhora e São Miguel Arcanjo, para pedir a Deus que proteja a Igreja dos ataques
do demônio. E no discurso de encerramento dos trabalhos sinodais, recomendou:
“Continuemos a fazê-lo", porque "é um momento difícil", o Grande
Acusador - referindo-se ao demônio - se aproveita dos pecados dos filhos da
Igreja para atacar a "Santa Mãe Igreja". Os filhos estão sujos, mas a
Mãe é Santa, "não deve ser sujada". "Este é o momento de
defender a Mãe; e se defende a Mãe do Grande Acusador com a oração e a
penitência".
As acusações
contra a Igreja se tornam "perseguição", como acontece com os cristãos
do Oriente, mas "há outro tipo de perseguição, com acusações contínuas
para sujar a Igreja. A Igreja não deve ser sujada, nós filhos somos todos
sujos", os filhos são pecadores, "mas a Mãe não, devemos defendê-la,
todos, e por isso eu pedi para todos rezarem o Terço neste mês de outubro, todos os dias, pela
unidade da Igreja” . “A Mãe deve ser defendida com oração e penitência”.
Os ataques ao
Papa e os “insensatos Gálatas”
Portanto o
sínodo concluiu-se, mas continua. Cada vez mais somos chamados a “caminhar
juntos” – este é o significado da palavra “sínodo” – unidos a Cristo e ao seu
Vigário, principalmente neste momento tão difícil para a Igreja. Unidos na
alegria e nos sofrimento, na esperança e no testemunho. Unidos na escuta
recíproca e na oração. Reparados do Mal sob o manto da Mãe de Deus. O Diabo é
aquele que nos divide e nos separa de Deus. Esse é o grande testemunho dos que
pensam em salvar a Igreja atacando o Papa.
Ainda hoje
ressoa a antiga advertência de São Paulo sobre os “Os insensatos Gálatas”:
convertidos ao cristianismo tinham sido convencidos de que a salvação viria
através da lei. É a tentação de sempre, a idolatria da lei que dá segurança.
“Mas os que
seguem cegamente a lei, na realidade não a obedecem, porque seguem fielmente as
normas recebidas - e no fundo para si mesmos, pensando em se salvar graças à
observância de tais normas - e se afastam dos que a entregaram”
Perde o espírito
da lei, perde a humanidade da lei, perde o rosto amoroso do autor da lei, Deus:
pensando em obedecê-lo.
A ilusão de se
considerar fiéis a Deus
Todo o drama dos
opositores do Papa encontra-se aqui: sem sabê-lo, estão se opondo a Jesus, que
continua a escandalizar os fariseus de todos os tempos, salvando e curando,
gratuitamente, por pura misericórdia. Jesus caminha entre nós e passa com a sua
graça: para acolhê-la não se pode parar (Lc 13, 1-35). O amor precisa de
movimento, caminha, como Abraão que pela fé deixou sua terra sem saber onde ir.
A fé cristã não é uma religião do Livro, de uma lei escrita, muda, imóvel (Catecismo da Igreja Católica, 108), mas é a religião da
Palavra de Deus, uma Palavra viva que continua a falar, diz coisas novas, que
antes não entendíamos, está sempre em movimento. É Jesus. Que deve ser seguido.
Para que não ficássemos limitados à lei e afastados d’Ele, Jesus nos deu um
homem, frágil como nós, frágil como Pedro, como seu Vigário.
“Seguir o Papa
é um ponto de referência, estável mas dinâmico, para continuar a seguir Jesus”
O Demônio quer
romper esta ligação para nos separar do Redentor, Aquele que doa a verdadeira
liberdade de amar. Eis o engano diabólico: trabalhar para o diabo acreditando
estar ao serviço de Deus.
A beleza de
caminhar juntos
O Sínodo acabou,
mas continua. Nos chama a testemunhar todos os dias a alegria do encontro com
Jesus. A beleza da unidade, no caminhar juntos, unidos ao Papa, na escuta do
Espírito Santo, repelindo as tentações daquele que quer dividir e acolhendo com
fé a oração de Jesus ao Pai “para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás
em mim e eu em ti” (Jo 17, 21).
“O
dia seguinte às eleições não é um conto de fadas”
Concluído o
processo eleitoral 2018, o arcebispo de Belo Horizonte (MG), dom Walmor
Oliveira de Azevedo chama a atenção, em artigo, para um aspecto: “As eleições
marcam o início de um novo ciclo, resultado da vontade dos cidadãos”. Para ele,
as eleições não têm força mágica, com o poder imediato de tudo mudar, mas
constituem um importante passo, na tarefa de se percorrer um longo caminho.
“Não se pode
acreditar na solução imediata dos problemas, simplesmente porque determinado
candidato venceu o pleito. O dia seguinte às Eleições não é um ‘conto de
fadas’. Para vencer seus muitos desafios, o povo brasileiro necessita buscar
respostas alicerçadas em um profundo humanismo, em princípios e valores
fundamentais conforme exige o sistema democrático”, disse.
O religioso
defende que é ilusória a possibilidade de se conquistar o bem comum fora dos
trilhos da democracia, por meio de escolhas unilaterais ou imposições. “A
participação cidadã, além de possibilitar a escolha dos representantes do povo
nas eleições, assegura aos governados a prerrogativa de acompanhar e direcionar
a atuação dos próprios governantes”, disse.
