quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Francisco:
Prisões, sintoma de como estamos na sociedade
Ciudad Juárez (RV) - O Papa Francisco visitou em Ciudad Juárez, no México, nesta quarta-feira (17/02), último dia de sua 12ª viagem Apostólica internacional, o Centro de Readaptação Social nº 3 (CeReSo). 
A seguir, a íntegra do discurso
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Queridos irmãos e irmãs!
Estou a concluir a minha visita ao México e não queria ir embora sem vos saudar, sem celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco.
De coração agradeço as palavras de saudação que me dirigistes, nelas manifestando tanta esperança e tantas aspirações, mas também tantas amarguras, medos e dúvidas.
Durante a viagem à África, na cidade de Bangui, pude abrir a primeira Porta da Misericórdia para o mundo inteiro. Hoje, no vosso meio e convosco, quero reafirmar uma vez mais a confiança a que Jesus nos impele: a misericórdia que abraça a todos, em todos os cantos da terra. Não há lugar onde a sua misericórdia não possa chegar, não há espaço nem pessoa que ela não possa tocar.
Celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco é lembrar o caminho que devemos urgentemente empreender para romper o ciclo vicioso da violência e da delinquência. Já se perderam várias décadas pensando e crendo que tudo se resolve isolando, separando, encarcerando, livrando-nos dos problemas, acreditando que estas medidas resolvem verdadeiramente os problemas. Esquecemo-nos de concentrar-nos naquilo que realmente deve ser a nossa preocupação: a vida das pessoas; as suas vidas, as das suas famílias, as daqueles que também sofreram por causa deste ciclo vicioso da violência.
Acreditemos na misericórdia de Deus
A misericórdia divina lembra-nos que as prisões são um sintoma de como estamos na sociedade; em muitos casos são um sintoma de silêncios e omissões provocadas pela cultura do descarte. São sintoma duma cultura que deixou de apostar na vida, duma sociedade que foi abandonando os seus filhos.
A misericórdia lembra-nos que a reinserção não começa aqui dentro destes muros; começa antes, começa lá fora nas ruas da cidade. A reinserção ou reabilitação começa criando um sistema que poderíamos chamar de saúde social, isto é, uma sociedade que procure não adoecer contaminando as relações no bairro, nas escolas, nas praças, nas ruas, nos lares, em todo o espectro social. Um sistema de saúde social que vise gerar uma cultura que seja eficaz procurando prevenir aquelas situações, aqueles caminhos que acabam por ferir e deteriorar o tecido social.
Às vezes parece que as prisões se proponham mais colocar as pessoas em condição de continuar a cometer delitos do que promover processos de reabilitação que permitam enfrentar os problemas sociais, psicológicos e familiares que levaram uma pessoa a determinada atitude. O problema da segurança não se resolve apenas encarcerando, mas é um apelo a intervir para enfrentar as causas estruturais e culturais da insegurança que afetam todo o tecido social.
A preocupação de Jesus pelos famintos, os sedentos, os sem-abrigo ou os presos (Mt 25, 34-40) pretendia expressar as entranhas de misericórdia do Pai, que se tornam um imperativo moral para toda a sociedade que deseje possuir as condições necessárias para uma convivência melhor. Na capacidade que uma sociedade tem de integrar os seus pobres, doentes ou presos, reside a possibilidade de estes curarem as suas feridas e serem construtores duma boa convivência. A reinserção social começa com a frequência da escola por todos os nossos filhos e com um emprego digno para as suas famílias, com a criação de espaços públicos para os tempos livres e a recreação, com a habilitação das instâncias de participação cívica, os serviços de saúde, o acesso aos serviços básicos… para citar apenas algumas medidas.
Celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco é aprender a não ficar prisioneiros do passado, de ontem; é aprender a abrir a porta para o futuro, para o amanhã; é acreditar que as coisas podem tomar outro rumo. Celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco é convidar-vos a levantar a cabeça e empenhar-vos para obter o tão ansiado espaço de liberdade.
