Renovar o esforço da plena unidade
Cidade do
Vaticano (RV) – O Papa partiu, na manhã desta sexta-feira (24/6) para mais uma
Viagem Apostólica, a 14ª do seu Pontificado, que o levou à Armênia.
Papa embarca em Roma |
Antes de partir
para uma viagem internacional, o Pontífice costuma ir à Basílica de Santa Maria
Maior para rezar diante da imagem de Nossa Senhora “Salus Populi Romani” pelo
bom êxito da sua viagem. O ramalhete de flores que o Papa depositou aos pés da
imagem mariana tinha as cores da bandeira armênia: vermelho, laranja e azul.
O Papa partiu do
aeroporto romano de Fiumicino às 9h locais (4h de Brasília), com destino à
capital armênia, Yerevan. Ao percorrer cerca de 3 mil quilômetros, em quatro
horas, o Santo Padre enviou, como de praxe, telegramas aos chefes de
Estado dos países sobrevoados: Itália, Croácia, Bósnia-Erzegóvina, Montenegro,
Sérvia, Bulgária e Turquia.
Francisco chega à Armênia |
Francisco visita
a Armênia a convite do Patriarca e Catholicos de todos os Armênios, Karekin II,
e das autoridades políticas e da Igreja Católica.
Após a cerimônia
de boas-vindas, no aeroporto de Yerevan, o Papa dirigiu-se para a Catedral
Apostólica, em Etchmiadzin, para alguns momentos de oração.
Depois das
cordiais saudações do Patriarca Karekin, o Santo Padre pronunciou seu discurso,
agradecendo as boas vindas do Catholicós de Todos os Armênios, dizendo:
Fraternidade
“Atravessei,
comovido, o limiar deste lugar sagrado, testemunha da história do seu povo,
centro irradiador de espiritualidade; considero uma graça de Deus poder me
aproximar do santo altar, de onde refulgiu a luz de Cristo na Armênia. Agradeço
o grato convite para visitá-los e à Sua Santidade, por ter-me acolhido em sua
casa. Este sinal de amor expressa, mais que as palavras, o profundo significado
de amizade e caridade fraterna”.
Nesta ocasião, o
Papa recordou que “a luz da fé confere à Armênia a sua identidade peculiar de
mensageira de Cristo entre as Nações”, que a acompanhou e amparou, sobretudo
nos momentos de maior provação:
“Inclino-me
diante da misericórdia do Senhor, que quis que a Armênia se tornasse a primeira
nação, desde o ano 301, a acolher o cristianismo como sua religião, em uma
época em que ainda enfuriavam as perseguições. Para a Armênia, a fé em Cristo
foi um elemento constitutivo da sua identidade, um dom de enorme valor
defendido à custa da própria vida”.
Unidade
Aqui, o
Pontífice invocou as bênçãos divinas sobre este luminoso testemunho de fé,
demonstrado até com o martírio, e a fecundidade do Batismo, recebido há mais de
1700 anos. Agradeceu a Deus pelo caminho que a Igreja Católica e a Igreja
Apostólica Armênia realizaram, mediante um diálogo sincero e fraterno, para
chegar à plena partilha da Mesa Eucarística:
Papa na Catedral Armênia |
“Que o Espírito
Santo nos ajude a realizar a unidade desejada por nosso Senhor, que pediu para
que todos os seus discípulos sejam uma só coisa e o mundo creia. Apraz-me
lembrar aqui o impulso decisivo dado à intensificação das relações e ao
fortalecimento do diálogo entre as nossas duas Igrejas nos últimos tempos por
Vasken I e Karekin I, e por São João Paulo II e Bento XVI”.
A seguir,
Francisco afirmou que o nosso mundo - marcado por divisões e conflitos, bem
como por graves formas de pobreza material e espiritual, incluindo a exploração
das pessoas, crianças e idosos, - espera dos cristãos um testemunho de estima
mútua e colaboração fraterna, que faça resplandecer diante de cada consciência
o poder e a verdade da Ressurreição de Cristo. E acrescentou:
“O esforço
paciente e renovado rumo à plena unidade, a intensificação das iniciativas
comuns e a colaboração entre todos os discípulos do Senhor, tendo em vista o
bem comum, representam uma luz e um apelo para viver, na caridade e na
compreensão mútua, as nossas diferenças. O espírito ecumênico adquire valor
exemplar e constitui um forte convite a compor as divergências através do
diálogo e da valorização do que nos une”.
O Bispo de Roma
concluiu seu pronunciamento ressaltando que “quando a nossa atividade é
inspirada e movida pela força do amor de Cristo, crescem o conhecimento e a
estima recíprocas, criam-se melhores condições para um caminho ecumênico
frutuoso e, ao mesmo tempo, mostra a toda a sociedade um caminho concreto, que
pode ser percorrido para harmonizar os conflitos que dilaceram a vida civil e
causam divisões”. (MT)
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sempre encontrou em Cristo a força para se levantar
Papa:
O povo armêniosempre encontrou em Cristo a força para se levantar
Yerevan (RV) - O
povo armênio guarda na sua memória não só as feridas do passado, mas também o
espírito que sempre lhe permitiu começar de novo: disse o Papa Francisco em seu
segundo discurso em terras armênias, no encontro com as autoridades, a
sociedade civil e o Corpo diplomático.
O encontro
deu-se no Palácio Presidencial, em Yerevan, na visita de cortesia ao Presidente
da República, Serzh Sargsyan.
Tendo
manifestado a alegria de visitar o país caucásico, o Pontífice falou de um povo
de antigas e ricas tradições, que testemunhou corajosamente a sua fé, que
sofreu muito, mas sempre voltou a renascer.
