sexta-feira, 17 de julho de 2015

Editorial da Rádio Vaticano

Papa, doutrina social da Igreja e América do Sul

Cidade do Vaticano (RV) – Francisco finalmente pôde voltar para casa depois de mais de dois anos. Não foi à sua “amada Pátria” argentina, mas à “Pátria Grande” sul-americana – que o Brasil ainda insiste em dar as costas, isolando-se até mesmo dentro do próprio Mercosul.
Ao desembarcar no Equador, Francisco logo deixou claro que a visita não era a de um chefe de Estado, mas de um pastor que conhece na pele as mazelas do povo americano. "A América Latina tem uma dívida com os pobres”, recordou o Papa ao chegar a Quito como “testemunha da misericórdia e da fé em Jesus Cristo”.
Em terras de latitude zero, Francisco defendeu a família citando a Mãe de Jesus que “não Se fecha em Si mesma, não Se encerra no seu mundo; ao contrário, o seu amor A faz ‘ser para’ os outros. O Papa também aproveitou a presença no ponto mais próximo ao Espaço para lembrar que “a Igreja, como a lua, não tem luz própria e, se se esconde do sol, que é Cristo, acaba por escurecer-se”.
A acolhida do povo equatoriano à presença de Francisco foi emocionante. Por onde o Papa passava, a população lançava pétalas de rosas que cobriam com um mosaico multicolorido o branco alvo do papamóvel. Cores que representam a miscigenação cultural da qual a fé não é adereço  – e sim fundamento base desta colcha de retalhos bem interlaçada que é a América do Sul.
O Pontífice convidou essas pessoas a “lutar pela inclusão e confiar no coração sem medo" e lembrar que “somos todos irmãos”, portanto “ninguém deve ser descartado ou excluído". Aos professores, alertou para uma necessidade urgente de uma “educação que forme espírito crítico” e que seja capaz de “cuidar do mundo atual”.
Francisco voltou a fazer uso dos trinômios para fixar suas ideias. No Equador, falou em gratuidade, solidariedade e subsidiariedade:  “Assumir que a nossa opção não é necessariamente a única legítima é um sadio exercício de humildade”.
Ao se despedir do Equador, no encontro com os religiosos, o Papa ofereceu uma nova reflexão e a necessidade de se cultivar uma “cultura da memória”.
“Não percam a memória, sobretudo, a memória de onde vocês vieram. Não reneguem suas raízes. E não se sintam promovidos. A gratuidade não pode conviver com a promoção. Quando um religioso começa a fazer carreira, carreira humana, começa a adoecer e a perder a memória de onde veio. Todos os dias renovem o sentimento que tudo é gratuidade. Nada merecemos. E peçam a graça de não perder a memória”, sublinhou Francisco.
O recado vai além da esfera individual. Uma sociedade sem memória é uma sociedade sem futuro. A exortação do Papa vai a todos para que custodiem os guardiões da memória: os idosos.
A “cultura da memória” marcou a chegada do Papa à Bolívia que nas alturas de La Paz, alertou para  os perigos de um crescimento que não leva em consideração o ser humano na sua condição integral.
É preciso “custodiar aos que hoje são descartados por tantos interesses que colocam ao centro da vida econômica o deus dinheiro. E são descartados as crianças e os jovens que são o futuro do País, e os idosos que são a memória. Por isso, temos que cuidar e protegê-los, porque são nosso futuro”, alertou Francisco.
No Estado Plurinacional da Bolívia, a viagem de Francisco adquiriu um forte tom político-ideológico para os meios de comunicação e para a Igreja, pastoral-social inspirado no Evangelho.
O episódio da entrega da famigerada réplica do crucifixo feito pelo padre jesuíta espanhol Luis Espinal, assassinado pelo regime comunista, por Evo Morales ao Papa, desencadeou reações instantâneas na opinião pública.
Diante dos apelos imediatistas da rede, o que se viu foi um exemplo claro do que o Papa nos alerta na encíclica Laudato si quando fala das consequências do “ruído dispersivo da informação”.
“A verdadeira sabedoria, fruto da reflexão, do diálogo e do encontro generoso entre pessoas, não se adquire com uma mera acumulação de dados que, numa espécie de poluição mental, acabam por saturar e confundir”. (LS 47)
No voo de volta a Roma, o Papa garantiu que não se sentiu ofendido com o presente. Explicou que não conhecia a obra mas que, ao fazer uma análise hermenêutica da história de vida de Padre Espinal, classificou-a como “arte de protesto”.
Positiva e surpreendente foi a posição do Papa que, com muita coragem, pediu diálogo para resolver a questão político-geográfica entre Chile e Bolívia para uma saída territorial boliviana para o mar.
“Penso na saída para o mar. Diálogo: é indispensável.  Devemos construir pontes, em vez de erguer muros. Devemos construir pontes, em vez de erguer muros”, repetiu o Pontífice.
Em Santa Cruz de la Sierra, entra para a história o contundente pronunciamento de Francisco ao encerrar o encontro mundial de Movimentos Populares.
“Aqui, na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: ‘processo de mudança’. A mudança concebida, não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social”.
Este é somente um pequeno trecho entre os mais marcantes do discurso que convidamos aqui para rever, escutar ou ler as palavras do Papa na íntegra, como nos exorta o Pontífice, novamente em sua encíclica Laudato si, para combater a informação dispersiva  no mundo digital.
Contudo, o momento mais emocionante da passagem do Papa na Bolívia foi o encontro com os detentos de Palmasola, e os seus filhos. Por uma hora, a liberdade – a verdadeira liberdade trazida por Cristo – abriu espiritualmente as portas desta periferia na periferia, símbolo do sistema do descarte. Ali, Francisco recordou que reclusão não significa exclusão, mas um processo – necessário – de reinserção social.
A visita à Bolívia conclui-se com Francisco que deixa aos pés de Nossa Senhora de Copacabana as condecorações recebidas pela presidência. “Nunca aceitei uma condecoração. Mas como foram-me dadas com tanto carinho, rezei e deixei aos pés da padroeira”, disse o Papa no avião aos jornalistas.
Um ponto em comum entre os três Países visitados foi o encontro de Francisco, sempre que possível e às vezes fora de programa, com os confrades jesuítas. Fez até “propaganda” de Santo Inácio ao lembrar que o fundador da Companhia de Jesus, nos Exercícios espirituais, dizia “que o amor se mostra mais nas obras do que em palavras”.
A obra que Francisco construiu, contudo, com suas palavras no Paraguai atestam o amor do Pontífice pelo povo do “Coração da América”, como o Papa mesmo chamou as terras guaranis das Reduções jesuíticas.
Em diversos encontros, as músicas daquele tempo deram o tom da passagem do Papa pelo Paraguai. Trilha sonora “bailada” pelas mulheres paraguaias, as “mais gloriosas” da América, enalteceu Francisco, por terem levado o País adiante após a guerra fratricida que quase acabou com a fraternidade de povos irmãos.
Olhando para o futuro, os jovens do mundo inteiro representados na juventude paraguaia, o Papa encerrou sua viagem pedindo corações livres para conhecer Jesus e a rocha firme que é Deus.
Todo o conteúdo multimídia produzido pela redação do Programa Brasileiro da Rádio Vaticano está disponível neste link. Um verdadeiro arquivo histórico da primeira viagem de um Papa latino-americano ao “Continente da Esperança”. Saibamos receber e acolher a palavra de Francisco e a doutrina social da Igreja – que tem na base a obra concreta do Salvador de todos os povos. (RV)
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Viagem do Papa:
Confira os conteúdos da cobertura multimídia da RV