Sabemos que não se pode voltar atrás, sabemos que o que foi feito, feito está. Mas isto não significa que não haja a possibilidade de escrever uma página nova daqui para a frente; por isso, quis celebrar convosco o Jubileu da Misericórdia. Vós sofreis a angústia da queda, sentis o arrependimento pelos vossos actos e sei que em muitos casos, por entre grandes limitações, a partir da vossa solidão procurais refazer a vossa vida. Conhecestes a força do sofrimento e do pecado; não vos esqueçais, porém, que tendes ao vosso alcance também a força da ressurreição, a força da misericórdia divina que faz novas todas as coisas. Agora é possível que vos toque a parte mais dura, mais difícil, mas talvez seja a que produz mais fruto; a partir daqui de dentro, lutai para inverter as situações que geram mais exclusão. Falai com os vossos queridos, contai-lhes a vossa experiência, ajudai a travar o ciclo vicioso da violência e da exclusão. Quem sofreu o máximo da amargura a ponto de poder afirmar que «experimentou o inferno», pode tornar-se um profeta na sociedade. Trabalhai para que esta sociedade que usa e joga fora não continue a fazer mais vítimas.
Quereria também encorajar o pessoal que trabalha neste Centro ou noutros semelhantes: os directores, os agentes da Polícia penitenciária, todos os que realizam qualquer tipo de assistência neste Centro. E agradeço o esforço dos capelães, das pessoas consagradas e dos leigos que se dedicam a manter viva a esperança do Evangelho da Misericórdia na prisão. Todos vós – não vos esqueçais! – podeis ser sinal das entranhas de misericórdia do Pai. Precisamos uns dos outros para continuar em frente.
Antes de vos dar a bênção, gostaria que rezássemos um pouco em silêncio. Cada um, na intimidade do seu coração, peça a Deus que nos ajude a acreditar na sua misericórdia.
E peço que não vos esqueçais de rezar por mim.
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Papa aos trabalhadores:
Lucro e capital não são um bem superior ao homem
Ciudad Juárez (RV) – Em um discurso no qual afirmou que o México precisa construir verdadeiras e concretas oportunidades de trabalho para os jovens, o Papa recordou que “sempre que a integridade de uma pessoa é violada, de certa forma, a sociedade inteira começa a deteriorar-se”.
No contexto do encontro – na fronteira do México com os Estados Unidos, onde, todos os anos, milhares de migrantes latino-americanos tentam atravessá-la ilegalmente –  o Papa ressaltou que a falta de trabalho gera situações de pobreza.
"E esta pobreza torna-se o terreno favorável para cair na espiral do narcotráfico e da violência. Um luxo que ninguém se pode conceder é deixar só e abandonado o presente e o futuro do México", advertiu.
Como consequência primeira disto, a mentalidade dominante  que “coloca o fluxo de pessoas ao serviço do fluxo de capitais, provocando em muitos casos a exploração dos trabalhadores, como se fossem objetos que se usam e jogam fora”.
Aqui, Francisco pontou às consciências:
“Deus pedirá contas aos escravagistas dos nossos dias, e nós devemos fazer todo o possível para que estas situações não ocorram mais. O fluxo do capital não pode determinar o fluxo e a vida das pessoas”.
Ao destacar o papel da Igreja, que “há de ser uma voz profética que ajuda a não nos perdermos no mar sedutor da ambição”, Francisco afirmou que “a única pretensão da Doutrina Social da Igreja é velar pela integridade das pessoas e das estruturas sociais”.
“Todos devemos lutar para que o trabalho seja uma instância de humanização e de futuro; seja um espaço para construir sociedade e cidadania”, exortou o Pontífice.
Ao discernir sobre o mundo que se quer deixar para as futuras gerações, Francisco propôs uma reflexão:
“Se é sempre bom pensar no que gostaria de deixar aos meus filhos, também é uma boa medida pensar nos filhos dos outros. O que o México quer deixar aos seus filhos?”