Papa Francisco
em visita de cortesia ao Presidente da Armênia, Serzh Sargsyan
|
Após ter
agradecido as palavras de boas-vindas do Presidente a ele dirigidas em nome do
governo e dos habitantes da Armênia, Francisco recordou com esta visita
retribuir a que fez o mandatário da nação ao Vaticano, no ano passado, ocasião
em que se celebrou o centenário do Metz Yeghérn, o “Grande Mal”, que atingiu o
povo armênio e causou a morte duma multidão enorme de pessoas, ressaltou.
Atendo-se a essa
imane tragédia que no século passado se abateu contra o povo armênio, o Papa
referiu-se a ela como o início das imensas tragédias do Séc. XX,
explicitando-a:
“Aquela
tragédia, aquele genocídio, marcou o início, infelizmente, do triste elenco das
imensas catástrofes do século passado, tornadas possíveis por aberrantes
motivações raciais, ideológicas ou religiosas, que ofuscaram a mente dos
verdugos até ao ponto de se prefixarem o intuito de aniquilar povos inteiros. É
muito triste que – tanto neste como nos outros – as grandes potências
internacionais olhavam para outro lado.”
Mesmo nos
momentos mais trágicos da sua história, o povo armênio “sempre encontrou na
Cruz e na Ressurreição de Cristo a força para se levantar de novo e retomar o
caminho com dignidade”, disse o Santo Padre evidenciando que isso revela como
são profundas as raízes da fé cristã e que tesouro infinito de consolação e
esperança a mesma encerra. Feitas tais considerações, o Papa acrescentou,
auspiciando com veemência:
“Tendo diante
dos nossos olhos os resultados nefastos a que conduziram, no século passado, o
ódio, o preconceito e a ambição desenfreada de domínio, espero vivamente que a
humanidade saiba tirar daquelas experiências trágicas a lição de agir, com
responsabilidade e sabedoria, para evitar os perigos de recair em tais
horrores.”
O Pontífice
exortou a que se multipliquem os esforços, por parte de todos, a fim de que,
nas disputas internacionais, prevaleçam sempre o diálogo, a busca constante e
genuína da paz, a colaboração entre os Estados e o assíduo empenho das
organizações internacionais, a fim de se construir um clima de confiança
propício a alcançar acordos duradouros, que olhem para o futuro.
A Igreja
Católica deseja colaborar ativamente com todos aqueles que têm a peito o
destino da civilização e o respeito pelos direitos da pessoa humana, para fazer
prevalecer no mundo os valores espirituais, desmascarando quantos deturpam o
seu significado e beleza.
A esse
propósito, Francisco foi taxativo:
“É de
importância vital que quantos declaram a sua fé em Deus unam as suas forças
para isolar quem quer que use a religião para levar a cabo projetos de guerra,
opressão e perseguição violenta, instrumentalizando e manipulando o Santo Nome
de Deus.”
Francisco
denunciou mais uma vez a perseguição de que os cristãos são vítimas em muitas
partes do mundo e os muitos conflitos que não encontram solução positiva.
Hoje, nalguns
lugares, particularmente os cristãos – como e talvez mais do que na época dos
primeiros mártires – são discriminados e perseguidos pelo simples fato de
professarem a sua fé, ao mesmo tempo que demasiados conflitos em várias áreas
do mundo permanecem ainda sem soluções positivas, causando lutos, destruições e
migrações forçadas de populações inteiras.
Por isso,
acrescentou, “é indispensável que os responsáveis pelo destino das nações
empreendam, com coragem e sem tardar, iniciativas destinadas a pôr fim a estes
sofrimentos, fazendo da busca da paz, da defesa e do acolhimento das pessoas
que são alvo de agressões e perseguições, da promoção da justiça e dum
desenvolvimento sustentável os seus objetivos primários”.
“O povo armênio
experimentou estas situações na própria carne; conhece o sofrimento e a dor,
conhece a perseguição; guarda na sua memória não só as feridas do passado, mas
também o espírito que sempre lhe permitiu começar de novo. Neste sentido,
encorajo-o a prestar a sua valiosa contribuição à comunidade internacional.”
Francisco
recordou que este ano se celebra o 25º aniversário da independência da Armênia.
Os festejos por
esta jubilosa ocorrência serão ainda mais significativos, afirmou o Pontífice,
“se se tornarem para todos os armênios, na pátria e na diáspora, um momento
especial de reunir e coordenar as energias com o objetivo de favorecer um
desenvolvimento civil e social, équo e inclusivo, do país”.
O Papa lembrou
que a história da Armênia caminha lado a lado com a sua identidade cristã,
preservada no decurso dos séculos. Esta identidade cristã, longe de ser
obstáculo para a sadia laicidade do Estado, observou, “exige-a e a alimenta,
estimulando a cidadania participativa de todos os membros da sociedade, a
liberdade religiosa e o respeito pelas minorias.
O Sucessor de
Pedro afirmou ainda que “a coesão de todos os armênios e o maior esforço por
identificar estradas úteis para superar as tensões com alguns países vizinhos
tornarão mais fácil realizar estes objetivos importantes, inaugurando uma época
de verdadeiro renascimento para a Armênia”.
“Deus abençoe e
proteja a Armênia, terra iluminada pela fé, pela coragem dos mártires, pela
esperança mais forte do que toda a dor”, concluiu o Pontífice. (RL)
Assista à cerimônia de boas-vindas:
Fonte: radiovaticana.va news.va
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