terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Festa da Apresentação do Senhor

Brilhe a vossa luz
A festa bonita da Apresentação do Senhor, celebrada no dia 2 de fevereiro, tem múltiplos significados. Maria e José, cumprindo a Lei de Moisés e levando ao templo o menino Jesus, para apresentá-lo a Deus, revelam a profunda religiosidade que os animava, como acontecia com as demais famílias tementes a Deus.
O filho era motivo de alegria, visto como sinal da bênção de Deus para o casal; mais ainda, quando se tratava do primogênito, cuja especial pertença a Deus era reconhecida com a apresentação ao Sacerdote, ministro de Deus. Mas também porque este filho significava o elo de continuidade da Aliança de Deus e da esperança do povo na realização das promessas de Deus.
Maria e José apresentam Jesus no templo
Quando adulto, por sua vez, ele teria a missão de zelar para que a fidelidade ao Deus da Aliança não se extinguisse no meio dos irmãos. A vida da família era centrada na fé e na confiança no Deus da Aliança e da Promessa. Quanta coisa bonita, sempre válida para as famílias de nossos dias também! A iniciação à vivência da fé começa na infância e envolve a vida inteira. A fé é pessoal, mas não “privada”, mas envolve a vida comunitária e as relações sociais.
Com o menino Jesus, apresentado no templo, algo novo aconteceu: Simeão, o velho sacerdote, reconhece que este mesmo menino é o fruto das promessas de Deus e a realização das esperanças do povo fiel: “Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos, luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel!” (Lc 2,31-32). Da mesma forma, a profetisa Ana, velhinha piedosa, louva a Deus e fala a todos do menino Jesus, em quem reconhece a resposta do Deus fiel às suas promessas (cf. Lc 2,36-38).
A cena simples e familiar é, ao mesmo tempo, solene e carregada de sentido teológico: o menino levado ao templo era, de fato, o “senhor do templo”, casa de “seu Pai” (cf. Lc 2,49); apresentado ao sacerdote, era ele o “pastor e guia do seu povo”, que vinha ao encontro de seu rebanho; tomado entre os braços por Simeão, emocionado, era esse menino o verdadeiro Sacerdote da Nova Aliança; introduzido no suntuoso templo de Jerusalém, ele era o verdadeiro templo vivo de Deus no meio dos homens e o Pontífice, por meio do qual todos podem ter acesso direto a Deus Pai. Cumprindo a Lei de Moisés, ele iniciava o novo e definitivo culto a Deus, feito em espírito e verdade, na comunhão e obediência a Deus… E Maria, sendo abençoada pelo sacerdote, introduzia no mundo a verdadeira Bênção!
Na tradição religiosa popular, a festa da Apresentação do Senhor ficou muito relacionada com o simbolismo da luz: “Luz para iluminar as nações”, anuncia o velho Simeão. Na sua pregação pública, Jesus convida a segui-lo, é ele a luz do mundo: “Quem me segue, não anda nas trevas, mas terá a luz da vida” (cf. Jo 8,12); e quem está em comunhão com ele, também reflete essa mesma luz: “Vós sois a luz do mundo; brilhe a vossa luz diante dos homens…” (cf. Mt 5,14-16).
O Evangelho do reino de Deus, que tem Jesus Cristo no seu centro, é a verdadeira luz, concedida por Deus a todos os que procuram e têm fé nele (cf. Jo 1,8). Todo cristão, discípulo de Jesus Cristo pelo batismo, também é “discípulo da luz” e chamado a ser “luz do mundo” e testemunha do reino de Deus. A luz não deve ser escondida, mas colocada no alto, para que brilhe a todos os que entram na casa (cf. Mt 5,15-16).
De um modo todo especial, os consagrados na Vida Religiosa têm a missão de irradiar a luz de Cristo na Igreja e no mundo; vivendo o carisma do Evangelho que lhes é próprio, eles são chamados a mostrar a vocação alta de todos à vida e à salvação, oferecidas por Deus em Jesus Cristo. O reino de Deus é o valor maior desta vida e deve orientar, como grande luz, tudo o que decidimos e fazemos.
O Papa Francisco chamou a inteira comunidade eclesial a viver o Ano da Vida Religiosa Consagrada, como ocasião propícia para redescobrir o significado e a importância da consagração religiosa para a vida e a missão da Igreja.
                                            Cardeal Odilo Pedro Scherer Arcebispo de São Paulo
(Artigo publicado no Jornal O São Paulo – Edição 3037 – 4 a 10 de fevereiro de 2015)
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