Por fim, ao instar o México a fazer escolhas que permitam as futuras gerações “ter na memória  a cultura de um trabalho digno”, em um mundo cujo destino não seja determinado pela competição, Francisco concluiu:
“O lucro e o capital não são um bem superior ao homem, mas estão ao serviço do bem comum. E, quando o bem comum é forçado a estar ao serviço do lucro e o único a ganhar é o capital, a isto chama-se exclusão”. (RB)
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Do lado de cima da imagem, migrantes mexicanos nos EUA encontram familiares do outro lado da fronteira 


Íntegra do discurso do Papa
Queridos irmãos e irmãs! 
Quis encontrar-me com vocês nesta terra de Juárez, devido à relação especial que esta cidade tem com o mundo do trabalho. Agradeço não só a saudação de boas-vindas e os testemunhos que revelaram suas as ânsias, as alegrias e as esperanças, mas gostaria também de agradecer esta oportunidade de intercâmbio e reflexão.
Tudo o que pudermos fazer para dialogar, para nos encontrar, para procurar melhores alternativas e oportunidades já é uma conquista que merece apreço e destaque. Obviamente não é suficiente, mas hoje não podemos permitir-nos o luxo de cortar qualquer possibilidade de encontro, discussão, confronto, pesquisa.
Esta é a única maneira que temos de poder construir o amanhã: ir tecendo relações duradouras, capazes de gerar a estrutura necessária para, pouco a pouco, se reconstruir os vínculos sociais consumidos pela falta do mínimo de respeito requerido para uma sadia convivência.
Obrigado e que este encontro sirva para construir futuro, seja uma oportunidade boa para forjar o México que o seu povo e os seus filhos merecem.
Gostaria de falar mais sobre este último aspecto. Hoje encontram-se aqui várias organizações de trabalhadores e representantes de câmaras e associações empresariais.
À primeira vista, poderiam considerar-se antagonistas, mas une-os uma responsabilidade comum: procurar criar oportunidades de trabalho digno e verdadeiramente útil para a sociedade e, sobretudo, para os jovens desta terra.
Um dos maiores flagelos a que estão expostos os jovens mexicanos é a falta de oportunidades de instrução e trabalho sustentável e rentável, que lhes permitam lançar-se na vida; isso gera em muitos casos situações de pobreza.
E esta pobreza torna-se o terreno favorável para cair na espiral do narcotráfico e da violência. Um luxo que ninguém se pode conceder é deixar só e abandonado o presente e o futuro do México.
Infelizmente, o tempo em que vivemos impôs o paradigma da utilidade econômica como princípio das relações pessoais. A mentalidade dominante pretende a maior quantidade possível de lucro, a todo o custo e imediatamente.
Não só provoca a perda da dimensão ética das empresas, mas esquece também que o melhor investimento que se pode fazer é investir no povo, nas pessoas, nas suas famílias. O melhor investimento é criar oportunidades.
A mentalidade dominante coloca o fluxo de pessoas ao serviço do fluxo de capitais, provocando em muitos casos a exploração dos trabalhadores, como se fossem objetos que se usam e jogam fora (cf. Enc. Laudato si’, 123).
Deus pedirá contas aos escravagistas dos nossos dias, e nós devemos fazer todo o possível para que estas situações não ocorram mais. O fluxo do capital não pode determinar o fluxo e a vida das pessoas.
Acontece, não raramente, que a Doutrina Social da Igreja veja as suas propostas colocadas em questão com estas palavras: “Estes pretendem que sejamos organizações de beneficência ou que transformemos as nossas empresas em instituições filantrópicas”.
Mas a única pretensão que tem a Doutrina Social da Igreja é velar pela integridade das pessoas e das estruturas sociais. Sempre que esta integridade, por várias razões, é ameaçada ou reduzida a bem de consumo, a Doutrina Social da Igreja há-de ser uma voz profética que nos ajudará a todos a não nos perdermos no mar sedutor da ambição.
Sempre que a integridade de uma pessoa é violada, de certa forma a sociedade inteira começa a deteriorar-se. E isto não é contra ninguém, mas a favor de todos. Cada sector tem a obrigação de preocupar-se pelo bem de todos; estamos todos no mesmo barco.
