Papa na missa em
Morelia:
Não nos deixeis cair na tentação da resignação
Morelia (RV) - “Não
nos deixeis cair na tentação da resignação”: foi a oração à qual o Papa
Francisco convidou os sacerdotes, religiosos, religiosas, consagrados e
seminaristas, na missa celebrada no Estádio "Venustiano Carranza" em
Morelia – centro do México –, em seu quinto dia em terras mexicanas.
Num encontro
muito aguardado, o Santo Padre dedicou sua reflexão, em parte, à necessidade de
reagir às adversidades diante de uma realidade que parece insuperável.
Diante das
adversidades, vencer a tentação da resignação
“Uma das
tentações que nos assalta, uma das tentações que surge não só de contemplar a
realidade, mas também de viver nela… sabeis qual pode ser?” – perguntou o
Pontífice.
Sacerdote durante a missa |
Qual é a
tentação que nos pode vir de ambientes dominados muitas vezes pela violência, a
corrupção, o tráfico de drogas, o desprezo pela dignidade da pessoa, a
indiferença perante o sofrimento e a precariedade? – insistiu Francisco.
“À vista desta
realidade que parece ter-se tornado um sistema irremovível, qual é a tentação
que repetidamente nos vem? Acho que poderemos resumi-la com a palavra
resignação. À vista desta realidade, pode vencer-nos uma das armas preferidas
do demônio: a resignação.”
“Uma resignação
que nos paralisa e impede não só de caminhar, mas também de abrir caminho; uma
resignação que não só nos atemoriza, mas também nos entrincheira nas nossas
«sacristias» e seguranças aparentes; uma resignação que não só nos impede de
anunciar, mas impede-nos também de louvar; uma resignação que nos impede não só
de projetar, mas também de arriscar e transformar.”
A oração na vida
sacerdotal e religiosa
O Papa havia
iniciado a homilia refletindo sobre a oração na vida sacerdotal e religiosa, na
vida dos consagrados em geral:
“Há um aforisma
que recita assim: «Diz-me como rezas e dir-te-ei como vives, diz-me como vives
e dir-te-ei como rezas»; porque, mostrando-me como rezas, aprenderei a
descobrir o Deus vivo e, mostrando-me como vives, aprenderei a acreditar no
Deus a quem rezas, pois a nossa vida fala da oração e a oração fala da nossa
vida, e a nossa vida fala na oração e a oração fala na nossa vida. Aprende-se a
rezar, como se aprende a caminhar, a falar, a escutar. A escola da oração é a
escola da vida, e a escola da vida é o lugar onde fazemos escola de oração.”
Jesus mostrou o
que significa ser Filho de Deus
Dirigindo-se aos
consagrados, Francisco ressaltou que Jesus quis introduzir os seus no mistério
da Vida. Ele mostrou-lhes que significa ser Filho Deus.
No seu olhar, no
seu caminhar, fê-los experimentar a força, a novidade de dizer: «Pai Nosso». Em
Jesus, esta expressão não tem o sabor velho da rotina ou da repetição; pelo
contrário, sabe a vida, a experiência, a autenticidade. Ele soube viver rezando
e rezar vivendo, ao dizer: Pai Nosso.
O primeiro
chamado que Jesus fez aos seus
Dito isso, o
Santo Padre frisou que hoje o Mestre nos convida a fazer o mesmo, e lembrou
qual foi o primeiro chamado que Jesus fez aos seus:
“O nosso
primeiro chamado é para fazer experiência deste amor misericordioso do Pai na
nossa vida, na nossa história. O primeiro chamado que Jesus nos fez foi para
nos introduzir nesta nova dinâmica do amor, da filiação. O nosso primeiro
chamado é para aprender a dizer «Pai Nosso», dizer Abbá.”
Jesus chamou-nos
para participar na sua vida, na vida divina: Ai de nós, se não a
compartilharmos! Ai de nós, se não formos testemunhas do que vimos e ouvimos!
Ai de nós! – advertiu o Papa.
Dizer com a
nossa vida Pai Nosso
Em que consiste
a missão senão em dizer com a nossa vida: Pai Nosso? – perguntou Francisco. É a
este Pai Nosso que nos dirigimos todos os dias rezando:
“Não nos deixeis
cair em tentação. Fê-lo o próprio Jesus. Rezou para que nós, seus discípulos –
de ontem e de hoje –, não caíssemos em tentação.”
Nos momentos de
tentação revisitar a memória
“Nos momentos de
tentação, faz-nos muito bem apelar para a nossa memória. Ajuda-nos muito
considerar a «madeira» de que fomos feitos. Não começou tudo conosco, nem
acabará tudo conosco”, observou Francisco, “por isso, faz-nos bem recuperar a
recordação da história que nos trouxe até aqui”, acrescentou.
