Converte-se não é mudar de roupa mas de atitude
Cidade do
Vaticano (RV) – “Nós, cristãos de hoje, temos a alegria de proclamar e
testemunhar a nossa fé, porque houve aquele primeiro anúncio, porque houve
aqueles homens humildes e corajosos que responderam generosamente ao chamado de
Jesus”. Foi o que disse o Papa Francisco na sua alocução que precedeu a oração
mariana do Angelus na Praça de São Pedro neste domingo, na qual ele comentou a
passagem do Evangelho sobre o início da pregação de Jesus na Galileia e o
chamado dos apóstolos.
"O
Evangelho deste domingo narra o início da pregação de Jesus na Galileia. Ele
deixa Nazaré, um vilarejo nas montanhas, e se estabelece em Cafarnaum, um
importante centro à margem do lago, habitado principalmente por pagãos, o ponto
de cruzamento entre o Mediterrâneo e o interior da Mesopotâmia. Esta escolha
significa que os destinatários de sua pregação não são apenas seus
compatriotas, mas todos aqueles que chegam à cosmopolita “Galileia das nações”.
Vista da capital
Jerusalém, aquela terra - continuou Francisco - é geograficamente periférica e
religiosamente impura, por causa da mistura com aqueles que não pertenciam a
Israel. Da Galileia não se esperavam certamente grandes coisas para a história
da salvação. No entanto, dali se espalha a “luz” sobre a qual refletimos nos
domingos passados: a luz de Cristo.
Francisco acena à multidão |
A mensagem de
Jesus espelha a de Batista, anunciando o “reino dos céus”. Este reino não
comporta o estabelecimento de um novo poder político, mas o cumprimento da
aliança entre Deus e seu povo, que vai inaugurar uma época de paz e justiça.
Para realizar este pacto de aliança com Deus, - afirmou o Papa - cada um
é chamado a converter-se, transformando sua maneira de pensar e de viver. Não
se trata de mudar as roupas, mas as atitudes!
"O que
diferencia Jesus de João Batista – destacou o Papa – é o estio, o método. Jesus
escolhe ser profeta itinerante. Ele não espera as pessoas, mas se move ao
encontro delas".
As primeiras
saídas missionárias de Jesus ocorrem ao longo do lago da Galileia, em contato
com a multidão, especialmente com os pescadores. Alí Jesus não só proclama a
vinda do reino de Deus, mas procura os companheiros para associar à sua missão
de salvação. Neste mesmo lugar encontra dois pares de irmãos: Simão e André,
Tiago e João; Ele os chama dizendo: "Sigam-me, eu vos farei pescadores de
homens". O chamado os alcança no auge de suas atividades diárias: o Senhor
se revela a nós não de modo extraordinário ou sensacional, mas na
quotidianidade de nossas vidas. A resposta dos quatro pescadores é imediata e
pronta: "No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram".
"Nós, os
cristãos de hoje, temos a alegria de proclamar e testemunhar a nossa fé porque
houve aquele primeiro anúncio, porque houve aqueles homens humildes e corajosos
que responderam generosamente ao chamado de Jesus".
"Às margens
do lago, em uma terra impensável, nasceu a primeira comunidade de discípulos de
Cristo. A consciência destes princípios inspire em nós o desejo de levar a
palavra, o amor e a ternura de Jesus em todos os contextos, até mesmo ao mais
impermeável e resistente. Todas os espaços da vida humana são terreno onde
lançar as sementes do Evangelho, para dar frutos de salvação".
Francisco
concluiu pedindo que a Virgem Maria nos ajude com a sua intercessão materna a
responder com alegria ao chamado de Jesus e nos coloque a serviço do Reino de
Deus.
Em seguida
concedeu a todos a sua Benção Apostólica. (SP)
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Papa a El Pais:
Há tanta santidade na Igreja, é a revolução do Evangelho
Cidade do
Vaticano (RV) - O jornal espanhol El Pais publicou neste domingo uma longa
entrevista com o Papa Francisco, concedida ao jornalista Pablo Ordaz em 20 de
janeiro. Muitos os assuntos abordados: desde questões pessoais à situação no
mundo e na Igreja.
A Igreja esteja
perto do povo
Chamada de capa do El Pais |
Uma entrevista
que toca muitos assuntos. Em sua primeira resposta, Francisco afirma que não
mudou desde quando se tornou Papa: “Mudar aos 76 anos é como colocar a
maquiagem”. Claro, ele não pode fazer tudo aquilo que quer, mas ele manteve o
que chama de alma "callejera", isto é do padre de rua que deseja
estar com as pessoas. O que ele teme pela Igreja é precisamente a distância das
pessoas, o clericalismo que é “o pior mal que pode ter hoje a Igreja”: um
pastor anestesiado defende-se da realidade concreta do mundo e se torna um
funcionário. “Uma Igreja que não está perto não é Igreja. É uma boa ONG ou uma
boa e piedosa organização de pessoas que fazem caridade, se reúnem para tomar
chá e fazer beneficência... porém o que identifica a Igreja é a proximidade:
sermos irmãos próximos”. “A proximidade é tocar, tocar no próximo a carne de
Cristo”. Como diz o capítulo 25 do Evangelho de Mateus: “tive fome e me destes
de comer ...”.
A revolução é
feita pelos santos
Critica o fato
que se fale “com facilidade da corrupção da Cúria Romana”. “Há pessoas
corruptas” - sublinha -, mas também há muitos santos, pessoas “que passaram uma
vida inteira ao serviço do povo de forma anônima”. “Os verdadeiros
protagonistas da história da Igreja são os santos” são aqueles que “queimaram a
sua vida para que o Evangelho fosse concreto. E estes são aqueles que nos
salvaram: os santos”. Esta é a verdadeira revolução, a dos santos. E os santos
também são os pais, as mães e os avós que trabalham todos os dias com dignidade
e com as suas vidas levam avante a Igreja. Francisco a define “a classe média
da santidade” e “a santidade dessas pessoas é enorme”.