Todos devemos lutar para que o trabalho seja uma instância de humanização e de futuro; seja um espaço para construir sociedade e cidadania. Esta atitude não só cria uma melhoria imediata, mas, a longo prazo, tornar-se-á uma cultura capaz de promover espaços dignos para todos. Esta cultura, nascida muitas vezes de tensões, vai gerando um novo estilo de relações, um novo tipo de nação.
Filhos
Que mundo queremos deixar aos nossos filhos? Nisto, julgo que a grande maioria está de acordo. Eles são precisamente o nosso horizonte, são a nossa meta: por eles, hoje, devemos unir-nos e trabalhar. Se é sempre bom pensar no que gostaria de deixar aos meus filhos, também é uma boa medida pensar nos filhos dos outros.
O que o México quer deixar aos seus filhos? Quer deixar-lhes uma recordação de exploração, de salários insuficientes, de pressão laboral? Ou deixar-lhes na memória a cultura de um trabalho digno, um teto decente e terra para trabalhar?
Em qual cultura queremos ver nascer aqueles que virão depois de nós? Que atmosfera vão respirar? Um ar contaminado pela corrupção, a violência, a insegurança e desconfiança ou, pelo contrário, um ar capaz de gerar alternativas, gerar renovação e mudança?
Sei que aquilo que proponho não é fácil, mas sei também que é pior deixar o futuro nas mãos da corrupção, da brutalidade, da falta de equidade. Sei que muitas vezes, em uma negociação, não é fácil harmonizar todas as partes, mas sei também que é pior e acaba por fazer um dano maior a falta de negociação e a falta de avaliação.
Sei que não é fácil viver de acordo em um mundo cada vez mais competitivo, mas é pior deixar que o mundo competitivo acabe por determinar o destino dos povos. O lucro e o capital não são um bem superior ao homem, mas estão ao serviço do bem comum. E, quando o bem comum é forçado a estar ao serviço do lucro e o único a ganhar é o capital, a isto chama-se exclusão.
Comecei agradecendo vocês a oportunidade de estar juntos, agora quero convidar todos a sonhar o México, a construir o México que os seus filhos merecem; um México, onde não haja pessoas de primeira, segunda ou quarta classe, mas um México que saiba reconhecer no outro a dignidade de filho de Deus. A Guadalupana, que Se manifestou a Juan Diego demonstrando como os que aparentemente não contam sejam as suas testemunhas privilegiadas, vos ajude e acompanhe nesta construção.   ***
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Papa aos mexicanos:
converter aquilo que nos está degradando como humanidade

Ciudad Juárez (RV) - “Há sempre a possibilidade de mudar, estamos a tempo de reagir e transformar, modificar e alterar, converter aquilo que nos está destruindo como povo, o que nos está degradando como humanidade.”
Foi a forte e premente exortação do Papa Francisco na missa celerada esta quarta-feira (17/02) em Ciudad Juárez – norte do México –, cidade que, apesar dos progressos feitos nos últimos anos no combate ao crime organizado, permanece tristemente marcada pela violência.
Foi justamente numa terra marcada por tantos sofrimentos que Francisco quis concluir a sua 12ª viagem apostólica internacional, visita esta na qual – como missionário da misericórdia e da paz – pôde tocar todas as realidades do México, “um grande país”, como ele mesmo o definiu.
A glória de Deus é o homem vivo
“A misericórdia anima-nos a olhar o presente e confiar naquilo que, de são e bom, está escondido em cada coração. A misericórdia de Deus é o nosso escudo e a nossa fortaleza”, reiterou Francisco após ter lembrado com Santo Irineu que “a glória de Deus é a vida do homem”.
O livro de Jonas, na primeira leitura – com o episódio de Nínive que se estava autodestruindo em consequência da opressão e degradação, da violência e injustiça –, serviu de moldura ao Santo Padre para evidenciar alguns traços que caracterizam a misericórdia divina.
Ao mover o coração de Jonas, Deus o envia para evidenciar o que estava acontecendo, envia-o para despertar um povo inebriado de si mesmo.
