Não se deixe
vencer pelas paixões, não espere para converter seu coração a Deus. O Papa
Francisco, na homilia da missa matinal na Casa Santa Marta, convida a fazer
todos os dias o exame de consciência, uma breve avaliação das ações que
realizamos porque "nenhum de nós tem certeza de como a vida vai
acabar".
Cidade do Vaticano - Parar, tomar
consciência dos próprios fracassos, saber que o fim pode vir de um momento para
outro e não viver repetindo que a compaixão de Deus é infinita: uma justificativa
para fazer o que se quer. O Papa Francisco, na homilia da missa da manhã na
Casa Santa Marta, retoma "os conselhos" contido no Livro do
Eclesiástico e exorta a mudar o coração, a converter-se ao Senhor.
Domine as
paixões
"A
sabedoria é algo cotidiano": destaca Francisco, nasce da reflexão sobre a
vida e do parar para pensar como vivemos. Vem escutando as sugestões, como as
do Eclesiástico, que se assemelham às indicações "de um pai a um filho, de
um avô ao neto".
Não siga seus
instintos, sua força, seguindo as paixões do seu coração. Todos nós temos
paixões. Mas tenha cuidado, domine as paixões. Pegue-as na mão, as paixões não
são coisas ruins, são, por assim dizer, o "sangue" para realizar
muitas coisas boas, mas se você não for capaz de dominar suas paixões, elas
irão dominar você. Pare, pare.
Não adie a sua
conversão
O foco do Papa é
sobre a relatividade da vida. Ele cita o verso de um salmo que diz: "Ontem
eu passei – disse Francisco - e vi um homem; hoje voltei e não estava mais
ali". Nós não somos eternos - sublinha o Pontífice - não podemos pensar em
fazer o que queremos, confiando na misericórdia infinita de Deus.
Não seja tão
imprudente, de arriscar e crer que você vai se dar bem. "Ah, eu me dei bem
até agora, eu vou conseguir ...". Não. Você se deu bem, sim, mas agora não
sabe... Não diga: "a compaixão de Deus é grande, Ele irá perdoar os meus
muitos pecados", e assim eu continuo fazendo o que eu quero. Não diga
isso. E o último conselho desse pai, desse "avô", "Não espere
para se converter ao Senhor", não espere para se converter, para mudar de
vida, para aperfeiçoar a sua vida, para arrancar de você o joio ruim, todos nós
temos , devemos arrancá-lo ... "Não espere para se converter ao Senhor e
não adiar de dia em dia, porque de repente se manifestará a ira do Senhor
".
Cinco minutos
para mudar o coração
"Não espere
para se converter": este é o convite do Papa, que exorta a não adiar a
mudança de vida, a tocar com as mãos os fracassos e insucessos que cada um tem,
a não ter medo, mas a ser "mais soberano", mais capaz de dominar o que
nos apaixona.
Façamos este
pequeno exame de consciência todos os dias para nos convertermos ao Senhor:
"Mas amanhã tentarei fazer com que isso não aconteça mais".
Acontecerá, talvez, um pouco menos, mas você conseguiu governar e não ser
governado por suas paixões, pelas muitas coisas que nos acontecem, porque
nenhum de nós tem certeza de como sua vida terminará e quando terminará. Esses
5 minutos no final do dia nos ajudarão, nos ajudarão muito a pensar e a não
adiar a mudança do coração e a conversão ao Senhor. Que o Senhor nos ensine com
sua sabedoria a seguir esse caminho.
educa quem o invoca a não multiplicar palavras vazias
No percurso de
redescoberta da oração do Pai-Nosso, Francisco aprofundou com os fiéis a
primeira das sete invocações dessa oração: "Santificado seja o vosso
nome".
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco prosseguiu o seu ciclo de catequeses sobre o
Pai-Nosso, na Audiência Geral desta quarta-feira (27/02), que contou com
a participação de mais de dez mil pessoas, na Praça São Pedro. A catequese de hoje
teve como tema “Santificado seja o vosso nome”.
Nesse percurso
de redescoberta da oração do Pai-Nosso, o Papa aprofundou com os fiéis a
primeira das sete invocações dessa oração.
O Papa ressaltou
que as perguntas do Pai-Nosso são sete, divididas em dois grupos. “As primeiras
três têm no centro o “Vosso” de Deus Pai. As outras quatro têm no centro o
“nós” e as nossas necessidades humanas. Na primeira parte, Jesus nos faz entrar
em seus desejos, todos dirigidos ao Pai: “Santificado seja o vosso nome. Venha
a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade”. Na segunda parte é Ele que
entra em nós e torna-se intérprete de nossas necessidades: o pão nosso de cada
dia, o perdão dos pecados, a ajuda na tentação e a libertação do mal”.
Entrega de nós
mesmos a Deus
“Aqui está a
matriz de toda oração cristã, diria de toda oração humana, que é sempre feita,
por um lado, de contemplação de Deus, de seu mistério, de seu mistério, de sua
beleza e bondade e, por outro lado, de sinceros e corajosos pedidos do que
precisamos para viver e viver bem.
“Assim, em sua
simplicidade e essência, o Pai-Nosso educa que o invoca a não multiplicar
palavras vazias, porque, como Jesus mesmo disse, o «vosso Pai sabe do que
tendes necessidade antes de pedirdes a Ele».”
Atenção a todos
“Quando falamos
com Deus, não o fazemos para revelar a Ele o que temos em nossos corações: Ele
sabe muito melhor do que nós mesmos! Se Deus é um mistério para nós, nós não
somos um enigma aos seus olhos. Deus é como aquelas mães que bastam um olhar
para entender tudo sobre seus filhos: se estão felizes ou tristes, se são
sinceros ou escondem alguma coisa”, disse o Papa.
O primeiro passo
da oração cristã é a entrega de nós mesmos a Deus, à sua providência. É como
dizer: “Senhor, vós sabeis tudo, não precisa que eu vos conte a minha dor.
