Papa, doutrina social da Igreja e América do Sul
Cidade do
Vaticano (RV) – Francisco finalmente pôde voltar para casa depois de mais de
dois anos. Não foi à sua “amada Pátria” argentina, mas à “Pátria Grande”
sul-americana – que o Brasil ainda insiste em dar as costas, isolando-se até
mesmo dentro do próprio Mercosul.
Ao desembarcar
no Equador, Francisco logo deixou claro que a visita não era a de um chefe de
Estado, mas de um pastor que conhece na pele as mazelas do povo americano.
"A América Latina tem uma dívida com os pobres”, recordou o Papa ao chegar
a Quito como “testemunha da misericórdia e da fé em Jesus Cristo”.
Em terras de
latitude zero, Francisco defendeu a família citando a Mãe de Jesus que “não Se
fecha em Si mesma, não Se encerra no seu mundo; ao contrário, o seu amor A faz
‘ser para’ os outros. O Papa também aproveitou a presença no ponto mais próximo
ao Espaço para lembrar que “a Igreja, como a lua, não tem luz própria e, se se
esconde do sol, que é Cristo, acaba por escurecer-se”.
A acolhida do
povo equatoriano à presença de Francisco foi emocionante. Por onde o Papa
passava, a população lançava pétalas de rosas que cobriam com um mosaico
multicolorido o branco alvo do papamóvel. Cores que representam a miscigenação
cultural da qual a fé não é adereço – e sim fundamento base desta colcha de
retalhos bem interlaçada que é a América do Sul.
O Pontífice
convidou essas pessoas a “lutar pela inclusão e confiar no coração sem
medo" e lembrar que “somos todos irmãos”, portanto “ninguém deve ser
descartado ou excluído". Aos professores, alertou para uma necessidade
urgente de uma “educação que forme espírito crítico” e que seja capaz de
“cuidar do mundo atual”.
Francisco voltou
a fazer uso dos trinômios para fixar suas ideias. No Equador, falou em
gratuidade, solidariedade e subsidiariedade: “Assumir que a nossa opção
não é necessariamente a única legítima é um sadio exercício de humildade”.
Ao se despedir
do Equador, no encontro com os religiosos, o Papa ofereceu uma nova reflexão e
a necessidade de se cultivar uma “cultura da memória”.
“Não percam a
memória, sobretudo, a memória de onde vocês vieram. Não reneguem suas raízes. E
não se sintam promovidos. A gratuidade não pode conviver com a promoção. Quando
um religioso começa a fazer carreira, carreira humana, começa a adoecer e a
perder a memória de onde veio. Todos os dias renovem o sentimento que tudo é
gratuidade. Nada merecemos. E peçam a graça de não perder a memória”, sublinhou
Francisco.
O recado vai
além da esfera individual. Uma sociedade sem memória é uma sociedade sem
futuro. A exortação do Papa vai a todos para que custodiem os guardiões da
memória: os idosos.
A “cultura da
memória” marcou a chegada do Papa à Bolívia que nas alturas de La Paz, alertou
para os perigos de um crescimento que não leva em consideração o ser
humano na sua condição integral.
É preciso
“custodiar aos que hoje são descartados por tantos interesses que colocam ao
centro da vida econômica o deus dinheiro. E são descartados as crianças e os
jovens que são o futuro do País, e os idosos que são a memória. Por isso, temos
que cuidar e protegê-los, porque são nosso futuro”, alertou Francisco.
No Estado
Plurinacional da Bolívia, a viagem de Francisco adquiriu um forte tom
político-ideológico para os meios de comunicação e para a Igreja,
pastoral-social inspirado no Evangelho.
O episódio da
entrega da famigerada réplica do crucifixo feito pelo padre jesuíta espanhol
Luis Espinal, assassinado pelo regime comunista, por Evo Morales ao Papa,
desencadeou reações instantâneas na opinião pública.
Diante dos
apelos imediatistas da rede, o que se viu foi um exemplo claro do que o Papa
nos alerta na encíclica Laudato si quando fala das consequências do “ruído
dispersivo da informação”.
“A verdadeira
sabedoria, fruto da reflexão, do diálogo e do encontro generoso entre pessoas,
não se adquire com uma mera acumulação de dados que, numa espécie de poluição
mental, acabam por saturar e confundir”. (LS 47)
No voo de volta
a Roma, o Papa garantiu que não se sentiu ofendido com o presente. Explicou que
não conhecia a obra mas que, ao fazer uma análise hermenêutica da história de
vida de Padre Espinal, classificou-a como “arte de protesto”.
Positiva e
surpreendente foi a posição do Papa que, com muita coragem, pediu diálogo para
resolver a questão político-geográfica entre Chile e Bolívia para uma saída
territorial boliviana para o mar.
“Penso na saída
para o mar. Diálogo: é indispensável. Devemos construir pontes, em vez de
erguer muros. Devemos construir pontes, em vez de erguer muros”, repetiu o
Pontífice.
Em Santa Cruz de
la Sierra, entra para a história o contundente pronunciamento de Francisco ao
encerrar o encontro mundial de Movimentos Populares.
“Aqui, na
Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: ‘processo de mudança’. A mudança
concebida, não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela
opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social”.
Este é somente
um pequeno trecho entre os mais marcantes do discurso que convidamos aqui para rever, escutar ou ler as palavras do Papa na íntegra,
como nos exorta o Pontífice, novamente em sua encíclica Laudato si, para
combater a informação dispersiva no mundo digital.
Contudo, o
momento mais emocionante da passagem do Papa na Bolívia foi o encontro com os
detentos de Palmasola, e os seus filhos. Por uma hora, a liberdade – a
verdadeira liberdade trazida por Cristo – abriu espiritualmente as portas desta
periferia na periferia, símbolo do sistema do descarte. Ali, Francisco recordou
que reclusão não significa exclusão, mas um processo – necessário – de
reinserção social.