O sistema
democrático, recorda dom Walmor, oferece mecanismos para que o poder do Estado
não seja apropriado por interesses particulares ou objetivos ideológicos. “A
partir das eleições é necessário renovar a compreensão de que uma autêntica
democracia requer um Estado regido pelo Direito, sobre a base de uma rica
concepção do ser humano, conforme ensina a Doutrina Social da Igreja Católica”,
defende.
Compromisso com
a democracia – Os eleitos, acima de tudo, têm o compromisso de defender a
democracia, para além do mero respeito formal a determinadas regras. “É preciso
aceitar, com convicção, os valores que inspiram os procedimentos democráticos:
o zelo pelos direitos e pela dignidade humana, a busca do bem comum”, reforça.
Sem o consenso sobre a importância desses valores, a democracia perde a sua
estabilidade, defende dom Walmor.
Para o arcebispo
de Belo Horizonte (MG) é perigoso quando os representantes do povo, nos três
poderes, navegam no leito do relativismo ético que leva à manipulação de
valores, que passam a ser negociados, em vez de serem compreendidos como
critérios objetivos a serem respeitados. “Uma democracia sem princípios
converte-se, facilmente, em totalitarismo, aberto ou dissimulado”, disse.
Dom Walmor
defende que para se preservar o regime democrático é preciso agir em
conformidade com a lei moral, que é soberana e sustenta o indispensável
equilíbrio entre os poderes. Nesse horizonte, defende, espera-se competência
humanística daqueles que exercem o poder. “Assim se legitima a autoridade
perante o povo e se conquista credibilidade”, destaca.
Para corrigir as
deformações do sistema democrático – a corrupção política, a traição de
princípios morais e a inaceitável negociação da justiça social – dom Walmor
aponta que os partidos políticos devem ser capazes de favorecer a participação
cidadã, consolidando o entendimento da responsabilidade de todos pelos rumos da
sociedade em um sistema democrático. “É exigido qualificado desempenho dos que
ocupam cargos nos três poderes, mas também é indispensável a colaboração cidadã
de cada pessoa na definição dos rumos do país”.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Ser
testemunhas de Jesus, não doutrinaristas ou ativistas
"Obrigado
pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de
servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para
podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da
nossa vida: Jesus”: disse o Papa na Missa conclusiva do Sínodo.
Cidade do Vaticano - “Gostaria de
dizer aos jovens, em nome de todos nós, adultos: desculpai, se muitas vezes não
vos escutamos; se, em vez de vos abrir o coração, vos enchemos os ouvidos”: disse
o Papa Francisco na homilia da missa na manhã deste XXX Domingo do Tempo Comum,
celebrada na Basílica de São Pedro, no encerramento do Sínodo dos Bispos
dedicado aos jovens. Cerca de sete mil pessoas participaram da celebração.
Na homilia, o
Pontífice concentrou-se no Evangelho do dia, que nos traz o episódio da cura do
cego Bartimeu feita por Jesus, do qual em sua reflexão propôs algumas
indicações aos padres sinodais e aos jovens para o caminho de fé da Igreja.
Três passos
fundamentais no caminho da fé
Bartimeu é o
último que segue Jesus ao longo do caminho: “de mendigo na margem da estrada
para Jericó, torna-se discípulo que vai juntamente com os outros para
Jerusalém. Também nós caminhamos juntos, ‘fizemos sínodo’ e agora este
Evangelho corrobora três passos fundamentais no caminho da fé”: escutar,
fazer-se próximo e testemunhar, apontou o Santo Padre.
Escutar
“O primeiro
passo para ajudar o caminho da fé: escutar. É o apostolado do ouvido: escutar,
antes de falar”, ressaltou. Referindo à atitude de muitos que estavam com
Jesus, que repreenderam Bartimeu para que estivesse calado, disse que estes
“seguiam Jesus, mas tinham em mente os seus projetos”, e que este é um risco do
qual sempre devemos nos precaver.
Ao contrário,
para Jesus, o grito de quem pede ajuda não é um transtorno que estorva o
caminho, mas uma questão vital. Como é importante, para nós, escutar a vida! Os
filhos do Pai celeste prestam ouvidos aos irmãos: não às críticas inúteis, mas
às necessidades do próximo. Ouvir com amor, com paciência, como Deus faz
conosco, com as nossas orações muitas vezes repetitivas. Deus nunca Se cansa,
sempre Se alegra quando O procuramos. Peçamos, também nós, a graça dum coração
dócil a escutar, exortou Francisco.
Dirigindo-se aos
jovens, o Santo Padre disse com veemência:
“Como Igreja de
Jesus, desejamos colocar-nos amorosamente à vossa escuta, certos de duas
coisas: que a vossa vida é preciosa para Deus, porque Deus é jovem e ama os
jovens; e que, também para nós, a vossa vida é preciosa, mais ainda necessária
para se avançar.”
Fazer-se próximo
Depois da
escuta, o Papa apontou um segundo passo para acompanhar o caminho da fé:
fazer-se próximo.
Vejamos Jesus,
disse, “que não delega em ninguém da ‘grande multidão’ que O seguia, mas
encontra Ele pessoalmente Bartimeu. Diz-lhe: ‘Que queres que Eu faça por ti?’.
