Encontro de "prestação de contas"
José Graziano conversa com Francisco |
“Prestação de
contas”, assim Graziano definiu o encontro aos microfones da Rádio Vaticano ao
relatar os temas abordados durante as conversas.
"Fundamentalmente
eu fiz ao Papa uma 'prestação de contas' dos trabalhos conjuntos que a
FAO tem feito com a Santa Sé. Basicamente dois grandes tópicos: a relação entre
paz e migração, e a segurança alimentar.
A FAO tem
trabalhado muito o tema da relação entre conflito e fome. Constatamos uma forte
correlação nos países onde tem guerra civil, conflitos armados, um aumento da
fome e da insegurança alimentar de modo geral.
Só começa a
melhorar quando se consegue a paz. De modo que a paz é uma condição para a
segurança alimentar mas também a segurança alimentar é uma condição para manter
a paz"
Colômbia e
República Centro-Africana
"Eu fui
basicamente apresentar o que estamos fazendo em dois países que são muito caros
ao Papa. Um é a Colômbia. A FAO está envolvida no processo da promoção do
dialogo e da negociação cuidando das áreas rurais que são basicamente a origem
do conflito.
Da mesma
maneira, estamos trabalhando na República Centro-Africana. O presidente, após
de estar com o Papa em abril, veio à FAO pedir ajuda para que a FAO implante um
programa que nós chamamos desarme, mobilização e reabilitação.
Trata-se de
encontrar oportunidades de trabalho para os jovens que deixam as milícias, para
poderem voltar a produzir na agricultura. A República Centro-Africana é um país
essencialmente agrícola; mais de dois terços da população é rural. De modo que
as oportunidades, principalmente para os jovens, só são possíveis de encontrar
numa agricultura desenvolvida e é isso que estamos fazendo".
Migração
"Apresentei
também uma propostas que o Papa considerou uma ideia inovadora de tratar o tema
da migração no Mediterrâneo. Eu fui propor ao Papa uma iniciativa junto com
outras agências da ONU, de construir um tipo de borda no litoral do
Mediterrâneo, de pontos de apoio para estes jovens que querem migrar.
Seria
basicamente um conjunto de hospedarias que nos permitissem dar alguma
assistência médica, obviamente distribuir comida, provisão mínima para eles, e
também dar algum tipo de capacitação, treinamento, e tentar convencê-los que há
oportunidades de trabalho nos seus países, uma vez cessado o conflito. Também
vamos assistir os pescadores deste litoral do Mediterrâneo para prestarem os
primeiros socorros, a primeira ajuda no caso de identificar esses botes, esses
pequenas embarcações que tentam essa travessia pelo Mediterrâneo".
Mudanças
Climáticas
"O segundo
ponto que levei ao Papa foi o tema do impacto que está fazendo a mudança
climática, em especial o El Niño, sobre a segurança alimentar. Resumidamente, o
El Niño está destruindo ou destruiu grande parte do progresso que a gente havia
feito nos países mais impactados, que inclui América Central, Etiópia, países
do sudeste da África.
Agora, em
sequência do El Niño, que está acabando no final de julho, a previsão é que em
agosto ressurja La Niña que faz exatamente o inverso: onde teve seca, vai ter
inundação.
Essa é a
mensagem: de alerta aos países. E o que os países podem fazer para não estar
sempre agindo como emergência. Para agir preventivamente e evitar situações de
calamidade como a gente viu no caso do El Niño".
Retrocesso na
América Latina
"O Papa
manifestou uma preocupação especial com a crise que enfrenta a América Latina.
Não é só o Brasil. O Brasil talvez seja a cara mais visível desta crise. Mas,
em geral, um retrocesso na América Latina. O esgotamento do ciclo das
commodities primárias da exportação levou a uma crise generalizada na região.
A região parou
de crescer e para uma região como América Latina parar de crescer, significa
não criar empregos, significa não absorver os jovens que entram todos os anos
no mercado de trabalho e significa aumentar a pobreza, a marginalidade, a
violência, tudo o que nós conhecemos durante décadas e que, nos últimos 15
anos, havíamos conseguido superar a muito custo, com duras penas.
Isso, em grande
parte, também se deve a uma visão dos governos que vão ganhando as eleições na
América Latina de que não é mais necessário manter estes programas.
O Papa enfatizou
muito isso, que essa é uma visão equivocada: deixar ao mercado administrar o
tema da miséria, da pobreza, é condenar os pobres a exclusão definitiva. A FAO
partilha desta visão do Papa, nós achamos que a segurança alimentar é um tema
de Estado e deve ser uma preocupação permanente dos governantes".
Encontros
anteriores
O Pontífice e
Graziano já se encontraram algumas vezes, seja em audiências no Vaticano, seja
na sede da FAO, em Roma, quando Francisco discursou aos participantes da 2ª Conferência
Internacional sobre Nutrição, em novembro de 2014.
Já em outubro
passado, a Missão da Santa Sé junto à FAO promoveu um debate sobre a Encíclica
Laudato si. Naquela ocasião, José Graziano da Silva falou sobre impacto do
documento para as decisões sobre o desenvolvimento sustentável. E recordou a
repercussão do discurso do Papa Francisco nas Nações Unidas em Nova Iorque. (bf/rb)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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