Peço-vos somente que estejais aqui perto de mim: vós sois a minha esperança”.
Santidade de
Deus deve refletir-se em nossas ações
“É interessante
notar que Jesus, no discurso da montanha, logo depois de ter ensinado o
“Pai-Nosso”, nos exorta a não nos preocupar com as coisas. Parece uma
contradição: primeiro, nos ensina a pedir o pão de cada dia e depois nos diz:
«Não fiquem preocupados, dizendo: o que vamos comer? O que vamos beber? O que
vamos vestir? Mas a contradição é apenas aparente: as perguntas do cristão
manifestam a confiança no Pai; e é justamente essa confiança que nos faz pedir
o que precisamos sem preocupação e agitação. É por isso que rezamos dizendo:
“Santificado seja o vosso nome!”
Cuidado e ternura
Segundo o Papa,
na primeira pergunta, “se sente a admiração de Jesus pela beleza e grandeza do
Pai, e o desejo que todos o reconheçam e o amem por aquilo que realmente é. Ao
mesmo tempo, a súplica para que o seu nome seja santificado em nós, em nossa
família, em nossa comunidade e no mundo inteiro. É Deus que santifica, que
nos transforma com o seu amor, mas ao mesmo tempo nós também, com o nosso
testemunho, manifestamos a santidade de Deus no mundo, tornando o seu nome
presente”.
“Deus é santo,
mas se nós, se a nossa vida não é santa, há uma grande incoerência! A santidade
de Deus deve refletir-se em nossas ações, em nossa vida. Sou cristão, Deus é
santo, mas eu faço coisas feias. Não. Isso não serve. Isso faz mal, escandaliza
e não ajuda”, disse ainda Francisco.
A oração afasta
o medo
“A santidade de
Deus é uma força em expansão, e nós o suplicamos para que quebre rapidamente as
barreiras do nosso mundo. Quando Jesus começa a rezar, o primeiro a pagar as
consequências é o mal que aflige o mundo. Os espíritos malignos maldizem: «O
que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para arruinar-nos? Sei quem tu és: o
santo de Deus!”
Zelo e carinho
“Nunca se viu
uma santidade assim”, frisou o Papa, “não preocupada consigo mesma, mas
orientada para fora. Uma santidade que se espalha em círculos concêntricos,
como quando se joga uma pedra no lago. O mal tem seus dias contados, o mal não
pode mais nos prejudicar: chegou o homem forte que toma posse de sua
casa. Esse homem forte é Jesus, que nos dá a força para tomar posse de
nossa casa interior”.
O Papa concluiu
a sua catequese, dizendo que “a oração afasta todo o medo”. O Pai nos ama, o
Filho está ao nosso lado, e o Espírito trabalha em segredo para a redenção do
mundo. “Não vacilemos na incerteza. Mas temos uma grande certeza: Deus me ama;
Jesus deu sua vida por mim! O Espírito está dentro de mim. Essa é a grande
certeza. E o mal? Tem medo.”
A presidência do
Regional Leste 2 (Minas Gerais e Espírito Santo) e os Bispos referenciais da
Comissão Episcopal de Pastoral (CEP) se reuniram na manhã desta terça-feira, 26
de fevereiro, no Palácio Episcopal, em Belo Horizonte (MG), para a primeira
reunião da CEP do ano de 2019. O evento contou com a presença do governador do
Estado de Minas Gerais, Romeu Zema.
Zema esteve
presente na reunião para falar, principalmente, sobre as questões ecológicas e
a mineração. O governador aproveitou o momento para informar que sancionou, na
segunda-feira (25), o Projeto de Lei 3.676/16, estabelecendo regras mais
rígidas para a atividade de mineração no Estado. “Em três anos, nenhuma
barragem construída a montante existirá mais em Minas Gerais, acredito que
colocamos um ponto final nesse tipo de fato que não pode mais acontecer,
afirmou Zema”
A reunião contou
com a presença do presidente do Regional Leste 2 e arcebispo metropolitano de
Uberaba, Dom Paulo Mendes Peixoto e o secretário e bispo diocesano de
Divinópolis, Dom José Carlos de Souza Campos. Representando as Comissões
Episcopais, os Bispos referenciais, Dom José Aristeu Vieira (Ministérios
Ordenados e Vida Consagrada), Dom José Lanza Neto (Ação Missionária e
Cooperação Interclesial), Dom Gil Antônio Moreira (Comunicação e Cultura), Dom
José Eudes Campos do Nascimento (Laicato), Dom José Luiz Majella Delgado
(Liturgia), Dom Edson José Oriolo dos Santos (Vida e Família), Dom Marco
Aurélio Gubiotti e Dom Aloísio Jorge Pena Vitral (Ação Social Transformadora).
Participou ainda da reunião o secretário-executivo do Regional Leste 2, Pe.
Roberto Marcelino de Oliveira.
Os demais
assuntos da pauta foram as questões administrativas e operacionais do
Secretariado Regional e o planejamento das próximas assembleias Regionais.
Converter-nos para fazer da criação um jardim, não um deserto
A criação clama
pela conversão dos filhos de Deus, escreve o Papa Francisco em sua mensagem
para a Quaresma 2019.
Cidade do
Vaticano - O tema da criação inspirou a mensagem do Papa Francisco para a
Quaresma de 2019.
O texto foi
divulgado esta terça-feira (26/02) na Sala de Imprensa da Santa Sé, com o
título “A criação encontra-se em expectativa ansiosa, aguardando a revelação
dos filhos de Deus”, extraído de Romanos 8,19.
O Pontífice
oferece algumas propostas de reflexão para acompanharem o caminho de conversão
nesta Quaresma.
A redenção da
criação
O Pontífice
destaca que a criação se beneficia da redenção do homem quando este vive como
filho de Deus, isto é, como pessoa redimida. Neste mundo, porém, adverte
Francisco, “a harmonia gerada pela redenção continua ainda – e sempre estará –
ameaçada pela força negativa do pecado e da morte”.