Neste texto, encontramo-nos perante o mistério da misericórdia divina, afirmou o Pontífice:
A misericórdia de Deus aproxima-se e convida à conversão
“A misericórdia sempre rejeita o mal, tomando muito a sério o ser humano; sempre faz apelo à bondade adormecida, anestesiada, de cada pessoa. Longe de aniquilar, como muitas vezes pretendemos ou queremos fazê-lo, a misericórdia aproxima-se de cada situação para a transformar a partir de dentro. Isto é precisamente o mistério da misericórdia divina: aproxima-se e convida à conversão, convida ao arrependimento; convida a ver o dano que está a ser causado a todos os níveis. A misericórdia sempre entra no mal para o transformar.”
"É tempo de conversão, é tempo de salvação, é tempo de misericórdia"
O apelo de Jonas à conversão encontra homens e mulheres capazes de se arrependerem, capazes de chorar: deplorar a injustiça, deplorar a degradação, deplorar a opressão.
“São as lágrimas que podem abrir o caminho à transformação; são as lágrimas que podem abrandar o coração, são as lágrimas que podem purificar o olhar e ajudar a ver a espiral de pecado em que muitas vezes se está enredado. São as lágrimas que conseguem sensibilizar o olhar e a atitude endurecida, e sobretudo adormecida, perante o sofrimento alheio. São as lágrimas que podem gerar uma ruptura capaz de nos abrir à conversão.”
“Hoje esta palavra ressoa vigorosamente no meio de nós” – disse Francisco. “Esta palavra é a voz que clama no deserto e nos convida à conversão”, acrescentou.
Pedir a Deus o dom das lágrimas, o dom da conversão
Neste Ano da Misericórdia, disse, “quero implorar convosco neste lugar a divina misericórdia, quero pedir convosco o dom das lágrimas, o dom da conversão.
Com o olhar voltado para a realidade dos nossos dias, o Pontífice foi incisivo:
“Aqui em Ciudad Juárez, como noutras áreas fronteiriças, concentram-se milhares de migrantes da América Central e doutros países, sem esquecer tantos mexicanos que procuram também passar para «o outro lado». Uma passagem, um caminho carregado de injustiças terríveis: escravizados, sequestrados, objetos de extorsão, muitos irmãos nossos acabam vítimas do tráfico humano.”
Migração forçada tornou-se fenômeno global
Não podemos negar a crise humanitária que, nos últimos anos, levou à migração de milhares de pessoas. Hoje, esta tragédia humana que é a migração forçada, tornou-se um fenômeno global, prosseguiu o Papa.
Em seguida, ressaltou as chagas sociais que forçam os irmãos e irmãs a partirem:  a pobreza, a violência, o narcotráfico e o crime organizado.
“À pobreza que já sofrem, vem juntar-se o sofrimento destas formas de violência”, de cuja espiral é difícil sair:
“Uma injustiça que se radicaliza ainda mais contra os jovens: como «carne de canhão», eles veem-se perseguidos e ameaçados quando tentam sair da espiral de violência e do inferno das drogas.”
“E que dizer das tantas mulheres à quais se lhes foram injustamente ceifadas a vida!”, exclamou o Santo Padre, aludindo ao fenômeno que a partir dos anos noventa fez de Ciudad Juárez teatro de violentos homicídios em série contra as mulheres.
Implorar a misericórdia do Pai
“Não mais morte nem exploração! Há sempre tempo para mudar, há sempre uma via de saída e uma oportunidade, é sempre tempo para implorar a misericórdia do Pai.”
Francisco reconheceu o trabalho de muitas organizações da sociedade civil em favor dos direitos dos migrantes, e não só:
“Estou a par também do trabalho generoso de muitas irmãs religiosas, de religiosos e sacerdotes, de leigos votados ao acompanhamento e à defesa da vida. Prestam ajuda na vanguarda, muitas vezes arriscando a própria vida. Com a sua vida, são profetas de misericórdia, são o coração compreensivo e os pés da Igreja que acompanha, que abre os seus braços e apoia.”
