Para ser verdadeiro, Jubileu deve chegar ao bolso
Cidade do
Vaticano (RV) – Nesta Quarta-feira de Cinzas (10/02), o Papa Francisco se
reuniu com os fiéis para a Audiência Geral.
Cerca de 15 mil
peregrinos compareceram na Praça São Pedro, aos quais o Pontífice saudou a bordo
de seu papamóvel antes de sua catequese. A eles, Francisco se dirigiu desejando
um bom caminho quaresmal e refletiu sobre a instituição do Jubileu, que se
encontra nas Sagradas Escrituras.
Origem do
jubileu
A instituição do
Jubileu acontecia de 50 em 50 anos como um momento culminante da vida religiosa
e social do povo de Israel, explicou o Pontífice.
Voltemos à misericórdia |
Quem empobrecia
voltava a ter o necessário para viver e quem enriquecia restituía ao pobre o
que lhe apanhou. O objetivo era criar uma sociedade assente na igualdade e na
solidariedade, onde a liberdade, a terra e o dinheiro voltassem a ser um bem
para todos e não só para alguns, “como acontece agora”, ponderou Francisco.
Jubileu deve
chegar ao bolso
“As cifras não
são exatas, mas 80% das riquezas da humanidade estão nas mãos de menos de 20%
das pessoas. É um jubileu – e isso o digo recordando nossa história de salvação
– para converter-se para que o nosso coração se torne maior, mais generoso,
mais filho de Deus, com mais amor. Mas lhes digo uma coisa: se o jubileu não
chegar até ao bolso, não é um verdadeiro jubileu, entenderam? E isso está na
Bíblia, não é este Papa que inventa: está na Bíblia.”
Francisco
explicou ainda a lei concernente às primícias, isto é, quando a parte mais
preciosa da colheita era compartilhada. Traduzindo para a época atual, disse
Francisco, também hoje é importante compartilhar com quem não tem o resultado
do trabalho, do salário, de tantas coisas que se possui e depois se desperdiça
“Isso acontece
também hoje! Na Esmolaria apostólica chegam tantas cartas com um pouco de
dinheiro, escrito: “esta é uma parte do meu salário para ajudar os outros”. E
isso é belo; ajudar os outros, as instituições de beneficência, os hospitais,
as casas de repouso; dar também aos forasteiros, aos estrangeiros e aos que
estão de passagem. Jesus esteve de passagem no Egito.
Agiotagem é
pecado grave
E pensando
justamente nisso, a Sagrada Escritura exorta com insistência a responder
generosamente aos pedidos de empréstimo, sem fazer cálculos mesquinhos e sem
pretender juros impossíveis.”
Este
ensinamento, disse o Papa, é sempre atual:
“Quantas
famílias estão na rua, vítimas da agiotagem! Por favor, rezemos para que neste
Jubileu o Senhor tire do coração de todos essas nossa vontade de ter sempre
mais que a agiotagem provoca. Que se volte a ser generosos, grandes.”
No desespero,
afirmou Francisco, muitas pessoas acabam cometendo suicídio, porque não
encontram uma mão estendida, somente a mão da cobrança. “A agiotagem é um
pecado grave. O Senhor, recordou ele, recompensa em dobro, não em dinheiro, mas
em tantas outras coisas.”
O Jubileu tinha
por função ajudar o povo a viver uma fraternidade concreta, feita de mútua
ajuda. Podemos dizer que o jubileu bíblico era um “jubileu de misericórdia”.
A mensagem
bíblica é muito clara, concluiu o Papa: abrir-se com coragem à partilha entre
compatriotas, entre famílias, entre povos, entre continentes. “Contribuir para
realizar uma terra sem pobres quer dizer construir sociedades sem
discriminações, assentes na solidariedade que leva a partilhar aquilo que se
possui numa divisão dos recursos fundada na fraternidade e na justiça.”
Orações para a
viagem ao México
Após a
catequese, ao saudar os grupos presentes, Francisco recordou que nos próximos
dias visitará o México. O Papa pediu aos fiéis que acompanhem com a oração esta
sua peregrinação e o encontro com o Patriarca Kirill em Cuba.
Dia Mundial do
Enfermo
O Papa lembrou
ainda o 24º Dia Mundial do Enfermo, cujo ápice será em Nazaré. Citando sua
mensagem para a ocasião, Francisco destacou que na solicitude de Maria se
espelha a ternura de Deus e a imensa bondade de Jesus Misericordioso.
“Convido a rezar
pelos doentes e a fazer com que sintam o nosso amor. A mesma ternura de Maria
esteja presente na vida de tantas pessoas que se encontram ao lado dos doentes,
sabendo colher suas necessidades, também aquelas mais imperceptíveis, porque
vistos com olhos repletos de amor.” (BF)
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Papa na missa de início do Tempo Quaresmal:
Papa na missa de início do Tempo Quaresmal:
Quaresma,
tempo para podar a falsidade, mundanidade e indiferença
O Papa Francisco presidiu, na tarde desta quarta-feira (10/02),
a missa de início da Quaresma, com o tradicional rito de imposição das Cinzas,
na Basílica de São Pedro. Durante a celebração houve o envio dos Missionários
da Misericórdia.
Em sua homilia,
o pontífice sublinhou que “a Palavra de Deus, no início do caminho quaresmal,
faz à Igreja e a cada um de nós dois convites. O primeiro, é o de São Paulo:
Deixai-vos reconciliar com Deus.”
