Orfandade espiritual é um câncer que degrada a alma
Cidade do
Vaticano (RV) - O Papa Francisco presidiu, neste domingo (1º/01), 50º Dia
Mundial da Paz, a celebração eucarística na Solenidade de Santa Maria, Mãe de
Deus, na Basílica de São Pedro.
«Quanto a Maria,
conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração». Assim descreve o
Evangelista Lucas a atitude com que Maria acolhe tudo aquilo que estava vivendo
naqueles dias.
Ternura maternal
“Longe de querer
compreender ou dominar a situação, Maria é a mulher que sabe conservar, isto é,
proteger, guardar no seu coração a passagem de Deus na vida do seu povo.
Aprendeu a sentir a pulsação do coração do seu Filho, ainda Ele estava no seu
ventre, ensinando-Lhe a descobrir, durante toda a vida, o palpitar de Deus na
história. Aprendeu a ser mãe e, nesta aprendizagem, proporcionou a Jesus a bela
experiência de saber-Se Filho. Em Maria, o Verbo eterno não só Se fez carne,
mas aprendeu também a reconhecer a ternura maternal de Deus. Com Maria, o
Deus-Menino aprendeu a ouvir os anseios, as angústias, as alegrias e as
esperanças do povo da promessa. Com Ela, descobriu-Se a Si mesmo como Filho do
santo povo fiel de Deus.”
Nos Evangelhos,
Maria aparece como mulher de poucas palavras, sem grandes discursos nem
protagonismos, mas com um olhar atento que sabe guardar a vida e a missão do
seu Filho e, consequentemente, de tudo o que Ele ama. Soube guardar os alvores
da primeira comunidade cristã, aprendendo deste modo a ser mãe duma multidão.
Maternidade
“Aproximou-se
das mais diversas situações, para semear esperança. Acompanhou as cruzes,
carregadas no silêncio do coração dos seus filhos. Muitas devoções, muitos
santuários e capelas nos lugares mais remotos, muitas imagens espalhadas pelas
casas nos lembram esta grande verdade. Maria deu-nos o calor materno, que nos
envolve no meio das dificuldades; o calor materno que não deixa, nada e
ninguém, apagar no seio da Igreja a revolução da ternura inaugurada pelo seu
Filho. Onde há uma mãe, há ternura. E Maria, com a sua maternidade, nos mostra
que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes;
ensina-nos que não há necessidade de maltratar os outros para sentir-se
importante. E o santo povo fiel de Deus, desde sempre, a reconheceu e aclamou
como a Santa Mãe de Deus.”
O Papa disse
ainda que “celebrar, no início de um novo ano, a maternidade de Maria como Mãe
de Deus e nossa mãe significa avivar a certeza que nos há de acompanhar no
decorrer dos dias: somos um povo com uma Mãe, não somos órfãos”.
Sabor de família
“As mães são o
antídoto mais forte contra as nossas tendências individualistas e egoístas,
contra os nossos isolamentos e apatias. Uma sociedade sem mães seria não apenas
uma sociedade fria, mas também uma sociedade que perdeu o coração, que perdeu o
«sabor de família». Uma sociedade sem mães seria uma sociedade sem piedade, com
lugar apenas para o cálculo e a especulação. Com efeito as mães, mesmo nos
momentos piores, sabem testemunhar a ternura, a dedicação incondicional, a
força da esperança. Aprendi muito com as mães que, tendo os filhos na prisão ou
estendidos numa cama de hospital ou subjugados pela escravidão da droga, esteja
frio ou calor, faça chuva ou sol, não desistem e continuam lutando para lhes
dar o melhor; ou com as mães que, nos campos de refugiados ou até no meio da
guerra, conseguem abraçar e sustentar, sem hesitação, o sofrimento dos seus
filhos. Mães que dão, literalmente, a vida para que nenhum dos filhos se perca.
Onde estiver a mãe, há unidade, há sentido de pertença: pertença de filhos.”
Para Francisco,
“começar o ano lembrando a bondade de Deus no rosto materno de Maria, no rosto
materno da Igreja, nos rostos de nossas mães, nos protege daquela doença
corrosiva que é a «orfandade espiritual»: a orfandade que a alma vive quando se
sente sem mãe e lhe falta a ternura de Deus; a orfandade que vivemos quando se
apaga em nós o sentido de pertença a uma família, a um povo, a uma terra, ao
nosso Deus; a orfandade que se aninha no coração narcisista que sabe olhar só
para si mesmo e para os seus interesses, e cresce quando esquecemos que a vida
foi um dom – dela somos devedores a outros – e somos convidados a partilhá-la
nesta casa comum”.
Orfandade
espiritual
“Foi esta orfandade
autorreferencial que levou Caim a dizer: «Sou, porventura, guarda do meu
irmão?». Como se declarasse: ele não me pertence, não o reconheço. Tal atitude
de orfandade espiritual é um câncer que silenciosamente enfraquece e degrada a
alma. E assim, pouco a pouco, nos vamos degradando, já que ninguém nos pertence
e nós não pertencemos a ninguém: degrado a terra, porque não me pertence;
degrado os outros, porque não me pertencem; degrado a Deus, porque não Lhe
pertenço; e, por fim, acabamos por nos degradar a nós próprios, porque
esquecemos quem somos e o «nome» divino que temos. A perda dos laços que nos
unem, típica da nossa cultura fragmentada e desunida, faz com que cresça esta
sensação de orfandade e, por conseguinte, de grande vazio e solidão. A falta de
contato físico (não o virtual) vai cauterizando os nossos corações,
fazendo-lhes perder a capacidade da ternura e da maravilha, da piedade e da
compaixão. A orfandade espiritual faz-nos perder a memória do que significa ser
filhos, ser netos, ser pais, ser avós, ser amigos, ser crentes; faz-nos perder
a memória do valor da diversão, do canto, do riso, do repouso, da gratuidade.”