A força
destruidora do pecado
Com efeito,
prossegue o Papa, quando não vivemos como filhos de Deus, muitas vezes adotamos
comportamentos destruidores do próximo, das outras criaturas, mas também de nós
mesmos. Isso leva a um estilo de vida que viola os limites que a nossa condição
humana e a natureza nos pedem para respeitar, seguindo desejos incontrolados.
“Se não
estivermos voltados continuamente para a Páscoa, para o horizonte da
Ressurreição, é claro que acaba por se impor a lógica do tudo e imediatamente,
do possuir cada vez mais.”
A aparição do
mal no meio dos homens interrompeu a comunhão com Deus, com os outros e com a
criação, a ponto de o jardim se transformar num deserto.
Trata-se daquele
pecado que leva o homem a considerar-se como deus da criação, explica o Papa, a
sentir-se o seu senhor absoluto. Quando se abandona a lei de Deus, a lei do
amor, acaba por se afirmar a lei do mais forte sobre o mais fraco.
“O pecado,
manifestando-se como avidez, ambição desmedida de bem-estar, desinteresse pelo
bem dos outros – leva à exploração da criação (pessoas e meio ambiente),
movidos por aquela ganância insaciável que considera todo o desejo um direito e
que, mais cedo ou mais tarde, acabará por destruir inclusive quem está dominado
por ela.”
A força sanadora
do arrependimento e do perdão
Por isso, a
criação tem impelente necessidade que se revelem os filhos de Deus. E o caminho
rumo à Páscoa chama-nos precisamente a restaurar a nossa fisionomia e o nosso
coração de cristãos, através do arrependimento, a conversão e o perdão, para
podermos viver toda a riqueza da graça do mistério pascal.
A Quaresma chama
os cristãos a encarnarem, de forma mais intensa e concreta, o mistério pascal
na sua vida pessoal, familiar e social, particularmente através do jejum, da
oração e da esmola.
Jejuar, isto é, aprender
a modificar a nossa atitude para com os outros e as criaturas: passar da
tentação de «devorar» tudo para satisfazer a nossa voracidade, à capacidade de
sofrer por amor, que pode preencher o vazio do nosso coração. Orar, para saber
renunciar à idolatria e à autossuficiência do nosso eu, e nos declararmos
necessitados do Senhor e da sua misericórdia. Dar esmola, para sair da
insensatez de viver e acumular tudo para nós mesmos.
“Queridos
irmãos e irmãs, a ‘quaresma’ do Filho de Deus consistiu em entrar no deserto da
criação para fazê-la voltar a ser aquele jardim da comunhão com Deus. Que a
nossa Quaresma seja percorrer o mesmo caminho, para levar a esperança de Cristo
também à criação.”
“Não deixemos
que passe em vão este tempo favorável!”, é o apelo final do Papa.
Um mês após a
tragédia de rompimento da barreira de rejeitos em Brumadinho (MG) , os bispos
do regional Leste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
estiveram no município e puderam rezar com as famílias da vítimas nesta
segunda-feira (25). Vale lembrar que desde o primeiro dia a arquidiocese de
Belo Horizonte vem se fazendo presente e levando todo tipo de auxílio material
e espiritual aos sobreviventes e moradores do local.
Todos
participaram da bênção da pedra fundamental de um memorial em homenagem às
vítimas. Logo após, em procissão juntamente com os fiéis, foram até a Igreja de
São Sebastião onde participaram da Eucaristia presidida pelo Núncio Apostólico
no Brasil, dom Giovanni D'Aniello. Nos degraus que dão acesso ao presbitério da
igreja matriz foram colocadas as fotos de todas as vítimas da tragédia.
Memorial Minas
de Esperança
O projeto
arquitetônico do Memorial será apresentado à comunidade durante a Missa. Com
aproximadamente 20 metros de altura, terá cinco sinos, que tocarão sempre às
12h28, hora em que a barragem se rompeu.
Na base da
estrutura estarão os nomes de todas as vítimas, recebendo, diariamente, as
orações dos fiéis.
O Memorial Minas
de Esperança será edificado na Rua Alberto Cambraia, 140, em Brumadinho, no
Centro de Formação de Líderes da Arquidiocese de Belo Horizonte, no Vale do
Paraopeba.
“Justamente
quando a humanidade possui capacidades científicas e técnicas para alcançar um
bem-estar equitativamente difundido, observamos uma intensificação de conflitos
e um aumento das desigualdades", disse Francisco em seu discurso.
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (25/02),
na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes da assembleia plenária da
Pontifícia Academia para a Vida que celebra seus vinte e cinco anos de
fundação.
O Pontífice
frisou que por ocasião do aniversário, enviou ao presidente do organismo
vaticano, dom Vincenzo Paglia, no mês passado, a Carta Humana Communitas que
recorda explicitamente o tema das “tecnologias emergentes e convergentes”.
“O que me
motivou a escrever essa mensagem foi o desejo de agradecer todos os presidentes
que assumiram a liderança da Academia e todos os membros pelo serviço
competente e pelo compromisso generoso de tutelar e promover a vida
humana nesses vinte e cinco anos de atividades.”
Intensificação
de conflitos e um aumento das desigualdades
“Conhecemos as
dificuldades em que o nosso mundo se debate. O tecido das relações familiares e
sociais parece se desgastar cada vez mais e se difunde a tendência do fechar-se
em si mesmo e nos próprios interesses individuais, com graves consequências
sobre a «grande e decisiva questão da unidade da família humana e seu futuro»”,
disse Francisco, citando um trecho da Carta Humana Communitas.
Bênção à capelinha da Mãe e Rainha
O Papa chamou a
atenção para um paradoxo dramático: “Justamente quando a humanidade possui
capacidades científicas e técnicas para alcançar um bem-estar equitativamente
difundido, observamos uma intensificação de conflitos e um aumento das
desigualdades.”