(...) É assim que Deus procede, envolvendo-Se pessoalmente com um amor de
predileção por cada um. Na sua maneira de proceder, ressalta já a sua mensagem:
assim a fé germina na vida”. A fé passa para a vida.
“Quando a fé se
concentra apenas em formulações doutrinárias, arrisca-se a falar apenas à
cabeça, sem tocar o coração. E quando se concentra apenas na ação, corre o
risco de tornar-se moralismo e reduzir-se ao social. Ao contrário, a fé é vida:
é viver o amor de Deus que mudou a nossa existência. Não podemos ser
doutrinaristas ou ativistas; somos chamados a levar para a frente a obra de
Deus segundo o modo de Deus, na proximidade: unidos intimamente a Ele, em comunhão
entre nós, próximo dos irmãos. Proximidade: aqui está o segredo para
transmitir, não algum aspeto secundário, mas o coração da fé.”
Francisco
prosseguiu fazendo uma advertência: “Sempre existe aquela tentação que
reaparece tantas vezes na Escritura: lavar as mãos, desinteressar-se. É o que
faz a multidão no Evangelho de hoje, é o que fez Caim com Abel, é o que fará
Pilatos com Jesus: lavar as mãos. Nós, pelo contrário, queremos imitar Jesus e,
como Ele, meter as mãos na massa, sujá-las. Ele, o caminho (cf. Jo 14, 6), por
Bartimeu deteve-Se ao longo da estrada; Ele, a luz do mundo (cf. Jo 9, 5),
inclinou-Se sobre um cego”.
Reconhecemos que
o Senhor sujou as mãos por cada um de nós e, fixando a Cruz, “recomecemos de
lá, da lembrança de Deus que Se fez meu próximo no pecado e na morte. Fez-Se
meu próximo: tudo começa de lá”, observou o Papa. “E, quando por amor d’Ele
também nós nos fazemos próximo, tornamo-nos portadores de vida nova: não
mestres de todos, não especialistas do sagrado, mas testemunhas do amor que
salva.”
Testemunhar
“Testemunhar é
o terceiro passo”, frisou o Santo Padre. “Não é cristão esperar que os irmãos
inquietos batam às nossas portas; somos nós que devemos ir ter com eles, não
lhes levando a nós mesmos, mas Jesus. Ele manda-nos, como aqueles discípulos,
para encorajar e levantar em seu nome. Manda-nos dizer a cada um: ‘Deus pede
para te deixares amar por Ele’.”
“Quantas vezes –
continuou Francisco –, em vez desta mensagem libertadora de salvação, nos
levamos a nós mesmos, as nossas ‘receitas’, as nossas ‘etiquetas’ na Igreja!
Quantas vezes, em vez de fazer nossas as palavras do Senhor, despachamos como
palavra d’Ele as nossas ideias! Quantas vezes as pessoas sentem mais o peso das
nossas instituições que a presença amiga de Jesus! Então aparecemos como uma
ONG, uma organização parestatal, e não como a comunidade dos redimidos que
vivem a alegria do Senhor.”
Ouvir, fazer-se
próximo, testemunhar
“A fé é questão
de encontro, não de teoria. No encontro, Jesus passa; no encontro, palpita o
coração da Igreja. Então serão eficazes, não as nossas homilias, mas o
testemunho da nossa vida.”
E a todos vós
que participastes neste ‘caminhar juntos’, concluiu Francisco, “digo obrigado
pelo vosso testemunho. Trabalhamos em comunhão e com ousadia, com o desejo de
servir a Deus e ao seu povo. Que o Senhor abençoe os nossos passos, para
podermos escutar os jovens, fazer-nos próximo e testemunhar-lhes a alegria da
nossa vida: Jesus.”
Três partes, 12
capítulos, 167 parágrafos, 60 páginas: assim se apresenta o documento final da
XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema "Os
jovens, a fé e o discernimento vocacional". O texto foi aprovado na tarde
de 27 de outubro na Sala do Sínodo. O documento foi entregue nas mãos do Papa,
que então autorizou a sua publicação.
Cidade do Vaticano - É o episódio dos
discípulos de Emaús, narrado pelo evangelista Lucas, o fio condutor do
Documento Final do Sínodo dos Jovens. Lido na Sala alternando vozes do relator
geral, cardeal Sérgio da Rocha, e os secretários Especiais, padre Giacomo Costa
e padre Rossano Sala, juntamente com Dom Bruno Forte, membro da Comissão para a
Redação do texto, o documento é complementar ao Instrumentum laboris do
Sínodo, do qual toma a subdivisão em três partes.
Acolhido com
aplausos, o texto - disse o cardeal Sérgio Da Rocha - é "o resultado de um
verdadeiro trabalho de equipe" dos Padres Sinodais, juntamente com os
outros participantes no Sínodo e "em modo particular os jovens." O
Documento, portanto, recolhe as 364 formas, ou emendas, apresentadas. "A
maior parte delas - acrescentou o Relator geral - foi precisa e
construtiva". Todos os parágrafos do texto foram aprovados com pelo menos
dois terços dos votos.