“É tempo de conversão, é tempo de salvação, é tempo de misericórdia”: concluiu o Papa Francisco em seu último encontro com os fiéis e peregrinos mexicanos, numa celebração Eucarística presidida na área da Feira de Ciudad Juárez, cujo altar fora montado a 80 metros da fronteira internacional entre México e EUA. (RL)
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Papa aos mexicanos nos EUA:
Nenhuma fronteira pode nos separar

Cidade do Vaticano (RV) – Ao final de sua homilia na Missa de encerramento da Viagem Apostólica ao México, o Papa Francisco, ao abordar o fenômeno global das migrações forçadas, condenou as graves injustiças perpetradas contra milhares de migrantes que fogem da pobreza e violência e, com frequência, acabam nas mãos de traficantes de seres humanos.
Somos uma só família e uma mesma comunidade cristã
“Aqui em Ciudad Juárez concentram-se milhares de migrantes da América Central e de outros países, sem esquecer tantos mexicanos que procuram também passar para 'o outro lado'. Uma passagem, um caminho carregado de injustiças terríveis: escravizados, sequestrados, objetos de extorsão, muitos irmãos nossos acabam vítimas do tráfico humano”, recordou Francisco.
Mais de 200 mil pessoas acompanharam a homilia do Papa em Ciudad Juarez. Outras 30 mil também puderam participar da celebração por meio de uma transmissão ao vivo projetada no Estádio da Universidade do Texas, no lado estadunidense da fronteira, em El Paso.
“Graças à ajuda da tecnologia, podemos rezar, cantar e celebrar juntos este amor misericordioso que o Senhor nos dá, e que nenhuma fronteira poderá nos impedir de compartilhar. Obrigado irmãos e irmãs de El Paso, por nos fazer sentir uma só família e uma mesma comunidade cristã”.
Antes do início da celebração, o Papa abençoou, às margens do Rio Bravo - que delimita a fronteira -, cruzes que lembram os que perderam a vida na tentativa de atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos.
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Papa na despedida do México:

"Sinal de um novo amanhecer”

Ciudad Juarez (RV) – Após celebrar a missa de encerramento de sua viagem apostólica ao México, pouco antes de embarcar de volta ao Vaticano, Francisco pronunciou seu último discurso em terras mexicanas.
Há tantas luzes que anunciam a esperança
“É o momento de dar graças a Nosso Senhor por me ter permitido esta visita ao México”, disse o Papa.
“Não quero partir sem agradecer o esforço de quantos tornaram possível esta peregrinação... a todos aqueles que colaboraram, de várias maneiras, para esta visita pastoral. A tantos servidores anônimos que, no silêncio, deram o seu melhor para que estes dias fossem uma festa de família, obrigado!”, acrescentou.
Afirmando que sentiu-se acolhido ao ser recebido com carinho e festa, demonstração da esperança da grande família mexicana, o Papa agradeceu os mexicanos por terem aberto as portas das suas vidas durante a visita, e citou o poeta mexicano Octávio Paz:
Sou homem: duro pouco e é enorme a noite./Mas olho para o alto: as estrelas escrevem./Sem entender, compreendo: também sou escritura/e, neste mesmo instante, alguém me está decifrando(«Un sol más vivo»: Antología poética, México 2014, 268).

Esperança no amanhã
Diante do poema, Francisco refletiu:
“Valendo-me destas estupendas palavras, ouso sugerir que aquele que nos decifra e traça o caminho é a presença misteriosa mas real de Deus na carne concreta de todas as pessoas, especialmente dos mais pobres e necessitados do México”.
Ao concluir, ainda inspirado nas palavras do poeta, o Pontífice falou de sua certeza em ver Deus que caminha ao lado dos mexicanos.
“Há tantas luzes que anunciam esperança; pude ver, em muitos dos seus testemunhos, em muitos dos seus rostos, a presença de Deus que continua a caminhar nesta terra guiando-os e sustentando a esperança; muitos homens e mulheres, com o seu esforço de cada dia, tornam possível que esta sociedade mexicana não fique às escuras.  São profetas do amanhã, são sinal de um novo amanhecer”. (RB)
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                                                                          Fonte: radiovaticana.va     news.va

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