“O
desenvolvimento tecnológico nos permitiu resolver problemas até poucos anos
insuperáveis. O “poder fazer” pode obscurecer quem faz e para quem se faz. O
sistema tecnocrático baseado no critério da eficiência não responde às questões
mais profundas que o homem se faz. Se de um lado não é possível dispensar seus
recursos, de outro ele impõe a sua lógica a quem o utiliza.”
A técnica é
característica do ser humano
“No entanto, a
técnica é característica do ser humano”, ressaltou o Papa, e “não deve ser
entendida como uma força que lhe é estranha e hostil, mas como um produto de
seu talento, que garante as exigências do viver para si e para os outros. É uma
modalidade especificamente humana de habitar o mundo.”
Papa Francisco, sempre afável
“No entanto, a
evolução atual da capacidade técnica produz um encanto perigoso: em vez de
entregar à vida humana os instrumentos que melhoram a sua cura, corre-se
o risco de entregar a vida à lógica de mecanismos que decidem seu valor. Essa
inversão está destinada a produzir resultados nefastos: a máquina não se limita
a dirigir-se sozinha, mas acaba guiando o homem. A razão humana é assim
reduzida a uma racionalidade alienada dos efeitos, que não pode ser considerada
digna do homem.”
Técnica a
serviço da humanidade
O Papa enfatizou
“os sérios danos causados ao planeta, nossa casa comum, pelo uso indiscriminado
de meios técnicos”, destacando que “a bioética global é uma frente importante
na qual trabalhar”.
Atenção às pessoas
“Ela expressa a
consciência da profunda incidência dos fatores ambientais e sociais sobre a
saúde e a vida. Tal abordagem está em sintonia com a ecologia integral,
descrita e promovida na Encíclica Laudato si'”, sublinhou.
“A inteligência
artificial, robótica e outras inovações tecnológicas devem ser usadas a fim de
contribuir para o serviço da humanidade e para a proteção de nossa Casa comum,
e não para o exato oposto, como infelizmente, preveem algumas estimativas. A
dignidade inerente de todo ser humano deve estar firmemente colocada no centro
de nossa reflexão e ação.”
Aliança ética em
favor da vida humana
Francisco
sublinhou que “é real o risco de o homem ser tecnologizado, em vez de a
técnica ser humanizada”. “São atribuídas às “máquinas inteligentes”
capacidades que são propriamente humanas”, ressaltou.
Acolhimento e afeto
Segundo o Papa,
o “nosso compromisso, intelectual e especialista, será um ponto de honra para
nossa participação na aliança ética em favor da vida humana”.
“Um projeto que
agora, num contexto em que mecanismos tecnológicos cada vez mais
sofisticados envolvem diretamente as qualidades humanas do corpo e da psique,
torna-se urgente partilhar com todos os homens e mulheres comprometidos com a
pesquisa científica e com o trabalho de cura. É uma tarefa difícil, certamente,
dado o ritmo acelerado da inovação.”
Francisco
concluiu, incentivando a todos a “prosseguir no estudo e na pesquisa a fim de
que a obra de promoção e defesa da vida seja cada vez mais eficaz e fecunda”.
Dimensão regional e universal em debate no Vaticano
O presidente da
Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Cardeal Cláudio Hummes, participa do
seminário no Vaticano e foi recebido pelo Papa Francisco na manhã de
segunda-feira.
Cidade do Vaticano - “Rumo ao Sínodo
especial para a Amazônia: dimensão regional e universal”: este é o título do
seminário de três dias que teve início esta manhã (25/02) em Roma.
Organizado pelo
Secretaria Geral do Sínodo, o evento se realiza no Instituto Maria Bambina, ao
lado da colunata de Bernini, com a participação dos presidentes das
Conferências Episcopais da região amazônica, bispos e especialistas
provenientes também de outras áreas geográficas.
Com a presença
de representantes de outros países, será possível evidenciar a relação entre a
situação eclesial e ambiental específica da Amazônica e outros contextos
territoriais semelhantes.
No primeiro dia,
serão examinados alguns aspectos eclesiais e pastorais à luz da Exortação
Apostólica Evangelii Gaudium; no segundo dia, serão debatidas questões
relacionadas com a promoção da ecologia integral no horizonte da Encíclica Laudato
si’; no último dia, será feita uma síntese das perspectivas emergidas e uma
comunicação sobre o caminho de preparação ao Sínodo de outubro.
O tema do
seminário, “dimensão regional e universal”, foi o aspecto ressaltado pelo
presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Cardeal Cláudio Hummes,
entrevistado por Cristiane Murray:
Eu creio que
realmente é muito importante porque estamos preparando agora já mais de perto o
Sínodo. Já terminou a fase da consulta, já fizemos as sínteses e agora se trata
de aprofundar. E como sabemos que o Papa acentuava, é necessário fundamentar
bem cientificamente, teologicamente, biblicamente, culturalmente. Então este
seminário aqui é realmente especializado para isso. Creio que será um bom
contributo e também universaliza cada vez mais o próprio Sínodo, que deve ser também
universal, mas em primeiro lugar diretamente para a Pan-amazônia, e tem sua
repercussão universal.
Audiência e data
Esta manhã, Dom
Cláudio e os membros da Repam foram recebidos em audiência pelo Papa Francisco.
No final da manhã, foi divulgada a data do evento em outubro:
"A
Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos comunica que o Santo Padre Francisco
convocou a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica
de domingo 6 a domingo 27 de outubro de 2019, para refletir sobre o tema 'Amazônia:
novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral'."
Como vem ocorrendo nos últimos anos, a Secretaria de Pastoral da Arquidiocese de Pouso Alegre disponibiliza às paróquias a partir desta semana o subsídio para formação paroquial do primeiro semestre de 2019. As reflexões são escritas pelos membros da Comissão de Formação Permanente da Arquidiocese.
