Saber partilhar o caminho
A vida é um
caminho. Traz consigo a dinamicidade da busca, dos projetos, dos fracassos e realizações.
Move-se entre o passado que herdamos, o presente no qual estamos inseridos e o
futuro que é nosso projeto e horizonte do caminhar. Como tal, a vida será
sempre uma construção pessoal, intransferível. Porém, ao mesmo tempo, somos
feitos para a comunhão. Ninguém caminha sozinho. Daí a necessidade de saber
partilhar o caminho com alguém. Não se trata somente das pessoas com as quais
convivemos em nossa família, profissão, comunidade de fé ou ambientes de lazer.
Trata-se da companhia do caminho, de um “irmão mais experiente” com quem
partilhamos tudo o que faz parte de nossa vida. Na dimensão profissional está
crescendo o número de pessoas que procuram um “profissional de coaching”, este
deve ter a capacidade de conduzir seus passos para alcançar as metas que
deseja. Tem a missão de ajudar a pessoa a caminhar na direção que ela quer ir.
O “coaching” apoia a pessoa para que ela possa tornar-se quem quer ser. Em
nossa vida espiritual e cristã também precisamos de um condutor, orientador,
mestre (além do introdutor, catequista, grupo e comunidade). Hoje, faz-se mais
necessária ainda esta figura, pois o processo de iniciação e formação cristã
precisa ser acompanhado, conduzido, orientado, visto que a transmissão cultural
da fé praticamente já não existe.
Caminhar unidos fortalece a alma e o coração |
A Igreja tem uma
longa tradição na arte de acompanhar, de ouvir e orientar. Esta figura se chama
de orientador espiritual ou mestre espiritual. Uma imagem bíblica para
exemplificar é a dos Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Os dois discípulos
falam de si, daquilo que os entristece. Jesus Ressuscitado se aproxima, começa a
caminhar com eles, ouve atentamente, se interessa pela sua vida, pelos seus
problemas. Depois, com habilidade traz a Palavra da Escritura que serve para
iluminar, dar sentido à vida, e, sobretudo, aquece o coração. Ajuda-os a
superar sua tristeza. Abrem os olhos e erguem a cabeça. Continuam a caminhar,
agora renovados.
Para isto
precisamos, em primeiro lugar, procurar a pessoa certa, que saiba “ouvir com o
coração”: um padre, um monge, uma religiosa ou um leigo. Depois, a confiança de
entregar a vida nas mãos de outrem, reconhecendo-o como irmão maior e
orientador. Então, a abertura de si mesmo. Verbalizar os movimentos interiores
de alegria, consolo, interrogações, dúvidas, decepções, tristezas e tudo o que
tece a vida no cotidiano. Quanto sofrimento pode ser evitado se tivermos a
coragem de partilhá-lo com alguém. Quantas famílias poderiam viver em harmonia
ou até ter evitado uma separação se tivessem buscado ajuda, em tempo, com
pessoas certas.
A grande
vantagem deste caminho partilhado é a possibilidade de discernir com mais
clareza o projeto de Deus, sua vontade sobre a vida. Assim, através da leitura
do presente, pode-se ter uma direção, um sentido que nos orienta no caminhar.
Aquele que orienta nunca substitui a liberdade pessoal da pessoa, que sempre tem
a última e definitiva palavra.
Dom Adelar
Baruffi - Bispo de Cruz Alta (RS)
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