Homilia na Basílica de São Pedro |
“Celebrar a
festa da Santa Mãe de Deus faz despontar novamente no rosto o sorriso de nos
sentirmos povo, de sentir que nos pertencemos; saber que as pessoas, somente
dentro duma comunidade, duma família, podem encontrar a «atmosfera», o «calor»
que permite aprender a crescer humanamente, e não como meros objetos destinados
a «consumir e ser consumidos». Celebrar a festa da Santa Mãe de Deus nos lembra
que não somos mercadoria de troca nem terminais receptores de informação. Somos
filhos, somos família, somos povo de Deus”.
“Celebrar a
Santa Mãe de Deus nos impele a criar e cuidar espaços comuns que nos deem
sentido de pertença, de enraizamento, que nos façam sentir em casa dentro das
nossas cidades, em comunidades que nos unam e sustentem”, frisou ainda o Papa.
Cuidar da vida
“Jesus Cristo,
no momento do dom maior que foi o de sua vida na cruz, nada quis reter para Si
e, ao entregar a sua vida, entregou-nos também sua Mãe. Disse a Maria: Eis o
teu filho, eis os teus filhos. E nós queremos acolhê-La em nossas casas, em
nossas famílias, em nossas comunidades e em nossos países. Queremos encontrar o
seu olhar materno: aquele olhar que nos liberta da orfandade; aquele olhar que
nos lembra que somos irmãos, isto é, que eu te pertenço, que tu me pertences,
que somos da mesma carne; aquele olhar que nos ensina que devemos aprender a
cuidar da vida da mesma maneira e com a mesma ternura com que Ela o fez, ou
seja, semeando esperança, semeando pertença, semeando fraternidade.”
“Celebrar a
Santa Mãe de Deus nos lembra que temos a Mãe; não somos órfãos, temos uma mãe.
Professemos, juntos, esta verdade!.”
O Papa concluiu
pedindo a todos para aclamar três vezes Nossa Senhora, como fizeram os fiéis de
Éfeso: Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de Deus. (MJ)
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Assista:
Maria permanece aberta ao plano salvífico de Deus
Cidade do
Vaticano (RV) - O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste
domingo (1º/01), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, 50º Dia
Mundial da Paz.
Na alocução que
precedeu a oração, o pontífice recordou que, “nos últimos dias, voltamos o
nosso olhar de adoração ao Filho de Deus, que nasceu em Belém. Hoje, Solenidade
da Santa Mãe de Deus, Maria, voltamos os nossos olhos para a Mãe”, vendo em
Jesus e Maria uma ligação estreita.
“Esta ligação
não se exaure no fato de ela ter gerado e no fato de Ele ter sido gerado”,
disse Francisco. “Jesus nasceu de uma mulher para uma missão de salvação e sua
mãe não foi excluída dessa missão, pelo contrário, é associada intimamente a
esta missão. Maria é consciente disso e não se fecha em sua relação materna com
Jesus, mas permanece aberta e observa tudo o que acontece ao redor Dele:
conserva e medita, analisa e aprofunda, como nos recorda o Evangelho de hoje.
Ela já disse o seu sim e se disponibilizou a ser envolvida na realização do
plano de salvação de Deus, ‘que dispersa os soberbos de coração, derruba do
trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens, e despede
os ricos de mãos vazias’. Agora, silenciosa e atenta, procura entender o que
Deus quer dela a cada dia.”
Papa incensando ícone de Nossa Senhora, na Basílica de São Pedro |
Contemplando o
ícone do Menino nos braços de sua Mãe, sentimos aumentar em nosso coração um
sentido de reconhecimento imenso por Aquela que deu ao mundo o Salvador. Por
isso, no primeiro dia do Ano Novo, dizemos a ela:
Obrigado, ó
Santa Mãe do Filho de Deus Jesus, Santa Mãe de Deus!
Obrigado pela sua humildade que atraiu o olhar de Deus.
Obrigado pela fé com a qual acolheu a sua Palavra.
Obrigado pela coragem com que disse: eis-me aqui, esquecendo-se de si, fascinada pelo Santo Amor e tornando-se uma só coisa com a sua esperança.
Obrigado, ó Santa Mãe de Deus!
Reza por nós, peregrinos no tempo. Ajude-nos a caminhar na via da paz.
Obrigado pela sua humildade que atraiu o olhar de Deus.
Obrigado pela fé com a qual acolheu a sua Palavra.
Obrigado pela coragem com que disse: eis-me aqui, esquecendo-se de si, fascinada pelo Santo Amor e tornando-se uma só coisa com a sua esperança.
Obrigado, ó Santa Mãe de Deus!
Reza por nós, peregrinos no tempo. Ajude-nos a caminhar na via da paz.
Amém (MJ)
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Assista:
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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