"Caminhava
com eles"
Em primeiro
lugar, portanto, o Documento Final do Sínodo olha para o contexto em que vivem
os jovens, destacando os pontos de força e desafios. Tudo parte de uma escuta
empática que, com humildade, paciência e disponibilidade, permite de dialogar
realmente com os jovens, evitando "respostas pré-concebidas e receitas
prontas". Os jovens, de fato, querem ser "ouvidos, reconhecidos,
acompanhados" e querem que sua voz seja "considerada interessante e
útil no campo social e eclesial". A Igreja nem sempre teve essa atitude,
reconhece o Sínodo: muitas vezes sacerdotes e bispos, sobrecarregados por
muitos compromissos, lutam para encontrar tempo para o serviço da escuta. Daí a
necessidade de preparar adequadamente também leigos, homens e mulheres, capazes
de acompanhar as jovens gerações. Diante de fenômenos como a globalização e a
secularização, além disso, os jovens movem-se em direção a uma
redescoberta de Deus e da espiritualidade e isso deve ser um estímulo para a
Igreja, para recuperar a importância do dinamismo da fé.
A escola e a
paróquia
Outra resposta
da Igreja às questões dos jovens vem do setor educacional: as escolas, as
universidades, as faculdades, os oratórios, permitem uma formação integral dos
jovens, oferecendo ao mesmo tempo um testemunho evangélico de promoção humana.
Em um mundo onde
tudo está conectado - família, trabalho, tecnologia, defesa do embrião e do
migrante - os bispos definem como insubstituível o papel desempenhado pelas
escolas e universidades onde os jovens passam muito tempo. As instituições
educacionais católicas, em particular, são chamadas a enfrentar a relação entre
a fé e as demandas do mundo contemporâneo, as diferentes perspectivas antropológicas,
os desafios técnico-científicos, as mudanças nos costumes sociais e o
compromisso com a justiça. Também a paróquia tem o seu papel: "Igreja no
território", é preciso um repensar na sua vocação missionária, pois muitas
vezes resulta pouco significativa e pouco dinâmica, especialmente na área da
catequese.
Migrantes, um
paradigma do nosso tempo
O documento
sinodal se concentra então no tema dos migrantes, "paradigma do nosso
tempo", como um fenômeno estrutural, e não uma emergência
transitória. Muitos migrantes são jovens ou menores desacompanhados, fugindo da
guerra, violências, perseguição política ou religiosa, desastres naturais,
pobreza e acabam se tornando vítimas de tráfico, drogas, abusos psicológicos e
físicos. A preocupação da Igreja é acima de tudo em relação a eles - diz o
Sínodo – na ótica de uma autêntica promoção humana que passa pela acolhida de
refugiados, e seja ponto de referência para tantos jovens separados de suas
famílias de origem. Mas não só: os migrantes - recorda o Documento - são também
uma oportunidade de enriquecimento para as comunidades e sociedades em que
chegam e que podem ser revitalizados por eles. Ressoam, portanto, os verbos sinodais
"acolher, proteger, promover, integrar" indicados pelo Papa Francisco
para uma cultura que supere a desconfiança e o medo. Os bispos também pedem
mais empenho em garantir àqueles que não desejam migrar, o direito de
permanecer em seu próprio país. A atenção do Sínodo também se dirige àquelas
Igrejas ameaçadas em sua existência, pela emigração forçada e pelas
perseguições sofridas pelos fiéis.
Firme
compromisso contra todo tipo de abuso. Dizer a verdade e pedir perdão
Bastante ampla,
também, a reflexão sobre os "diversos tipos de abuso" (de poder,
econômicos, de consciência, sexuais) feitos por alguns bispos, sacerdotes,
religiosos e leigos: nas vítimas – lê-se no texto – eles provocam sofrimentos que "podem durar toda a vida e aos quais nenhum arrependimento pode colocar remédio".
Daí o apelo do
Sínodo ao "firme compromisso com a adoção de rigorosas medidas de
prevenção que impeçam o repetir-se, a partir da seleção e da formação daqueles
a quem serão confiadas tarefas de responsabilidades e educativas". Por
conseguinte, será necessário extirpar as formas - como a corrupção e o
clericalismo – sob as quais estes tipos de abusos estão enraizados,
contrastando também a falta de responsabilidade e transparência com que muitos
casos foram geridos. Ao mesmo tempo, o Sínodo se diz agradecido a todos aqueles
que "têm a coragem de denunciar o mal sofrido", porque ajudam a
Igreja a "tomar consciência do que aconteceu e da necessidade de reagir
com decisão". "A misericórdia, de fato, exige a justiça". Mas
não devem porém ser esquecidos os numerosos leigos, sacerdotes, pessoas
consagradas e bispos que a cada dia se dedicam, com honestidade, a serviço dos
jovens, os quais podem verdadeiramente oferecer "uma ajuda preciosa"
para uma "reforma de dimensão epocal" nesta área.
A Família
"Igreja Doméstica"
Outros temas
presentes no Documento dizem respeito à família, principal ponto de referência
para os jovens, primeira comunidade de fé, "Igreja doméstica": o
Sínodo chama a atenção, em particular, ao papel dos avós na educação religiosa
e na transmissão da fé, e alerta para o enfraquecimento da figura paterna e
para aqueles adultos que assumem estilos de vida "juvenis".
Além da família, para os jovens, a amizade com os colegas é muito importante,
pois permite a partilha da fé e a ajuda recíproca no testemunho.