Cidade do Vaticano (RV) – A redação disponibiliza abaixo o resultado da cobertura multimídia da viagem do Papa Francisco à América do Sul, entre 5 e 13 de julho. O Programa Brasileiro contou com uma enviada especial à Bolívia, enquanto a equipe de 6 jornalistas ficou dividida entre a redação e as transmissões especiais das atividades do Papa. 
O site e as redes sociais (Facebook - YouTube) foram atualizados na medida em que os eventos se realizavam, desde a chegada do Papa ao Equador até a despedida no Paraguai. Os principais eventos puderam ser acompanhados em tempo real por meio do VaticanPlayer
A prioridade, claro, é a palavra do Papa Francisco. Por isso, em nosso canal de vídeo pode encontrar uma playlist especial com a íntegra dos principais discursos e homilias do Pontífice.
Abaixo, a lista com as 22 transmissões especiais em português e seus respectivos conteúdos multimídia.
Domingo, 5 de julho (Equador)
17h – Cerimônia de Boas-Vindas no Aeroporto Internacional de Quito (Vídeo) (Texto e áudio)
Segunda-feira, 6 de julho (Equador)
12h30 – Visita ao Santuário da Divina Misericórdia (Texto e áudio)
13h15 – Santa Missa em Guayaquil (Vídeo) (Texto e áudio
21h50 – Visita ao Presidente equatoriano Rafael Correa (Texto e áudio)
22h10 – Visita à Catedral de Quito (Vídeo) (Texto e áudio)
Terça-feira, 7 de julho (Equador)
12h30 – Santa Missa no Parque Bicentenário (Texto e áudio) (Vídeo)
18h15 – Encontro com o mundo estudantil e universitário (Texto e áudio) (Vídeo)
19h45 – Encontro com a Sociedade Civil (Texto e áudio) (Vídeo)
Quarta-feira, 8 de julho (Equador - Bolívia)
12h20 – Encontro com o clero, religiosos, religiosas e seminaristas (Texto e áudio) (Vídeo)
17h10 – Cerimônia de Boas-vindas no Aeroporto de La Paz (Texto e áudio)
19h40 – Encontro com as autoridades civis na Catedral de La Paz (Texto e áudio) (Vídeo)
Quinta-feira, 9 de julho (Bolívia)
10h45 – Santa Missa na Praça do Cristo Redentor (Texto e áudio) (Vídeo)
16h50 – Encontro com o Clero (Texto e áudio) (Vídeo)
18h20 – Participação no 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (Texto e áudio) (Vídeo)
Sexta-feira, 10 de julho (Bolívia – Paraguai)
10h20 – Visita à Penitenciária de Palmasola (Texto e áudio) (Vídeo)
19h30 – Encontro com as autoridades civis do Paraguai (Texto e áudio) (Vídeo)
Sábado, 11 de julho (Paraguai)
11h00 –  Santa Missa no Santuário de Caacupé (Texto e áudio) (Vídeo)
17h05 – Encontro com a sociedade civil no Estádio León Condou (Texto e áudio) (Vídeo)
19h15 – Vésperas com os bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas (Texto e áudio) (Vídeo)
Domingo, 12 de julho (Paraguai)
9h05 – Visita à população de Bañado Norte (Texto é áudio) (Vídeo)
10h50 – Santa Missa no campo de Ñu Guazú (Texto e áudio) (Vídeo)
17h50 – Encontro com os jovens na Beira-Rio “Costanera” (Texto e áudio) (Vídeo)
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                                                                                              Fonte: radiovaticana.va

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