Reconciliação
“Não é
simplesmente um bom conselho paterno e nem uma sugestão. É uma verdadeira e
própria súplica em nome de Cristo. Vos suplicamos em nome de Cristo: deixai-vos
reconciliar com Deus. Por que um apelo assim tão solene e sincero? Porque
Cristo sabe que somos frágeis e pecadores, conhece a fraqueza de nosso coração,
o vê ferido pelo mal que cometemos e sofremos. Ele sabe que precisamos de
perdão, sabe que precisamos nos sentir amados para realizar o bem. Sozinhos não
somos capazes. Por isso, o Apóstolo não nos diz para fazer alguma coisa, mas para
nos deixar reconciliar com Deus, permitir que Ele nos perdoe, com confiança,
porque Deus é maior que o nosso coração. Ele vence o pecado e nos reergue das
misérias, se as confiamos a Ele. Cabe a nós reconhecer que precisamos de
misericórdia. É o primeiro passo do caminho cristão. Trata-se de entrar pela
porta aberta que é Cristo, onde Ele mesmo nos espera, o Salvador, e nos oferece
uma vida nova e alegre.”
Vergonha
Segundo
Francisco, podem haver alguns obstáculos que fecham as portas do coração. Um
deles é “a tentação de blindar as portas, ou seja, conviver com o próprio
pecado, minimizando-o, justificando-se sempre, pensando em não ser pior que os
outros. Assim, porém, se trancam as fechaduras da alma e se permanece fechado
dentro, prisioneiros do mal. Outro obstáculo é a vergonha de abrir a porta
secreta do coração. Na realidade, a vergonha é um bom sintoma, pois indica que
queremos nos desligar do mal. Todavia, nunca deve se transformar em temor ou
medo”.
Voltemos para Deus no profundo de nosso coração |
O terceiro
obstáculo, segundo o Papa, é o de nos distanciar da porta. “Isso acontece
quando nos enfurnamos em nossas misérias, quando remoemos continuamente,
ligando entre si as coisas negativas, até chegar aos lugares mais escuros da
alma. Então a tristeza que não queremos nos torna familiar, nos desencorajamos
e somos mais fracos diante das tentações. Isso acontece porque permanecemos sós
conosco, nos fechando e fugindo da luz, enquanto somente a graça do Senhor nos
liberta. Deixemo-nos então reconciliar, ouvindo Jesus que diz a quem está
cansado e oprimido: venha a mim. Não permanecer em si mesmo, mas ir até Ele.
Ali há descanso e paz”, disse o pontífice.
Missionários da
Misericórdia
Estavam
presentes na celebração os Missionários da Misericórdia que receberam o mandato
de ser sinais e instrumentos do perdão de Deus. “Queridos irmãos, que vocês
possam ajudar a abrir as portas dos corações, a vencer a vergonha e a não fugir
da luz. Que as suas mãos abençoem e reergam os irmãos e irmãs com paternidade.
Que através de vocês o olhar e as mãos do Pai pousem sobre os filhos e curem
suas feridas”, frisou o Papa.
O Santo Padre
falou sobre o segundo convite de Deus feito por meio do Profeta Joel: ‘Voltem
para mim de todo o coração’. “Se é preciso voltar é porque nos distanciamos. É
o mistério do pecado: nos distanciamos de Deus, dos outros e de nós mesmos. Não
é difícil se dar conta: Todos vemos como fazemos esforço para ter realmente
confiança em Deus, de nos confiar a Ele como Pai, sem medo. Como é difícil amar
os outros, em vez de pensar mal deles. Como nos custa fazer o bem verdadeiro,
enquanto somos atraídos e seduzidos por tantas realidades materiais que se
disperdem e no final nos deixam pobres. Junto desta história de pecado, Jesus
inaugurou uma história de salvação. O Evangelho que abre a Quaresma nos convida
a ser protagonistas, abraçando três remédios, três medicamentos que curam do
pecado”, disse ainda Francisco.
Oração, caridade
e jejum
“Em primeiro
lugar a oração, expressão de abertura e confiança no Senhor: É o encontro
pessoal com Ele, que encurta as distâncias criadas pelo pecado. Rezar significa
dizer: “Não sou autossuficiente, preciso de você. Você é a minha vida e minha
salvação. Em segundo, a caridade para superar a estranheza em relação aos
outros. O amor verdadeiro, de fato, não é um ato exterior, não é dar algo de
forma paternalista para tranquilizar a consciência, mas aceitar quem precisa de
nosso tempo, de nossa amizade e nossa ajuda. É viver o silêncio, vencendo a
tentação de nos satisfazer. Em terceiro lugar o jejum, a penitência para nos
libertar das dependências em relação ao que passa e nos treinar para ser mais
sensíveis e misericordiosos. É um convite à simplicidade e partilha: tirar algo
de nossa mesa e nossos bens para reencontrar o bem verdadeiro da liberdade.”
“Voltem para
mim”, diz o Senhor, “de todo o coração”. “Não somente com algum ato exterior,
mas do profundo de nós mesmos. De fato, Jesus nos chama para viver a oração, a
caridade e a penitência com coerência e autenticidade, vencendo a hipocrisia.”
Quaresma, tempo
para podar a falsidade
“Que a Quaresma seja um tempo benéfico para podar a falsidade, a mundanidade e
a indiferença; para não pensar que tudo vai bem se eu estou bem; para entender
que o que conta não é a aprovação, a busca de sucesso ou consenso, mas a
limpeza do coração e da vida; para reencontrar a identidade cristã, ou seja, o
amor que serve, não o egoísmo que se serve. Coloquemo-nos a caminho juntos,
como Igreja, recebendo as Cinzas e mantendo fixo o olhar no Crucifixo. Ele,
amando-nos, nos convida a nos deixar reconciliar com Deus e a retornar a Ele,
para nos reencontrar”, concluiu o Papa. (MJ)
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