Sim às críticas
abertas e fraternas
A uma pergunta
sobre as reações dos setores tradicionalistas que vêem qualquer mudança como
uma traição da doutrina, o Papa responde: “Não estou fazendo nenhuma revolução.
Eu só estou tentando fazer com que o Evangelho vá avante”. “Mas a novidade do
Evangelho cria temor porque é essencialmente escandalosa”. Afirma porém que não
se sente “incompreendido”, mas “acompanhado de todos os tipos de pessoas,
jovens, idosos...”. “Se alguém não está de acordo” - é o seu convite – “porém
que dialoguem, que não atirem a pedra e escondam a mão”. Isto “não é humano, é
delinquência. Todo mundo tem o direito de discutir, mas uma “discussão
fraterna”, não com a calúnia.
A teologia da
libertação
Sobre a teologia
da libertação sublinha que “foi uma coisa positiva na América Latina. Foi
condenada pelo Vaticano a parte que optou pela análise marxista da realidade”.
O Cardeal Ratzinger escreveu duas instruções, uma “muito clara sobre a análise
marxista” e a outra olhando para os aspectos positivos. “A teologia da
libertação teve aspectos positivos e desvios”.
Uma economia que
mata
Francisco
reitera que “estamos vivendo na Terceira Guerra Mundial em pedaços”. “E
ultimamente fala-se de uma possível guerra nuclear, como se fosse um jogo de
cartas”. O que o preocupa são as desigualdades económicas: “que um pequeno
grupo da humanidade detém 80% da riqueza”. Isso significa que “no centro do
sistema econômico está o deus dinheiro e não o homem e a mulher”. Estamos em
uma “economia que mata” e que cria “essa cultura do descarte”.
Não julgar
antecipadamente Trump
Sobre a
presidência de Trump afirma: “Vamos ver o que acontece. Eu não gosto de
antecipar os fatos ou julgar as pessoas antecipadamente (...) Vamos ver o que
fará e avaliaremos: Sempre o concreto. O cristianismo ou é concreto ou não é
cristianismo....”
Nas crises
buscamos um salvador: eis o populismo
Francisco fala
com preocupação do populismo referindo-se mais ao europeu do que ao da América
Latina. Ele cita o exemplo do nazismo na Alemanha: um país destruído que
“procura a sua identidade” e procura um líder que a restitua. Encontra-o em
Hitler que “foi eleito pelo seu povo e que depois o destruiu. Este é o perigo.
Em tempos de crise não funciona o discernimento ... Procuramos um salvador que
nos restitua a identidade e nos defendemos com muros, arames farpados, com
qualquer coisa, de outros povos que possam tirar a nossa identidade. E isso é
muito grave. Por isso eu repito sempre: dialoguem entre vocês”.
Salvar, acolher
e integrar os migrantes
O Papa retorna
sobre o drama dos refugiados: “Que o Mediterrâneo seja um cemitério, deve
fazer-nos pensar”. Ele presta homenagem à Itália, que apesar de todos os
problemas do terremoto continua a acolher os migrantes. São homens, mulheres e
crianças que fogem da fome e da guerra. Primeiro de tudo - afirma – é preciso
salvá-los, em seguida, “acolhê-los e integrá-los”. Cada país - sublinha -
“tem o direito de controlar o seus confins, porém, “nenhum país tem o
direito de privar os seus cidadãos do diálogo com os vizinhos”. Recorda o
compromisso da Igreja, muitas vezes silenciosa, na acolhida dos imigrantes.
Construir pontes
não muros
A diplomacia do
Vaticano - explica - constrói pontes, não muros, é mediadora não intermediária,
no sentido que as suas ações para promover a paz e a justiça não são para seus
interesses próprios, mas em prol do benefício dos povos.
O papel das
mulheres
Recorda ainda
Francisco o drama da escravidão das mulheres, exploradas sexualmente. E, em
seguida, fala sobre o papel da mulher, que deve ser valorizado na Igreja. “A
Igreja - repito - é feminina”: não se trata de uma “reivindicação funcional”,
pois se correria o risco de criar um “machismo de saia”. Trata-se, em vez, de
fazer muito mais para que as mulheres “possam dar à Igreja a originalidade do
seu ser e do seu pensamento”.
Bento XVI tem
uma grande memória
Respondendo a
uma pergunta sobre a saúde de Bento XVI diz que “o problema são as pernas”.
Caminha com ajuda. Mas ele tem uma “memória de elefante, até mesmo nos
detalhes”.
Não vejo TV
desde 1990
O Papa confessa
que não assiste TV há mais de 25 anos: “Simplesmente - disse - porque em um
certo momento senti que Deus me pediu isso. Fiz essa promessa no dia 16 de
julho de 1990, e não sinto falta”.
Cardeais dos
cinco continentes
Respondendo à
pergunta sobre os Consistórios nos quais criou cardeais dos cinco continentes e
como gostaria que fosse o Conclave que elegeria o seu sucessor, disse que
gostaria de um conclave católico.
À pergunta se
ele iria vê-lo disse: “Deus é quem sabe. Quando sentir que não consigo mais, o
grande mestre Bento já me ensinou como tenho que fazer”.
Deus não me
tirou o bom humor
O jornalista
conclui dizendo vê-lo feliz de ser Papa. Francisco respondeu: “O Senhor é bom e
não me tirou o bom humor”. (SP)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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