Promoção de
justiça contra "cultura de desperdício"
O Sínodo
concentra-se também em algumas formas de vulnerabilidade vividas pelos jovens
em vários setores: no trabalho, onde o desemprego torna as jovens gerações
pobres, minando a sua capacidade de sonhar; as perseguições até a morte; a
exclusão social por motivos religiosos, étnicos ou econômicos; as deficiências.
Diante dessa "cultura de descarte", a Igreja deve lançar um apelo à
conversão e à solidariedade, tornando-se uma alternativa concreta às situações
de dificuldade. Na frente oposta, não faltam áreas onde o comprometimento dos
jovens consegue se expressar com originalidade e especificidade: por exemplo, o
voluntariado, a atenção às questões ecológicas, o compromisso na política com a
construção do bem comum, a promoção da justiça, pela qual os jovens pedem à
Igreja "um compromisso firme e coerente".
Arte, música e
esporte, "recursos pastorais"
Também o mundo
do esporte e da música oferece aos jovens a possibilidade de expressarem-se da
melhor forma: no primeiro caso, a Igreja convida a não subestimar a
potencialidade educacional, formativa e inclusiva da atividade esportiva; no
caso da música, por outro lado, o Sínodo fala sobre sobre seu “ser recurso pastoral"
que interpela também a uma renovação litúrgica, porque os jovens têm o desejo
de uma "liturgia viva", autêntica, alegre, momento de encontro com
Deus e com o comunidade.
Os jovens
apreciam celebrações autênticas em que a beleza dos sinais, o cuidado da
pregação e o envolvimento da comunidade falem realmente de Deus":
portanto, precisam ser ajudados a descobrir o valor da adoração eucarística e a
compreender que" a liturgia não é puramente expressão de si mesma, mas
ação de Cristo e da Igreja".
As jovens
gerações, ademais, querem ser protagonistas da vida eclesial, colocando seus
talentos e assumindo responsabilidades. sujeitos ativos da ação pastoral, eles
são o presente da Igreja, devem ser encorajados a participar na vida eclesial,
e não impedidos com autoritarismo. Em uma Igreja capaz de dialogar de uma forma
menos paternalista e mais sincera, de fato, os jovens sabem ser muito ativos na
evangelização de seus coetâneos, exercendo um verdadeiro apostolado, que deve
ser apoiado e integrado na vida da comunidade.
"Seus olhos
se abriram"
Deus fala à
Igreja e ao mundo por meio dos jovens, que são um dos "lugares
teológicos" onde o Senhor está presente. Portadora de uma santa inquietude
que a torna dinâmica – lê-se na segunda parte do Documento – a juventude pode
estar "mais à frente dos pastores" e isso deve ser acolhida,
respeitada, acompanhada. Graças a ela, de fato, a Igreja pode se renovar,
sacudindo "o peso e a lentidão". Assim, o chamado do Sínodo para o
modelo de "Jesus jovem entre os jovens" e ao testemunho dos santos,
entre os quais estão muitos jovens, profetas da mudança.
Missão e vocação
Outra
"bússola segura" para a juventude é a missão, dom de si que leva a
uma felicidade verdadeira e duradoura: Jesus, de fato, não tira a liberdade,
mas a liberta, porque a verdadeira liberdade só é possível em relação à verdade
e à caridade. Intimamente relacionado com o conceito de missão, está aquele da
vocação: cada vida é vocação em relação com Deus, não é fruto do acaso ou um
bem privado para gerir por conta própria - afirma o Sínodo - e cada vocação
batismal é um chamado para todos para a santidade. Para isso, cada um deve
viver a própria vocação específica em cada área: a profissão, a família, a vida
consagrada, o ministério ordenado e o diaconato permanente, que representa um
"recurso" a ser ainda desenvolvido mais plenamente.
O acompanhamento
Acompanhar é uma
missão para a Igreja a ser realizada em um nível pessoal e de grupo: em um
mundo "caracterizado por um pluralismo sempre mais evidente e por uma
disponibilidade de opções cada vez mais ampla," buscar junto com os jovens
um percurso voltado a fazer escolhas definitivas é um serviço necessário. Os
destinatários são todos os jovens: seminaristas, sacerdotes ou religiosos em formação, noivos e recém-casados envolvidos. A comunidade eclesial é um lugar de relações e contexto em que na celebração eucarística se é tocados, instruídos e curados pelo próprio Jesus. O Documento Final enfatiza a
importância do Sacramento da Reconciliação na vida de fé e encoraja os pais,
professores, lideranças, animadores, sacerdotes e educadores a ajudar os
jovens, por meio da da Doutrina Social da Igreja, a assumir responsabilidades
no âmbito profissional e sócio-político. O desafio em sociedades cada vez mais
interculturais e plurirreligiosas, é indicar na relação com a diversidade uma
oportunidade para a comunhão fraterna e o enriquecimento mútuo.
Não a moralismos
e falsas indulgências, sim à correção fraterna
O Sínodo,
portanto, promove um acompanhamento integral centrado na oração e no trabalho
interior que valorize também a contribuição da psicologia e da psicoterapia,
quando abertas à transcendência. "O celibato pelo Reino" – é a
recomendação - deve ser entendido como um "dom a ser reconhecido e
verificado na liberdade, alegria, gratuidade e humildade", antes da
escolha definitiva. Que se invista e aposte em acompanhadores de qualidade:
pessoas equilibradas, de escuta, fé, oração, que tenham se deparado com as
próprias fraquezas e fragilidades, e sejam por isto acolhedoras "sem
moralismos e falsas indulgências", sabendo corrigir fraternalmente, longe
de comportamentos possessivos e manipuladores. "Esse profundo respeito –
lê-se o texto - será a melhor garantia contra os riscos de plágio e abusos de
qualquer tipos".