Concluindo sua
reflexão, o Papa quis lembrar um grande evangelizador daquelas terras, o
primeiro bispo de Michoacán, Vasco Vásquez de Quiroga, também conhecido como Tato
Vasco, “o espanhol que se fez índio”.
“Revisitando a
memória, não podemos esquecer-nos de alguém que amou tanto este lugar, que se
fez filho desta terra. Alguém que pôde dizer de si mesmo: «Tiraram-me da
magistratura para me porem na plenitude do sacerdócio por mérito dos meus
pecados. A mim, inútil e completamente inábil para a execução de tão grande
empreendimento; a mim, que não sabia remar, elegeram-me primeiro bispo de
Michoacán».”
Francisco
citou-o qual evangelizador que não se deixou resignar diante das adversidades
vividas pelos índios Purhépechas:
“A realidade
vivida pelos índios Purhépechas – que ele descreve como «vendidos, vexados e
errando pelos mercados recolhendo os restos que se jogavam fora» –, longe de o
fazer cair na tentação do torpor e da resignação, moveu a sua fé, moveu a sua
vida, moveu a sua compaixão e estimulou-o a realizar várias iniciativas que
permitissem «respirar» no meio desta realidade tão paralisante e injusta. A
amargura do sofrimento dos seus irmãos fez-se oração e a oração fez-se resposta
concreta. Isto valeu-lhe, entre os índios, o nome de «Tata Vasco» que, na
língua purhépechas, significa «papai».”
“Não nos deixeis
cair na tentação da resignação, não nos deixeis cair na tentação da perda da
memória, não nos deixeis cair na tentação de nos esquecermos dos nossos maiores
que nos ensinaram, com a sua vida, a dizer: Pai Nosso”, concluiu o Papa
Francisco. (RL)
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Francisco aos jovens mexicanos:
Francisco aos jovens mexicanos:
Não sejam mercadorias do narcotráfico
Um
discurso veemente e claro com uma mensagem de esperança aos jovens mexicanos,
"a riqueza desta terra", cuja esperança em um futuro melhor é
ameaçada pelos tentáculos do "narcotráfico, das drogas, de organizações
criminosas que semeiam o terror".
O antídoto
oferecido pelo Papa à juventude para que não se deixe roubar a esperança -
mesmo quando tudo parece estar perdido? Jesus! Sentir o amor de Cristo que
revela o que há de melhor em nós foi o pedido que "El Papa Pancho"
fez aos milhares de jovens presentes no Estádio "José Maria Morelos y
Pavón", em Morelia, no final da tarde desta terça-feira (16/02).
Abaixo, a
íntegra do discurso de Francisco. Os grifos são da redação.
***
Queridos jovens,
boa tarde!
Quando cheguei a
esta terra, fui recebido com boas-vindas calorosas, podendo assim constatar
algo que já intuíra há tempos: a vitalidade, a alegria, o espírito de festa do
povo mexicano.
Agora mesmo,
depois de ouvir e sobretudo depois de ver vocês, constato de novo outra
certeza, algo que disse ao Presidente da nação, na minha primeira saudação: um
dos maiores tesouros desta terra mexicana tem um rosto jovem, são os seus
jovens. É verdade! Vocês são a riqueza desta terra. Eu não disse a esperança
desta terra, mas a sua riqueza.
"Vocês me pediram uma palavra de esperança... A que tenho para dar chama-se Jesus Cristo" |
Não se pode
viver a esperança, pressentir o amanhã, se antes a pessoa não consegue
estimar-se, se não consegue sentir que a sua vida, as suas mãos e a sua
história, têm valor.
A esperança
nasce, quando se pode experimentar que nem tudo está perdido, mas para isso é
necessário exercitar-se começando “em casa”, começando por si mesmo.
Nem tudo está
perdido. Não estou perdido, valho... e muito! A principal ameaça à
esperança são os discursos que te desvalorizam, fazem ter sentir um ser de
segunda classe. A principal ameaça à esperança é quando sentes que não
interessas a ninguém, ou que te deixaram de lado.
A principal
ameaça à esperança é quando sentes que tanto vale estares como não estares.
Isto mata, isto aniquila-nos e é porta de entrada para tanta amargura.
A principal
ameaça à esperança é fazer-te crer que começas a valer qualquer coisa, quando
te mascaras com roupas de marca, do último grito da moda, ou que ganhas
prestígio, te tornas importante por teres dinheiro, mas, no fundo do teu
coração, não crês ser digno de carinho, digno de amor.