É uma proposta de encontros mensais com todas as lideranças paroquiais. A paróquia tem a liberdade de escolher o melhor dia e horário para realizar os encontros de formação.
"Sem formação permanente as prioridades assumidas na Nona Assembleia Arquidiocesana ficarão destruídas e até mesmo podem falecer. Por isso, a nossa insistência em propor alimento tão sagrado para a vida pastoral de nossa Igreja que é a formação. Portanto, entendemos que a formação é condição sem a qual o projeto da ação evangelizadora criará vida", explicou o coordenador de pastoral, padre Mauro Ricardo de Freitas.
Capa do subsídio
Ainda segundo o coordenador, o material proposto não pode ser um limitador da criatividade paroquial. Porém, as paróquias devem se esforçar para aproveitá-lo da melhor maneira possível em comunhão com a Arquidiocese e seu plano de ação.
"Os quatro encontros devem ser realizados até o mês de julho. O primeiro encontro tem por tem a o evangelho de Lucas. A motivação deste encontro é auxiliar nos encontros de círculos bíblicos e também a liturgia no 'ano C', com os evangelhos dominicais. O segundo encontro será a oportunidade de avançar um pouco mais na prioridade, comunidade de fé a serviço das famílias. No terceiro encontro somos convidados a revisitar aspectos importantes da Doutrina Social da Igreja e impulsionar a prioridade, comunidade de fé a serviço da vida plena para todos. O quarto encontro, em comunhão com a caminhada rumo aos 120 anos da Arquidiocese, seremos convidados a mergulhar no chamado à santidade e vivência da caridade como a melhor forma de fazer pastoral", finalizou.
As informações sobre os conteúdos e planejamento dos encontros de formação você encontra na secretaria de sua paróquia.
Diante do
mistério do mal, proteger os menores dos lobos vorazes
O «significado»
existencial deste fenômeno criminoso, "tendo em conta a sua amplitude e
profundidade humana, só pode ser a manifestação atual do espírito do mal. Sem
ter presente esta dimensão, permaneceremos longe da verdade e sem verdadeiras
soluções (...). Estamos perante uma manifestação do mal, descarada, agressiva e
destruidora (...), que no seu orgulho e soberba, se sente o dono do mundo e
pensa que venceu", alertou o Papa em seu discurso.
Cidade do
Vaticano - O Papa Francisco presidiu na manhã deste domingo, 24, na Sala Régia
do Palácio Apostólico, a Santa Missa com os presidentes das Conferências
Episcopais de todo o mundo e superiores de Congregações, presentes no Encontro
sobre a Proteção dos Menores e Adultos Vulneráveis na Igreja. Eis seu pronunciamento:
"Amados
irmãos e irmãs!
Ao dar graças ao
Senhor que nos acompanhou nestes dias, quero agradecer também a todos vós pelo
espírito eclesial e o empenho concreto que manifestastes com tanta
generosidade.
O nosso trabalho
levou-nos a reconhecer, uma vez mais, que a gravidade do flagelo dos abusos
sexuais contra menores é um fenômeno historicamente difuso, infelizmente, em
todas as culturas e sociedades. Mas, apenas em tempos relativamente recentes,
se tornou objeto de estudos sistemáticos, graças à mudança de sensibilidade da
opinião pública sobre um problema considerado tabu no passado, ou seja, todos
sabiam da sua existência, mas ninguém falava nele. Isto traz-me à mente também
a prática religiosa cruel, difusa no passado em algumas culturas, de oferecer
seres humanos – frequentemente crianças – como sacrifícios nos ritos pagãos.
Todavia, ainda hoje, as estatísticas disponíveis sobre os abusos sexuais contra
menores, compiladas por várias organizações e organismos nacionais e
internacionais (Oms, Unicef, Interpol, Europol e outros), não apresentam a
verdadeira extensão do fenômeno, muitas vezes subestimado, principalmente
porque muitos casos de abusos sexuais de menores não são denunciados, sobretudo
os numerosíssimos abusos cometidos no interior da família.
De fato, as
vítimas raramente desabafam e buscam ajuda. Por trás desta relutância, pode
estar a vergonha, a confusão, o medo de retaliação, os sentimentos de culpa, a
difidência nas instituições, os condicionalismos culturais e sociais, mas
também a falta de informação sobre os serviços e as estruturas que podem
ajudar. Infelizmente, a angústia leva à amargura, e mesmo ao suicídio, ou por
vezes a vingar-se, fazendo o mesmo. A única coisa certa é que milhões de
crianças no mundo são vítimas de exploração e de abusos sexuais.
Seria importante
referir os dados gerais – na minha opinião, sempre parciais – a nível global e
sucessivamente a nível da Europa, da Ásia, das Américas, da África e da
Oceânia, para ter um quadro da gravidade e profundidade deste flagelo nas
nossas sociedades. Para evitar discussões desnecessárias, quero antes de mais
nada salientar que a menção de alguns países tem por único objetivo citar os
dados estatísticos referidos nos citados Relatórios.
A primeira
verdade que resulta dos dados disponíveis é esta: quem comete os abusos,
ou seja, as violências (físicas, sexuais ou emotivas) são sobretudo os
pais, os parentes, os maridos de esposas-meninas, os treinadores e os
educadores. Além disso, segundo os dados Unicef de 2017 relativos a 28 países
no mundo, em cada 10 meninas-adolescentes que tiveram relações sexuais
forçadas, 9 revelam que foram vítimas duma pessoa conhecida ou próxima da
família.
De acordo com os
dados oficiais do governo americano, nos Estados Unidos mais de 700.000 crianças
são, anualmente, vítimas de violência e maus tratos. Segundo o Centro
Internacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas (Icmec), uma em cada 10
crianças sofre abuso sexuais. Na Europa, 18 milhões de crianças são vítimas de
abusos sexuais.
