Arcebispo de Aparecida motiva a reflexão do pedido
de intenção do Papa Francisco para o mês de fevereiro.
A onipresença
da corrupção, até agora muito velada, começa a ser aos poucos desvelada. Conhecemos
só a ponta do iceberg. Quando as investigações chegarem nos bancos, nos portos
e aeroportos, nas religiões e no narcotráfico, na polícia e nos governos, no
esporte e no comércio, no agronegócio e nas industrias, nas diversas organizações
econômicas, sociais e políticas, haveremos de nos convencer da atualidade
do sétimo mandamento: Não roubar.
Cada um de
nós sabe por experiência como somos desonestos, mentirosos, interesseiros em
relação ao dinheiro. A natureza humana nasce corrompida. Sem a educação
moral, sem a fé, sem a graça de Deus a tendência à corrupção não é curada. Pior
ainda, ela é amparada por outra perversidade que é a mentira. Entre nós
brasileiros a corrupção tornou-se “cultura do jeitinho”, do levar vantagem em
tudo. Mentir e roubar é como um casamento indissolúvel.
Sabemos que a corrupção
é uma das “piores deformações” do ser humano e da sociedade. A Reforma
Política proposta pela “Coalizão de Entidades" entre elas a CNBB, quer
coibir o financiamento das empresas a candidatos às eleições. É um basta à
corrupção na política. Do contrário, continuaremos com a política do jeito, do
favor, da ocultação, da politicagem. O povo, saturado, enojado e indignado com
tanta corrupção foi para as ruas dizer um basta. Será que foi ouvido?
As
consequências da corrupção são inúmeras causando prejuízos e morte. As áreas
mais afetadas são: o saneamento básico, o emprego, a educação, a saúde, as
desigualdades sociais, as políticas publicas, o tráfico de pessoas, a
ilegalidade, a impunidade, o crime organizado. Tem razão o Papa Francisco
ao dizer a corrupção é uma porcaria, uma sujeira, lama pura, vergonha e
escândalo.
Carecemos de
desenvolvimento ético, espiritual, humanitário. Em pleno século 21 ainda somos
analfabetos e incivilizados no que diz respeito à transparência, à verdade, aos
valores humanos e morais. Rejeitando a oferta e a sabedoria do reino de Deus,
preferimos construir um mundo sem Deus. O que aconteceu foi a criação de um
mundo contra o homem, a vida, o cosmos. No lugar da conversão, preferimos a
aversão, a diversão, a subversão, a corrupção.
Somos
interpelados a reverter o que está invertido. As potencialidades do bem, a
força do amor, a iluminação da fé, a honestidade intelectual, são mais fortes
que o império do mal. Façamos como o garimpeiro que no meio da lama encontra
ouro e pérolas. Não podemos deixar de ser devotos da vida e da dignidade
humana. Um mundo novo é possível e o desejo de ser bom e melhor, mora no fundo
de cada coração. Há lá no fundo uma luz.
Os cristãos
acreditam na recuperação das pessoas, no poder da ternura, da misericórdia.
Sobretudo acreditam na justiça, no amor, na liberdade e na verdade como pilares
da sociedade. Cremos na invencibilidade do bem e no poder do bom senso, da
retidão, da compaixão como meios de mudança social. O cristão é portador
do reino de Deus, da Doutrina Social da Igreja sob a luz do Evangelho. Os
valores da Teologia, da Libertação, da opção pelos pobres, da profecia não
desapareceram mas precisam ser reabilitados. A volta do conservadorismo é
assustadora. O pontificado de Papa Francisco tornou-se um sinal dos tempos para
a contribuição de um mundo melhor e a superação de toda espécie da corrupção.
O sociólogo
Sergio Cotta, escreve que todas as revoluções da humanidade estão em busca da
inocência perdida no jardim do Paraíso. Há um desejo de transparência,
coerência, purificação do coração na humanidade. Lembremo-nos de Jesus Cristo,
dos nossos santos e santas, de Gandhi, de Martin Luther King, de Teresa de
Calcutá, de Mandela, de Dom Helder, Dom Luciano e grandes pontífices: São João
XXIII, São João Paulo II, Beato Paulo VI. Todos eles foram profetas que
denunciaram a corrupção. Jesus expulsou os vendilhões do templo com ira
profética, assim devem fazer seus discípulos.
A fome de
dinheiro é o supremo afrodisíaco, afirma um grande estadista. O povo costuma
dizer: “o dinheiro compra tudo”. Como seria bom lembrar que quando formos
sepultados “o caixão não tem gaveta”. Sim, a divinização do dinheiro que é a
atualização da idolatria do “bezerro de ouro”, clama pela indignação ética e
pela observância dos Dez Mandamentos. A exemplo do profeta Moisés é
preciso destruir o ídolo perverso, que é a corrupção. Falta-nos a educação para
a justiça e a espiritualidade da pobreza evangélica, da partilha e da
sobriedade. Corrupção nunca mais. Ah, se procurássemos a Deus como procuramos o
dinheiro a sociedade seria bem melhor. Vida sim, corrupção não.
Dom Orlando Brandes - Arcebispo de Aparecida
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Fonte: www.vaticannews.va/pt
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