A principal
ameaça é quando uma pessoa sente que tudo aquilo de que precisa é ter dinheiro
para comprar tudo, inclusive o carinho dos outros. A principal ameaça é crer
que, pelo fato de ter um grande “carro”, és feliz.
Vocês são a
riqueza do México, vocês são a riqueza da Igreja. Compreendo que muitas vezes
se torna difícil sentir-se tal riqueza, quando estamos continuamente sujeitos à
perda de amigos ou familiares nas mãos do narcotráfico, das drogas, de
organizações criminosas que semeiam o terror.
É difícil
sentir-se a riqueza de uma nação, quando não se tem oportunidades de trabalho
digno, possibilidades de estudo e formação, quando não se sentem reconhecidos
os direitos levando vocês a situações extremas.
É difícil
sentir-se a riqueza de um lugar, quando, por serem jovens, usam vocês para fins
mesquinhos, seduzindo vocês com promessas que, no fim, se revelam vãs.
Mas, apesar de
tudo isto, não me cansarei de dizer: vocês são a riqueza do México.
Não pensem que
digo isto, porque sou bom ou porque já vejo tudo claro! Não, queridos amigos,
não é por isso.
Digo isto a
vocês, e digo-o convencido, sabem porquê? Porque, como vocês, creio em Jesus
Cristo. E é Ele que renova continuamente em mim a esperança, é Ele que renova
continuamente o meu olhar.
É Ele que me
convida continuamente a converter o coração. Sim, meus amigos! Digo isto,
porque em Jesus encontrei Aquele que é capaz de estimular o melhor de mim
mesmo.
E é graças a Ele
que podemos abrir caminho; é graças a Ele que sempre podemos recomeçar; é
graças a Ele que podemos ganhar coragem para dizer: não é verdade que a única
forma possível de viver, de poder ser jovem seja deixar a vida nas mãos do
narcotráfico ou de todos aqueles que a única coisa que fazem é semear
destruição e morte.
É graças a Ele
que podemos dizer que não é verdade que a única forma que os jovens têm de
viver aqui seja na pobreza e na marginalização: marginalização de
oportunidades, marginalização de espaços, marginalização da formação e
educação, marginalização da esperança.
Jesus Cristo é
Aquele que desmente todas as tentativas de tornar vocês inúteis, ou meros
mercenários de ambições alheias.
Vocês me pediram
uma palavra de esperança... A que tenho para dar, chama-se Jesus Cristo. Quando
tudo parecer pesado, quando parecer que o mundo cai em cima de vocês, abracem a
sua cruz, abracem a Ele e, por favor, nunca larguem a Sua mão; por favor, nunca
se afastem d’Ele.
É assim, junto
com Ele é possível viver plenamente, junto com Ele é possível crer que vale a
pena dar o melhor de vocês mesmos, ser fermento, sal e luz no meio dos amigos,
no seu bairro, na sua comunidade.
Por isso,
queridos amigos, em nome de Jesus peço que não se deixem excluir, não se
deixem desvalorizar, não se deixem tratar como mercadoria.
Claro, é
provável que vocês não tenham à porta o último modelo de carro, a carteira
cheia de dinheiro, mas vocês têm algo que ninguém poderá jamais roubar: a
experiência de se sentirem amados, abraçados e acompanhados; a experiência se
sentirem família, de se sentirem comunidade.
Hoje o Senhor
continua a chamar vocês, continua a convocar como fez com o índio Juan Diego.
Convida a construir um santuário; um santuário que não é um lugar físico, mas
uma comunidade: um santuário chamado paróquia, um santuário chamado nação.
A comunidade, a
família, o sentir-se cidadãos são alguns dos principais antídotos contra tudo o
que nos ameaça, porque nos faz sentir parte desta grande família de Deus.
E não para nos
refugiarmos, não para nos fecharmos; antes, pelo contrário, para sairmos a
convidar outros, para sairmos a anunciar a outros que ser jovem no México é a
maior riqueza e, por isso, não pode ser sacrificada.
Jesus nunca nos
convidaria para ser algozes, mas chama-nos discípulos. Nunca nos mandaria à
morte, mas tudo n’Ele é convite à vida: uma vida em família, uma vida em
comunidade; uma família e uma comunidade a favor da sociedade.
Vocês são a
riqueza deste país e, quando tiverem dúvidas sobre isto, olham para Jesus
Cristo, Aquele que desmente todas as tentativas de tornar vocês inúteis ou
meros mercenários de ambições alheias.
*** (RB)
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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