Se tomarmos o
exemplo da Itália, o relatório 2016 de «Telefone Azul» salienta que 68,9%
dos abusos acontece dentro das paredes domésticas do menor.
Palco de
violências não é apenas o ambiente doméstico, mas também o do bairro, da
escola, do desporto e, infelizmente, também o ambiente eclesial.
Dos estudos
realizados, nos últimos anos, sobre o fenômeno dos abusos sexuais contra
menores, resulta também que o desenvolvimento da web e dos mass-media
contribuiu para aumentar significativamente os casos de abusos e violências
perpetrados on-line. A difusão da pornografia cresce rapidamente no mundo
através da internet. O flagelo da pornografia assumiu dimensões assustadoras,
com efeitos deletérios sobre a psique e as relações entre homem e mulher, e
entre estes e os filhos. Um fenômeno em crescimento contínuo. Uma parte
considerável da produção pornográfica tem, infelizmente, por objeto os menores,
que deste modo ficam gravemente feridos na sua dignidade. Estudos neste campo
documentam que isto acontece sob formas cada vez mais horríveis e violentas;
chega-se ao extremo dos atos de abuso sobre menores comissionados e seguidos ao
vivo através da internet.
Lembro aqui o
Congresso internacional realizado em Roma sobre o tema da dignidade da criança
na era digital; bem como o primeiro Fórum da Aliança Inter-religiosa para
Comunidades mais Seguras, que teve lugar, sobre o mesmo tema, no passado mês de
novembro, em Abu Dhabi.
Outro flagelo é
o turismo sexual: anualmente, segundo os dados 2017 da Organização Mundial
de Turismo, três milhões de pessoas no mundo viajam para ter relações
sexuais com um menor. Fato significativo é que, na maior parte dos casos, os
autores de tais crimes não sabem que estão a cometer um reato.
Estamos, pois,
diante dum problema universal e transversal que, infelizmente, existe em quase
toda a parte. Devemos ser claros: a universalidade de tal flagelo, ao mesmo
tempo que confirma a sua gravidade nas nossas sociedades, não diminui a sua
monstruosidade dentro da Igreja.
A desumanidade
do fenômeno, a nível mundial, torna-se ainda mais grave e escandalosa na
Igreja, porque está em contraste com a sua autoridade moral e a sua
credibilidade ética. O consagrado, escolhido por Deus para guiar as almas à
salvação, deixa-se subjugar pela sua fragilidade humana ou pela sua doença,
tornando-se assim um instrumento de satanás. Nos abusos, vemos a mão do mal que
não poupa sequer a inocência das crianças.
Não há
explicações suficientes para estes abusos contra as crianças. Com humildade e
coragem, devemos reconhecer que estamos perante o mistério do mal, que se
encarniça contra os mais frágeis, porque são imagem de Jesus. É por isso que
atualmente cresceu na Igreja a consciência do dever que tem de procurar não só
conter os gravíssimos abusos com medidas disciplinares e processos civis e
canônicos, mas também enfrentar decididamente o fenômeno dentro e fora da
Igreja. Sente-se chamada a combater este mal que atinge o centro da sua missão:
anunciar o Evangelho aos pequeninos e protegê-los dos lobos vorazes.
Quero repetir
aqui claramente: ainda que na Igreja se constatasse um único caso de abuso – o
que em si já constitui uma monstruosidade –, tratar-se-á dele com a máxima
seriedade. De fato, na ira justificada das pessoas, a Igreja vê o reflexo da
ira de Deus, traído e esbofeteado por estes consagrados desonestos. O eco do
grito silencioso dos menores, que, em vez de encontrar neles paternidade e
guias espirituais, acharam algozes, fará abalar os corações anestesiados pela
hipocrisia e o poder. Temos o dever de ouvir atentamente este sufocado grito
silencioso.
É difícil,
porém, compreender o fenômeno dos abusos sexuais contra os menores sem a
consideração do poder, pois aqueles são sempre a consequência do abuso de
poder, a exploração duma posição de inferioridade do indefeso abusado que
permite a manipulação da sua consciência e da sua fragilidade psicológica e
física. O abuso de poder está presente também nas outras formas de abusos de
que são vítimas quase oitenta e cinco milhões de crianças, no esquecimento
geral: as crianças-soldado, os menores prostituídos, as crianças desnutridas,
as crianças raptadas e frequentemente vítimas do monstruoso comércio de órgãos
humanos, ou então transformadas em escravos, as crianças vítimas das guerras,
as crianças refugiadas, as crianças abortadas, etc.
Perante tanta
crueldade, tanto sacrifício idólatra das crianças ao deus poder, dinheiro,
orgulho, soberba, não são suficientes meras explicações empíricas; estas não
são capazes de fazer compreender a amplitude e a profundidade deste drama. A
hermenêutica positivista demonstra, mais uma vez, a sua limitação. Dá-nos
uma explicação verdadeira que nos ajudará a tomar as medidas
necessárias, mas não é capaz de nos indicar o significado. E hoje
precisamos de explicações e significados. As explicações
ajudar-nos-ão imenso no setor operativo, mas deixar-nos-ão a meio do caminho.
Qual seria então
o «significado» existencial deste fenômeno criminoso? Hoje, tendo em conta a
sua amplitude e profundidade humana, só pode ser a manifestação atual do
espírito do mal. Sem ter presente esta dimensão, permaneceremos longe da
verdade e sem verdadeiras soluções.
Irmãos e irmãs,
estamos hoje perante uma manifestação do mal, descarada, agressiva e
destruidora. Por detrás e dentro disto está o espírito do mal, que, no seu
orgulho e soberba, se sente o dono do mundo e pensa que venceu. Isto gostaria
de vô-lo dizer com a autoridade de irmão e pai (pequeno, sem dúvida, mas que é
o pastor da Igreja que preside na caridade): nestes dolorosos casos, vejo a mão
do mal que não poupa sequer a inocência dos pequeninos. E isto leva-me a pensar
no exemplo de Herodes que, impelido pelo medo de perder o seu poder, ordenou
massacrar todas as crianças de Belém.