A arte de
discernir
"A Igreja é
o ambiente para discernir e a consciência – escrevem os Padres sinodais - é o
lugar onde se colhe o fruto do encontro e da comunhão com Cristo": o
discernimento, por meio de "um regular confronto com um diretor
espiritual", apresenta-se portanto como o sincero trabalho de
consciência", "pode ser entendido somente como autêntica forma de
oração” e “requer a coragem de empenhar-se na luta espiritual". Banco de
prova das decisões assumidas é a vida fraterna e o serviço aos pobres. De fato,
os jovens são sensíveis à dimensão dadiakonia.
“Partiram sem
demora"
Maria Madalena,
primeira discípula missionária, curada das feridas, testemunha da Ressurreição
é o ícone de uma Igreja jovem. Dificuldades e fragilidades dos jovens "nos
ajudam a ser melhores, seus questionamentos – lê-se - nos desafiam, as críticas
nos são necessárias porque muitas vezes através deles a voz do Senhor nos pede
conversão e renovação". Todos os jovens, mesmo aqueles com diferentes
visões de vida, nenhum excluído, estão no coração de Deus. Os Padres ressaltam
o dinamismo construtivo da sinodalidade, ou seja, o caminhar juntos: o final da
Assembleia e o Documento final são apenas uma etapa porque as condições
concretas e as necessidades urgentes são diferentes entre países e continentes.
Daí o convite às Conferências Episcopais e às Igrejas particulares para
prosseguir no processo de discernimento com o objetivo de elaborar soluções
pastorais específicas.
Sinodalidade,
estilo missionário
"Sinodal"
é um estilo para a missão que exorta a passar do “eu” ao “nós” e a considerar a
multiplicidade de rostos, sensibilidades, origens e culturas diferentes. Neste
horizonte são valorizados os carismas que o Espírito dá a todos, evitando o
clericalismo que exclui muitos dos processos de decisão e a clericalização dos
leigos, que freia o ímpeto missionário.
Que a autoridade
– são os votos - seja vivida a partir de uma perspectiva de serviço. Sinodal
seja também a abordagem ao diálogo inter-religioso e ecumênico destinado ao
conhecimento recíproco e à superação de preconceitos e estereótipos, e a
renovação da vida comunitária e paroquial, para que encurte as distâncias
jovens-igreja e mostre a íntima conexão entre fé e experiência concreta de
vida. Formalizado o pedido diversas vezes feito na Aula para instituir, em
nível de Conferências Episcopais, um "Diretório de pastoral da juventude
em chave vocacional”, que possa ajudar os responsáveis diocesanos e os agentes
locais a qualificar a sua educação e ação com e para os
jovens", contribuindo a superar uma certa fragmentação da pastoral
da Igreja. Reiterada ainda a importância da JMJ, bem como a dos centros da
juventude e oratórios, que precisam no entanto ser repensados.
O desafio
digital
Há alguns
desafios urgentes que a Igreja é chamada a enfrentar. O Documento Final do
Sínodo aborda a missão no ambiente digital: parte integrante da realidade
cotidiana dos jovens, "praça" em que eles passam muito tempo e se
encontram facilmente, um lugar irrenunciável para alcançar e envolver os jovens
também nas atividades pastorais, a web apresenta luzes e sombras.
Se por um lado
permite o acesso à informação, ativa a participação sociopolítica e a cidadania
ativa, por outro apresenta um lado obscuro - a assim chamada dark web -
em que se encontram a solidão, a manipulação, a exploração, a violência,
cyberbullying, pornografia. Daí o convite do Sínodo para habitar o mundo
digital, promovendo o seu potencial comunicativo em vista do anúncio cristão e
a "impregnar" de Evangelho as suas culturas e dinâmicas.
Faz-se votos de
que sejam criados Escritórios e organismos para a cultura e a evangelização
digital que, além de “favorecer a troca e e a disseminação de boas práticas,
possam gerenciar sistemas de certificação de sites católicos, para conter a
disseminação de notícias falsas (fake news) sobre a Igreja", emblema de
uma cultura que "perdeu o sentido da verdade", encorajando a promoção
de "políticas e instrumentos para a proteção dos menores na web".
Corpo,
sexualidade e carinho
Então, o
Documento enfoca o tema do corpo, da afetividade, da sexualidade: diante de
desenvolvimentos científicos que levantam questionamentos éticas, de fenômenos
como a pornografia digital, o turismo sexual, a promiscuidade, exibicionismo
online, o Sínodo recorda às famílias e às comunidades cristãs da importância de
fazer descobrir aos jovens que a sexualidade é um dom. Muitas vezes a moral
sexual da Igreja é percebida como "um espaço de juízo e condenação",
enquanto os jovens buscam "uma palavra clara, humana e empática" e
"expressam um explícito desejo de confronto sobre as questões relativas à
diferença entre identidade masculina e feminina, à reciprocidade entre homens e
mulheres, à homossexualidade".
