Jesus inicia sua missão
Das festas
natalinas e de fim de ano muita gente nem se lembra mais. Janeiro vai chegando
ao fim. Entramos de vez no Ano Novo. No calendário da Igreja, estamos no
chamado Tempo Comum. O calendário religioso dura também doze meses, mas não
está dividido em meses e sim em cinco tempos litúrgicos, com duração desigual:
Advento, Natal, Quaresma, Páscoa e Comum. Ao longo desse tempo anual, a Igreja
celebra na Liturgia e traz para o cotidiano dos cristãos a memória da vida de
Jesus Cristo, desde a sua encarnação no seio da Virgem Maria até à sua ascensão
ao céu. Cada um desses cinco tempos foca um aspecto essencial da vida de Jesus. O Advento prepara para o Natal, tendo presente o anúncio do Anjo Gabriel à
Virgem Maria. O Natal comemora o nascimento de Jesus e vai até o seu Batismo
por João. A Quaresma prepara para a Páscoa, convidando à penitência e à
conversão. Na Páscoa se comemora a paixão, morte, ressurreição e ascensão de
Jesus, em suma, a Páscoa de Cristo e da Igreja. O Comum é o tempo em que se celebra
o mistério pascal de Cristo no dia a dia, sobretudo nos domingos, em que a
Liturgia prioriza em geral os sermões de Jesus, seus milagres, suas orações,
suas preocupações, suas relações com as pessoas, suas andanças missionárias,
suas ações de misericórdia para com os pobres, os pecadores e os sofredores.
Tudo isso para seguimos Jesus no seu dia a dia.
"Segui-me e Eu farei de vocês pescadores de homens" |
Na semana
passada, escrevi dizendo que, segundo minha ínfima opinião, as virtudes máximas
para o cristão hoje são: fé, esperança e caridade, humildade e coragem. Estão
aqui três virtudes teologais que valem sempre e em todas as circunstâncias e
duas que fazem muita falta, sobretudo a humildade, na situação trágica da vida
arrogante atual. Repito, essas virtudes teologais com a humildade e a coragem
são absolutamente indispensáveis para o enfrentamento dos tormentos e angústias
que assolam multidões incautas e, por isso, enganadas pelas falsas promessas de
sucesso fácil ou pelas ideologias secularistas que prometem a imortalidade e o
paraíso terrestre por meio da simples autossuficiência de si mesmos e do mundo,
que não se realizam. Os mistérios da fé e da esperança, porém, não podem ser
compreendidos pela inteligência humana porque não são verdades científicas,
senão que o podem pela faculdade da alma de se achegar a Deus por amor
sobrenatural, pois somente neste amor de Deus é que se assentam as verdades
sobre a fé e a esperança e em nenhuma outra razão. Sem o amor de Deus ninguém
conseguirá aderir aos mistérios da fé e da esperança. É por isso que a Sagrada
Escritura afirma que o amor ou a caridade é maior do que a fé e a esperança,
não acaba nunca, mas perdura por toda a eternidade, pois Deus é amor. Sem o
amor de Deus, o amor a Deus e ao próximo, nada de sólido pode sustentar de pé o
homem diante dos problemas da vida. A humildade é virtude antiga, é o
reconhecimento de que somos um nada, uma simples criatura e, mais ainda,
pecadora. Relevando o exagero da linguagem mística medieval, São Francisco de
Assis rezava assim: “Quem sois vós, Senhor, e quem sou eu? Vós, o Criador do
céu e da terra. Eu, ínfima criatura vossa, um vermesinho, pobre e pecador. A
vós, o sumo bem e o amor perfeito, o louvor e a glória”. A coragem tem mais
presença no mundo, mas não é suficientemente poderosa para manter de pé a
maioria das pessoas que soçobram nos turbilhões do mar da vida, porque confiando
apenas em si deixam de segurar na mão estendida do Senhor que caminha sobre as
ondas como aconteceu a Pedro, e, assim sendo, esmorecendo as forças da coragem,
sucumbem no desespero. Só quem assenta sua coragem sobre a rocha da fé em Deus,
e não sobre as areais da autoconfiança, nunca desanima nem jamais esmorece.
Traços da
condição humana como ansiedade, medo, velhice, doença e morte colocam a
sociedade moderna, laica, racionalista em desespero. Em face dessas questões
tão velhas quanto a humanidade a reproposição de virtudes igualmente antigas
como as aqui referidas com as quais nossos antepassados compreenderam os
problemas da contingência humana e com eles conviveram me parece oportuna,
especialmente no começar do Ano Novo.
Dom Caetano
Ferrari - Diocese de Bauru, SP
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Fonte: cnbb.org.br Ilustração:portalvalongo.com
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