E assim como
devemos tomar todas as medidas práticas que o bom senso, as ciências e a
sociedade nos oferecem, assim também não devemos perder de vista esta realidade
e tomar as medidas espirituais que o próprio Senhor nos ensina: humilhação,
acusa de nós mesmos, oração, penitência. É o único modo de vencer o espírito do
mal. Foi assim que Jesus o venceu.
Assim, o
objetivo da Igreja será ouvir, tutelar, proteger e tratar os menores abusados,
explorados e esquecidos, onde quer que estejam. Para alcançar este objetivo, a
Igreja deve elevar-se acima de todas as polêmicas ideológicas e as políticas
jornalísticas que frequentemente instrumentalizam, por vários interesses, os
próprios dramas vividos pelos pequeninos.
Por isso, chegou
a hora de colaborarmos, juntos, para erradicar tal brutalidade do corpo da
nossa humanidade, adotando todas as medidas necessárias já em vigor a nível
internacional e a nível eclesial. Chegou a hora de encontrar o justo equilíbrio
de todos os valores em jogo e dar diretrizes uniformes para a Igreja, evitando
os dois extremos: nem judicialismo, provocado pelo sentimento de culpa
face aos erros passados e pela pressão do mundo midiático, nem autodefesa que
não enfrenta as causas e as consequências destes graves delitos.
Desejo, neste
contexto, citar as «Boas Práticas» formuladas, sob a guia da Organização
Mundial da Saúde, por um grupo de dez Agências internacionais que desenvolveu e
aprovou um pacote de medidas chamado INSPIRE, isto é, sete
estratégias para acabar com a violência contra as crianças.
Valendo-se
destas diretrizes, a Igreja, no seu percurso legislativo, graças também ao
trabalho feito nos últimos anos pela Comissão Pontifícia para a Tutela dos
Menores e à contribuição deste nosso Encontro, concentrar-se-á sobre as
seguintes dimensões:
1. A
tutela das crianças: o objetivo primário das várias medidas é proteger os
pequeninos e impedir que caiam vítimas de qualquer abuso psicológico e físico.
Portanto, é necessário mudar a mentalidade combatendo a atitude
defensivo-reativa de salvaguardar a Instituição em benefício duma busca sincera
e decidida do bem da comunidade, dando prioridade às vítimas de abusos em todos
os sentidos. Diante dos nossos olhos, devem estar sempre presentes os rostos
inocentes dos pequeninos, recordando as palavras do Mestre: «Se alguém
escandalizar um destes pequeninos que creem em Mim, seria preferível que lhe
suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar.
Ai do mundo, por causa dos escândalos! São inevitáveis, decerto, os escândalos,
mas ai do homem por quem vem o escândalo!» (Mt 18, 6-7).
2. Seriedade impecável: gostaria de reiterar, aqui, que a Igreja «não
poupará esforços fazendo tudo o que for necessário para entregar à
justiça toda a pessoa que tenha cometido tais delitos. A Igreja não
procurará jamais dissimular ou subestimar qualquer um destes casos» (Discurso à
Cúria Romana, 21/XII/2018). É sua convicção que «os pecados e crimes das
pessoas consagradas matizam-se de cores ainda mais foscas de infidelidade, de
vergonha e deformam o rosto da Igreja, minando a sua credibilidade. De facto, a
própria Igreja, juntamente com os seus filhos fiéis, é vítima destas
infidelidades e destes verdadeiros crimes de peculato» (Ibidem).
3. Uma
verdadeira purificação: apesar das medidas tomadas e os progressos realizados
em matéria de prevenção dos abusos, é necessário impor um renovado e perene
empenho na santidade dos pastores, cuja configuração a Cristo Bom Pastor é um
direito do povo de Deus. Reitera-se, pois, «a firme vontade de prosseguir, com
toda a força, pelo caminho da purificação. A Igreja (…) questionar-se-á como
proteger as crianças; como evitar tais calamidades, como tratar e reintegrar as
vítimas; como reforçar a formação nos seminários. Procurar-se-á transformar os
erros cometidos em oportunidades para erradicar este flagelo não só do corpo da
Igreja, mas também do seio da sociedade» (Ibidem). O temor santo de Deus leva a
acusar-nos – como pessoa e como instituição – e a reparar as nossas falhas.
Acusar-se a si próprio: é um início sapiencial, associado ao temor santo de
Deus. Aprender a acusar-se a si próprio, como pessoa, como instituição, como
sociedade. Na realidade, não devemos cair na armadilha de acusar os outros, que
é um passo rumo ao álibi que nos separa da realidade.
4. A
formação: ou seja, as exigências da seleção e formação dos candidatos ao
sacerdócio com critérios não só negativos, visando principalmente excluir as
personalidades problemáticas, mas também positivos oferecendo um caminho de
formação equilibrado para os candidatos idôneos, tendente à santidade e
englobando a virtude da castidade. Na encíclica Sacerdotalis caelibatus,
São Paulo VI deixou escrito: «Uma vida tão inteira e amavelmente dedicada, no
interior e no exterior, como a do sacerdote celibatário, exclui, de facto,
candidatos com insuficiente equilíbrio psicofísico e moral. Não se deve
pretender que a graça supra o que falta à natureza» (n.º 64).
5. Reforçar e verificar as diretrizes das Conferências Episcopais: ou
seja, reafirmar a necessidade da unidade dos Bispos na aplicação de parâmetros
que tenham valor de normas e não apenas de diretrizes. Nenhum abuso deve jamais
ser encoberto (como era habitual no passado) e subestimado, pois a cobertura
dos abusos favorece a propagação do mal e eleva o nível do escândalo. De modo
particular, é preciso desenvolver um novo enquadramento eficaz de prevenção em
toda as instituições e ambientes das atividades eclesiais.