Os bispos
reconhecem a dificuldade da Igreja em transmitir no atual contexto cultural
"a beleza da visão cristã da corporeidade e da sexualidade": é urgente
buscar "modalidades mais adequadas, que se traduzam concretamente na
elaboração de caminhos formativos renovados". "É preciso propor aos
jovens uma antropologia da afetividade e da sexualidade capaz de dar o justo
valor à castidade" para o crescimento da pessoa, “em todos os estados de
vida". Nesse sentido, é pedido que se preste atenção à formação de agentes
pastorais que sejam críveis e maduros do ponto de vista afetivo-sexual.
O Sínodo
constata ademais a existência de "questões relativas ao corpo, à
afetividade e à sexualidade que necessitam de uma elaboração antropológica,
teológica e pastoral mais aprofundada, a ser realizada nas modalidades e níveis
mais convenientes, daqueles locais aos mais universais. Entre estes
emergem aqueles relacionados à diferença e harmonia entre identidade masculina
e feminina e às inclinações sexuais".
"Deus ama
cada pessoa pessoas e assim faz a Igreja renovando seu compromisso contra
qualquer discriminação e violência com base sexual". Da mesma forma -
prossegue o Documento - o Sínodo "reafirma a determinante relevância
antropológica da diferença e reciprocidade homem-mulher e considera redutivo
definir a identidade das pessoas com base unicamente na sua orientação
sexual".
Ao mesmo tempo,
recomenda-se "favorecer" os "caminhos de acompanhamento na fé,
já existentes em muitas comunidades cristãs", de "pessoas
homossexuais". Nestes caminhos as pessoas são ajudadas a ler sua própria
história; a aderir livremente e responsavelmente ao próprio chamado batismal; a
reconhecer o desejo de pertencer e contribuir para a vida da comunidade; a
discernir as melhores formas para que isso se realize. Desta forma, se ajuda a
cada jovem, nenhum excluído, a integrar cada vez mais a dimensão sexual na
própria personalidade, crescendo na qualidade das relações e caminhando para o
dom de si".
Acompanhamento
vocacional
Entre outros
desafios apontados pelo Sínodo, encontra-se também a questão econômica: o
convite dos Padres é o de investir tempo e recursos nos jovens com a proposta
de oferecer a eles um período para o amadurecimento da vida cristã adulta, que
"deveria prever uma separação prolongada de ambientes e relações
habituais".
Além disso, enquanto se faz votos de um acompanhamento antes e depois do
casamento, se encoraja a criação de equipes educativas, que incluam figuras
femininas e casais cristãos, para a formação de seminaristas e consagrados,
também com o objetivo de superar tendências ao clericalismo. Atenção especial é
pedida à acolhida dos candidatos ao sacerdócio, que às vezes ocorre "sem
um conhecimento adequado e uma releitura aprofundada da própria história":
"a instabilidade relacional e afetiva, e a falta de raízes eclesiais são
sinais perigosos. Negligenciando a normativa eclesial a este respeito – escrevem
os Padres sinodais - constitui um comportamento irresponsável, que pode ter
consequências muito graves para a comunidade cristã".
Chamado à
santidade
"As
diversidades vocacionais - conclui o Documento Final do Sínodo sobre os jovens
– inserem-se no único e universal chamado à santidade. Infelizmente o mundo
está indignado com os abusos de algumas pessoas da Igreja, antes que animados
pela santidade de seus membros”. Por isso a Igreja é chamada a "uma
mudança de perspectiva": por meio da santidade de tantos jovens dispostos
a renunciar à vida em meio a perseguições para permanecerem fiéis ao Evangelho,
pode renovar seu ardor espiritual e seu vigor apostólico.
O dom do Papa
aos participantes do Sínodo
Por fim, como
recordação do Sínodo dos Jovens, o Santo Padre deu a todos os participantes um
painel de bronze em baixo-relevo, representando Jesus e o jovem discípulo
amado. É uma obra do artista italiano Gino Giannetti, cunhada pela Casa da
Moeda do Estado da Cidade do Vaticano, emitida em apenas 460 exemplares.
Os frutos deste
trabalho já estão “fermentando”, disse o Papa no Angelus, como acontece com o
suco da uva nos barris após a colheita. O Sínodo dos jovens foi uma boa
colheita, e promete um bom vinho, acrescentou Francisco.
Cidade do
Vaticano - O Sínodo foi sobretudo momento de escuta: de fato, ouvir requer
tempo, atenção, abertura da mente e do coração: disse o Papa Francisco ao rezar
ao meio-dia deste domingo (28/10) a oração do Angelus com milhares de
fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro, após ter celebrado pouco
antes, na Basílica Vaticana, a missa de conclusão do Sínodo dos Bispos dedicado
aos jovens. A alocução que precedeu a oração mariana foi quase toda ela dedicada
ao encontro sinodal.
Multiforme
realidade dos jovens entrou no Sínodo
Este compromisso
da escuta, continuou o Santo Padre, “se transforma todos os dias em consolação,
sobretudo porque tivemos em nosso meio a presença vivaz dos jovens, com suas
histórias e suas contribuições. Através dos testemunhos dos Padres sinodais, a
realidade multiforme das novas gerações entrou no Sínodo, por assim dizer, de
todas as partes: de todos os continentes e das várias situações humanas e
sociais”, ressaltou.