A visita à
Bolívia conclui-se com Francisco que deixa aos pés de Nossa Senhora de
Copacabana as condecorações recebidas pela presidência. “Nunca aceitei uma
condecoração. Mas como foram-me dadas com tanto carinho, rezei e deixei aos pés
da padroeira”, disse o Papa no avião aos jornalistas.
Um ponto em
comum entre os três Países visitados foi o encontro de Francisco, sempre que
possível e às vezes fora de programa, com os confrades jesuítas. Fez até
“propaganda” de Santo Inácio ao lembrar que o fundador da Companhia de Jesus,
nos Exercícios espirituais, dizia “que o amor se mostra mais nas obras do que
em palavras”.
A obra que
Francisco construiu, contudo, com suas palavras no Paraguai atestam o amor do
Pontífice pelo povo do “Coração da América”, como o Papa mesmo chamou as terras
guaranis das Reduções jesuíticas.
Em diversos
encontros, as músicas daquele tempo deram o tom da passagem do Papa pelo
Paraguai. Trilha sonora “bailada” pelas mulheres paraguaias, as “mais gloriosas”
da América, enalteceu Francisco, por terem levado o País adiante após a guerra
fratricida que quase acabou com a fraternidade de povos irmãos.
Olhando para o
futuro, os jovens do mundo inteiro representados na juventude paraguaia, o Papa
encerrou sua viagem pedindo corações livres para conhecer Jesus e a rocha firme
que é Deus.
Todo o conteúdo
multimídia produzido pela redação do Programa Brasileiro da Rádio Vaticano está
disponível neste link. Um verdadeiro arquivo histórico da primeira
viagem de um Papa latino-americano ao “Continente da Esperança”. Saibamos
receber e acolher a palavra de Francisco e a doutrina social da Igreja – que
tem na base a obra concreta do Salvador de todos os povos. (RV)
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Viagem do Papa:
Viagem do Papa:
Confira os conteúdos da cobertura multimídia da RV
Cidade do Vaticano (RV) – A redação disponibiliza abaixo o resultado da cobertura multimídia da viagem do Papa Francisco à América do Sul, entre 5 e 13 de julho. O Programa Brasileiro contou com uma enviada especial à Bolívia, enquanto a equipe de 6 jornalistas ficou dividida entre a redação e as transmissões especiais das atividades do Papa.
O site e as
redes sociais (Facebook - YouTube) foram atualizados na medida em que os eventos se
realizavam, desde a chegada do Papa ao Equador até a despedida no
Paraguai. Os principais eventos puderam ser acompanhados em tempo real por
meio do VaticanPlayer.
A prioridade,
claro, é a palavra do Papa Francisco. Por isso, em nosso canal de vídeo pode
encontrar uma playlist especial com a íntegra dos principais
discursos e homilias do Pontífice.
Abaixo, a lista
com as 22 transmissões especiais em português e seus respectivos conteúdos
multimídia.
Domingo, 5 de
julho (Equador)
17h – Cerimônia
de Boas-Vindas no Aeroporto Internacional de Quito (Vídeo) (Texto e áudio)
Segunda-feira, 6
de julho (Equador)
12h30
– Visita ao Santuário da Divina Misericórdia (Texto e áudio)
13h15 – Santa
Missa em Guayaquil (Vídeo) (Texto e áudio)
21h50 – Visita
ao Presidente equatoriano Rafael Correa (Texto e áudio)
22h10 – Visita à
Catedral de Quito (Vídeo) (Texto e áudio)
Terça-feira, 7
de julho (Equador)
12h30 – Santa
Missa no Parque Bicentenário (Texto e áudio) (Vídeo)
18h15 – Encontro
com o mundo estudantil e universitário (Texto e áudio) (Vídeo)
19h45 – Encontro
com a Sociedade Civil (Texto e áudio) (Vídeo)
Quarta-feira, 8
de julho (Equador - Bolívia)
12h20 – Encontro
com o clero, religiosos, religiosas e seminaristas (Texto e áudio) (Vídeo)
17h10 –
Cerimônia de Boas-vindas no Aeroporto de La Paz (Texto e áudio)
19h40 – Encontro
com as autoridades civis na Catedral de La Paz (Texto e áudio) (Vídeo)
Quinta-feira, 9
de julho (Bolívia)
10h45 – Santa
Missa na Praça do Cristo Redentor (Texto e áudio) (Vídeo)
16h50 – Encontro
com o Clero (Texto e áudio) (Vídeo)
18h20 –
Participação no 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (Texto e áudio) (Vídeo)
Sexta-feira, 10
de julho (Bolívia – Paraguai)
10h20 – Visita à
Penitenciária de Palmasola (Texto e áudio) (Vídeo)
19h30 – Encontro
com as autoridades civis do Paraguai (Texto e áudio) (Vídeo)
Sábado, 11 de
julho (Paraguai)
11h00 –
Santa Missa no Santuário de Caacupé (Texto e áudio) (Vídeo)
17h05 – Encontro
com a sociedade civil no Estádio León Condou (Texto e áudio) (Vídeo)
19h15 – Vésperas
com os bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas (Texto e áudio) (Vídeo)
Domingo, 12 de
julho (Paraguai)
9h05 – Visita à
população de Bañado Norte (Texto é áudio) (Vídeo)
10h50 – Santa
Missa no campo de Ñu Guazú (Texto e áudio) (Vídeo)
17h50 – Encontro
com os jovens na Beira-Rio “Costanera” (Texto e áudio) (Vídeo)
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Fonte: radiovaticana.va
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