6. Acompanhar as pessoas abusadas: o mal que viveram deixa nelas feridas
indeléveis que se manifestam também em rancores e tendências à autodestruição.
Por isso, a Igreja tem o dever de oferecer-lhes todo o apoio necessário,
valendo-se dos especialistas neste campo. Escutar… eu diria «perder tempo»
escutando. A escuta cura a pessoa ferida, e cura-nos a nós também do egoísmo,
da distância, do «não me diz respeito», da atitude do sacerdote e do levita na
parábola do Bom Samaritano.
7. O mundo digital: a proteção dos menores deve ter em conta as novas
formas de abuso sexual e de abusos de todo o gênero que os ameaçam nos
ambientes onde vivem e através dos novos instrumentos que utilizam. Os
seminaristas, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas, os agentes pastorais
e todos os fiéis devem estar cientes de que o mundo digital e o uso dos seus
instrumentos com frequência incidem mais profundamente do que se pensa. Quero
aqui encorajar os países e as autoridades a aplicarem todas as medidas
necessárias para limitar os websites que ameaçam a dignidade do
homem, da mulher e, em particular, dos menores: o reato não goza do direito à
liberdade. É absolutamente necessário opor-se com a máxima decisão a tais
abomínios, vigiar e lutar para que o desenvolvimento dos pequeninos não seja
perturbado nem abalado por um acesso descontrolado à pornografia, que deixará
sinais negativos profundos na sua mente e na sua alma. Devemos esforçar-nos por
que as jovens e os jovens, particularmente os seminaristas e o clero, não se
tornem escravos de dependências baseadas na exploração e no abuso criminoso dos
inocentes e suas imagens e no desprezo da dignidade da mulher e da pessoa
humana. Destacam-se aqui as novas normas «sobre os delitos mais graves»
aprovadas pelo Papa Bento XVI em 2010, onde fora acrescentado como um novo caso
de delito «a aquisição, a detenção ou a divulgação», realizada por um membro do
clero «de qualquer forma e por qualquer meio, de imagens pornográficas tendo
por objeto menores». Falava-se então de «menores de 14 anos»; agora achamos que
devemos elevar este limite de idade para ampliar a tutela dos menores e
insistir na gravidade destes fatos.
8. O
turismo sexual: o comportamento, o olhar, o íntimo dos discípulos e servidores
de Jesus devem saber reconhecer a imagem de Deus em toda a criatura humana, a
começar pelos mais inocentes. Somente bebendo neste respeito radical da
dignidade do outro é que poderemos defendê-lo da força invasiva da violência,
exploração, abuso e corrupção, e servi-lo de forma credível no seu crescimento
integral, humano e espiritual, no encontro com outros e com Deus. Para combater
o turismo sexual, é necessária a repressão judicial, mas também apoio e
projetos para a reinserção das vítimas desse fenômeno criminoso. As comunidades
eclesiais são chamadas a reforçar o cuidado pastoral das pessoas exploradas
pelo turismo sexual. Entre estas, as mais vulneráveis e necessitadas de ajuda
particular são certamente mulheres, menores e crianças; estas últimos, porém,
precisam de proteção e atenção especiais. As autoridades governamentais deem
prioridade e ajam urgentemente para combater o tráfico e a exploração econômica
das crianças. Para isso, é importante coordenar os esforços a todos os níveis
da sociedade e colaborar estreitamente também com as organizações
internacionais para realizar um quadro jurídico que proteja as crianças da
exploração sexual no turismo e permita perseguir legalmente os criminosos.
Permito-me um
sentido agradecimento a todos os sacerdotes e consagrados que servem o Senhor
com total fidelidade e se sentem desonrados e desacreditados pelos vergonhosos
comportamentos dalguns dos seus confrades. Todos – Igreja, consagrados, Povo de
Deus e até o próprio Deus – carregamos as consequências das suas infidelidades.
Agradeço, em nome da Igreja inteira, à grande maioria dos sacerdotes que não só
permanecem fiéis ao seu celibato, mas se gastam num ministério que hoje se
tornou ainda mais difícil pelos escândalos de poucos (mas sempre demasiados)
dos seus irmãos. E obrigado também aos fiéis que conhecem bem os seus bons
pastores e continuam a rezar por eles e a apoiá-los.
Por fim,
gostaria de assinalar a importância de dever transformar este mal em
oportunidade de purificação. Fixemos o olhar na figura de Edith Stein (Santa
Teresa Benedita da Cruz), com a certeza de que, «na noite mais escura, surgem
os maiores profetas e os santos. Todavia a corrente vivificante da vida mística
permanece invisível. Certamente, os eventos decisivos da história do mundo
foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos
livros de história. E saber quais sejam as almas a quem devemos agradecer os
acontecimentos decisivos da nossa vida pessoal, é algo que só conheceremos no
dia em que tudo o está oculto for revelado». No seu silêncio quotidiano, o
santo Povo fiel de Deus continua de muitas formas e maneiras a tornar visível e
a atestar com «obstinada» esperança que o Senhor não abandona, que apoia a
dedicação constante e, em muitas situações, atribulada dos seus filhos. O santo
e paciente Povo fiel de Deus, sustentado e vivificado pelo Espírito Santo, que
é o rosto melhor da Igreja profética que, na sua doação diária, sabe colocar no
centro o seu Senhor. Será precisamente este santo Povo de Deus que nos
libertará do flagelo do clericalismo, que é o terreno fértil para todos estes
abomínios.
O melhor
resultado e a resolução mais eficaz que podemos oferecer às vítimas, ao Povo da
Santa Mãe Igreja e ao mundo inteiro são o compromisso em prol duma conversão
pessoal e coletiva, a humildade de aprender, escutar, assistir e proteger os
mais vulneráveis.