Com esta atitude
fundamental de escuta procuramos ler a realidade, colher os sinais destes
nossos tempos, frisou o Pontífice. Um discernimento comunitário, feito à
luz da Palavra de Deus e do Espírito Santo, acrescentou.
“Este é um dos
dons mais bonitos que o Senhor faz à Igreja católica, ou seja, colher vozes e
rostos das realidades mais variadas e assim poder tentar uma interpretação que
considere a riqueza e a complexidade dos fenômenos, sempre à luz do Evangelho.”
Caminhar juntos
mediante os muitos desafios de hoje
“Desse modo,
discutimos sobre como caminhar juntos através dos muitos desafios, como o mundo
digital, o fenômeno das migrações, o sentido do corpo e da sexualidade, o drama
das guerras e das violências, frisou o Pontífice.
Os frutos deste
trabalho já estão “fermentando”, disse, como acontece com o suco da uva nos
barris após a colheita. O Sínodo dos jovens foi uma boa colheita, e promete um
bom vinho, acrescentou.
Francisco
precisou que o primeiro fruto desta Assembleia deve estar no exemplo de um
método que se buscou seguir desde a fase preparatória.
“Um estilo
sinodal que não tem como objetivo principal a redação de um documento, embora
precioso e útil. Mais do que o documento, porém, é importante que se difunda um
modo de ser e trabalhar juntos, jovens e anciãos, na escuta e no
discernimento, para se chegar a escolhas pastorais correspondentes com a
realidade.”
Deus nos ajude a
apagar surtos de ódio
Na saudação aos
vários grupos de fiéis e peregrinos presentes na Praça São Pedro, o Pontífice
expressou proximidade à cidade de Pittsburgh, nos EUA, em particular, à
comunidade judaica, atingida no sábado por um terrível atentado à sinagoga.
“O Altíssimo
acolha os defuntos em sua paz, conforte suas famílias e sustente os feridos.
Todos, na realidade, somos feridos por este desumano ato de violência. O Senhor
nos ajude a apagar os surtos de ódio que se desencadeiam em nossas sociedades,
reforçando o sentido de humanidade, de respeito pela vida, os valores morais e
civis, e o santo temor de Deus, que é Amor e Pai de todos.”
Mártires
beatificados na Guatemala
O Papa lembrou
ainda a Beatificação, no sábado, na Guatemala, dos mártires José Tullio
Maruzzo, religioso dos Frades Menores, e Luis Obdulio Arroyo Navarro, mortos no
século passado por ódio à fé, durante a perseguição contra a Igreja,
comprometida em promover a justiça e a paz.
Carta dos Padres
Sinodais aos jovens do mundo inteiro
A Igreja e o
mundo precisam urgentemente do entusiasmo dos jovens. "Sejam companheiros
de estrada dos mais frágeis, dos pobres, dos feridos pela vida. Vocês são o
presente, sejam o futuro mais luminoso", exortam os Padres Sinodais na
Carta a eles endereçada, cujo texto integral publicamo a seguir.
Cidade do
Vaticano - Ao término da Missa de encerramento da XV Assembleia Geral Ordinária
do Sínodo dos Bispos dedicada aos jovens, presidida pelo Papa Francisco na manhã
deste domingo (28/10) na Basílica de São Pedro, antes da bênção final o
secretário geral do Sínodo, cardeal Lorenzo Baldisseri, leu a carta dos Padres
Sinodais aos jovens, a qual publicamos a seguir na íntegra:
XV Assembleia
Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos
Carta dos Padres
Sinodais aos jovens
A vocês, jovens
do mundo, nós Padres Sinodais nos dirigimos com uma palavra de esperança,
confiança e consolação. Nestes dias, nos reunimos para escutar a voz de Jesus,
“o Cristo, eternamente jovem”, e reconhecer Nele as vozes dos jovens e seus
gritos de exultação, lamentos e silêncios.
Sabemos de suas
buscas interiores, das alegrias e das esperanças, das dores e angústias que
fazem parte de sua inquietude. Agora, queremos que vocês escutem uma palavra
nossa: desejamos ser colaboradores de sua alegria para que suas expectativas se
transformem em ideais. Temos certeza de que com sua vontade de viver, vocês
estão prontos a se empenhar para que seus sonhos tomem forma em sua existência
e na história humana.
Que nossas
fraquezas não os desanimem, que as fragilidades e pecados não sejam um
obstáculo à sua confiança. A Igreja é sua mãe, não abandona vocês, está pronta
para acompanhá-los em novos caminhos, nas sendas mais altas onde o vento do
Espírito sopra mais forte, varrendo as névoas da indiferença, da
superficialidade, do desânimo.
Quando o mundo,
que Deus tanto amou a ponto de lhe doar seu Filho Jesus, é subordinado às
coisas, ao sucesso imediato e ao prazer, pisoteando os mais fracos, ajudem-no a
se reerguer e a dirigir seu olhar ao amor, à beleza, à verdade e à justiça.
Por um mês, nós
caminhamos juntos, com alguns de vocês e muitos outros unidos a nós com a
oração e o carinho. Desejamos continuar o caminho em todas as partes da terra
onde o Senhor Jesus nos envia como discípulos missionários.
A Igreja e o
mundo precisam urgentemente de seu entusiasmo. Sejam companheiros de estrada
dos mais frágeis, dos pobres, dos feridos pela vida.
Vocês são o
presente, sejam o futuro mais luminoso.